Fita Azul escrita por Helly Nivoeh


Capítulo 36
Lobo em pele de cordeiro


Notas iniciais do capítulo

Lembrando que a fanfiction tem classificação +16 e o tema a seguir é um pouco pesado, no caso, assédio. Não terá estupro, já acalmo vocês. No entanto, se sentir que não está confortável na leitura, é melhor que espere o próximo capítulo.

Recapitulando:
— Thalia usava o apelido "Leah" no ensino médio e tinha uma personalidade ainda mais explosiva, desafiadora e não levava desaforo para a casa. Na época, ela foi pega transando com um namorado e depois começou a namorar com o Luke.
— Thalia está trabalhando há um mês na HTK Publicidades, empresa de Hylla, Bryce e Luke. Agora ela está em uma espécie de happy hour com os colegas, onde Luke é sua carona.



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— Thalia! — Luke teve que gritar para chamar a atenção da amiga, por mais que estivessem sentados lado a lado no balcão da boate. Felizmente, ela conseguiu ouvir, se aproximando mais do loiro para entender o que ele dizia, com as batidas altas e constantes da música atrapalhando.  — Sabe que eu odeio me meter!

Ela franziu a testa e balançou a cabeça que sim, não entendendo a próxima sentença graças ao grupo de garotas que começou a gritar ao lado dela, chamando o garçom. Tudo bem que não havia sido a melhor das ideias se sentar no bar para conversar, mas era isso ou dançar junto com seus novos colegas de trabalho já bêbados.

Thalia preferiu continuar ali bebendo um coquetel com Luke e conversando com Hylla. Por um tempo eles ficaram tentando convencer a Grace a ir na festa à fantasia de Luke em poucos dias, na semana do Halloween. Thalia havia dito que pensaria no assunto, o que era insuficiente para Luke, mas Hylla deu de ombros, decidindo encerrar a noite ao trocar olhares com um rapaz no fundo da boate.

Agora, até Thalia estava pensando em ir pra casa dormir. E, talvez, roubar o beijo de um italiano que lhe prometera roubar um beijo — e não cumpriu, diga-se de passagem — ao caminho da cama. No entanto, alguma coisa parecia fora de rumo a julgar pela expressão séria de Luke.

— Péssima ideia! — Conseguiu entender as palavras de Luke e fez uma careta, sem entender, até que ele apontou para a outra ponta do bar, onde um homem também bebia.

Thalia o reconhecia, mesmo que houvessem sido apresentados somente naquela noite, afinal, aquele cara era um dos seus chefes. Bryce Lawrence, o diretor de produtos e um dos gênios da empresa. Com cabelos castanhos e olhos maldosos, faltava pouco ter “problema” escrito na testa. De tudo o que Thalia havia ouvido dele, era fácil entender porque Luke havia dito que ele era uma péssima ideia.

A Grace desviou o olhar antes que Bryce entedesse como um convite e lhe arranjasse problemas, encarando Luke com um pedido de ajuda.

— Pelo amor, tudo o que eu menos quero é problemas! — Thalia retrucou, levando o copo com o coquetel até os lábios, esperando que Luke tivesse entendido.

Felizmente, as garotas barulhentas haviam se afastado com seus drinks, então Luke apenas se aproximou mais e Thalia conseguiu entender as palavras ditas ao pé do ouvido:

— Bryce pode até ser meu sócio, mas como seu amigo eu digo: não faça isso!

— Não se preocupe. Conhece alguém fareje problemas mais do que eu?! — Thalia retrucou, evitando olhar para Bryce. — Sabe que tenho um ótimo gosto pra homens e aquele ali fede!

— Devo me sentir lisonjeado por estar na sua lista? — Luke riu, concordando com a amiga.

— Além do mais… — Thalia deixou no ar, ignorando a pergunta de Luke. Ele ergue a sobrancelha questionando, mas a Grace apenas desviou o olhar, um sorriso ao tomar o que restava da bebida na taça.

— Você está…? — Luke questionou com um sorriso realmente surpreso.

— Não é nada real e nem oficial. — Thalia respondeu, também.tentando entender o que era exatamente.  — Nós nós só estamos deixando acontecer.

— Ah, tá! — Luke retrucou rindo e tomando o último gole do martini. — Eu te conheço, Thalia Grace.

— E por isso você vai ficar calado e assistir, Luke Castellan!

Thalia apenas retorquiu com um sorriso e se afastou de Luke, pedindo mais um coquetel no bar. Logo uma garota alta e loira aproveitava a deixa, chamando Luke para dançar.  Thalia não pode deixar de sorrir ao ver o amigo seguir a garota, mas não sem antes lançar um sorriso cafajeste por cima do ombro para Thalia.

— Parece que é hora de encerrar a noite. — A Grace disse pra si mesma, decidida a tomar um último drink antes de pedir um táxi, agora que havia perdido a carona.

Infelizmente, a ausência de Luke serviu como a oportunidade perfeita para Bryce.

— Como uma mulher tão linda pode ficar sozinha no bar? — Bryce perguntou, tomando o lugar em que Luke estava sem qualquer cerimônia e Thalia sentiu um arrepio na espinha. Ela apenas sorriu constrangida e virou o rosto, em busca de qualquer um para lhe salvar. — Não está curtindo a noite?

— Só estou cansada. Essa foi uma longa semana — Thalia se forçou a ter um tom neutro, por mais que o sentimento de mal estar lhe provocava arrepios. Todos os momentos similares de constrangimento que já havia passado dançaram por sua mente, e ela só esperava que o resultado não fosse tão catastrófico quanto havia acontecido algumas vezes. Afinal, Bryce também era seu chefe.

— Hylla deve estar te deixando louca, não é? — O homem sorriu e, por um momento, Thalia achou que ele poderia estar sendo apenas simpático. Não era justo julgá-lo por palavras de terceiros, certo?. — Deve estar abusando de você.

Não, definitivamente aquele não era um sorriso simpático. Thalia conhecia “lobos em pele de cordeiro” o suficiente para saber que Bryce não era um mocinho.

— Hylla me deu um ótima oportunidade. Estou gostando muito da empresa.

Mas não do chefe”, ela pensou. “Não quando o chefe é você”. Durante um mês, Bryce Lawrence havia viajado, aparentemente fechando contratos no exterior, mas Thalia havia ouvido dele o suficiente para não querer conhecê-lo.

— Eu também quero te dar uma oportunidade ótima. — Ele sorriu malicioso e aproximou mais o rosto com a desculpa de que a música estava em seu clímax, as batidas ainda mais altas e ensurdecedoras.

Com as luzes coloridas, Thalia podia percebeu o ângulo estranho do nariz do homem, provavelmente quebrado e cicatrizado incorretamente, a maneira como seus olhos pareciam cruéis ao sorrir, as marcas de expressões finas na pele. Ele era mais velho, provavelmente na casa do trinta ou quarenta anos e seus dentes tinham um tom estranho amarelado. Junto ao cheiro de tabaco, era óbvio que ainda era um fumante.

— Eu adoro dar oportunidades especiais para minhas empregadas. _ Bryce deu um sorriso de lobo, pousando uma mão na coxa de Thalia, coberta apenas pela meia. Ela fechou mais as pernas e virou para o lado contrário, fugindo do toque invasivo.

Infelizmente, isso não o intimidou, e logo Thalia sentia o estômago embrulhar quanto Bryce se inclinou e a tocou no rosto, com a desculpa de tirar um fio de cabelo, mas ela se afastou abruptamente, apertando os olhos.

— Acredito que as oportunidades que tenho na HTK são mais que suficiente. — Thalia vociferou entredentes, segurando a bolsa com firmeza. Forçou um sorriso e se pôs de pé, tentando encarnar a “Leah” do ensino médio, que havia lidado com muitas situações como aquela, situações bem piores. — Eu adoraria ficar e conversar, mas tenho trabalho a fazer.

— Relaxe. — Bryce retrucou, segurando o pulso dela. — Eu sou o chefe, posso te dar trabalhos mais divertidos para fazer.

— Eu não estou interessada. — Thalia replicou, puxando o braço com força e lhe dando as costas, as mãos cerradas em punhos e o corpo tremendo, desvencilhando-se das pessoas para chegar a saída da boate.

Quando enfim pisou na calçada de fora e sentiu o ar frio aliviar o incômodo no estômago, seu braço foi tomado em outro aperto e o pânico aflorou dentro dela.

— Está se fazendo de difícil?! — As palavras de Bryce pioraram a ânsia, intensificada pelo cheiro de álcool e cigarro barato. — Adoro quando se fazem de difícil!

Para piorar, ele encostou os lábios na bochecha de Thalia, lábios úmidos com o que ela pedia para não ser saliva e, então deslizou a língua por alguns centímetros, fazendo o pânico florescer dentro de Thalia.

— Eu acho graça que você até tenta, mas com essa blusa… Saiu de casa pra provocar, né?! Fica mostrando os peito pra te agarrarem assim!— Ele riu da própria fala, passando a mão esquerda pelo corpo de Thalia, enquanto a direita ainda a prendia. —  Com essa saia, nem adianta se fazer de difícil.

Thalia sentiu como um soco no estômago, seu corpo oscilava entre o medo e a vergonha, seu mundo começava a girar.

Bryce continuou a sussurrar no ouvido dela,  sentenças nojentas e lascivas, que a fazia se sentir pior cada vez mais.. Parecia que ele adorava vê-la passar mal a cada insulto dito em tom rouco.

E, então, Luke apareceu.

— Thalia! — O rapaz chamou e Bryce soltou o braço dela, dando um passo para trás e sustentando o sorriso pervertido. — Está tudo bem?

— Estamos apenas conversando. — Bryce respondeu, sorrindo hipócrita. — E você está atrapalhando, meu caro amigo.

— Thalia? — Luke perguntou, tocando-a no braço em um tom suave. Ela engoliu em seco e juntou o que restava de autocontrole, assentindo com a cabeça.

— Estou um pouco cansada. Pode me deixar em casa?

Luke assentiu, deixando que ela se dirigisse ao carro.

Thalia não queria admitir que sentia medo de Bryce a seguir. Thalia não queria admitir que se sentia suja com o toque e as palavras de Bryce. Thalia não queria admitir que estava caindo em ruínas ao entrar no carro.

Saiu de casa pra provocar, né?!”.

Fica mostrando os peito pra te agarrarem assim!”.

Com essa saia, nem adianta se fazer de difícil!”.

Thalia não queria admitir que iria rasgar aquela roupa assim que chegasse em casa.

(...)

 

Thalia não se lembrava do caminho de volta para casa, mas tinha certeza que havia mentido para Luke que estava tudo bem. Ela não se lembrava da nuvem que eram seus pensamentos, mas se lembrava de se trancar no quarto e escorregar pela porta, a angústia tão forte que não conseguiu chorar.

E, por último, se lembrava do banho, quando passava a esponja com tanta força pelo corpo que parecia arder, deixando-a vermelha. E, então, havia se encolhido nas cobertas, sozinha no silêncio, esperando o sol nascer sem conseguir dormir.

Ela se sentia suja, errada e com medo.

A escuridão do quarto parecia aterrorizante, mas não era medo de demônios e fantasmas. Pelo menos, não demônios e fantasmas como nos filmes de terror. Mas era medo dos demônios que andavam pelas ruas e se achavam no direito de a tocar, como Bryce,  e os fantasmas de seu passado, que também se apresentavam como demônios que haviam tentado fazer o mesmo.

Thalia Grace havia passado por muitas situações como aquelas, muitas até piores. Mas, no passado, havia se defendido, não só ficado estática como havia feito naquela noite.

Começava a se revoltar com aquilo.

Por que não havia agido? Por que havia ficado parada deixando que Bryce a fizesse se sentir um objeto sujo, a pior da mulheres, apenas uma escória?! Por que não havia gritado, o empurrado, ou rebatido as palavras?! Por que não havia conseguido se livrar daquilo como no passado?! Aquela “Leah” do passado teria escapado sem a patética ajuda de Luke.

Por acaso havia gostado?! Havia realmente escolhido aquela roupa para provocar? Afinal, tinha saias maiores. Tinha blusas menos expostas. E sabia que atraia atenção masculina, precisava se vestir tão provocante?! A culpa era dela, não?!

Não, no fundo ela sabia que não. Ou achava que não.

Pelo menos, era o que Silena diria, certo? Silena e sua regra de “vista-se como quiser e foda-se os outros”. A realidade era que Thalia já havia passado por situações semelhantes quando vestia calças, tênis e a camiseta do uniforme escolar.

E, para ser sincera, muitas vezes não havia conseguido sair das situações sozinhas.

Luke mesmo a havia salvo diversas vezes durante o ensino médio, o simples fato dele nomeá-la como sua namorada havia colocado uma barreira de “respeito” na maior parte dos caras da escola.

Ela não havia conseguido se defender sozinha todas as vezes. Mas como Leah ela pelo menos tentava, agora, como Thalia, era patética.

Ou talvez sempre fosse patética e só agora se dava conta disso.

Se parasse para pensar, muitos desses momentos que havia acontecido na adolescência havia começado depois que ela teve a brilhante ideia de transar com o namorado na escola. Se não tivesse feito aquilo, se tivesse parado e pensado direito, muitas situações teriam sido evitadas.

Se ela não tivesse usado aquela roupa naquela noite, a situação teria sido evitada.

Patética.

Seja como Leah ou Thalia, ela era patética.

E por isso entraria em mais situações como aquela.

Bryce sempre se lembraria dela com aquelas roupas e quem poderia dizer o que ele faria ou diria da próxima vez que a visse?!

Eles trabalhavam na mesma empresa, em algum momento ficariam sozinhos.

E se ele tentasse agarrá-la novamente? Certamente que Luke não surgiria para salvá-la. Thalia conseguiria reagir ou ficaria parada novamente?!

 

Thalia precisava parar de pensar. O isolamento do quarto a estava deixando ainda mais em pânico e o relógio marcando as  horas lentas da madrugada se arrastavam. Precisava sair dali.

Ela desceu as escadas com a mente ainda revivendo o pânico, revirando-se em pensamentos e teorias que envolviam o presente, passado e futuro.  Se encolheu no sofá da sala e ligou a televisão em um canal qualquer, tentar distrair os pensamentos. Só então conseguiu descansar.

 

Thalia acordou com a sensação de que havia se passado poucos minutos, sentindo braços a sua volta e seu corpo sendo erguido. Abriu os olhos e sentiu a cabeça latejar, fechando os olhos novamentes e resmungando de dor.

Shiu, pode voltar a dormir. — A voz de Jason foi calma e Thalia percebeu que ele a carregava pela escada. — Não vou contar para o papai que está de ressaca.

Ela apenas suspirou sentindo a cabeça doer e abraçou o pescoço do irmão, se deixando ser protegida e descansar . Percebeu quando ele a deitou na cama e a cobriu, com um carinho peculiar.

Ela abriu os olhos o máximo que conseguiu, o que não era muito, e murmurou um obrigada, fazendo o irmão rir e beijá-la na testa. Ainda teve o leve vislumbre de Jason fechando as cortinas antes de cair no sono profundo.

 


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Notas finais do capítulo

O capítulo foi curto em comprimento pelo teor, por ser um capítulo pesado e bem triste.
Algumas vezes eu recebi parabenizações por tratar temas sérios do nosso dia-a-dia sem pesar demais a história e eu tentei fazer o mesmo, mas precisava colocar esse pensamentos da Thalia por um motivo bem sério: As vítimas tendem a se culpar em muitos casos.
Mas, gente, NÃO É CULPA DA VÍTIMA.
Infelizmente, vai ter mais coisinhas envolvendo isso, no entanto, vai ser mais leve, ok? É só que eu realmente precisava mostrar os sentimentos da Thalia nesse capítulo enquanto ela ainda estava bem abalada.
EU PROMETO QUE VAMOS VOLTAR AOS MOMENTOS AMORZINHOS!
A Thalia não lembrou, mas o Nico ainda está dormindo na casa dos Graces.
Enfim, o que vocês acharam? Como se sentiram? Já passaram ou viram situações semelhantes?
Rapazes que leem essa fanfic, pelo amor, não sejam um Bryce da vida. Infelizmente, o mundo já está poluído demais com eles.
Ok, agora eu vou embora.
P.s.: Amanhã eu faço oito aninhos de Nyah!, então talvez tenha um agrado pra vocês!