O Legado escrita por Luna


Capítulo 78
Capítulo 77


Notas iniciais do capítulo

Olá, pessoas
Espero que gostem



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“A culpa, meu caro Brutus, não está nas estrelas, mas em nós mesmos.”

Shakespeare

 

— Faz muito tempo que eles estão conversando? – Freya perguntou.

— Alguns minutos já. – Amélia respondeu, já que Rose não parecia estar ouvindo.

Ela estava com Timothy quando foram surpreendidos por Eric, o rapaz foi educado e cortês com Rose, pediu um momento em particular com o irmão mais novo e saíram andando em direção a saída da escola. Rose não sabia o que fazer até encontrar Amélia e Freya e as três começaram a andar pelos jardins e estavam no mesmo lugar fazia um tempo observando Eric e Tim conversando próximo ao portão.

Eles estavam de frente um para o outro, Eric estava falando há longos minutos e a expressão de Timothy não parecia boa, ele já tinha passado a mão no cabelo, mordido o lábio, cruzado os braços e agora tinha as mãos fechadas. Eric falava com calma, como se explicasse algo para o irmão, em um momento ele pareceu ter se exaltado, mas logo voltou a sua expressão séria.

 Rose gostaria de saber sobre o que eles estavam conversando, mas nem sabia onde aquele namoro estava indo. Tim estava tão distante, no começo ele fingiu bem, parecia que nada tinha mudado, mas com o passar dos dias ele nunca recuava diante um insulto, estava sempre com raiva e esse sentimento parecia querer se liberar em qualquer um que atravessasse seu caminho. Ele já tinha pegado um par de detenções e sempre que ela tentava conversar ele se afastava.

Antes de Eric chegar ela estava decidida a dar um basta naquela situação. Queria entende-lo e ajuda-lo, mas não podia lutar sozinha, não queria isso. Se sentia cansada, estava triste e sentia falta dele, tanta falta que às vezes era como se ela fosse sufocar e quando o procurava era como se eles tivessem em páginas diferentes do mesmo livro. O silêncio dele colocava uma distância entre os dois e o pior era saber que Tim não estava conversando com nenhum deles.

Tim ia sair, mas Eric segurou o braço dele. Os dois tinham quase a mesma altura, agora Tim não precisava mais erguer a cabeça para encarar o irmão, bastava levantar os olhos, Eric tinha soltado o braço do menor, mas posou a mão no ombro dele e seus rostos estavam muito perto, seja o que Eric estava falando tinha a total atenção do irmão e para a surpresa das três quando terminou ele puxou Tim para um abraço.

— Vamos sair daqui. – Freya a puxou pelo braço.

Elas foram andando até ficarem escondidas por arbustos altos, se esconderam a tempo de Timothy passar indo na direção do castelo.

— Rose, está tudo bem? – Amélia perguntou.

— Claro... – Ela tentou sorrir, mas saiu fraco.

— Ele continua sendo horrível com você? – Freya se sentou nas pernas de frente para as outras duas. – Ele parece um hipogrifo raivoso, Albus e Scorp ainda tentam, mas todos estamos passando por maus bocados, ele poderia ser menos idiota, ainda mais com você.

— Freya!

— O que? – Ela se virou para a irmã dando de ombros. – Eu sei que somos amigos, mas também sou amiga da Rose e ela deveria dar um basta nessa situação, Tim não pode achar que pode ser grosseiro com todos e que ficará tudo bem depois.

— Talvez ele só precise de um tempo... – Rose olhava para as mãos. – As coisas mudaram muito rápido, toda a história com os pais, ir morar com Eric, os jornais atacando. Talvez ele só precise se acostumar com a situação.

Era o que ela vinha repetindo para si mesma a cada dia, a cada palavra fria, atitude distante que Timothy tomava. Mas estava ficando difícil encontrar desculpas para as atitudes dele, há muito tempo atrás ela tinha prometido a si mesma que não julgaria mais os irmãos Nott e estava cumprindo isso por enquanto. Até quando duraria sua resiliência, não sabia dizer.

0o0

O terceiro andar tinha se tornado proibido para todos os alunos, ninguém sabia ao certo o motivo para isso, a diretora apenas deu o aviso e disse que caso algum aluno fosse pego ficaria em detenção até o Natal. Seu olhar duro e sua voz cortante fez todos entenderem que isso não era brincadeira, mas o fato deles não poderem ir até lá não fez com que deixassem de presumir o que havia de tão perigoso.

Naquele momento Nicholas estava parado no começo da escada, ele ainda tinha alguns minutos antes de estar atrasado, a caixa com o violino estava segura as suas costas e ele não ficava mais tão nervoso como no começo. Os testes que faziam eram muito semelhantes àqueles que Arwen participou, mas os bruxos responsáveis por sua segurança podiam ser intimidadores e embora Nicholas estivesse acostumado a pessoas intimidadoras, eles ainda o deixavam nervoso.

Eles tinham esvaziado uma sala ampla e a transformado completamente, quando ele entrava lá sentia que era transportado para fora do Castelo, diziam que era para a segurança de todos ali. Foi a mesma resposta que deram quando questionou porque esvaziar o andar todo. A verdade é que eles ainda não sabiam ao certo como aquela magia funcionava e eram cuidadosos, até demais para o garoto.

Emme Olivaras tinha sido chamada para explicar as propriedades mágicas da madeira, nunca tinha visto a bruxa tão nervosa, podia jurar como viu as mãos dela tremerem diante do olhar duro de Ivan e ele nem podia falar nada contra, se sentia meio aterrorizado diante do russo também. Ele era um homem negro, alto e forte, sua voz era grave e sua expressão demonstrava irritação. Sabia que ele trabalhava no Departamento das Leis da Magia, não entendia muito bem qual era o papel dele ali, talvez assegurar que eles não quebrassem mais regras do que ele, Nicholas, já tinha quebrado ou então seu amplo conhecimento de magia fosse ser de alguma serventia, até o momento ele tinha sido a vítima de sua música.

Nicholas ainda não tinha uma opinião sobre Janet, ela era séria sem ser rude, sua voz era apenas um sussurro e nunca dava para saber o que ela estava pensando. Quando perguntou o nome dela a resposta que recebeu era que podia chama-la de Janet, isso o fez pensar que talvez esse não fosse seu nome real. Tinha uma leve suspeita que ela fosse uma inominável e quando teve coragem para perguntar só recebeu o silêncio.

Assim que ele entrava na sala sentia como se estivesse entrando em uma bolha, até o som parecia diferente lá, demorava alguns segundos para se acostumar. Janet fazia um floreio com a varinha e tudo parecia normal novamente, não sabia o que era aquilo e não perguntou já sabendo que não receberia uma resposta satisfatória. A mulher estava inclinada sobre a única mesa do lugar lendo o que Nicholas reconheceu como sendo as inscrições que fez junto de Arwen.

— Você modificou as notas novamente? – Janet perguntou sem se virar, como ela sabia que era ele não fazia ideia.

— Ah... Sim. – Ele engoliu em seco.

— Srta. Thompson descreveu que sentiu uma pressão interna onde identificamos sendo o lobo temporal. – Ela não tirava os olhos do papel. – Já nos certificamos sobre a música que os leva a dormência, quero que testemos esse hoje. Pode ser uma efetiva magia de ataque.

Ela se virou para Nicholas encontrando um garoto com uma expressão assustada que não perdurou por muito tempo. O jovem corvinal sempre tentava passar uma maturidade que ainda não possuía de fato, seria engraçado em outro momento se ela não soubesse o que estava em jogo ali. As palavras de Harry ainda pesavam em sua mente e ela tinha jurado diante das estrelas que faria tudo que pudesse para preparar o garoto para o que viesse a acontecer.

Ivan chegou minutos depois, tirou as botas de couro e o casaco pesado, como sempre fazia e se sentou na cadeira no extremo da sala. Ele era a sua nova vítima e a cada teste temia que pudesse um dia fazer um mal irremediável, temia pelo momento que Ivan fechasse os olhos e não os abrisse mais. A voz de Eric retumbava em sua mente dizendo que pessoas morriam fazendo aquilo, mas se reclamasse receberia apenas um bufar do homem.

Janet jogou o feitiço nos dois e fez o sinal para que Nicholas começasse. Os únicos momentos que ele tocava eram aqueles, sentia falta de ouvir a melodia, de sentir a música entrando em si e a paz inexplicável que vinha com ela. Sua paixão tinha virado uma obrigação, seu momento de prazer tinha se tornado mais uma tarefa que ele tinha que cumprir, dessa vez se falhasse colocaria a vida de todos em risco. A vida dos seus irmãos.

Passou o arco pelas cordas, podia apenas imaginar o som saindo fluido, crescendo aos poucos e atingindo a nota principal. Seus olhos nunca deixavam Ivan, que estava sentado na cadeira como se esperasse por algo. Puxou as cordas com a ponta dos dedos três vezes e foi então que percebeu alguma reação dele, Ivan fechou os olhos com força e segurou na cadeira. Nicholas tinha que continuar, sabia disso. Puxou as cordas novamente para depois continuar com o arco, as notas eram cortadas e altas.

Ivan falava algo, mas a barreira que Janet colocou impedia que o som chegasse até eles, Nicholas entendeu a palavra que se repetia na boca dele. Pare. Por favor. Pare. Ele olhou para a mulher ao seu lado e ela fez que não com a cabeça. Queria apressar as notas para acabar com aquilo de uma vez, mas sabia que se o fizesse poderia trazer mais mal ao homem. As últimas notas eram lentas e curtas e foi com alívio que ele encerrou aquilo.

Ivan estava no chão deitado com as mãos cobrindo os ouvidos. Era estranho vê-lo antes tão imponente agora daquela forma tão frágil. Janet rompeu a barreira e se aproximou dele o chamando pelo nome, eles só ouviam os resmungos.

— Ivan, levante-se. – A voz era compassiva.

Ele virou a cabeça na direção da mulher e lágrimas banhavam seu rosto.

— Tanta dor. Tanta dor. Onde eu estou? – Ele se sentou e olhou em volta atordoado.

— Ivan? – Nicholas chamou com um sopro de voz.

— Ivan? Eu? – Ele parecia confuso. – Meu nome... Eu não sei...

— Perda de memória. – Janet foi até o bloco de anotações e escreveu alguma coisa lá, Nicholas olhou para ela descrente.

— Suas prioridades não estão no lugar errado?

— Minhas prioridades estão exatamente onde elas devem estar. Todos sabiam dos riscos, não entramos aqui iludidos achando que seria fácil e agradável.

— Ele pode...

— Sim e nesse caso terá nos ajudado a descobrir que essa música deixa os bruxos desorientados e que causa dor ao inimigo. – Ela levantou os olhos do papel e encarou o menino. – Deveria ficar feliz, Nicholas.

Ele deveria? Ele poderia?

0o0

Rose estava sentada na janela aproveitando a brisa morna que vinha, tinha deixado Albus e Amélia na biblioteca terminando seus deveres, ia para o Salão quando viu o sol baixando e resolveu ficar ali para contemplá-lo. Seu brilho laranja ia desaparecendo, a bola fumegante se tornava cada vez mais apagada e logo a lua brilharia em seu lugar, tão concentrada estava em olhar para o céu que não percebeu a chegada de Tim.

Ele não fez sua presença ser notada, queria apreciá-la por mais alguns segundos antes de deixa-la ir. Os cabelos estavam soltos e desciam em ondas nas suas costas, ela tinha dispensado o uniforme completo e estava apenas com a saia e a blusa branca, apoiava a cabeça na parede de pedra e a iluminação a transformava em algo quase etéreo. Não poderia adiar aquilo ainda mais.

— Rose? – Colocou as mãos no bolso, pois não sabia o que fazer com elas.

Ela virou o rosto rápido, sorriu quando o viu, mas foi morrendo quando notou sua expressão.

— Tim. – Ela não desceu da janela, mas se virou na direção dele, suas pernas balançando no ar.

Ele não sabia como começaria aquilo, nem se teria força de vontade suficiente para levar adiante o que vinha martelando na sua cabeça.

— Eu não gosto de finais, mesmo os dos livros. – Rose começou quando percebeu que ele não conseguiria. – Mas às vezes o fim é apenas uma pausa.

— Você sabe o que eu vim fazer aqui? – Ele ergueu os olhos para ela, não sabia como suas pernas conseguiam sustenta-lo quando tudo dentro de si tremia.

— Eu sei há dias, seria uma tola se não soubesse. A forma como vem me olhado, a frieza de seus gestos. Pensei que ficaria com raiva, mas acho que estou apenas triste.

Ela não parecia triste, a sombra de um sorriso brincava no canto da sua boca, mas seus olhos estavam brilhantes.

— Eu amo você. – Ele confidenciou, não era algo que ele dizia muito, mas sentia em cada célula do seu corpo.

— Eu sei e eu amo você. – Rose pulou da janela e ficou na frente dele. – Você não está sozinho, Tim.

— Eu tenho tanto medo de te decepcionar, Rosie. Temia que um dia você percebesse que não sou a pessoa certa para estar ao seu lado, que você precisa de alguém melhor do que um dia poderia ser. Eu me apaixonei por você, pois eu me sentia diferente ao seu lado e gostei dessa sensação, eu queria que você também se sentisse diferente estando comigo. Eu falhei com nós dois, eu tenho falhado com todos.

— Primeiro você tem que parar de ser um idiota com todos. – Aquela não era Rose, a sua namorada que estava falando, era Rose, a sua amiga. – Pare de procurar problemas com qualquer um. Aceite sua condição no momento, você está com Eric e Nicholas, fique feliz por ter irmãos que o adoram e farão de tudo para protegê-lo, como sei que você fará por eles.

— Nós dois...

Ele parou de falar quando ela tocou seu rosto com a mão, o toque foi suave, gentil. Ela se aproximou e o beijou, foi lento, crescendo gradualmente. Ele não demorou a botar suas mãos na cintura dela a puxando para si, aquele poderia ser o último beijo que trocavam.

— Mamãe me escreveu, ela parece preocupada. – Rose falou quando se separaram. – Nossa relação pode atrair olhares indesejados para nós dois e não é uma atenção que desejamos.

— Eric me falou a mesma coisa. – Ele olhou para baixo. – Disse que não era o momento para irritar ainda mais Sebastian.

— Estamos mais seguros sendo amigos.

Ele assentiu com pesar. Sentia tanta raiva, dos seus pais, de Sebastian, de si mesmo. Ele desejava algo que sabia que não conseguiria, paz talvez, segurança, saber que era amado incondicionalmente. Quando Rose o olhava sentia coisas indizíveis, sensações que o aqueciam de dentro para fora e a ideia de perdê-la fez com que ele se afastasse. Eric tinha lhe dito antes do embarque que as coisas poderiam ficar difíceis, que ele poderia ter que escolher entre ficar com ela ou deixa-la em segurança. Em sua fúria infantil Tim voltou isso contra ele, lembrando-o que não era o único Nott apaixonado por uma Weasley. Se arrependeu de suas palavras quando viu o olhar vago do irmão, pensou se talvez Eric se sentia tão transtornado quanto ele.

— Nos vemos no jantar. – Ele disse.

— Tim. – Ela falou antes que ele virasse as costas. – Eu sempre estarei aqui quando você precisar, nós ainda somos amigos.

Ele fechou os olhos com força. A raiva o dominando novamente. Ela não entendia? Como ela poderia estar tão calma quando tudo dentro dele fervia? Ela não o amava também? Ela tinha dito isso antes, não disse?

— Eu não posso... Eu... – Ele balançou a cabeça. – Eu preciso de um tempo, Rose. Sinto muito.

Então ele a deixou lá. O sol já tinha sumido completamente, a lua estava escondida atrás de nuvens pesadas e Rose estava sozinha. Seu semblante se tornou triste, pesaroso, pensou que estava preparada para aquele momento, mas seu coração parecia pesado em seu peito, como se a qualquer momento fosse despencar e ela nunca mais fosse capaz de coloca-lo no lugar novamente.

— Eu também sinto muito. – Ela disse, mas não havia mais ninguém para escutar sua dor.


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