Fita Azul escrita por Helly Nivoeh


Capítulo 2
Menina Bonita do Laço de Fita


Notas iniciais do capítulo

Oi pessoinhas!
Desculpem a demora, não tive muito tempo para editar o capítulo então só saiu agora. Espero que gostem.
Boa leitura!



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Como crianças podem ser tão fofas?! Era o que Nico se perguntava observando Hazel agradecer feliz o singelo presente que havia ganhado.

— Espero que não seja do tipo ciumento. — A mãe de Dimitri sorriu para o Di Angelo, vendo o filho tentar amarrar a fita no rabo de cavalo de Hazel, mas era larga e grande demais, o que fazia deslizar e cair sobre os cachos castanhos. — Aliás, sou Thalia.

Ele se virou para responder seu nome, mas não teve tempo, pois Hazel o gritava.

— Papai, ajuda a amarrar! — A menininha pediu e Nico suspirou, se ajoelhando e dando seu melhor sorriso que sempre reservava para a filha.

— Não tem como parar no cabelo, mio amore¹. — Ele explicou, segurando a fita quando Dimitri a entregou. — Mas você pode usá-la na cintura.

Com cuidado ele envolveu o cetim pelo o corpo de Hazel, fazendo um laço atrás. A peça havia combinado perfeitamente com o vestido branco — que logo ficaria marrom — e parecia combinar com os olhos azuis de Dimitri. As crianças realmente formavam um belo par contrastante.

— Obrigada! — Hazel beijou Nico na bochecha e segurou a mão de Dimitri, correndo pela pracinha, puxando-o.

— Mamãe, brinca com a gente! — Dimi pediu enquanto tropeçava, tentando acompanhar a menina. Thalia apenas riu e assentiu, puxando os cabelos curtos para trás das orelhas. — Brinca de dinossauro!

— Eu sou o T-Rex e vou pegar vocês! — Ela gritou e avançou, fazendo garras com as mãos enquanto as crianças fugiam em gargalhadas.

Nico tinha certeza que conhecia aquela garota de algum lugar. As feições lhe eram familiares, bem como a voz, mas jamais havia conhecido qualquer Thalia, principalmente uma que fosse tão bonita e descontraída. Eles estavam há quase uma hora no parque, brincando com as crianças. Nico descobriu que Thalia morria de medo de altura, mas adorava subir no playground brincando de pega-pega, além de ficar fugindo das crianças, usando-o como escudo vez ou outra.

Ele estava se sentindo um pouco envergonhado em brincar com Hazel como sempre fazia, principalmente porque sempre foi tímido perto de garotas, mas Thalia ria tanto que ele se viu correndo e brincando também, fugindo de Dimitri e Hazel que fingiam serem dinossauros e queriam devorá-lo com ovos mexidos. Foi em uma dessas voltas ao redor das árvores que ele não viu Thalia correndo na sua direção e os dois foram parar no chão onde as duas crianças se jogaram em cima.

— Me desculpe! — Thalia pediu, rolando para sair de cima dele. Ela se sentia um pouco embaraçada com a situação, principalmente ao ver que sua saia havia subido mais do que deveria. Ela preferiu não olhar para Nico, evitando ficar constrangida caso ele olhasse sem querer.

— Tudo bem. — Nico tentou sorrir, erguendo o corpo com os cotovelos apoiados na grama e as crianças ainda em cima dele.

— Eu te machuquei? — Thalia perguntou, se xingando mentalmente por ser tão desastrada. Não era a primeira vez que ela caia em cima de alguém e, provavelmente, não seria a última.

— Não. Você não é pesada. — Nico sentiu as bochechas queimarem assim que falou as palavras. Existia um ser humano pior do que ele com garotas? Ele só conhecia um cara com quem poderia disputar o prêmio.

— Ah não? — Ela cruzou os braços sobre a blusa transparente que agora estava tão suja quanto a meia-calça. — Aposto que nós três ganhamos de você na gangorra!

— Ah, é? — Ele ergueu a sobrancelha, uma mania herdada do pai. Seu vício por desafios era quase tão grande quanto sua timidez. — Desafio aceito!

— Quem chegar por último paga o sorvete! — Thalia gritou e correu para a parte com as gangorras, sendo seguida pelas crianças que não foram delicadas ao se apoiarem em Nico para pegar impulso e se erguer do chão. É claro que Nico foi o último a chegar ao brinquedo.

— Isso não foi justo! — ele reclamou, quase fazendo um bico. Ele odiava trapaças, principalmente quando não partiam dele. Thalia, a mais adulta ali, deu língua como resposta.

— Vamos logo, pimpolhinho!

Nico franziu a testa, como se uma lembrança quisesse rasgar sua mente. Haviam pouquíssimas pessoas que usavam aquele termo normalmente, mas ele já tinha ouvido alguém usá-lo com a mesma naturalidade que Thalia.

— Você vai perder, papai! — Hazel exclamou, sendo segurada por Thalia que havia se juntado com as duas crianças em uma das pontas da gangorra. Nico balançou a cabeça e se sentou na outra, ciente de que perderia.

Ele não era nenhum rato de rato de academia, mas ainda possuía um bom porte físico devido as corridas matinais e alimentação quase equilibrada. Entretanto, sempre foi mais magro que os amigos, mas, mesmo com a estatura um pouco maior que a média dos homens, ele não seria mais pesado que seus “adversários”.

Por isso, não foi sua surpresa quando a balança pendeu para o lado de Thalia e as crianças, que sorriram vitoriosas dizendo que ele estava de castigo. Nico fingiu emburrar e fazer pirraça para descer, apesar dos seus pés ainda tocarem o chão, mas Thalia era imbatível e tinha uma alma maligna, incitando as crianças a torturá-lo.

— Se não me deixarem descer, — Ele chantageou por fim. — não tem sorvete!

— Eu quero sovete! —Dimitri foi o primeiro a abandonar o brinquedo, gritando. Hazel foi logo atrás, deixando Thalia sozinha. Não demorou para que a gangorra invertesse e a mulher se visse “de castigo”.

— E agora? —Nico ergueu a sobrancelha, sorrindo sarcástico ao ver a garota se equilibrar com medo de que a saia subisse e revelasse mais do que devia.

— Você poderia ser um cavalheiro e me deixar descer. — Thalia sorriu se um jeito adorável, que era familiar a Nico. Tão familiar que o deixou com um formigamento, como se sua mente dissesse: “Sério que você não lembra disso?!”. Mas nenhuma garota jamais havia sorrido para Nico assim.

— Quem disse que sou cavalheiro?! — Nico retrucou, ainda sorrindo, dando um  olhar rápido para as crianças que apostavam corrida no escorregador.

— Está nos seus olhos. — Ela deu seu melhor sorriso de flerte. — São tão negros que é possível ver a luz da sua alma bondosa e altruísta.

— Você não sabe o que está falando. — As bochechas de Nico queimaram, pensando em como sua mãe sempre o havia ensinado a ser exatamente como Thalia estava o descrevendo. Tudo bem que muitas vezes ele agiu o contrário, mas isso não o impediu de sentir-se constrangido e agradecido ao mesmo tempo.

— Você está vermelho! — Thalia exclamou, como se estivesse falando com uma criancinha. — Que coisa mais fofa!

— Não estou! — Nico retrucou como uma criança, corando ainda mais e deixando a gangorra equilibrar para a garota poder sair.

— Você é tímido! — Thalia continuou, ainda sem descer do brinquedo. Nico resmungou e levantou-se, fazendo com que a parte de Thalia se chocasse contra o chão, a fazendo exclamar um “ai” quando o impacto lhe causou uma leve dor.

— De-desculpe… — Nico gaguejou, estendendo a mão para ajudá-la. Ele engoliu em seco ao ver que estava trêmulo devido ao nervosismo, mas Thalia não comentou. Ela já havia convivido com caras tímidos o suficiente para saber que o comentário poderia lhe causar um colapso nervoso.

— Tudo bem. — Ela sorriu, aceitando a mão e erguendo-se. — E não leve a mal o que eu disse, acho caras tímidos muito fofos. Sua esposa deve gostar.

— Eu não tenho esposa. — Nico murmurou, dando-lhe as costas para se juntar a filha que o chamava no balanço.

— Namorada, então. — Thalia se corrigiu, pensando se isso soava como dar em cima. Era óbvio que aquele cara era legal demais para se envolver com qualquer uma que não tivesse seu coração por inteiro, ele parecia não ser o tipo de cara que ficava uma noite só. Provavelmente ainda estava junto com a mãe da filha. Mas não foi exatamente isso que ele respondeu.

— Também não. — Foi a resposta dele, ainda de costas e sem qualquer emoção na voz. — Já escolheram o sabor do sorvete?! — Ele questionou para as crianças antes que a terrível pergunta sobre a mãe de Hazel aparecesse. As pessoas sempre perguntavam onde ela estava, como ele se tornou pai aos dezesseis, por que a pele de Hazel era mais escura que a dele… E ele sempre respondia que era uma longa história, apesar de sua mente encher de impropérios.

De fato era uma longa história. Uma longa, confusa, complexa, turbulenta, misteriosa, cheia de reviravoltas…  Enfim, você me entendeu! Tudo bem, nem é tanto assim. Mas, de fato, não é o tipo de história que você conta para uma garota que acaba de conhecer.

— Eu quero de limão! — Hazel respondeu, descendo do balanço.

— Azul! — Dimitri escolheu, causando uma risada em Nico.

— Ele tem uma fixação por azul. — Thalia esclareceu, rindo do filho antes de se dirigir à ele. — Você passou tempo demais com seu tio!

— Tem uma sorveteria aqui perto. — Nico se virou para ela. — O que acha?

— Acho que prefiro o de morango! — Foi a resposta de Thalia.

(...)

Nico preferiu o de chocolate. Depois de pagar os sorvetes, eles se sentaram em uma mesa redonda no segundo andar da sorveteria. De fato, a sorveteria não ficava muito longe da praça e servia sorvete azul, mas o mais agradável ali era a vista. Nico nasceu na Itália, mas mudou-se para os Estados Unidos aos dez, contudo, sempre sentiu saudades da sua pátria. A cidade onde morava agora não era pequena o suficiente para todos saberem da vida de todos, mas também não era uma metrópole. Ele até gostava dali.

    — Então, — A voz de Thalia interrompeu seus pensamentos. — você ainda não me disse seu nome.

    — Nico. — Ele sorriu, sentindo-se estranho.  — Nico Di Angelo.

    — É um prazer, Nico Di Angelo. Posso te fazer uma pergunta?

Nico pensou em dizer que, tecnicamente, aquela era uma pergunta. Pensou também em dizer não, porque sempre que começavam algo assim, ele odiava. Era sempre uma pergunta extremamente pessoal e/ou constrangedora. Ele realmente não entendia a convenção social que obrigava as pessoas a perguntarem se podiam fazer uma pergunta.

— Claro. — Forçou um sorriso, um pouco nervoso.

   — Como você deixa sua filha ficar noiva tão pequena?! — Pelo sorriso da garota, era óbvio que ela estava brincando.

  — Bom, foi seu filho quem a pediu em casamento primeiro. — Nico argumentou, mexendo a colher dentro da taça que ainda continha vestígios de sorvete.

   — Tem toda uma explicação lógica para isso! Dimi, por que não conta pra Hazel porque quis se casar com ela?

    — Porque você é pretinha! — Dimi respondeu e Nico sentiu um arrepio pelo corpo.

Hazel era negra, tinha a pele da cor de chocolate. Várias vezes, pessoas fuxiqueiras exclamavam confusas quando ele lhes dizia que era pai dela. Perguntavam como era possível, se ela era adotada, ou faziam careta indicando que era isso o que pensavam. Nico não era "branquelo", a pele era em um tom de oliva, mas mais clara que a de Hazel, principalmente porque ele não tomava muito sol. Mas, de qualquer forma, ele sentia muito medo do preconceito que a menina podia vir a sofrer.

Seres humanos eram cruéis, até algumas crianças tão pequenas já haviam aprendido a ser. Mas, pelo modo como Dimitri falou, em uma espécie de contemplação, Nico acreditava que ele era exceção.

— Calma. — Thalia o tocou no braço, provavelmente percebendo como ele ficou tenso. — Dimi, que tal mostrar pra sua amiguinha seu livro favorito?

— Ela é minha nova. — O menino corrigiu, mas assentiu e sorriu,

Os olhinhos do menino brilhavam de expectativa, esperando a mãe revirar a bolsa e entregar-lhe o livro onde antes havia guardado a fita. Dimitri depositou o livro com cuidado sobre a mesa, temendo sujá-lo com sorvete.

Nico se imaginou como a cena deles na sorveteria soaria estranho para os demais: Thalia estava completamente descabelada, amarrotada e suja, bem como o vestido de Hazel e a roupa de Dimitri. Nico se perguntava se estava tão ruim quanto eles.

— É da menina bonita do laço de fita!


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Notas finais do capítulo

¹Mio amore: meu amor.
Alguém conhece essa história? Sugiro que leiam porque é tão fofa!
Qual será a história por trás da mãe da Hazel, hein?
Será que a Thalia tava flertando com o Nico?
E o pai do Dimitri, alguma ideia de quem seja?
Adoraria saber das teorias!
Muito obrigada por lerem e, se não for muito incomodo, poderiam deixar comentário? Please!