Fita Azul escrita por Helly Nivoeh


Capítulo 5
Leah X Thalia


Notas iniciais do capítulo

Oi amores, me desculpem a demora, aconteceu uma coisa que me deixou bem chateada e desanimada, o que tava terrível pra escrever sem "ferrar" com a vida das personagens.
Bom, eu ainda tô toda enrolada com o Nano, nem cheguei aos 25k, mas espero que gostem desse capítulo.
Ademais, boa leitura!



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— Você ainda não entendeu? — Jason ergueu a sobrancelha loira. — Leah é a mãe de Dimitri.

Nico encarou o melhor amigo por alguns minutos em silêncio, tentando raciocinar o que ouvia.

— Eu tenho quase certeza que o nome da mãe dele é Thalia. — Nico murmurou por fim, sentindo a cabeça girar, fazendo Jason bater na testa com a mão direita.

— E eu acho Percy lerdo. — Ele murmurou para si, antes de se jogar esparramado na poltrona em frente a Nico e explicar como se estivesse falando com uma criança.  — Leah é um apelido da minha irmã, Thalia! E não a chame assim em hipótese nenhuma! Ainda estou tentando aprender! — Jason esticou o braço pra mostrar um hematoma roxo no bíceps. Provavelmente não era o único Grace que continuou a treinar artes marciais. — Mas, voltando, se antes Thalia renegava o nome, agora renega o apelido.

Nico franziu a testa. Ele sempre soube que Leah era uma Grace, mas só porque ele era amigo de Jason, porque o loiro escondia isso de todos. Leah odiava tudo o que a ligava à família e socaria o primeiro que a provocasse mecionando “Grace” na sua presença. Nico continuava a não conseguir entender o porquê desse “anonimato”, nem quando sua irmã fez praticamente o mesmo.

— Por quê? — O Di Angelo perguntou, tentando entender o que poderia fazer Thalia mudar tão drasticamente.

Jason apontou para o sobrinho que havia soltado Hazel e agora conversava animado todo enrolado em cima do sofá. Os pés estavam com poeira e sujando o móvel, mas se o tio não se importava, Nico não falaria nada.

— Para dar bons exemplos, eu acho.

Uma lâmpada se acendeu na cabeça de Nico: Leah, ou melhor, Thalia renegar o passado no colegial por causa do filho fazia todo o sentido. Junto com a fama de Rainha veio também a de Vadia, e ela fazia por onde para provar os dois títulos, além do de maior pesadelo de um professor.

Não que ela fosse vadia do tipo de ficar com trezentos caras, ela até namorou um "playboy" a maior parte do tempo, um cara chamando Luke Castellan. Ele era mais velho que cursava faculdade de tecnologia, apesar de ter tempo para levar e buscar a namorada todos os dias na escola, além de sempre marcar presença nas festas e bailes escolares. Leah era uma vadia mais como dos filmes e séries juvenis, meio Alison Di Laurentis e Blair Waldorf, odiada e invejada por nove a cada dez garotas.

Seu círculo social era minúsculo: somente duas seguidoras e, ocasionalmente, os namorados delas, que, por acaso, eram irmãos de Luke. De vez em quando Leah também era vista com seu primo, Percy Jackson. Nico preferia não falar ou pensar nele.

— Espera! — Jason raciocinou um pouco, puxando Nico dos seus pensamentos. — Como você sabe que a mãe de Dimitri é Thalia? E como ele conhece Hazel mesmo?

Nico apertou os lábios, sabendo que lá vinha gozação.

— Nos conhecemos no parque.

Mau terminou de falar e sua mente fez uma comparação com a Leah do colegial e a Thalia que, teoricamente, ele conheceu no parque. Colocando em paralelo, ele podia ver a semelhança das feições, mas ela estava inegavelmente diferente, pelo menos, esteticamente.

Os cabelos longos cacheados platinados com mechas azuis, uma característica marcante no papel de “garota rebelde”, haviam dado lugar a curtos fios lisos e negros, lhe davam um ar de responsabilidade. A maquiagem extremamente punk que costumava destacar o tom quase elétrico dos olhos azuis, principalmente nas combinações de camadas de sombras em cores escuras, em especial o preto, se resumiu à apenas rímel e maquiagens para corrigir as imperfeições na pele, parecia bem mais natural e profissional, mesmo que se desmanchando pelo suor, e davam um tom mais escuro aos olhos, como o céu antes de tempestade.

Havia também as diferenças no corpo. Ele viu Leah, certa vez, apenas de lingerie, exibindo um corpo invejado pelas outras garotas adolescentes. Na época, ela tinha apenas dezoito anos, o que significava que Nico tinha dezesseis, mas chamou a atenção pelo físico magro e alto, com curvas suaves destacadas pelo conjunto vermelho que lhe favorecia. Agora, seu corpo era de mulher, de mãe, com seios mais fartos e curvas mais destacadas, o ventre não mais tão “secado”, o que a tornava mais real. Não que Nico tenha reparado nisso por causa da blusa transparente. Longe dele.

De qualquer forma, Leah e Thalia, pareciam tão diferentes que não era se admirar a falta de reconhecimento.

— Ela é minha nôva! — Dimitri  interrompeu os pensamentos de Nico, respondendo sorridente e apontando para Hazel a pergunta que Jason havia feito sobre como as crianças se conheciam.

— Vinte dois anos e já tem um genro? — Jason provocou, erguendo a sobrancelha.

— Vinte e dois anos e nunca namorou? — Nico retrucou, brincando no mesmo tom. Ele ainda podia ver o anel de prata no anelar de Jason, a prova de um voto que fez muitos anos antes.

Surpreendentemente, nem a faculdade o fez mudar a cabeça. Ele não precisava do anel para saber que Jason se mantinha “puro”, ainda conversavam com certa frequência pelo Skype e o loiro nunca havia contado sobre namoradas, ficantes, ou paixonites. Mesmo amigos ele não havia mencionado muitos, só um cara chamado Leo que parecia um verdadeiro gênio da engenharia. Não que Nico pudesse julgar em qualquer uma destas questões.

— Cale a boca! — Jason brigou, as bochechas ficando vermelhas. Não foi só Nico que teve uma paixão platônica secreta durante o ensino médio, Jason também foi fascinado por, pelo menos, uma das amigas da irmã.

— Você não devia ficar me mandando calar a boca na frente da minha filha, — Nico reprovou, mas seu tom era leve. — já é difícil o suficiente educar uma criança nos dias de hoje. — Jason apenas revirou os olhos, uma mania que pegou do amigo muitos anos antes. — Afinal, por que me chamou aqui?

— Porque você é meu melhor amigo!

— Só por isso? — Nico o olhou descrente. Jason faria isso sim, mas daria uma desculpa esfarrapada para não demonstrar os verdadeiros sentimentos. Era assim que funcionava a amizade deles.

— E você é o único que sabe cuidar de crianças!

— Me sinto usado.  — Nico resmungou, se acomodando melhor no sofá, mas nenhum pouco chateado pelo motivo de ter sido chamado ali. Ele sabia que a maior parte do motivo era a saudade mesmo.

— Thalia me deu um voto de confiança pra cuidar de Dimi, eu não posso fazer besteira! — Jason argumentou, parecendo realmente nervoso. — E ele não é custoso! Mas ela nunca me deixou cuidando dele na Inglaterra.

— Ela está aí? — Nico aponto para o andar de cima, um pouco receoso de dar de cara com ela. Se antes ele já não queria reencontrá-la por causa da despedida constrangedora, saber sua identidade só piorava aquilo. Jason negou com a cabeça antes de completar:

— Foi ver uma proposta de emprego.

— Vocês voltaram pra ficar? — Nico tentou são soar muito assustado por ter que conviver com a irmã do amigo, bem como ansioso e feliz pela volta de Jason.

— Eu disse que voltaria. — O Grace mais novo dedicou ao amigo o melhor sorriso, fazendo com que o Di Angelo o espelhasse. Por mais que a volta de Leah o apavorasse, ele adorava ter o melhor amigo de volta.

— Tudo bem, Garoto de Ouro. — Nico suspirou, levantando-se do sofá. — Vamos nos divertir um pouco com essas crianças.

(...)

— Então? —  Nico perguntou, abaixando a barrinha lateral da página no site que verificava com o notebook de Jason. —  O que vai ser? Doctor Who? Supernatural? Arrow? Ou prefere ver algum filme?

—  O que? —  Jason perguntou, digitando rapidamente no celular. Eles estavam jogados no quarto do loiro, as crianças deitadas em cima da cama discutindo sobre o jogo no celular de Nico, enquanto o moreno revirava o catálogo da Netflix sentado no tapete.

O quarto não havia mudado quase nada nos anos que se seguiram. As paredes continuavam em um tom de azul-claro, o roupeiro branco preenchia quase uma parede inteira, bem como a parede oposta repleta de estantes com livros, jogos, action figures e troféus pelas competições de luta quando criança. A cama de casal na qual Nico dormiu tantas vezes junto com Jason e Will ficava encostada no centro da parede que contava com a porta, deixando-a de frente para as duas janelas abertas que permitiam entrar o ar gelado da noite balançando as cortinas brancas quase nunca fechadas e, abaixo delas, havia uma mesa contendo um desktop velho, videogames, pilhas de papéis rabiscados, trabalhos antigos e porta-retratos, mostrando o trio de amigos, além de Jason com os pais e a irmã, quando eram mais novo e Beryl ainda era viva.

Entre as janelas ainda tinha um tevê LCD presa a parede, na qual Nico planejava conectar o notebook para passarem a madrugada assistindo séries enquanto as crianças dormiam.

— Qual série vamos maratonar? —  Nico revirou os olhos, percebendo que estava mais fácil conversar com uma parede. —  Não foi pra isso que me chamou?!

— Ah, sei lá. — Jason murmurou, os olhos azuis ainda fixos no celular. Havia uma ruga entre os olhos, mostrando que ele estava visivelmente preocupado com algo. — Decide aí enquanto eu vou tomar um banho. — Nico suspirou, observando o padrão no comportamento de Jason. Ele nunca decidia, a maior parte das vezes que se reuniam para maratonar algo passavam horas olhando o catálogo até decidirem deixar de lado e baterem papo a madrugada toda, ou assistirem as séries antigas pela milésima vez, ou, ainda, ficarem jogando videogame até o sol raiar. — Pode olhar as crianças?

— É claro. — Nico resmungou, mas Jason já havia saído do quarto, ainda com os olhos fixos no celular. Por fim, o Di Angelo decidiu colocar um álbum de músicas indies que adorava para dispersar o silêncio do quarto e se jogou na cama, ao lado das crianças que ainda jogavam no celular dele.

Nico estava começando a achar que era uma péssima ideia ter ido visitar Jason, principalmente passar a noite ali. A segunda decisão foi quase obrigada porque o sol já havia se posto e não era uma boa ideia andar de metrô anoite, mesmo que a cidade fosse parcialmente segura, principalmente com uma criança. A casa dos Graces contava com inúmeros quartos desocupados que serviriam muito bem para acomodar Nico e Hazel, mas ainda havia algo incomodando o moreno sobre passar a noite ali.

Ele havia feito isso inúmeras vezes durante o colegial, passava mais tempo ali do que na sua própria casa uma vez que o pai passava o dia todo fora, muitas vezes sequer dormia na residência. Mas, uma coisa era fazer isso quando sua maior preocupação era passar na prova de álgebra com A+, outra era dormir na casa de um amigo com a filha de seis anos completamente dependente dele. Talvez fosse uma péssima ideia e ele devesse ir embora naquele momento.

— Você vai mimi aqui? — Dimi perguntou, como se lesse os pensamentos de Nico.

— Não sei. — Hazel respondeu, não querendo tirar os olhos do joguinho. — Nós vamos, papai?

— Sim, piccola. — Nico respondeu, sabendo que a menina estranharia. Era a primeira vez que dormia fora de casa desde que Nico a pegara nos braços pela primeira vez.

— Eba! — Dimitri gritou, levantando-se na cama. Era visível que já estava entediado com o jogo e cheio de vontade de brincar de algo mais divertido. — Vamo ficar acordados até tarde! Tipo, dez horas!

Nico riu, observando o ânimo das crianças.

— Se a sua mãe deixar. — Ele ponderou, sabendo que, talvez, Thalia não concordasse de deixar o filho acordado até aquela hora. Entretanto, as crianças normalmente não conseguiam cumprir a meta, pelo menos, Hazel que sempre dormia antes das nove.

— Papai, eu tô com fome. — Hazel reclamou quando o jogo acabou e ela perdeu.

— Agora você lembra de comer, bambina¹? — Nico perguntou, apertando afetuosamente o nariz da menina. Mas ela não respondeu, reiniciando o jogo e se esquecendo do pai e da fome. — Vou pedir umas pizzas.

Ele resmungou mais para si, vendo Dimi chamar Hazel pra brincar e sendo, por ora, ignorado. Nico pensou em instruir a menina a deixar o celular de lado, mas, como teria que se ausentar por alguns minutos, era melhor que as crianças permanecessem ali, deitadas, ainda que a bateria do seu celular fosse a principal vítima.

Nico caminhou até o banheiro no final do corredor e bateu à porta alguma vezes, forte o suficiente para Jason ouvir o barulho acima do som do chuveiro.

— O que foi? — O loiro gritou de dentro do banheiro.

— Preciso do número da pizzaria! — Nico respondeu no mesmo tom, o ouvido encostado na porta de madeira pintada de branco.

— Tá no meu celular!

— E cadê seu celular? — Nico perguntou, revirando os olhos. Ele deveria parar com essa mania, ia acabar ficando vesgo.

— No lavatório. Pode entrar, a porta tá destrancada.

Mais uma vez o Di Angelo fez as íris negras girarem, ao mesmo tempo que sua mão virava a maçaneta dourada, abrindo a porta que, de fato, estava livre de tranca.

O banheiro, como toda a casa Grace, era espaçoso. Felizmente, Jason tomava banho com o boxe fechado, o vidro embaçado pela água quente além de esfumaçado em um tom de azul-escuro deixava a mostra apenas sua silhueta de costas e impedia Nico de ver o que ele não queria. Ele encontrou o celular de Jason sobre a pia e estranhou quando viu que o aparelho tinha uma senha com padrão, mas nem precisou perguntar qual era: Fez um “S” e logo o celular era desbloqueado exibindo um papel de parede de Jason e Dimitri dando língua em uma selfie.

— Foto fofa! — Nico falou, acessando a agenda telefônica e decorando o número, algo que já devia ter feito de tantas vezes que ligou com o passar dos anos. Ele já ia bloquear novamente o celular quando o pop-up de uma nova mensagem se abriu com os seguintes dizeres:

Acho que a Si chamou mais pessoas.”

— Jason? — Nico perguntou franzindo a testa. — O que você está marcando com Percy?

— Nada! — Jason respondeu em um tom de nervosismo óbvio.

Ele era tão ruim mentindo que chegava a ser ridículo. Uma vez, Drew Tanaka, uma das garotas que mais odiava Leah e saia com mais garotos do que trocava de roupa — o que, aliás, era muito — o chamou para sair. Jason começou a enrolar dizendo que tinha um encontro, depois namorada, por fim acabou falando que tinha amnésia e tinha esquecido que era gay. No final, ele acabou desmaiando e sendo ignorado eternamente por Drew.

— “Chego aí nove horas”. — Nico leu a nova mensagem erguendo a sobrancelha, mesmo que o amigo não pudesse vê-lo.

— Não é nada, Nico. Posso terminar meu banho em paz?

Jason resmungou em um tom que normalmente evitaria com os amigos, um tom de emburrado e irritado. Mas, como Nico não era qualquer amigo, o moreno somente deu de ombros e saiu do banheiro, levando o celular consigo.

Era óbvio que ele se arrependeria de passar a noite ali, seus instintos haviam lhe avisado ao máximo. Mas ele escutava? Não! Claro que não! Agora, depois de tantos anos, ele passaria a noite na mesma casa que não só Leah, como também Percy Jackson! Ah, e o resto da turminha, porque, se Percy havia dito que Silena havia chamado mais pessoas, Nico podia se preparar para um verdadeiro pesadelo!

Seu dia definitivamente estava ótimo!

Nico marchou novamente para o quarto de Jason, tentado a chamar Hazel e sair dali o mais rápido possível. O visor do celular indicava que não passava das dezenove horas, se fosse rápido ele poderia pegar o metrô e atravessar a cidade e ainda fazer o jantar no melhor estilo italiano.

Eles estava decido a fazer isso quando entrou no quarto e encontrou as duas crianças sentadas em cima da cama, brincando de “andoleta”. Sempre que via Hazel, Nico sentia toda a tensão esvair, sua mente relaxava e seu mundo se tornava um pouco menos sombrio, ele sabia que tinha sérios problemas com rancores e raiva, mas desde que a morena nasceu o mundo se tornou mais leve e os sorrisos do Di Angelo mais espontâneos.

E era ver a filha ali, sorrindo para um novo amigo, que ele percebeu como seria idiotice fugir dos seus fantasmas do colegial. Se ele conseguiu se tornar um pai melhor que o seu aos dezessete anos, ele podia sobreviver a tudo.

— Trouxe a pizza? — Hazel perguntou ao notá-lo e errando uma das palmas, o que fez Dimitri fazer um biquinho.

— Já vou pedir, piccola. — Nico sorriu antes de discar o número. Para ver a filha feliz brincando com o novo amiguinho, valia a pena enfrentar toda uma legião de fantasmas.


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Notas finais do capítulo

¹Bambina: Criança.
"Como deixar os capítulos menores" - pesquisar.
Hey pessoinhas, o que tão achando da história? Querem os capítulos menores?
Esse foi mais "sombrio" á lá Nico Di Angelo, né?
O que será que o Jason esta preparando? E, melhor, qual será a reação da Thalia com tudo isso?
Podem esperar treta!
Teorias sobre os sentimentos do Nico também são bem-vindas!
Please, comentam!
E obrigada por lerem!