Era uma vez Peter e Wendy escrita por Segunda Estrela


Capítulo 12
Capítulo 12




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Wendy estava andando pela selva noturna, não tinha mais medo. Só queria encontrá-lo. Um estranho puxão a levava em direções estranhas, mas não ligava, pois sentia que devia segui-lo.

Peter gritava praticamente sozinho. Apenas ele e sua maldita sombra. Estava na beira do lago da sereia, onde os homens perderam suas memórias mais preciosas no passado.

— Garoto tolo e inconsequente. Burro e idiota. – Grunhia sua sombra.

— Eu vou fazer ele pagar, eu sei que vou.

— Não importa, você o deixou desviar seus planos. Ninguém nunca desvia nossos planos.

Peter fechou as mãos sobre a cabeça,  os dedos trincando em volta de seus ouvidos. Apertava os olhos como se isso pudesse o impedir de escutar e lembrar. Desejando poder voltar no tempo, desejando nunca ter feito nada daquilo. Nunca ter se deixado seduzir por uma ideia tão idiota.

— Está ficando fraco, garoto.

— Garoto? Me chama de garoto?

— Veja até onde está decaindo, não podemos continuar assim. Você sabe o que tem que fazer.

O murmúrio tranquilo das folhas o fez virar o rosto e a sombra desaparecer. Peter sabia o que tinha que fazer quando sentiu a menina se aproximar. Se aproximar com seus lábios cálidos e seus passos temerosos e gentis. Os mesmo cabelos dourados que brilhavam no fogo, recebiam um novo toque ao reluzirem com a lua.

— Quanto tempo vai ficar aí sem falar nada?

— Obrigada pelo que fez.

Mas não respondeu, o silêncio sepulcral da noite era a única coisa que os embalava.

— Chegou o momento em que você teve que decidir o que fazer. Escolheu o certo. Que nem eu sabia que faria.

— Você não faz ideia de como eu sou.

Wendy deu passos assustados na sua direção. Peter a encarava com melancolia vazia, como se não reconhecesse quem estava na sua frente. Devagar, ela levantou suas mãos macias como tecido caro, e esticou-se para Peter. Ele não recuou. Aceitou o carinho de uma maneira tensa. Olhou para aqueles olhos preocupados com cuidado, como se ela fosse perigosa. Wendy o abraçou, sentindo aquele corpo magro e alto entre seus braços.

— Eu tenho tudo aqui, meu poder, minha imortalidade. – Ele falava em um sussurro.

— Mas você pode ter a mim. - Sussurrou a menina de volta.

Ainda estava em seus braços quando riu com sarcasmo enxuto.

— Oh Peter, se pudesse se ver com os meus olhos. Você saberia o quão grandioso é, mesmo sem nada disso.

Ele olhou fundo nos seus olhos, tentando passar toda a intensidade do que sentia. Falou enquanto revirava uma mecha de cabelo da garota em seus dedos.

— Eu podia viver em sua cabeça para sempre, e só ter seus pensamentos felizes. - E falando isso, ele delicadamente tirou a mecha dourada do rosto de Wendy.

Ela levantou os olhos para ele, brilhando como fogo estelar. O rosto redondo torcido com tristeza.

— Você não consegue consertar meu coração. – Sentenciou ele.

— Peter. - Ela chorou em seus braços, o abraçando e desesperadamente desejando que ele não partisse. - Eu te amo, te amo, te amo. Fique comigo, vamos embora. Vamos viver uma vida curta, mas feliz. Juntos.

Peter acariciou seus cabelos, enquanto pensava no que iria fazer em seguida. Já tinha se decidido, nada do que ela dissesse o ia fazer mudar de ideia, mas não podia negar que era tentador ouvi-la falando. E também não podia negar que se deixava devanear por aquele futuro distante em que vivia com ela. Mas ele queria muito mais. Queria sentir tudo no mundo, cair, voar, morrer, existir como aquela metáfora que sentia a sujeira e a beleza de tudo ao mesmo tempo. Ele era pura dissonância.

— Eu queria poder desistir de quem eu sou por quem você é, mas não funciona assim. Quem eu fui, talvez um dia tivesse sido o bastante.

— Peter. O que você vai fazer?

Ele se desvencilhou do abraço dela, e pegou alguma coisa no bolso. Wendy não sabia direito o que era no inicio, mas reconheceu assim que o potinho de vidro brilhou.

— Isso é pó mágico?

— Guarde bem, é o último presente que eu vou lhe dar. Talvez seja o bastante para você partir da ilha.

Ela segurou o pequeno frasco com cuidado. E pensou no que ele queria dizer quando falava que era o último presente.

O rapaz se aproximou devagar, e segurou aquele rosto gentil entre suas mãos. Curvou o corpo e deu um beijo delicado e saudoso em Wendy. Se deixou entregar por completo ao que sentia, em uma inebriante fuga na bondade dela. E não esperava se sentir tão triste, mas estava aliviado, em breve aquela agonia ia acabar. Deu uns passos para trás, Wendy o analisava com melancolia e confusão. Ele aproximou-se do lago das memórias e a garota colocou as mãos na boca.

— Peter, não!

— Acho que te amo Wendy Pássaro, mas isso não vai importar mais.

E com resignação ao dizer essas palavras, ele pulou no lago. Sem olhar para trás ou hesitar.

Wendy sentiu um grito morrer em sua garganta, enquanto suas pernas fraquejavam e ela via os joelhos caírem na grama.

Estava feito, não tinha mais volta. Peter Pan estava perdido para sempre.

Ela engatinhou na direção da água tranquila, tão escura que não se podia ver nada em baixo. Mal se movia, não se podia dizer que havia alguém ali. Esticou as mãos devagar, mesmo sabendo que não podia tocar.

Ela esperou o que pareceu toda uma eternidade, e devagar como se também aguardasse, um brilho estranho tomou conta do lago. Ainda não podia ver nada, mas de negro como óleo ele passou para o mais claro azul celeste. Como se alguém o enchesse de vaga-lumes azuis.

Então Peter saiu, levantando-se da água como se flutuasse. Provavelmente era o caso. E nos seus olhos, Wendy viu o maior desprezo do mundo. Sempre houve essa possibilidade de que no próximo momento ele a deixaria para sempre. A pior parte é que ela nunca acreditou que fosse acontecer de verdade.

— Olá Wendy Pássaro.

...

Nada importava mais, estava tudo acabado. Tanto para ele, quanto para ela. Todo o esforço, fé e amor não valiam de nada. Devia ter previsto isto desde o inicio, estava cega por ele. Mas não sentia raiva, apenas tristeza e apenas vazio.

Estava trancada. Os dedos entrelaçados nas grades de bambu. Presa no ar. Como um pássaro devia ficar, pelo menos era o que ele tinha dito.

O peso dentro do seu peito era inimaginável, mas ela tinha cansado de tentar. Nunca, nunca mais tentaria consertar um coração quebrado. Ela não podia evitar, ele tinha mesmo sido seu verdadeiro amor. Talvez o verdadeiro amor nem sempre fosse belo. Talvez fosse mais doloroso que bonito.

— Eu posso tirá-la daqui. - Disse Sininho uma vez, vindo vê-la escondida.

Mas Wendy sabia que não adiantava. Ele tinha seus irmãos agora e a acharia onde quer que fosse. No fim das contas, ele era realmente tão cruel quanto tentaram avisá-la.

— Você vai ficar bem?

— Um coração partido é mais fácil de mudar. Eu vou seguir em frente.

Mas ela sabia que no fundo, só ia tentar ignorar. Ela só tinha sentido calor de verdade com ele. Era tarde, tarde demais para ela, tarde demais para Peter Pan. Tarde demais para o amor. E lamentava que nunca o amaria e seria amada em troca.

— É tudo minha culpa, eu nunca fiz nada certo para ninguém. Sou um fracasso. – Dizia a fada com lágrimas nos olhos. – Nunca mais vou tentar consertar nada.

— Meu erro foi tentar transformar uma coisa tão triste e distante, tão terrível e cruel em algo gentil.

E a única prova de que um dia tinha sido importante para ele, era que o sol nunca mais nasceu na Terra do Nunca.


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Notas finais do capítulo

Bom, dessa vez foi por poder, mas Peter sempre escolhe a Terra do Nunca, não é?
E esse foi o final triste e minha explicação de porque o Peter age com tanta indiferença com ela na série. Toda essa história foi um tipo de prelúdio. A partir daí é Once Upon a Time. E também, esse é o "motivo" da Wendy ter o pó mágico guardado e dado pra Sininho depois. Ah, e também, sei que não é a razão, mas como antes tinha dias de sol e depois ficava sempre noite, inventei minha razão.
Isso é tudo pessoal, beijos no coração. Ia adorar que me dissessem o que acharam no final das contas.
Finalmente terminei uma fanfic.



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