Fita Azul escrita por Helly Nivoeh


Capítulo 13
Não se deixe enganar pelo sorriso fácil...


Notas iniciais do capítulo

Hey pessoas!
Sei que andei sumida, mas é porque estava sem computador e queria postar só quando respondesse os reviews pendentes, o que acredito que consegui aqui!
Bom, advirto que o capítulo é um pouco triste e vai esclarecer algumas coisas...
Dedico este capítulo à minha filhota aqui do Nyah, Risurn, que tá ficando mais sábia hoje. Parabéns, Sweet! Um capítulo com tiros porque você sempre faz isso comigo!
Ademais, boa leitura!

P.s.: Link do Polyvore na Thalia.



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Por seus amigos, Nico tomaria quantas taças de vinho fossem necessárias. Eles estavam há algumas horas na varanda do apartamento, a noite estava particularmente estrelada como Nico gostava, havia um vento frio ideal para ficar debaixo dos cobertores e eles tomavam um dos vinhos tintos favoritos de Nico, uma música suave baixa tocando enquanto eles conversavam baixinho e até Hazel estava quieta, enrolada no braços dos “tios adotados”.

— Eu ganhei uma estrelinha dourada! — Hazel contou feliz e orgulhosa, abraçada à Will.

— Eu disse que seus poemas são os melhores, princesa! — O Solace exclamou, dando um beijo na cabeça da menina.

— Tio Will, já ganhou uma estrelinha dourada? — A pequena Di Angelo perguntou curiosa, fitando-o nos olhos.

— Há muitos anos, meu amor. Hoje em dia eu quase choro pra conseguir passar em uma matéria.

— O senhor quer minha ajuda pra estudar? — Ela ofereceu com toda inocência de criança, fazendo um sorriso encantador surgir nos lábios de Will.

— Eu adoraria!

— O papai sempre me ajuda. — Hazel contou, brincando com os fios loiros de Will. — Ele não deixa eu assistir tevelisão enquanto eu não faço o dever de casa. Nem ir brincar.

— Poxa, isso é maldade. Vou brigar com ele. — Will fingiu uma cara de brabo para Nico, que apenas riu e revirou os olhos.

— Mas é pro seu bem, mio amore. — Nico argumentou, virando-se para a filha. — Assim você ganha várias entrelinhas douradas!

— Eu gosto de estrelinhas douradas. — A pequena Di Angelo bocejou, apertando Will e se aconchegando mais no colo dele. Por Will ser o mais quente ali, ele havia se tornado a cama favorita da menina. — O senhor ganha estrelinhas dourada, Tio Jay?

Nico olhou de soslaio para Jason que estava deitado na poltrona ao lado esquerdo de Will. O Grace sorriu ao se virar para a menina que tinha toda a atenção nele.

— Faz muito tempo também, Hazz.

— O senhor ainda estuda? — A menina continuou, toda a atenção voltada para o tio enquanto lutava contra o sono.

— Não mais, Princesa. — A resposta pareceu ser o suficiente para Hazel que deixou as pálpebras cobrirem os olhos castanhos e logo ressoava suavemente, ainda enrolada no colo de Will.

Nenhum deles quis quebrar o silêncio, cada qual manifestando sorrisos ao observar a menina ressoar tranquilamente, pensando sobre a época que possuíam a mesma inocência, quando o maior problema era fazer a lição o mais rápido possível pra poder subir nas árvores do quintal.

— Quer contar pra gente o que aconteceu, Jay? — Will foi o primeiro a se pronunciar depois de muitos minutos. Ele sempre foi o melhor em lidar com pessoas, só não havia seguido na área de psicologia por causa do amor incondicional à medicina.

Nenhum deles se virou para Jason, cada um fitava o céu estrelado, dando liberdade para que ele decidisse se era o momento ou não.

— Eu larguei a faculdade. — O Grace falou, por fim. Sua voz soou baixa, como se não estivesse realmente falando com os demais. — No penúltimo semestre. — As palavras pairaram pelo ar, enquanto os amigos refletiam, inevitavelmente, teorias surgindo na mente deles, o receio de forçar Jason.

— Quer nos contar o porquê? — Will continuou, por fim, virando a cabeça na direção do amigo. Jason respirou fundo e o encarou, antes de continuar no mesmo tom:

— Há uns três anos eu comecei a ter alguns problemas: Eu não conseguia dormir, nem comer, vivia com taquicardia, náusea cansaço e não tinha ânimo para nada, mal conseguia ir pras aulas e, muito menos, estudar, o que só piorava meu estado quando só via minhas notas caindo e as broncas do meu pai quando reprovava em alguma disciplina. — Jason fez uma pausa, olhando para o céu estrelado e pensando em como havia se sentido mal e culpado por todo aquele tempo, nem havia tido coragem de contar aos amigos o que estava passando na época. — Quando eu conheci o Leo até que melhorou um pouco, ele estava quase se formando, mas foi um bom amigo e me ajudava com o que eu não entendia, ele também fazia mecatrônica. Só que, mesmo assim, eu fui piorando. Ano retrasado, eu comecei a ter desmaios constantes, os sintomas foram aumentados e comecei a ter crises de pânicos mais frequentemente, tinha dias que não suportava sair do dormitório de tão ruim ficava.

— Jason… — Will sussurrou, sentindo a garganta apertada. — Nós sentimos muito…

— Eu não queria preocupar vocês. — Jason forçou um sorriso, pedindo desculpas. — De qualquer forma, foi quando decidi sair do dormitório, eu ia continuar estudando, mas ia morar fora do campus. Como Thalia morava em Londres com Dimi, decidi que era a melhor opção, eu achava que podia estar passando mal por causa do ambiente, sabe?

Will e Nico apertaram os olhos ao se entreolharem, o azul de Will tomando um brilho de lágrimas.

— Mas as crises não pararam. — Jason respirou fundo, evitando olhar para os amigos com o rosto vermelho. — Era ainda mais difícil ir pras aulas porque no campus pelo menos o Leo me obrigava a sair da cama, mas em casa não havia ninguém pra me dar força. Eu nem precisava dizer que não estava afim, meu pai não ficava em casa e Thalia já estava preocupada demais com a própria faculdade e com Dimitri. Ninguém iria reparar, mas Thalia reparou. Ela viu que eu mal saia de casa, nunca falava de amigos e vivia desanimado, os sintomas para ela eram claros, mas não pra mim.

— Ela cuidou de você. — Will afirmou suavemente, incentivando Jason.

— Cuidou. — O Grace continuou, a voz soando embargada. — Ela me levou ao médico, me ajudou a fazer todo o acompanhamento. Mesmo quando eu não queria ir, ela dava um jeito de sair do estágio ou da faculdade e me levar, me obrigava às vezes. Ela me incentivou a voltar a lutar, até voltou só pra me fazer companhia, e começou a me tentar me ajudar a estudar, mesmo nem sabendo derivar um seno ficava ao meu lado até de madrugada, me fazendo companhia e até me obrigando a jogar alguns trabalhos para o alto.

— Isso foi legal. — Will comentou, dando tempo para o amigo se recuperar do desabafo. Jason respirou fundo, um pequeno sorriso um pouco amargo surgindo estranho ao torcer a cicatriz em seus lábios.

— Foi… Mas não estava adiantando muito. Eu continuava passando mal por causa do estresse. Foi aí que ela me incentivou a abandonar a faculdade. Eu até aguentei mais um semestre, só que quando fui parar no hospital por causa de um desmaio no meio de uma prova seguido de falta de ar, eu vi que não aguentava mais, que estava ficando louco. Eu decidi que um diploma não valia aquilo tudo.

— Você fez certo, Jay. — Mais uma vez Will opinou com um sorriso confortante. Nico, ao lado direito de Jason, lhe apertou a mão, sem saber como reagir.

— Tenta explicar isso pro meu pai. — Jason riu amargamente, levando os amigos a encararem-no preocupado, quando o tom mudou para algo rancoroso, invulgar no garoto. — Quando eu contei pra ele que havia desistido… Vocês sabem como meu pai é: ele não é ruim, mas exigente demais e nunca teve paciência, ele não tolera fracassos e o meu foi uma grande decepção para ele.

— Jason você não fracassou… — Nico se pronunciou, não aguentando ver o estado machucado do amigo.

— Pra ele sim. Ele ficou com tanta raiva… Thalia quem contou. Estavamos só nós três, Dimi tinha ido passear com a babá e minha madrasta fazer compras, eu não sei se foi melhor ou pior. Eu sei que ele me olhou com tanta decepção que eu nunca vou esquecer… — Uma lágrima silenciosa desceu pelo rosto do Grace, mas ele não se incomodou em limpar. Ele arfou e quando voltou a falar, seu tom se tornou mais rápido, como se as lembranças lhe fizesse perder o ar. — E então ele começou a gritar, mas não era comigo que ele gritava, era com Thalia. Ele disse que era culpa dela, que ela quem me corrompeu, disse que ela não conseguia ser boa por isso queria me estragar… Ele xingou ela de tantas coisas e eu não conseguia me mexer, eu não conseguia dizer que ela não tinha culpa de nada.

Jason fez uma pausa, reunindo coragem para terminar o relato, a parte que mais o assustava e envergonhava.

— Mas Thalia não conseguia ficar calada, ela nunca conseguiu. — Ele falou pesarosamente, a voz voltando a ficar pausada. — Ela começou a gritar também, falando que a culpa era dele que não havia percebido que eu estava mal, que a culpa era dele por nunca ligar pra gente, ela até disse que foi por isso que a mamãe morreu. Que ela bebia demais porque não suportava ele e por isso bateu o carro naquela noite…

A mente de Nico se fixou nas informações que ele sabia sobre a morte da mãe de Jason, Beryl Grace. Ela sempre quis ser uma atriz famosa, mas acabou engravidando cedo e se casando, o que ela culpava por nunca ter feito sucesso. Jason quase não se lembrava dela, tinha só cinco anos quando, em mais uma das noites em que Beryl saia para beber e desaparecia até quase entrar em coma alcóolico, ela bateu o carro contra um caminhão. Por causa da bebida havia invadido a pista ao lado, a rodovia era mão única e pouco iluminada, o resultado foi a morte no local. Aquilo havia acabado com o Zeus, ele havia entrado em uma depressão profunda e nunca mais havia sido o mesmo, segundo os relatos que Jason havia ouvido do tio e compartilhado com os amigos do pai. Se Thalia havia culpado o pai pela morte da mãe, Nico não queria ouvir o final do relato de Jason, não havia como o final ser feliz.

Um longo silencioso permaneceu, enquanto Jason tentava controlar os soluços que haviam surgido enquanto desabafava. Quando ele conseguiu cessar as lágrimas, continuou a história, mas o timbre ainda soava choroso:

— Meu pai se descontrolou: ele avançou na direção da Thalia, a mão pronta pra dar um tapa ou sei lá o que mais ele poderia fazer. Foi quando eu descongelei: só puxei Thalia pra trás e me coloquei na frente dela, gritando com meu pai que, se ele quisesse bater nela, teria que passar por cima de mim. Não sei se foi por surpresa, ou porque voltou à razão, mas ele se afastou e subiu por quarto sem dizer nada. Ele nunca mais falou nada sobre o assunto.

Nico apertou os lábios, sentindo o gosto do vinho em sua boca ficar amargo. Ele havia dito que Thalia Grace não se importava com ninguém, agora ela era a responsável pela salvação do seu melhor amigo.

— Thalia quis sair de casa naquele dia, — Jason continuou. — chegou a arrumar as coisas dela e do Dimi, pronta pra ir pra qualquer lugar. Foi um custo convencê-la a ficar, foi só por causa de Dimitri, porque sabia que não ia conseguir terminar a faculdade e cuidar dele sozinha, ela não podia fazer isso. Como meu pai está sempre viajando com minha madrasta, ela acabou decidindo ficar em casa, mas eles mal se falam. Eu sei que é temporário é só até ela conseguir arrumar dinheiro suficiente pra se sustentar sozinha com Dimi.

Um pequeno sorriso surgiu nos lábios de Nico, algo contemplativo ao pensar em como Thalia não havia perdido a força com o passar dos anos.

— Foi quando decidiram voltar? — Will perguntou suavemente, o tom calmo que sempre usava tornando o clima mais leve.

— Eu fiquei mais seis meses na Inglaterra, só até Thalia se formar. — O Grace respondeu, seu tom ainda rouco pelo choro. — Por isso voltamos: ela acha que é mais fácil arranjar um emprego aqui e porque eu quis. Eu queria voltar, não aguentava mais Londres e aquele frio terrível, eu queria ter meus amigos de volta. E o pior é que eu me sinto mal por ter voltado porque eu sei que Thalia não queria isso. Ela odeia essa cidade e só está aqui por minha causa. E isso me machuca.

Jason terminou o relato, tampando o rosto para cobrir as lágrimas que teimavam em voltar a cair. Ele nunca havia contado isso para ninguém e sentia o pior ser humano do mundo ao contar tudo aquilo. Se não fosse por se sentir tão fraco e perdido, nada daquilo teria acontecido.

Nico e Will trocaram um olhar silencioso, sem saber o que fazer ou falar. Por fim, Nico se levantou da poltrona e caminhou até Jason, puxando o amigo para um abraço apertado.

O Di Angelo nunca sabia o que dizer, mas ficou ali, afagando os cabelos loiros do amigo enquanto este o apertava, chorando em seu ombro tudo o que precisava nos últimos três anos, achando o conforto e a amizade que preenchia todo o vazio que ele sentia, que o puxava da depressão e da ansiedade.

— Jay, — Nico sussurrou tão baixo que só os dois podiam ouvir. — eu estou aqui agora, ok? Estou aqui com você e por você.

Jason o apertou mais no abraço como respostas, suprindo os soluços na gola do suéter. Quando ele conseguiu parar de chorar, se afastou um pouco, sentando novamente por se sentir meio trêmulo e zonzo. Nico se sentou ao seu lado e passou os braços pelos ombros dele, os dedos afagando os fios loiros.

— Obrigado. — Jason agradeceu rouco, forçando um sorriso.

— Eu bem queria te abraçar, Passarinho. — Will deu um meio sorriso, apontando para Hazel dormindo em seus braços. — Mas está um pouco difícil.

— Eu sei, Sunshine. — O Grace também sorriu, se sentindo um pouco mais leve.

— Vai ficar tudo bem. — Will sorriu confortante, tentando melhorar o ânimo do amigo. — Thalia é forte. Eu sei disso e você também. Se ela voltou, não foi só por você, ela nunca voltaria se não quisesse. Só deixa essa culpa infundada de lado e tenta se reconstruir. Estamos aqui, meu amigo. Mesmo que não dê pra ficar fisicamente, ou que não dê pra falar todo dia, nós amamos você. E sempre vamos arranjar um tempo.

— Obrigado, Will. — Jason soluçou, ainda abraçado a Nico. — Eu não sei o que faria sem vocês.

— Esse papo está ficando muito gay. — Will comentou, mudando de assunto repentinamente depois de alguns segundos em silêncio confortável.

— Você é gay, Sunshine. — Nico revirou os olhos dramaticamente, dando um sorrisinho de lado. — E eu sou meio-gay, eu acho.

— Vou chamar Thalia e descobrimos qual parte se sobrepõe. — Jason comentou, rindo, antes de fazer uma careta: — Eca! Ela é minha irmã, não dá pra zoar.

— Vamos fazer de conta que você nunca teve uma queda pela minha irmã e acabar com esse assunto! — Nico retrucou rindo.

— O que vamos fazer agora? — Will perguntou, brincando com os cachinhos de Hazel.

— Beber vinho e reclamar da vida, — Nico respondeu, dando um beijo na bochecha de Jason para animá-lo. — porque é isso que adultos fodidos fazem.

 

(...)

 

Às vezes Thalia se assustava em como a cidade quase não havia mudado nos seis anos em que esteve fora, ela mudou tanto na Inglaterra — ou, pelo menos, se esforçou para mudar — que se surpreendia ao ver os mesmo vizinhos com as mesma vidas e perguntas, os mesmo comentários sobre o tempo e o preço que só aumentava, os mesmo produtos nos supermercado e toda a mesma monotonia.

Sua cafeteria favorita também não havia mudado: as paredes em tom vinho sustentavam janelas grandes de vidro que davam vista para a avenida particularmente movimentada, as mesinhas redondas com banco alto continuavam as mesma, o cheiro de grão de café recém torrado… Apenas a garçonete havia mudado, mas isto acontecia também naquela época. A Grace pediu um macchiato e se sentou em uma das mesas ao lado da janela, admirando a vista até que sua companhia chegasse, como sempre atrasado.

— Me desculpe! — Percy pediu assim que se aproximou, dando um abraço apertado na prima que somente riu.

— Já estou acostumada, Nemo! — Ela exclamou quando ele se afastou e sentou do outro lado da mesa, um sorriso que chegava aos olhos e iluminava o verde, tão familiar quanto os cabelos negros bagunçado de Percy. — Senti falta disso.

— Eu também, Cara de Pinheiro!

Eles trocaram lembranças e afinidades enquanto faziam os pedidos, rindo como se cinco anos distantes não houvessem passados, como se alguns acontecimentos não tivessem estremecido a amizade e não houvesse nada de estranho, secreto ou omitido entre eles, como melhores amigos. Thalia quase pode acreditar que o tempo não havia passado, até reparar na mão esquerda de Percy.

— Agora é o tipo de cara que usa aliança de namoro? — Thalia não conteve a chacota, soando ácida exatamente como fazia anos atrás.

Percy sorriu, mas de uma forma que não era comum nele, ajustando a postura e se inclinando para frente, apoiando os cotovelos na mesa.

— Na verdade, — ele começou, ficando um pouco vermelho e escolhendo meticulosamente as palavras para a prima não surtar. — não é de namoro. Mas é de compromisso.

Ele fez uma careta, vendo Thalia abrir a boca várias vezes, sem saber o que dizer. A Grace chegou a empalidecer, pensando mil vezes que aquilo só poderia ser um terrível pesadelo e ela precisava acordar o mais rápido possível.

— Você está brincando, certo? — Thalia perguntou, por fim, engolindo em seco antes de tomar um grande gole de café. A bebida já estava fria, o que a deixou com um gosto ruim na boca, e ela ponderou seriamente em colocar um pouco de uísque ali.

Ela aceitou o convite para o café da manhã à sós com Percy na noite anterior por um único motivo: discutir o que aconteceu em Cancún e as consequências que aquela viagem havia deixado; Consequências estas que Percy não tinha conhecimento real do impacto na Grace. Agora, Thalia se perguntava se não teria sido melhor marcar em um jantar com muita tequila — o que sempre a fazia revelar tudo pelos cotovelos — e jamais ter tocado na questão do relacionamento atual de Percy e Annabeth antes de dizer o que precisava.

— Leah… — Percy começou, suspirando.

— Por favor, Pers, — A Grace o cortou suavemente. —, me chame de Thalia.

O moreno assentiu, comprimindo os lábios e respirando fundo novamente, antes de tomar um gole do chá gelado que pediu e se virar novamente para Thalia, olhos nos olhos.

— Thalia, — Novamente começou, procurando a melhor forma de lhe contar tudo. — você sabe que eu e Annabeth terminamos nossas faculdades, certo? — Ela assentiu com a cabeça, temendo onde o primo iria chegar. — Nós conseguimos ótimos empregos na Califórnia… Acredita que sou professor de biologia?! — Ele tentou sorrir, lembrando-se dos seus alunos favoritos. — E estou trabalhando com pesquisas marinhas também… Eu realmente amo meu trabalho. E Annabeth… Ela trabalha para uma ótima companhia de engenharia, se destaca realmente com arquitetura, ela tem muito futuro ali.

— Percy, por favor, pare de enrolar. — Thalia pediu, sentindo o coração se apertar em infelicidade ao ouvir tudo aquilo.

— Nós estamos bem, sabe? — Percy falou quase em um tom de desculpa, preocupado com a reação da prima. Ela foi sua melhor amiga, compartilharam tantos segredos e histórias, era triste vê-la tão mau quando ele estava tão feliz. Como se ela fosse os dez por cento que faltava para Percy ser o cara mais feliz da face da Terra. — E nós estamos morando juntos, até estamos pensando em ter filhos.

— Percy… — Thalia começou, mas sentiu a garganta apertar. Ela realmente estava precisando de um uísque.

— Eu amo Annabeth, Thalia. — Percy declarou, quase sem fôlego, apertando a xícara na mão. — Sempre amei, desde aquele dia na sexta série quando vi ela pela primeira vez e ela me deu o meu primeiro fora… Eu me apaixonei por Annabeth no momento em que ela disse que eu babava enquanto eu dormia e não consegui tirar esse sentimento!

A fala de Percy evocou uma memória antiga em Thalia, no primeiro ano deles no novo colégio quando tinham doze anos. Percy havia levado um empurrão de alguns garotos maiores, o que o fez desmaiar e acordar na enfermaria com uma garota bonita e intimidante do lado: Annabeth Chase;

Ela só estava ali porque fugiu da aula de ciências quando estudavam aracnídeos e o professor havia levado uma aranha caranguejeira para os alunos admirarem e, como uma boa portadora de aracnofobia, Annabeth havia passado mal e corrido para enfermaria onde encontrou um Percy desmaiado. A primeira coisa que ela disse quando ele acordou foi: “Você baba enquanto dorme”, antes de deixá-lo sozinho e atordoado quando o sinal anunciando a próxima aula soou.

Desde aquele dia, Percy havia se dedicado a ser  amigo de Annabeth e, mais tarde, acabou na friendzone em um nível humilhante. Preciso dizer que Thalia começou odiar Annabeth desde o primeiro dia de aula?

— Eu tentei, Thalia. — Percy continuou com seu discurso, trazendo a Grace de volta dos seus pensamentos. Ela o fitou sentindo os próprios olhos lacrimejarem ao verem que os de Percy estavam mais escuros, puxando para o azul e havia o brilho de lágrimas neles. — Eu juro que tentei com todas as minhas forças esquecer ela, mas eu nunca consegui. A cada dia que passava, cada sorriso que Annabeth me dava era como se fizesse meu amor aumentar mais, mesmo que ela dissesse que não queria nada comigo, eu me contentava em ser só amigo dela. E quando ela admitiu que também tinha esse sentimentos por mim…

— Você caiu como um patinho. — Thalia falou amargamente, engolindo em seco. Percy negou com a cabeça e tentou segurar as mãos dela, mas a Grace apenas afastou os braços, sentindo-se mau com o contato físico.

— Eu não consigo parar de amar, Annabeth. É como uma droga, ou sei lá o que. E eu também nem quero! Por isso decidi passar o resto da minha vida com ela.

— Você a pediu em casamento. — Thalia comentou olhando para a aliança dourada, sentindo uma vontade de vomitar tão forte quanto quando estava grávida.

— Eu já tinha minha casa em São Francisco. — Percy continuou, abaixando a cabeça. — Já ia morar lá mesmo… E, na noite depois da formatura de Annabeth o pai dela deu uma grande festa. Eu podia dizer que foi o álcool, mas acho que só foi a desculpa, nós já queríamos isso, só não tínhamos coragem de dizer.

— Não, Percy… — Thalia sussurrou, colocando as mãos trêmulas sobre os lábios. — Por favor, não me diga que vocês fizeram besteira.

— Nós pegamos um avião, — Percy contou, olhando Thalia nos olhos. — para Las Vegas.

— Eu não acredito nisso... — Thalia murmurou, passando a mão nos cabelos, tentando extravasar a raiva que começava a queimar em seu peito.

— Essa aliança não é de namoro, Thalia. — Percy finalizou, olhando para o dedo anelar esquerdo. — Nem de noivado. Essa aliança é de casamento. Eu e Annabeth nos casamos e jamais vou me arrepender disso.

Thalia pensou em um milhão de impropérios, um milhão de xingamentos e mil coisas que ela queria socar — a cara de Annabeth se repetindo na lista mais vezes que ela poderia contar —, por fim, tudo o que ela fez foi se levantar da mesa em silêncio, os olhos faiscando e as mãos cerradas em punho para manter o autocontrole. Ela precisava sair dali antes que explodisse.

— Thalia... — Percy chamou, ao ver o estado da prima já se dirigindo a porta da cafeteria, a preocupação o fazendo engolir em seco. Ela se virou lentamente para ele, a mão já tocando o vidro das portas duplas, pronta para puxar e sair dali. Quando ela falou, sua voz soou quebrada, oca e sem vida, rouca e fria:

— Quando estávamos em Cancun... Tudo o que conversamos… Tudo o que aconteceu… Não significou nada para você, não é?

Sem esperar resposta ou vê-lo engolir em seco, ela puxou a porta e saiu.

 


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Notas finais do capítulo

Acho que isso esclareceu algumas coisas...
Eu queri falar sobre a ansiedade porque isso é algo que atinge muito as pessoas, principalmente universitários. E eu sou adepta ao fato de que um diploma não merece ter sua saúde sacrificada. Se vocês estiverem com problemas assim, sintam-se à vontade para me procurar pra gente conversar. Infelizmente, isto é bem comum.
Bom, acho que só tenho a perguntar o que vocês acharam, agradecer pela atenção e pedir que os fantasminhas apareçam.
Até os comentários!