O Legado escrita por Luna


Capítulo 66
Capítulo 66




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“Todos temos a guerra dentro de nós. Às vezes ela nos mantem vivos. Outras vezes ela ameaça nos destruir”.

Insurgente

 

Ele sabia que estava ferrado quando viu os três corvinais barrarem seu caminho, todos com a varinha em mãos. Sentiu-se um tolo por ir até ali sem se preocupar, mas em todas aquelas semanas ninguém tinha feito nada muito hostil, ainda tinha os olhares raivosos, mas até mesmo os insultos tinham diminuído. Pelo olhar dos rapazes a sua frente sabia que dali não sairia apenas insultos e não havia como ele se livrar daquela situação quando era três contra um.

— Está feliz agora, Malfoy? – Falou o cara do meio, ele tinha cabelos escuros e olhos desafiadores.

— Devia estar por algum motivo em particular? – Scorpius pensava em um jeito de pegar a varinha antes de ser azarado.

— Você sabe muito bem o que fez, seu riquinho de merda. – O cara da esquerda parecia o mais afetado, apertava a varinha com força como se quisesse parti-la.

— Você vai pagar, Malfoy. Quando terminarmos com você mal vai lembrar seu nome. – O outro deu um passo na direção de Scorpius antes de parar ao ouvir alguém falar.

— Vamos lá, rapazes. Vocês não querem realmente fazer isso.

Scorpius se virou para ver Thomas parado encostado em uma estátua. Ele parecia displicente, mas seu olhar não saia dos três corvinais e tinha a varinha balançando em sua mão direita. O loiro não sabia se ele estava lá para ajudar ou para se juntar aos outros.

— Saia daqui. – O moreno cuspiu. – Isso não tem nada a ver com você, lufano.

— Bem, você está certo, não tem. – Ele saiu de perto da estátua e ficou ao lado de Scorpius. – Mas veja, eu não posso simplesmente sair andando, meu senso de justiça não permite.

Thomas não gostava de chamar atenção para si, ele não falava muito em sala e sabia que tinha um grupo seleto de amigos. Scorpius não entendia o que o garoto estava fazendo ali e porque de ajuda-lo, já que sabia que ele o detestava, talvez mais ainda do que aqueles corvinais.

— O que vocês planejam fazer? Mandá-lo para a enfermaria? E depois? – A varinha de Thomas continuava apontada para baixo, mas Scorpius viu como ele a mantinha segura agora. – Scorpius é um idiota, mas tem os Potter enrolado em seu dedo, além de uma coleção de outros amigos. Sejam inteligentes, rapazes. Pela manhã vocês estarão arrependidos.

— Como você pode defendê-lo depois do que ele fez? – O da esquerda falou.

— Ele estava em Hogwarts, ele não fez nada. Scorpius não tem culpa de nada. – Falar aquilo pareceu custar muito do lufano. – Sejam razoáveis.

Eles se olharam e o do meio, que parecia ser o líder falou com todo o desprezo que sentia pelo loiro.

— Você teve sorte, Malfoy. Mas sorte acaba em algum momento. Vai chegar o dia em que perceberá que Hogwarts não é lugar para escória como você.

Ele bateu no braço dos amigos e os três saíram de lá, deixando os outros dois sozinhos. Thomas deu um suspiro de alívio e colocou as mãos nos joelhos como se estivesse recuperando o ar. Scorpius continuava olhando para frente sem reação e sem entender exatamente o que tinha acabado de acontecer.

Thomas pareceu ter despertado de repente e voltou a ficar ereto encarando Scorpius seriamente.

— Onde estão os outros? – Ele perguntou.

— Na biblioteca, eu acho. Rose disse que iria para lá com os outros, mas não sei realmente.

Se amaldiçoava por ter saído antes deles, mas tinha que ir falar com a professora Green antes da próxima aula.

— Vamos. – Thomas não esperou que ele respondesse e começou a puxá-lo pelo braço. – Mantenha sua varinha pronta e preste atenção para o caso de algum ataque. Não quero levar um feitiço que seria para você.

Eles estavam praticamente correndo, passando por corredores e indo para as escadas. Thomas xingou baixinho quando uma delas mudou de direção e os levou para o andar errado, mas continuou a andar com a mesma velocidade de antes. Chegaram a biblioteca e o lufano pareceu procurar os outros, mas Scorpius o levou até o fim da biblioteca, para a mesa mais afastada.

— Ninguém nos importuna aqui, fica perto da sessão restrita e é mais escuro. – Ele disse.

— Está tudo bem? – Amélia perguntou quando viu ambos pararem ao lado da grande mesa.

Scorpius imaginava que sua expressão não deveria estar melhor que a de Thomas, cabelos bagunçados, bochechas vermelhas e olhos levemente arregalados.

— E-eu não sei. – Scorpius disse. – Eu fui emboscado, se não fosse por Thomas eu não sei o que teria acontecido.

— Você foi... O que? – Albus se levantou rápido. – Mas...

Todos olharam para Thomas que se sentiu terrivelmente desconfortável no meio de pessoas que não lhe era familiar. Amélia o olhava com gratidão e Freya com dúvida, elas estavam próximas então fixou o olhar na direção que estavam sentadas tentando ficar mais confortável com aquela situação.

— Vocês não estavam no Salão no almoço.

— Fomos para os jardins. – Freya falou. – Almoçamos lá.

— Eu não entendo. – Começou Rose. – Eles estavam mais calmos, até mesmo as ofensas diminuíram.

Thomas baixou a mochila e tirou o jornal de lá, entregou para Scorpius que estava mais próxima e baixou a cabeça. Ele já tinha lido aquilo três vezes e as palavras pareciam ter sido gravadas a ferro em sua mente, as imagens, os depoimentos. Tudo era tão terrível e surreal, não conseguia imaginar alguém ser capaz de cometer tamanha crueldade.

Scorpius sufocou um grito e colocou uma das mãos na boca, seus olhos estavam fixos no papel e começavam a ficar turvos. A dor no rosto do sonserino era a mesma que ele tinha visto em vários rostos no salão principal.

— O que aconteceu? – Amélia perguntou já levantando para poder ler junto com o amigo, Albus fez o mesmo movimento.

— Merlin! – Albus falou perplexo. – E-eles... Não... Como...

— Por mil infernos, o que aconteceu? – Freya perguntou agitada.

— Três casas foram incendiadas. – Thomas falou amargamente. – Eram de famílias de nascidos trouxas. Ninguém sobreviveu.

— O que? – Rose não sabia se levantava para pegar o jornal e saber por seus próprios olhos ou se permanecia sentada para não cair.

— Acham que os mantiveram dentro da casa, os trouxas disseram que escutaram os gritos, mas não conseguiam chegar perto da porta para tentar abri-las e a água não teve qualquer efeito. – Thomas não olhava para ninguém, achava que não conseguiria falar aquilo olhando para alguém. – Eles foram incendiados vivos.

Rose juntou as mãos na boca e começou a chorar baixinho.

— Estão todos assustados e furiosos. – Thomas falou. – A Diretora teve que parar uma briga no meio do almoço, não sei como vocês não escutaram nada. Nunca foi tão perigoso ser um de vocês como é agora. – Ele olhou para Scorpius, Freya e Amélia.

— Oh Merlin, Timothy foi até o Salão Comunal. – Rose levantou nervosa.

Rose fez que iria sair, mas Thomas a parou com o braço.

— Olha, aqui não é mais seguro. Não sei nem mesmo se para você e o Potter, a raiva pode ser direcionada para os filhos dos heróis, se estes estão sempre protegendo os vilões. – Não havia rancor na voz dele, apenas estava constatando um fato.

— E o que espera que façamos? Quer que Scorpius, as meninas e os Nott saiam da escola? – Albus perguntou com raiva.

— Não seja estúpido, como se seus pais fossem permitir algo assim. – Thomas tentou baixar a voz. – Mas não podem mais andar sozinhos e muito menos desprevenidos.

Ele lançou um olhar para Scorpius que tentou não se sentir envergonhado.

—Srta. Clarke nos avisou, lembram? – Amélia disse. – Ela disse que não deveríamos andar pela escola descuidados, sem varinha.

Thomas fazia adivinhação e ainda não sabia se confiava na mulher como algo sério.

— Fiz minha bondade do dia, se vocês me dão licença. – Thomas ia dar a volta quando Amélia chamou seu nome.

— Você não precisa ir. – Ela disse.

Thomas parou sem saber o que falar, lembrava-se dela fazer um convite semelhante no primeiro ano, mas ele era um babaca na época. Não que achasse que tinha melhorado muito, mas não era mais aquela criança mesquinha. Sem perceber seu olhar parou em Freya que o encarava com expectativa, queria saber o que ela achava de tê-lo ali com seus amigos, mas não conseguia capturar nada.

— Você pode ficar se quiser. – Scorpius sorriu.

Ele nunca entendeu o menino. Sempre o tratava com hostilidade, beirava a falta de educação e mesmo assim Scorpius nunca foi menos do que gentil com ele. Até ali não sabia o que o motivou a parar e se meter entre o loiro e os brutamontes da corvinal, não era tão bom em duelos e sabia que os dois iam sair bem machucados se eles partissem para os feitiços, mas não parecia justo ter Scorpius encurralado.

— Venha, Tom. Já que estamos aqui você podia me emprestar seu resumo de História da Magia, disse que o faria. – Freya falou por fim e bateu na cadeira vaga ao lado da sua que antes era ocupada por Rose.

— Tom? – Albus olhou de Thomas para Freya sem entender aquela interação. – Desde quando ele é Tom para você.

— Não seja ciumento, Al. Não combina com você. – Ela falou e ameaçou em seguida. – Não me faça ter que levantar, Tom.

O menino foi e se sentou ao lado da sonserina, mas não se moveu além disso. Aquela era a situação mais desconfortável que ele já tinha vivido até ali.

— Tim disse que está bem. – Rose falou segurando um colar.

— Como...? – Thomas não segurou a curiosidade e Rose tirou o colar mostrando a ele.

— Foi um presente, todos nós temos um. Podemos mandar mensagens curtas por eles, é um jeito fácil de nos comunicar.

Ele devolveu o colar a ela mecanicamente. Albus batucava na mesa visivelmente incomodado com a presença do lufano.

— Então, agora você é amigo da Freya, amigo da Amy e por alguma razão que não consigo entender Scorpius gosta de você. Somos todos amigos agora? – Albus olhou para eles em busca de resposta.

— Também não tenho nada contra ele. – Rose falou de seu lugar.

O silêncio reinou por alguns minutos até Freya quebra-lo.

— Então agora vamos ter sempre que andar em grupos e torcer para não sermos atacados pelas costas?

— Seria bom se os aurores voltassem para a escola, vocês estariam mais seguros assim. – Thomas falou baixo.

— O efetivo foi dividido. Papai teve que colocar aurores em vários pontos do país por segurança, há um pequeno grupo no povoado e protegendo os limites da escola, e desde o ataque na Floresta há um grupo lá, mas é impraticável que eles voltem para cá. Em tese estamos seguros aqui.

— Ataque na Floresta? Que ataque? Floresta, Floresta Proibida? – Thomas olhava de um para o outro em busca de resposta.

— Lembra aquela vez que os professores selaram a escola? – Amélia perguntou.

— Sim, havia lobisomens na Floresta, era perigoso não proteger a escola... Não...

— Na verdade, tinha lobisomens sim, mas também bruxos das trevas. Não sabemos se eles queriam invadir Hogwarts ou só matar os Centauros. – Scorpius deu de ombros. – Não nos deixam participar das reuniões.

— Mas...

— Ah, amigo. – Albus zombou. – Tem tanta coisa que você não sabe.

— No ataque a Hogsmead Albus se feriu enquanto era perseguido com o Scorpius e a Rose. – Freya segurava uma mão na outra e parecia muito concentrada na página de seu livro de Feitiços. – E eu fui cruciada.

— Você foi o que? – Thomas tinha os olhos arregalados.

Agora tudo fazia mais sentido. Por isso ela estava tão apática, a preocupação que ele via nos outros e o motivo que levou Freya a ignorá-los. Ela estava cansada deles sempre quererem saber como ela estava, imaginava que a cada vez que um deles se aproximava ela lembrava-se do que tinha acontecido. Por isso os dois tinham se aproximado nas últimas semanas, Thomas continuou sendo o mesmo cara desagradável de sempre e aquilo parecia agradá-la de uma forma que ele não entendia.

— Isso não importa. Já passou.

— Há algo mais que eu precise saber? – Thomas zombou.

— Minha mãe pode ter sido enfeitiçada para me matar. – Amélia deu um sorriso amargo na sua frente e ele não sabia se aquilo era uma piada ou não.

Para a surpresa de todos Albus começou a rir, ninguém entendia o motivo e todos o encaravam.

— Al? – Scorpius tocou o braço do moreno.

— Bem, temos Sonserinos, grifinórios e uma corvinal. Agora adotamos um lufano. – Ele sorriu. – Não sei vocês, mas estou me sentindo estranhamente completo.


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