O Legado escrita por Luna


Capítulo 67
Capítulo 67




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“Mas eu sou insignificante.

Eu sou um esquisitão.

Que diabos estou fazendo aqui?

Eu não pertenço a este lugar.”

Creep - Radiohead

 

Havia três cartas nas mãos de Nicholas e nenhuma delas lhe trouxe qualquer conforto. Não adiantava lê-las novamente, as palavras já estavam gravadas em sua mente. Fechou os olhos tentando se recompor, teria que descer em instantes e não queria transparecer a agonia que lhe acometia naquele momento.

Pensou se poderia simplesmente ficar por ali, talvez fingir que se esqueceu do convite ou que tinha que fazer um trabalho ou estudar para as provas. Bufou. Ao mesmo tempo em que ter pessoas próximas a si era bom, também era um problema. Eles faziam muitas perguntas, se preocupavam em demasia, Timothy e Amélia principalmente. Não tinha nem o que falar sobre Lily, a garota parecia sempre conseguir ver o que ele escondia e por mais que respeitasse seu espaço ele conseguia ver a preocupação nela.

Ele levantou os olhos para ver quem abria a porta e não se surpreendeu ao ver os cabelos rebeldes e vermelhos da grifinória. Lily parecia uma aparição assombrosa, era só pensar nela que a menina se solidificava na sua frente, ou então podia ser por que ela sempre estava por perto.

 – Treinando? – Ela perguntou ainda parada na porta?

Nicholas olhou para o violino jogado perto da mesa. Ele não treinava há vários dias, não tinha mais o que fazer. Aquela altura ele já deveria estar fazendo testes com um ser que pudesse dizer o que sentia no decorrer das notas, mas ele ainda não queria envolver os outros e temia machucar Lily.

— Não.

Ele ouviu os passos dela pela sala e sentiu quando ela sentou ao seu lado. Ela tinha a varinha na mão e batia com ela na outra mão pensativa.

— De quem são? – Lily perguntou apontando para as cartas que ele segurava.

— Olivaras, Sebastian e Eric.

Ela virou o rosto em sua direção e quando Nicholas a olhou ficou momentaneamente preso em meio ao chocolate derretido que eram seus olhos. Ela não tinha conseguido controlar o cabelo e eles caiam selvagem pelo ombro tampando um pouco seu rosto.

— Posso saber o conteúdo? – Ela quis saber duvidosa.

Ele entendia, não era a pessoa mais aberta que conhecia e via que Lily tentava respeitar o seu espaço, se sentia tão idiota quando a ouvia soar tão temerosa. Sabia que aquilo ainda era resquício da briga, dele tê-la ofendido e queria se esmurrar somente por tê-la magoado em algum momento. Estendeu as cartas e viu quando ela lia a de Emme avidamente.

— Você quer me falar sobre isso? – Ela tentou esconder o sorriso.

— Não foi nada, na verdade. – Nicholas falou duvidoso e revirou os olhos quando ela começou a rir abertamente. – Aconteceu três vezes até eu notar que não era normal, a princípio eu apenas achei que estava cansado, na última eu persisti por mais um tempo e quando acordei estava com um ferimento na testa.

— Por isso você estava na enfermaria naquela tarde. – Lily conseguiu se controlar. – O que isso significa então?

— Que aquelas primeiras notas fazem efeito com animais, e com a modificação que eu fiz depois com pessoas, já que ela me afetou. Emme acha que eu devo dar prosseguimento logo, mas ela não entende...

— O que há para entender, Nick? – Lily perguntou agitada. – Eu estou aqui a disposição.

— Para começar, fazer testes em humanos sem aprovação do Ministério pode levar uma pessoa a ganhar uma passagem de muitos anos para Azkaban. Depois se o pai dessa humana descobrir o que ando fazendo pode me mandar para um lugar pior que Azkaban. E o pior... – Nicholas não conseguiu olhar para ela. – Eu posso machucar você.

— Eu vou garantir que estou sentada no chão, assim não corro o risco de cair como você. – Ela sorriu para quebrar o clima ruim que ficou.

Ele já tinha parado de fazer testes com o gato de seu irmão e tinha começando a colocar outras notas, foi quando começou a se sentir estranho como se de repente estivesse muito cansado. Na primeira vez ele parou de tocar, achava que a onda de testes mais os trabalhos e estudo estavam lhe tomando muita energia. Na segunda vez ele se sentiu sonolento, seus olhos se fecharam sem autorização e ele despertou quando o arco caiu no chão. Ele nunca tinha dormido no meio de uma música, na verdade tocar sempre serviu para despertar sua mente. Apenas na terceira vez ele percebeu que tinha algo de errado, não se lembrava exatamente o que tinha acontecido, sabia que estava na sala na mesma cadeira que sempre ocupava, lembrava-se do cansaço e da sonolência e depois acordou com um corte na testa, provavelmente ocasionado pela queda.

— Lily...

Ela ergueu a mão para encerrar os protestos que ele começaria. A menina provavelmente já os tinha decorado.

— Wow! – Ela arregalou os olhos lendo a segunda carta. – ‘Espero conhecer sua pequena rosa’, o que isso significa?

— Era do Timothy, eu a roubei no café. – Nicholas falou como se aquilo não fosse nada e vendo a expressão da ruiva ele continuou. – Ele ficou pálido assim que leu, eu perguntei se estava tudo bem e ele mentiu. Tinha que saber o que estava acontecendo.

— Você acha... Quer dizer... É a Rose... E... – Lily parou de falar quando não conseguiu formar uma frase coerente.

— Ele não fará mal a ela dentro de nossa casa, Lily. Seus tios fariam algo pior que mata-lo que ela se ferir depois de um convite desse.

A menina assentiu, mas ainda não se sentia confiante com aquilo. Como poderia quando Nicholas parecia tão preocupado. Pegou a última carta, sem saber o que esperar e sorriu quando terminou.

— Isso é tão Eric, grosseiro, arrogante e preocupado. – Lily devolveu as cartas. – Ele está bem, é isso que importa.

— Ele poderia ter escrito algo maior ou falar algo que não fosse me mandar parar de escrever. Ele soou como se eu fosse estúpido.

— Eric sempre fala como se todos fossem estúpidos, Nick. Não é sobre você. Papai mandou tomarmos cuidados com o que escrevemos, eles acham que as corujas podem ser interceptadas ou seguidas no caso do Eric. Ele está bem e quer que você e Timothy tomem cuidado e não se arrisquem de forma tola por motivos idiotas.

— Você sempre gostou dele, mesmo quando eu o detestava. – Nicholas torcia para não ter soado tão amargurado quanto sentia.

Lily o olhou novamente, querendo buscar algo em seu rosto talvez. Ela não sorria mais e seus olhos se estreitaram.

— No dia da nossa seleção quando eu fui chamada eu ouvi Rose falando que poderia ser ruim você ter ido para a Corvinal e foi quando eu o vi pela primeira vez. Eric estava ao lado de Anthony, com sua postura aristocrática, seu cabelo milimetricamente penteado, mas o que me chamou atenção é que ele olhava para você com preocupação.

Nicholas bufou.

— Talvez você não consiga enxergar isso, Nick. Eric sempre estava por perto, o observando de longe, sempre com um olho atento em você.

— Se não fosse por Timothy ele teria me machucado na minha primeira semana, Lily. – Nicholas se lembrou do episódio e se sentiu triste.

— Não estou dizendo que ele é perfeito. Mas ele não odiava você e seu irmão, ele se preocupava com vocês, ele ainda se preocupa, eu sei que sim. No dia que você foi atacado os olhos dele brilhavam em uma fúria controlada. Ele teria feito algo com aqueles idiotas com ou sem a gente, apenas por que eles mexeram com seu irmãozinho.

— Ou para defender o nome da família.

Dessa vez Lily bufou.

— O que você quer que eu diga? – Ela cruzou os braços se virando de uma vez na direção dele.

— Eu não sei.

Lily respirou fundo. Nunca tinha visto o amigo tão cabisbaixo.

— Você disse que Eric nunca deixava você e Tim sozinhos com seus avós e que sempre ficava ao lado do seu avô olhando para vocês como insetos insignificantes.

— Sim.

— E se ele fazia isso para protegê-los? Se ele estava sempre por lá nada de muito ruim poderia acontecer. Se ele fazia você se calar talvez fosse para não ser castigado por Sebastian. Ele também era só um garoto, Nick. Não deveria ter que proteger os irmãos mais novos.

— Ele sempre foi distante. Nunca se importou realmente com nenhum de nós, eu só tinha o Timothy e ele só tinha a mim.

— E quem o Eric tinha?

Nicholas pareceu pensar depois daquilo. O único amigo do irmão era Anthony, se ele pudesse ser considerado um amigo.

— Uma vez Tim falou que a única pessoa que Eric parecia amar era sua mãe. Talvez ela fosse para ele o que Timothy era para você.

Nicholas olhou para a carta novamente.

Estou bem, seguro. Não volte a escrever.

Tome cuidado e não faça nada estúpido.

Nos vemos em breve.

E.

 

— Vamos, Nicholas. Nossos irmãos irão nos caçar pelo castelo se faltarmos ao almoço. – Lily levantou e estendeu a mão para ele, quando viu o quanto ele estava relutante apontou a varinha para a testa do garoto e sorriu. – Não me faça ter que azará-lo, Nott.

o0o0o0

Confusa, era assim que Freya se sentia naquele momento. Também raivosa, mas esse era um sentimento que ela estava tentando controlar ou então a saúde do garoto ridículo na sua frente estaria seriamente comprometida. Não bastava tudo que tinha acontecido até ali, ele ainda tinha que se portar como se ela fosse a criatura mais idiota daquele castelo e ele o cavaleiro que veio salvá-la.

Thomas estava mais estranho que o normal, isso significa que seu humor estava mais oscilante, assim como seu comportamento. Havia momentos em que ele era o mesmo garoto arredio de sempre, mas que se mantinha por perto por alguma razão e havia os dias em que ele parecia fingir que nunca havia falado com Freya e a ignorava completamente.

Ele tinha recebido muitas informações de uma vez, Amy saiu despejando tudo que provavelmente já queria contar, mas não se sentia segura até aquele momento. Para Freya era natural que ele não soubesse bem como agir depois de tudo aquilo e por isso resolveu dar o tempo que ele precisasse.

Mas três semanas se passaram e não havia tido grandes melhoras e Freya não aguentava mais nunca saber se poderia ir até ele para conversar ou se deveria manter distância para não ter seus sentimentos feridos. Thomas era muito cruel para um lufano.

Não sabia como poderia resolver toda aquela situação sem precisar fazer uso da varinha, mas seguiu o que Amy tinha dito, teria paciência e tentaria entender que ele tinha dias ruins, muito ruins. Mas aquele tinha sido um dia bom, ele lhe deu vários sapos de chocolate, por que sabia que ela gostava e tinha ficado na biblioteca enquanto ela estudava e naquele momento estava sentado no final da escada da torre de astronomia esperando por ela que tinha ficado conversando com a professora por mais tempo que o recomendado.

— Nós nunca realmente planejamos as férias, só vamos deixando levar. – Freya tagarelava pelo caminho de pedra. – Tem o aniversário da Adhara, a irmãzinha do Scorp, é a única certeza de um compromisso. Vamos para a casa dos Potter, se avisarmos com antecedência a sra. Molly faz o melhor bolo de chocolate com calda que você vai provar na sua vida, e a Mansão Malfoy tem tantos quartos que podemos passar o final de semana todo sem incomodarmos dos donos da casa e também podemos ir para o solar, mas aí é um pouco mais complicado. Precisaríamos da autorização da sua mãe, fica na França, lembra?

Freya percebeu a mudança na fisionomia do garoto assim que falou sobre Adhara, os ombros tensos, a respiração pesada e uma expressão de óbvia contrariedade. Tudo que ela falou depois foi para fazer com que ele despejasse todo o veneno que estava acumulado, ela já o conhecia o suficiente para saber que ele o faria.

Ela deu mais chances para Thomas do que deu a qualquer outra pessoa em toda a sua curta vida. Relevava seu comportamento odioso, seu mau humor e suas grosserias, por que nos dias bons Thomas era gentil, solícito e amigável. Alguém que ela queria manter por perto, mas que ele sempre afastava. Havia algo que ela já tinha notado, ele nunca era gentil se havia mais pessoas por perto, se ele estava com outros colegas de casa próximos era no máximo educado, mas frio e distante.

No começo ela não se incomodou tanto assim, ainda havia muita rixa entre as casas, assim as amizades por fora às vezes eram meio difíceis de serem aceitas, sobretudo vindo da Sonserina. Claro que não havia qualquer problema em um lufano ser visto com um grifinório, mas amizades com a Sonserina eram sempre vistas com olhares estranhos.

— Claro que você vai receber o convite, você vai adorar conhecer a Mansão. – Freya jogou sua última cartada e viu o brilho jocoso nos olhos azuis do garoto na sua frente.

Ele tinha parado de andar e se virado para ela a fazendo parar também. As mãos dele se fecharam e ela apostava que as unhas feriam a carne, não gostava quando ele se machucava de propósito.

— Ah sim, com certeza vou adorar conhecer a Mansão onde provavelmente meus avós foram torturados. Por que não convidados todas as famílias restantes do Sagrado Vinte e Oito para uma reuniãozinha? Vai ser como os velhos tempos, tenho certeza que seus pais podem nos ensinar algumas maldições sombrias para podemos machucar alguma família inocente.

Com o decorrer do tempo Freya passou a preferir ouvir os gritos de Thomas a sua voz fria e cortante, ele soava perigoso e cada nota era dita com o único intuito de machucar.

Freya deu um sorriso triste e cansado. Cansaço era a melhor palavra que a definia desde o ataque à Hogsmead. Ela estava tão cansada de tudo e agora estava cansada de Thomas não decidir se a odiava ou não.

— Você acha mesmo que existe qualquer possibilidade de eu ficar próximo a Comensais da Morte? Assassinos é o que eles são e não importa o jogo sujo que eles fizeram para se livrar de Azkaban, todos nós sabemos que é lá que suas almas podres deveriam ficar trancafiadas para sempre.

— O que nós somos, Tom? – Freya deixou sua cabeça cair para o lado e continuou o olhando, a pergunta fez com que o garoto desse um pequeno passo para trás?

— Que tipo de estupidez é essa?

— Eu pensei que fôssemos amigos. Quer dizer, nós dissemos coisas para você que mais ninguém sabe, porque pensei que fôssemos amigos agora.

Thomas riu debochado, isso durou vários segundos. Mas não havia alegria em seus olhos, só a mesma raiva de sempre.

— Amigos?

— Amy...

— Amélia não tem nada a ver com essa história. Amélia não tem nada a ver com você, ela não é suja ou corrompida. – Tom a interrompeu antes que ela pudesse continuar a fazer.

Teria doido menos se ele tivesse feito uso da varinha. Freya teve que fazer uso de todo seu autocontrole para não chorar. Ela não sabia por que ele tinha se aproximado se a odiava tanto, o motivo de sempre voltar, mesmo quando ela passava dias sem procura-lo. Ele já tinha dito coisas maldosas, mas sempre parecia zombaria e logo depois ele se sentia culpado e se desculpava e nunca havia a ofendido diretamente.

Se qualquer outra pessoa tivesse dito algo remotamente parecido com aquilo já estaria na enfermaria. Mas Thomas não era como os outros, ele sentia muita raiva e aparentemente odiava a todos eles, mas ao contrário dos idiotas com quem ela era obrigada a conviver ele tinha motivos para odiar sua família. O pior de tudo era que ela não conseguia odiá-lo de volta, só sentia a tristeza sem tamanho dominando cada pequeno pedaço do seu corpo.

Não importava mais, ele tinha seus motivos, mas ela não era obrigada a conviver com alguém que a desprezava daquela maneira. Não importava se ele vivia em conflito com seus sentimentos, ela não seria um boneco para ele praticar seus feitiços.

— Eu pensei... – Ela não sabia o que falar. – Eu não sei... Eu não posso mais. Eu pensei que você via a mim, Freya e não apenas uma Zabine. Eu só... Não me procure mais.

Ela não esperou que ele falasse nada, não queria ouvir e internamente sabia que ele não se desculparia. Passou por ele e seguiu até as masmorras, o horário tardio fez com que tivesse poucas pessoas no Salão e apenas duas dela importavam.

— Que demora, vocês decidiram parar de enrolar e resolveram se atracar em um armário de vassouras? – Albus brincou, mas seu sorriso morreu na primeira lágrima que Freya permitiu que saísse.

Scorpius se levantou e a trouxe para mais perto deles, a sentando ao seu lado e fazendo com que ela ficasse de costas para as outras pessoas. Sabia que depois ela ficaria mortificada se alguém a visse chorando.

— O que aquele lufano estúpido fez com você?

Custou muito para Scorpius convencer Albus a não sair pela escola e destruir a possível entrada para o Salão da Lufa-Lufa. Freya não falou muita coisa, mas ela parecia magoado o suficiente para chamar a atenção dos dois amigos que ficaram ao lado dela até a menina reclamar de sono e ir para o dormitório.

No dia seguinte as coisas não pareciam melhores, Albus ainda estava furioso e Freya mantinha a expressão natural de seu rosto. Ela disse tudo que se lembrava das palavras de Thomas, não viu por que esconder e queria que seus amigos o odiassem, mesmo que ela mesma não conseguisse. Mais uma vez Albus quis ir atrás do garoto, mas agora Amélia o impediu.

— Eu sinto muito, Freya. Sinto de verdade. – A menina parecia a ponto de chorar.

— Ele parece ser uma pessoa realmente boa. É triste que tenha tanta mágoa. – Rose soou pesarosa ao seu lado.

— Vocês parecem mais tristes pelo lufano do que pela Freya. – Tim jogou, ele tinha ido dormir assim que voltou da torre e tinha perdido toda aquela confusão. Scorpius agradeceu por isso, não sabia se conseguiria segurar os dois dentro do Salão.

— Todos nós tivemos que viver sob as escolhas de nossos pais, tivemos que aprender a lidar com a vida que eles um dia escolheram levar. – Amélia falou arrancando pedaços da grama. – Jamie e Albus são os Potter, o futuro dessa geração, Scorp e vocês tem todo o estigma de filhos de comensais e eles acham que são pessoas ruins por isso. Rose é a extensão da sra. Hermione e por isso tem que ser tão brilhante e perfeita quanto a mãe e é uma Weasley, a família bruxa mais conhecida do país.

— O que isso tudo tem a ver? – Albus perguntou jogado por cima de Scorpius. O loiro ainda achava que o namorado poderia sair procurado Thomas para azará-la até a próxima encarnação.

— Thomas também teve que viver com as escolhas dos pais. Vocês sabem, a família morta, o pai crescendo com a sensação de injustiça, enquanto isso os Malfoys foram ficando mais ricos, os Zabine e os Nott com mais prestígio na comunidade bruxa. E só o que sobrou para os Agnelli, o Agnelli. – Amy se corrigiu, pois só o pai de Thomas tinha sobrevivido ao massacre da família. – Só o que sobrou foi a raiva, o ódio pelas suas família e depois quando a guerra estourou só havia uma coisa que ele podia fazer, combater os possíveis assassinos de seus pais. Thomas mal se lembra do pai, só o que ele tem são memórias espaças e o que a mãe dele fala. E ela os culpa por tudo que a família passou, se não fosse pelo desejo de vingança o sr. Agnelli não teria ido atrás de comensais fugitivos e não teria morrido. E tudo isso, por que um dia um jovem casal recebeu um convite para um jantar e disse não para uma proposta horrível. É só... É muito ódio para uma criança crescer.

— Você quer dizer que ele pode nos odiar então e temos que aceitar isso? Que Freya deve ir lá se desculpar por ele ser um babaca? – Tim parecia pessoalmente ofendido.

— Ele gosta da Freya e talvez por isso seja pior. – Ela olhou para a irmã e viu a dor dela. – Conseguem entender o conflito que é gostar de estar na presença da pessoa que você aprendeu que tinha que odiar?

— Isso não importa mais. – Freya falou dando de ombros. – Não podemos ser amigos, eu pensei que sim, mas é melhor continuar como estávamos antes. Ele é seu amigo e eu sou sua irmã. Apenas isso. Vai ser melhor para todos.

— Oh Freya...

Amélia ainda tinha esperança que a irmã fosse dar mais alguma chance a Thomas, que fizesse o garoto enxergar algo por cima daquele muro de amargura que ele construiu ao redor de si. A sonserina sorriu, mas foi um gesto vazio e só por isso Amélia não restringiu o uso de feitiços quando se encontrou com o lufano horas depois. Ela entendia que ele tinha seus problemas, mas jamais aceitaria que qualquer um fizesse sua família sofrer e naquele momento Freya estava sofrendo a dor de sua primeira rejeição.

O último passeio a Hogsmead chegou, a expectativa para os últimos exames estava tomando toda a vontade de viver dos alunos e depois de muita discussão eles decidiram que não ficariam trancafiados no Castelo. Também não sairiam passeando livremente pelo povoado, Ron e Fred estariam por lá e os acompanhariam até o Três Vassouras, depois eles ficariam na loja ou poderiam ir a algum outro lugar, desde que um adulto os acompanhasse.

No decorrer daqueles meses tudo correu tranquilamente, Freya e Thomas não se falaram mais e embora isso machucasse os dois ambos não transmitiam nada, o que fazia com que ficassem mais machucados ainda.

Freya foi a última a sair do Castelo, uns dias antes tinha recebido um convite de Jonas McCaffrey para acompanha-la até o povoado, ele era um Corvinal do 5º ano e ela aceitou, já que não viu motivos para negar o convite. Ele parecia alguém decente e deveria ser inteligente, seus amigos não se opuseram em o rapaz acompanha-los e o corvinal não pareceu se preocupar em estar perto de pessoas que não conhecia ao invés de seus próprios amigos.

Rose e Amélia ficavam lançando sorrisinhos para Freya o que a esteva irritando profundamente, Scorpius já tinha parado de fazer o mesmo depois do chute que recebeu da amiga. Rose e sua irmã teriam algo também se tivessem continuado com as zombarias sobre seu possível primeiro beijo. Freya apenas revirava os olhos, se havia uma certeza na sua vida é que seu primeiro beijo não seria com Jonas McCaffrey.

Mas o dia amanheceu lindo, o sol brilhava forte, mas não estava calor o suficiente para ela começar a suar. Os bolinhos de baunilha estavam excepcionalmente bons naquela manhã e o suco de abóbora desceu gelado por sua garganta seca.

Ela tinha se encontrado com Jonas na saída do hall e eles conversavam animados, mas nada a preparou para ver seu pulso seguro na mão exageradamente quente de Thomas. Ela o olhou como se pudesse arremessa-lo para a parede mais próxima e Jonas olhava para ambos sem entender o que estava acontecendo.

— A diretora mandou eu te chamar. – Thomas falou rápido. – Ela disse que é urgente.

Os olhos de Freya se arregalaram, nada de bom vinha daquilo.

— Eu espero você, Freya. – Jonas falou sorrindo.

— Ér... Não, a diretora disse que ela poderia dispensar os amigos, que seria demorado. Você deveria aproveitar o povoado, McCaffrey. – Thomas o olhou com raiva e sua voz saiu dura.

— Não me importo realmente. – Os olhos escuros do rapaz se estreitaram e foram parar na mão de Freya que Thomas ainda segurava.

— Ótimo, faça o que quiser.

Ele saiu puxando a menina antes que o corvinal falasse algo mais, Freya ainda se sentia gelada pela perspectiva do que poderia ter acontecido e só despertou quando percebeu que não estava indo para a sala da diretora. Ela puxou sua mão e Thomas virou para si.

— Para onde estamos indo? – Ela perguntou.

Thomas olhou para o lado e não sabia o que responder. Seu coração batia acelerado, fazia muito tempo que não se falavam, tempo demais para ele e sabia que não deveria sentir aquelas coisas apenas por ter ficado perto da menina.

— Thomas! Estou esperando uma explicação.

— A diretora não está chamando você. – Ele disse sem culpa.

— O que? – Ela gritou.

— Você ia até o povoado com o idiota do McCaffrey. Onde está com a cabeça? – Agora ele parecia irritado.

Ela abriu a boca e de lá não saia nenhum som. Não estava mesmo acreditando que aquilo estava acontecendo e ela não sabia o que exatamente era ‘aquilo’.

— Você finalmente enlouqueceu. – Freya jogou os braços para cima e deu as costas pensando que talvez Jonas tivesse realmente a esperando, mas seu braço foi agarrado e Thomas a puxou com força desnecessária.

— Ei! – Ela protestou.

— Você não vai sair com o McCaffrey. Na verdade você não vai nem até a biblioteca com aquele cérebro de tronquilho.

— Você realmente está se escutando?

Passos apressados foram ouvidos e a menina se virou para ver seus amigos virando o corredor. Eles pareciam ter chegado até correndo.

— O que está acontecendo? – James perguntou quando chegou perto deles.

— É exatamente o que estou querendo saber? – Freya cruzou os braços e ficou esperando Thomas falar qualquer coisa, mas o menino parecia ter perdido a fala e olhava encabulado.

Todos esperavam que ele falasse algo.

— O que vocês estão fazendo aqui? – Ele perguntou.

— Freya estava demorando muito, então olhamos no Mapa e vimos você se aproximar e depois sair com ela. Encontramos o Jonas no caminho e ele falou sobre a diretora, mas vocês não estavam indo para a diretoria, então o Albus achou que você poderia estar fazendo algum mal para a Freya e saiu correndo, Tim correu atrás dele e de repente todos nós estávamos correndo. – Amélia falou rápido e respirou fundo quando acabou.

— O que? – Thomas olhou revoltado para Albus. – Eu nunca faria mal a Freya. Como você...

— Oh me poupe, você poderia muito bem machuca-la. A odeia, não é mesmo? – Albus falou com raiva.

— Eu nunca... Eu não... – Ele olhou para Freya e o coração dela pulsou mais forte. – Eu nunca machucaria você, eu jamais faria qualquer coisa para machucar você.

— E mesmo assim você já machucou. – Scorpius falou, não havia raiva e seu olhar apenas demonstrava que ele não se sentia confortável ali.

— O que aconteceu, Tom? – Amélia perguntou, por que o assunto estava indo em uma direção bem constrangedora.

— McCaffrey não é confiável, ele é perverso e finge ser legal para conseguir o que quer e nem sempre isso é algo bom. Arwen me disse hoje que ele tinha chamado Freya para ir até a vila.

— E o que isso tem a ver com você? – Tim perguntou.

Thomas se sentia em um interrogatório e aquilo estava começando a enfurecê-lo.

— Eu acabei de dizer, McCaffrey não é alguém confiável. A mãe dele é uma das pessoas que pediu para que vocês fossem expulsos da escola e ele está sempre falando sobre a Sonserina. O que ele iria querer com a Freya? Ele sim poderia machuca-la, ainda mais depois do último ataque. Eu disse a vocês para tomarem cuidado e ao invés de protegerem uns aos outros iriam deixar Freya sair com aquele topete ridículo.

Para surpresa geral James começou a rir, daquela forma exagerada e incontida. Thomas olhou para o rapaz sem entender.

— Pelas barbas de Merlin, essa é a maior cena de ciúme que eu já vi.

Freya virou furiosa para James e Thomas ficou abrindo e fechando a boca como um idiota.

— Isso é... Que disparate. Eu n-não estou... Isso...

Rose e Scorpius se olharam e deram sorrisos idênticos.

— O que você quer, Tom? – Freya perguntou cansada e aquilo desarmou o lufano, porque ele não fazia ideia do que responder, ainda mais com uma plateia tão exigente.

Ele deu um passo na direção dela, mas pareceu desistir. Havia várias coisas que ele queria dizer a ela, mas não conseguia jogar para fora naquele momento. Eles teriam tempo, ele orava para que sim, para que não fosse tarde demais e tivesse estragado tudo. Quase fechou os olhos quando a ouviu chamar de Tom, ela tinha uma voz tão bonita. Mas não podia fazer aquilo, não sem antes se entender consigo mesmo. Merlin, ele se odiava só por ter falado aquelas coisas horríveis para ela.

— Tome cuidado, Freya.

Ninguém tentou impedi-lo de seguir pelo corredor e Freya estava mais confusa ainda com seus sentimentos.


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