O Legado escrita por Luna


Capítulo 83
Capítulo 82




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"Você pode passar a vida inteira sem perceber que aquilo que procura está bem na sua frente."

Um dia

 

Era a manhã do dia vinte e quatro e a claridade entrava pela janela alheia a garota sentada na cama ainda sem acreditar que aquele era o seu novo quarto, ela tinha dormido em algum momento depois de sua mãe ir até seu quarto lhe dar um beijo de boa noite e tinha acordado antes do nascer do sol, tinha tido sonhos agitados onde ela se perdia dentro da sua nova casa.

Freya tinha dito que aquela casa não era nada de mais, que a mansão oficial da família era o triplo de tamanho e de repente Amélia se sentiu muito pequena diante de uma Zabine, pequena demais. Anthony segurou sua mão e disse que lhe mostraria seu quarto, eles foram andando para dentro da casa, passaram rapidamente pela sala de jantar viu uma mesa posta para doze pessoas, naquele momento eles não ocupariam metade daquela mesa.

Sophia – ou quem tiver planejado o ataque a casa de Eliza – não sabiam definitivamente onde ela ficava, mas lá não era mais seguro, por isso eles tiveram que procurar um novo lugar, não tinha como elas ficarem em qualquer propriedade da família, achavam que todas estavam sendo vigiadas e Blaise não as queria fora do país novamente. Foi quando apareceu Astória Malfoy e como se não fosse nada deu a Eliza aquela casa, disse que foi um presente por toda a ajuda que ela lhe ofereceu naqueles meses.

Oficialmente aquela casa pertenceu a mãe de Astória e estava abandonada há muito tempo, Dafne Greengrass garantiu que a escritura tinha desaparecido, sendo assim com os feitiços certos ela estava invisível a qualquer um que não fosse Eliza e aqueles que ela permitisse.

A casa era rodeada por um bosque selvagem em Norfolk, era essencialmente uma construção trouxa, sra. Greengrass a adquiriu muitos anos antes de se casar, sendo aquele o seu refúgio preferido quando queria se afastar da sociedade. Pequenas modificações foram feitas, a lareira estava ativada para funcionar com floo, mas eletricidade corria pelas paredes fascinando aqueles que não tinham habitualidade com coisas trouxas.

Freya já fazia planos sobre o que elas fariam durante o feriado, como sempre ela se habituava rápido e já agia como se tivesse crescido naquele lugar, enquanto isso Amélia estava assustada.

— Amy? – Sua mãe bateu três vezes na porta e abriu uma pequena fresta para ver Amélia sentada na cama olhando para o vazio.

Amélia tinha pego o último quarto, Anthony achou melhor deixa-la o mais distante que podia de Freya e sua fascinação desmedida. Aquele quarto atendia todas as especifições de como acreditava ser um quarto de princesa, havia uma enorme cama com espaldar alto de veludo creme, o chão era de madeira nobre, havia criados-mudos em casa lado da cama, cada um portanto uma luminária, que Freya dissera estar banhada a ouro, mas Amy preferiu não acreditar nisso. O quarto foi decorado em tons claros, todo em branco e creme. Ainda havia uma sacada que dava para o jardim e uma parte do bosque, com uma mesa onde ela poderia tomar café da manhã ou ler durante o dia.

— Bom dia, querida. – Eliza tentou novamente, entrou no quarto e sentou na cama, Amélia estava na outra ponta, distante dos braços da mãe. – O café já está pronto, você não quer descer?

Blaise tinha estado ali quando elas chegaram, mas tinha ido embora antes do jantar, Anthony o acompanhou, havia coisas que eles tinham que resolver antes que o Natal chegasse, o que deixava aquela enorme casa apenas para Eliza, Amélia e Freya. No primeiro dia das três sozinhas Freya insistiu que elas usassem a sala de jantar, disse que era um desperdício ignorar um lugar tão bonito. Amélia nunca se sentiu tão distante de sua família quanto naquele momento, a mesa enorme, os arranjos de flores, tudo aquilo parecia pertencer a vida de outra pessoa.

“Você é uma Zabine agora”, Freya tinha lhe dito quando ousou confessar como se sentia estando ali. Aquilo não lhe trouxe qualquer conforto, ao contrário a fez se sentir cada vez menor, não tinha sido criada para ser uma Zabine, não sabia como ser uma e aproveitar do que fosse que ser uma Zabine oferecia.

Eliza tirou os sapatos que calçava e subiu mais na cama parando alguns palmos da filha, ela olhava para a floresta, bonita, intacta. Sabia que poderosos feitiços tinham sido jogados ali, qualquer um que se aventurasse por aquelas bandas ficaria tonto e voltaria pelo mesmo caminho que fez.

— Eu sei que é uma casa grande. – Eliza começou.

— Dez quartos. Para que uma casa precisa de tantos quartos? – Amélia ainda olhava para o lado, consternada.

— Você precisa ver a sala de banho no primeiro andar. – Eliza falou brincando, ela tinha chamado aquilo de banheiro, mas Blaise a corrigiu. Agora ela podia sorrir, no momento em questão ela o tinha chamado de esnobe e o deixado sozinho. – Tenho certeza que é do tamanho da cozinha na nossa antiga casa.

— Eu não sei se posso me acostumar a isso. – Ela se virou para a mãe. – A casa na França era grande também, mas essa? Eu nem sei o que fazer com tantas salas e dá para jogar quadribol lá fora.

— Ótimo, nas férias você pode chamar seus amigos e jogar quadribol com eles, eles podem dormir aqui, Morgana sabe que temos quarto suficientes para todos. – Eliza riu. – Eu sei que é uma grande mudança, algo com o qual nunca sonhamos, mas essa é nossa realidade agora, e você pode aproveitar.

— Aproveitar? – Ela perguntou insegura.

— Pegar um bom livro e ler na sombra de uma árvore e durante o verão podemos aproveitar aquela piscina lá fora, eu sei que você ficou fascinada pela biblioteca. Seu pai colocou todos os seus livros lá e comprou vários outros, tantos que você pode ler um por dia durante suas férias aqui.

— Eu gostei do meu quarto. – Ela passou a mão na colcha macia, na verdade ela sentia falta do seu quarto antigo, do azul na parede e de suas fotos.

— Sei como é estar aqui e não se sentir em casa, eu ainda não me sinto, mas com o tempo, amor, tudo vai se arranjar. Dê uma chance, tudo bem?

Amélia se sentiu meio boba de repente, era só uma casa afinal. Era? Não, ela não queria uma casa, queria um lar. Um lugar seguro para onde voltar nas férias, no natal e na páscoa, um lar que teria cheiro de ervas e livros espalhados pelos cômodos. Ela não queria dar uma chance aquele lugar se tinha a menor possibilidade de perdê-lo, como perdeu em Edimburgo e na França.

Eliza parecia ter lido os seus pensamentos, porque a puxou para seus braços e beijou seus cabelos cheios.

— Esse lugar é tão seguro quanto poderia ser, eu não sei se ainda estaremos aqui quando você voltar, mas temos que dar uma chance, fazer desse lugar nossa casa pelo tempo que permanecermos aqui.

Aquilo parecia bem lógico para Amélia, ela poderia fazer isso.

— Esse é o nosso novo lar.

— Ah, meu pequeno raio de sol, meu lar é qualquer lugar em que você esteja, não importa se é um apartamento de dois quartos ou em uma casa com dez.

— Você está certa, mamãe. Contanto que estejamos juntas, não importa onde estamos. – Ela apertou Eliza mais forte, e ali ela se sentiu segura e protegida, desconsiderando totalmente o perigo que sua mãe ainda representava.

0o0

Nicholas ainda se sentiu meio enjoado depois de aterrissar ao lado do irmão, sentiu seus pés afundarem na areia fofa e o barulho do mar invadiu seus sentidos. Olhou em volta, uma casa pequena e distante tomava forma, parecia o cenário de histórias infantis, toda a paisagem parecia muito bonita para ser real.

— Nick, vamos? – Eric perguntou inseguro.

Sabia que o irmão estava preocupado com aquele jantar, era o primeiro jantar de Natal dos três longe dos pais de forma oficial e aquele era a primeiro jantar com a família de Dominique, entendia por que o irmão estava tão estressado e ainda tinha a incógnita chamada Timothy. Aquela noite era um verdadeiro mistério para os três.

Eles foram caminhando na direção da casa, o barulho das ondas parecia acompanha-los como se soubesse do nervosismo de cada um e quisessem abraça-los com seu conforto. Quando se aproximaram mais puderam ver melhor a casa, havia pequenas conchas nas paredes e era muito pequena para os padrões dos herdeiros Nott.

— Você tem que bater na porta, Eric. – Timothy falou do outro lado, achava que ele estava quase se divertindo.

— É o nosso primeiro natal juntos, não deveríamos fazer algo só nós três? – Ele olhou de um para o outro.

Uma carta tinha chegado enquanto eles comiam o café da manha no dia anterior os convidando para a ceia de Natal. Eric ficou encarando o papel por vários minutos antes de falar do que se tratava, Timothy pediu que ele aceitasse, que não tinha saído de Hogwarts para morrer de fome e sabe-se lá o que eles teriam para comer naquela noite.

Ele aceitou por fim, depois de Nicholas o lembrar polidamente o que uma recusa significaria diante de Gui Weasley, mas parando para olhá-lo melhor naquele momento, Eric parecia um pouco pálido.

— Tenha coragem, Eric. – Nicholas falou antes de se adiantar e bater na porta da frente.

Eles ouviram uma risada alta e passos apressados, então a porta abriu e o que quer que Nicholas estivesse esperando não o preparou para aquele momento. Ele já tinha visto Victorie e Dominique e as duas eram igualmente lindas, mas a mulher que sorria para os três era a verdadeira personificação da beleza e nunca em seus doze anos ele encontrou alguém que parecesse tão perfeita quanto ela parecia.

Ela era bonita sem se esforçar, sentia quase como se tivesse um véu perolado ao redor dela, seu cabelo dourado descia até pouco abaixo dos ombros e seu rosto estava corado, seu perfeito sorriso de dentes brancos e seus olhos azuis eram a encarnação da perfeição diante do garoto e ele quase conseguia ouvir uma música soar em seus ouvidos, se tivesse com seu violino ali ou um piano poderia criar uma canção que nunca alcançaria a beleza dela.

— Nicholas, não é? – Fleur estendeu sua mão para ele que a pegou como se estivesse tocando em cristal e balançou a cabeça ainda hipnotizado.

Como ele um dia pôde achar Victorie e Dominique bonitas quando existia Fleur no mundo?

— Fecha a boca, Nicholas. – Eric o cutucou nas costelas fazendo o menino parar de olhar para a mulher e corar ao perceber que durante todo aquele tempo esteve encarando a sogra do irmão, ao contrário do que poderia imaginar ela sorria graciosamente.

— Não se preocupe, sou metade veela, sabe? O efeito é maior quando a pessoa não estava esperando, mas devo dizer que você se comportou perfeitamente bem. - Fleur segurou o braço de Nicholas e o guiou até um sofá no meio da sala. – Dominique subiu a pouco para ajudar Louis com algo, ela deve descer a qualquer momento. Por favor, fiquem a vontade.

— Eric! – Victorie passou por uma porta e veio caminhando animada na direção deles, ela abraçou Eric por dois segundos. – Que bom que veio, Louis agora está me devendo cinco galeões.

— Eu disse que viria. – Eric colocou as mãos no bolso, Fleur estava parada no sofá perto de Nicholas, Timothy estava sentado no outro, ele tinha Victorie a sua frente e não fazia ideia do que fazer.

— Eu sei, mas ele e papai duvidavam um pouco se você apareceria. – Ela fez um gesto com a mão afirmando que aquilo era bobagem.

— Não me culpe por isso. – Gui vinha descendo as escadas, a figura do homem ainda era meio assustadora para Eric. Gui Weasley era alto, muito alto e tinha um físico encorpado, seus cabelos estavam presos em um rabo de cavalo e tinha uma barba espessa preenchendo seu maxilar, seus olhos azuis passearam por todos os Nott, parando propositalmente em Eric. – Como vai, garoto?

— Muito bem, Senhor Weasley. – Eric respondeu educadamente.

— Que bom que veio, estamos muito felizes em recebê-lo e a sua família. – Ele deu tapas gentis e fortes no braço do genro.

Eric engoliu em seco, aquilo estava se tornando cada vez mais frequente, as pessoas falarem como se só fossem eles três, ao mesmo tempo em que lhe dava satisfação sentia seu estômago se retorcer, era quase como se eles fossem órfãos.

— Acredite, nós que agradecemos, Merlin sabe que tipo de criatura Eric cozinharia para nós essa noite. – Timothy se ergueu para cumprimentar o dono da casa. – Timothy Nott, senhor, é um prazer.

— Ah, você é o garoto que estava com a pequena Rosie. – O aperto de mão se tornou mais forte. – Boa garota, nossa Rosie.

— Ela é, senhor. – Timothy não desviou o olhar. – A melhor que alguém poderia encontrar.

— Então você deve ser o gênio da família, ao que parece todos devem ter uma Hermione, deve ser para balancear as coisas. – Gui foi na direção de Nicholas que se ergueu prontamente para cumprimenta-lo, o garoto sorriu com o elogio.

— Quem é o gênio da nossa? – Um garoto descia as escadas e como as irmãs ele era igualmente lindo. Cabelos loiros curtos, olhos azuis e lábios finos, um sorriso cativante dançava em seu rosto, ele parecia acostumado a encantar todo mundo, Nicholas se tornou muito consciente do sorriso que Louis dava para si.

— Victorie é claro. – Gui respondeu sem rodeios. – Eu vou olhar como está a comida, fiquem a vontade.

0o0

Blaise tinha saído com Anthony, os dois afirmavam que conseguiriam uma boa árvore para eles enfeitarem antes do jantar, claro que tecnicamente a árvore já deveria estar lá, mas ninguém fez caso da demora. Enquanto os rapazes estavam na floresta através de algo decente, as garotas tinham ficado responsáveis por começar a preparar a comida.

Não era a primeira vez que Eliza e Amélia preparavam a ceia de Natal, mas aquele ano era diferente. Primeiro que elas teriam Freya, que era curiosa e esforçada, mas também não tinha qualquer conhecimento sobre culinária, também era o primeiro jantar deles em família, com todos juntos. A exceção era que Mary estaria longe até o segundo dia do novo ano, tendo ido visitar alguns parentes adoentados.

Antigamente as duas preparariam alguma coisa simples, mas levando em consideração que os Zabines não estavam acostumados com nada simples a ideia logo foi dispensada. Eliza preparou um cardápio completo, sofisticado, mas saboroso, algo que agradaria Amélia e o resto da família. Ocupou-se disso durante todo o dia, o que a ajudou a evitar Blaise.

Quando eles voltaram as meninas deixaram Eliza cuidando de colocar a carne para assar e foram arrumar os enfeites que tinham preparado para colocar na árvore, da cozinha ela conseguia ouvir as vozes e os risos chegando abafados pela distância entre os cômodos, ela ainda tinha que arrumar os acompanhamentos que Amélia tinha apenas começado.

— Posso ajudar em algo? – Anthony estava encostado na porta de entrada, um sorriso pendendo de seu rosto.

— Pode começar a descascar as batatas, por favor. – Ela pediu, enquanto isso continuou a cortar algumas verduras.

— As meninas estão bem animadas. – Ele começou, lavou as mãos antes de pegar uma faca e uma vasilha para colocar as batatas recém tiradas da água fervente. – A casa já está um pouco diferente, com um toque seu.

— É bom ver Amélia mais feliz, ela estava estranhando a casa. Freya é sempre muito animada não importando a situação. – Eliza sorria de contentamento.

— Ela é assim por sua causa. – Anthony confidenciou baixo, mesmo que não tivesse chance de ser ouvido. – Faz um tempo que eu não a via tão feliz por estar em casa e olha que nem é a casa dela.

— Não diga bobagem, Anthony. É claro que é a casa dela, e a sua também. – Ela falou com sinceridade. – Vocês são os irmãos de Amélia, onde estivermos vocês também terão um lar.

— Obrigado de verdade por tudo, Eliza. – Ele largou a batata e se virou para olhá-la. – Eu sei que essa situação não é fácil, mas você poderia ter dificultado as coisas, ter tentado nos separar da Amy, o que seria perfeitamente compreensível.

— Eu nunca faria algo assim, eu nunca a afastaria de vocês. – E lá estava a sinceridade novamente tão cristalina.

Anthony lembrou-se de Mary dizendo que as coisas acontecem por um motivo e que Eliza nunca teria sido feliz vivendo como uma Zabine, não sabia se isso era verdade ou apenas o ciúme de sua mãe falando mais alto. Ele gostava da mulher a sua frente, ela era forte, resistente e gentil, sempre tentando fazê-los se sentir bem-vindos, transformando sua casa em um lugar para eles também. E novamente bateu a curiosidade de saber como seria ter vivido com Eliza ocupando o lugar da sua mãe.

— E quando você vai nos apresentar alguém especial? – Ela mudou de assunto completamente, queria falar de algo que não a deixasse constrangida.

Anthony riu alto, um de seus raros sorrisos, e voltou a descascar as batatas.

— É complicado. Papai está puxando muito, às vezes me pergunto se não teria sido mais fácil eu ter ido atrás de um trabalho mais burocrático. – Ele sussurrou o final. – Papai é horrível.

— Vocês parecem estar confabulando algo. – Blaise apareceu na cozinha, ainda era difícil estar na presença de Eliza, mas ele tinha que tirar aquilo do seu caminho se queria um bom natal com seus filhos.

— Anthony estava me contando como você tem impossibilitado ele de conseguir uma namorada.

Ele olhou rápido para o filho, rindo em seguida e negando com a cabeça.

— Seu filhote de grindylow. – Empurrou o filho, aproveitando para pescar uma fruta e mordê-la. – Eu sei de vários convites recusados.

— Não conta, elas só queriam sair comigo por eu ser um Zabine. – Anthony se concentrou na sua tarefa de descascar as batatas.

— Ora, aproveite.

— Blaise! – Eliza colocou as mãos na cintura. – Não fale isso ao garoto. Não o escute, querido. Tenho certeza que um dia vai encontrar alguém especial. Mas tem certeza que o motivo delas era esse? Você é tão bonito, inteligente e gentil.

— Assim como eu era. – Blaise piscou para o filho.

— Ah, por favor. Você era um rico esnobe.

— E ainda assim nós temos uma filha.

— Isso porque eu tenho um fraco por ricos esnobes.

Eles dois riram, mas quando seus olhares se encontraram havia lá algo mais do que a diversão da brincadeira. Era aquela coisa suspensa que havia entre os dois, a falta de um final para as suas histórias.

— Se for ficar aqui vai ter que ajudar, Blaise. – Eliza desviou o olhar e voltou-se para as verduras.

— O que quer que eu faça, querida?

0o0

Às vezes era estranho para Nicholas pensar que ele só tinha 12 anos, ele sentia como se tivesse vivido muito mais do que isso. Talvez os inúmeros livros que leu e todo o acúmulo de conhecimento que habitava dentro de sua cabeça lhe dava essa sensação de anos a mais. Ele estava cansado e quando o peso se tornava grande demais vinha uma voz no fundo da sua mente dizendo que ele ainda tinha 12 anos.

Naquele momento, no pequeno Chalé de Gui e Fleur ele sentia como se tivesse passado muito tempo desde o seu último natal, um ano inteiro já tinha ido embora e as coisas tinham se transformado completamente. Eric ter saído de casa, eles terem sido afastados dos pais, seu distanciamento de Lily e a evolução da sua magia, tudo isso tinha acontecido em um espaço de tempo quase irrelevante e ele não sabia o que esperar nesse novo ano que chegava.

Lembrou-se de seus natais antes de ir para Hogwarts, em sua casa fria e escura, a neve presa no chão e o sol que era incapaz de aquecê-los, havia os feitiços dentro da casa para fazê-la mais confortável, mas quando Nicholas lembrava-se dos seus natais o frio nada tinha a ver com a temperatura.

Mas ali, naquele chalé, com o som das ondas arrebentando na praia, com uma brisa suave vindo das janelas abertas ele sentia calor. O calor vinha dos sorrisos alegres de Fleur, que abraçava Dominique com saudade, das reclamações de Louis de que ele tinha ficado meses longe e a irmã que recebia os afagos maternos, mas quando a mãe vinha lhe acalentar ele logo fugia, de Victorie sentada no canto com Teddy presos em sorrisos e segredos que só eles sabiam, do olhar amoroso que percebia em Eric sempre que ele mirava a namorada, da risada alta e extravagante de Gui.

Teddy chegou esbaforido na casa pouco tempo depois de Gui anunciar que o jantar estava pronto, ele sorria animado e seus cabelos tinham um tom bonito de azul, se desculpou por sua demora e disse que ficou preso na casa dos Potter, por que Lily estava mais manhosa que o normal e reclamando que nunca o via. Depois ele se empoleirou ao lado da namorada e estava lá desde então.

Mas isso não era importante realmente para Nicholas, o rapaz continuou falando algumas coisas sobre a casa do padrinho e  ele tentava pescar qualquer informação sobre Lily, para logo se repreender e mudar sua atenção para qualquer outra coisa, mas a coisa mais interessante que tinha lá era Louis, ou a mais diferente.

O jovem garoto loiro tinha o sorriso fácil, vestia um suéter azul com um grande L dourado bordado e duas varinhas intercruzadas jorrando três estrelas casa, lembrava-se de já ter visto aquele símbolo, mas não conseguia se recordar de onde. A cor da roupa acentuava os olhos bonitos de Louis e lhe davam um aspecto etéreo.

Quando foram para a outra sala, essa ainda era menor que a anterior, Nicholas olhou de soslaio para Eric, tentando ver se ele estava incomodado com aquela simplicidade, mas ele olhava atento para Dominique, muito interessado no que ela dizia para perceber que um dos banheiros da sua antiga casa era maior que aquele cômodo. Aquilo não o incomodou de forma alguma, o espaço era pequeno, mas não desconfortável, daria para todos sentarem a mesa sem que um invadisse o espaço do outro, a decoração era minimalista e refinada, as louças eram bonitas e os móveis conservados. Era uma casa de família.

A disposição dos assentos na mesa foi feito ao acaso, ou nem tanto assim, já que Nicholas escolheu a cadeira mais distante que podia do irmão, ficando ladeado por Victorie e Louis. Logo o corvinal e Victorie estavam envolvidos em uma conversa sobre sua casa, Louis ouvia tudo atentamente, dando algumas alfinetadas quando escutava algo bizarro.

— Pare de tentar saber coisas de Hogwarts, se quer tanto saber se transfira para lá. – Victorie admoestou, seu tom era leve, mas percebeu que ela estava falando sério.

— Abandonar meu lindo palácio por aquela velharia?

O loiro ouviu os protestos de todos que estudaram e estudavam em Hogwarts, mas não parecia se preocupar com isso. Os únicos que permaneceram quietos foram Fleur, que assentia levemente para o filho e Nicholas, que não tinha conhecimento o suficiente para negar o dito por Louis. Era certo que a escola francesa era mais nova, já tinha lido poucas coisas sobre ela, mas todas a descreviam como especialmente bela.

— Por que não foi para Hogwarts? Assim ficaria mais perto de casa. – Nicholas perguntou de repente, genuinamente curioso.

Gui e Fleur pararam de conversar para ouvir a resposta do filho, poderia não ser nada, mas Nicholas notou um leve rubor nas bochechas do garoto.

— Dominique falava muito sobre a Beauxbatons, além do que eu não fui feito para enfrentar o frio da Escócia, prefiro o calor reconfortante do sul da França. – Ele sorriu, mas Nicholas conseguiu perceber algo na forma como ele falava, como se aquilo não fosse inteiramente verdade. – Então, você é realmente uma versão mais nova da tia Hermione?

Nicholas deu de ombros. Não sabia como responder aquilo propriamente, ele era inteligente, tinha pleno conhecimento disso, mas Hermione era a mulher mais importante do país, não sabia se seria certo se comparar a ela.

Depois do jantar eles voltaram para a sala, não tinha espaço suficiente para todos no sofá, então algumas pessoas estavam no chão. A conversa fluía fácil entre eles, mas quando deu meia-noite Dominique levantou animada e disse que era hora de abrir os presentes. Ela parecia uma criança ainda encantada com o Natal, era bonito e encantador.

Logo estava instaurada a bagunça, embrulhos sendo rasgados, agradecimentos sendo feitos. Nicholas resolveu ir para um canto abrir sua pequena montanha de presentes, havia dois embrulhos que ele tinha colocado de lado, incapaz de abri-los naquele momento. Gostou do que recebeu de Eric e ficou surpreso por ter ganhado algo de Timothy, arriscou olhar para o irmão e viu que era encarado de volta, ainda não estava pronto para perdoá-lo ou pedir perdão, então baixou a cabeça e pegou o próximo pacote.

Ficou encarando o papel vermelho por tempo demais imaginou, até Louis vir checa-lo.

— Ah, biscoitos. Quem mandou? – Ele pescou um da caixinha e deu uma mordida. – Nossa, está muito bom.

Nicholas lembrava-se de uma conversa que teve com Lily pouco depois que se conheceram, ela tinha recebido um pacote de casa e quando abriu havia vários tipos de bolinhos e biscoitos enviados por sua avó, a menina tinha ficado muito feliz com isso e Nicholas não entendeu o motivo de tanta animação até prova-los também, era a melhor coisa que já havia comido em sua vida.

“Cozinhar para alguém é uma expressão de amor, você coloca carinho e dedicação no preparo. Se você gostar muito da pessoa a comida fica excelente, se não gostar vai ser como comer algo estragado. Isso está bom porque vovó me ama.” Lily tinha lhe dito isso e agora ela tinha enviado biscoitos para ele, pedindo desculpas e afirmando que ela mesma tinha feito aquilo depois de passar todos aqueles dias aprendendo, testando e errando.

— Ah, Lily... Vocês estão no mesmo ano, não é? São amigos? – Louis tinha a carta dela entre os dedos, ele não tinha lido, apenas deu uma olhada para ver o remetente.

— É... complicado. – Eles eram amigos? Ela pedia desculpas, mas ele não sabia dizer como estavam naquele momento e nem sabia pelo que ela estava se desculpando.

— Vocês estão na mesma casa? – Louis perguntou e Nicholas estranhou ele não saber aquela informação.

— Não, ela está na grifinória.

— Hum, como todos os Weasleys. Típico.

Havia algo na voz do garoto que Nick não conseguia definir o que significava. Ele se levantou deixando metade do biscoito no chão, mesmo dizendo que tinha adorado e foi para perto da mãe novamente.

Deixou seus presentes em um canto quando Victorie e Teddy pediram a atenção de todos e foi para perto de Dominique e Eric.

— Nós vamos nos casar. – Victorie falou de uma vez, mostrando o dedo que tinha uma aliança bonita enquanto segurava a mão do noivo com a outra mão, este tinha um sorriso imenso no rosto.

A sala caiu em silêncio por uns três segundos antes dos Weasley saírem do torpor e começarem a falar ao mesmo tempo, era impossível que os noivos entendessem as perguntas, mas aceitaram os abraços.

— Você pode vir comigo? – Louis lhe chamou baixo quando a situação parecia mais controlada, Victorie agora falava sobre como Teddy tinha feito o pedido.

Ele foi seguindo o garoto em direção as escadas, passaram por algumas portas até o loiro parar e entrar por uma deixando aberta para que Nicholas fizesse o mesmo. O quarto tinha um bom tamanho, havia uma imensa janela que dava para a praia e na parede oposta uma bonita pintura onde se conseguia ver o contorno de um palácio e o mar, com suas ondas batendo levemente nas pedras. A paisagem parecia tão real que Nicholas se sentiu encantado.

— Beauxbatons? – Perguntou sem desviar o olhar.

— É apenas um vislumbre. Nicole é uma artista, é uma amiga, ela me deu de aniversário ano passado.

— É muito bonito.

— É mais lindo ainda pessoalmente. – Louis se aproximou se colocando ao lado dele. – Mas não o trouxe aqui para que comprovasse que Beauxbatons é mais bela que sua Hogwarts.

— E por que me trouxe? – A curiosidade assolava o garoto, ele olhou para Louis e notou que estavam muito perto.

Dava para perceber que a beleza dos irmãos tinha vindo de Fleur, não que Gui não tivesse contribuído com alguma parte, como os olhos de Dominique que tinham o azul profundo do pai, ao contrário do cristalino dos irmãos. Mas todos eles tinham o rosto fino, com narizes altivos e traços que pareciam ter sido desenhados.

— Tenho que te dar seu presente de natal. – Ele sorriu.

— Você não precisa me dar nada. – Nicholas estava envergonhado. – Eu não trouxe nada para você.

Recebeu apenas um abano com a mão demonstrando descaso. Viu o garoto se afastar indo até o criado mudo perto da cama e buscar de lá uma caixa azul.

— Houve uma feira em... Bem, perto da escola e nós conseguimos ir. – O sorriso travesso brincando nos lábios finos lhe davam a impressão que aquilo não tinha sido autorizado. – Haviam artefatos trouxas lá, eles são muito inventivos e tem um monte de mitologias esquisitas, eles também acreditam em bruxas, mesmo que tenham uma ideia totalmente distorcida do que somos. Mulheres velhas e feias, imagine só, com narizes enormes e verrugas espalhadas pelo rosto.

— O que você encontrou nesse lugar? – Surpreendentemente Louis parecia nervoso e desatou a falar, por isso Nicholas resolveu interceder, o que também era estranho vindo de si, ele gostava de ver pessoas se retorcerem.

Ele abriu a pequena caixa e dentro dela descansava uma bonita miniatura de uma varinha. Era realmente encantador, o punho tinha pequenos entralhes e todo o comprimento era liso, era de um material escuro, assim como o cordão.

— Feliz Natal. – O loiro pegou o colar, deixando a caixa em cima da cama e se aproximou de Nicholas, chegou perto o suficiente para envolver o pescoço com o cordão e prendê-lo.

Nicholas puxou o ar quando o garoto se aproximou, mas percebeu seu erro assim que o fez. O cheiro que entrou em suas narinas era amadeirado e doce na medida correta, havia algum nuance floram sobressaindo, e parecia que o estava envolvendo completamente. Ele fechou os olhos quando os braços de Louis rodearam seu pescoço o tornando consciente que estava perto demais de outra pessoa.

— Gostou? – Ele se afastou, mas ainda estava perto demais.

— É muito lindo, você tem certeza? – Segurou a pequena varinha com a mão e passou o dedo pelo intricado na peça.

— Absoluta, é uma forma para você não se esquecer de mim. – Ele sorriu e deu um beijo suave no rosto de Nicholas, o tornando vermelho de imediato, sorriu novamente baixando a cabeça. – Vamos voltar, está quase na hora do chocolate com biscoitos da mamãe, você vai adorar.

Pegou na mão do corvinal e saiu o puxando para fora do seu quarto, Louis soltou sua mão quando estavam na metade da escada, olhando para trás apenas para sorrir novamente. Quando chegaram a sala parecia que ninguém tinha sentido a falta dos dois, ou foi isso que o jovem Weasley pensou. Já que Nicholas estava muito ciente do olhar questionador de Eric e percebeu que o olhar do irmão estava na peça que o corvinal não ornava antes. Suspirou pensando nas perguntas que teria que responder quando voltassem para casa e nem sabia se tinha as respostas.


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