O Legado escrita por Luna


Capítulo 61
Capítulo 61




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“Quando se ama alguém, vale a pena lutar, não importa as probabilidades.”

Pretty Little Liars

 

Ela ouvia o clic de seus saltos no mármore, concentrava-se no som e seguia adiante. Já fazia alguns anos que as pessoas tinham parado de pará-la no meio de corredores para aperta-lhe a mão ou apenas contar notícias que em nada lhe acrescentava. Ela agradecia a Deus por isso, nessa época ela tinha bem pouca paciência para a frivolidade dos outros.

Revirou os olhos sem disfarçar quando Sofia veio ao seu encontro nervosa e falando rápido, ela deu um longo olhar para a menina que parecia diminuir mais a cada segundo.

— Desculpe, senhora. Eu disse que ele não poderia entrar, mas ele apenas ergueu a varinha e eu não pude fazer nada.

Hermione colocou a mão no ombro da jovem e disse para que ela poderia voltar a sua mesa e seguir a agenda do dia. Antes de abrir a porta para seu escritório a mulher puxou o ar e fez suas feições ficarem amenas, prometeu a si mesma que não importava o que ele falasse não sairia de sua zona de paz e tranquilidade.

Empurrou a porta de madeira e viu os dois homens se encarando como se estivessem em uma disputa de quem piscaria primeiro, claro que Eric venceria, o homem deveria reconhecer a determinação e orgulho nos olhos de um Nott. O homem se virou para a porta e se levantou quando a viu chegando, Hermione ergueu a mão para dispensar qualquer cumprimento. Tal fingimento não era necessário.

— Senhora Weasley. – Cornelius baixou a cabeça.

Hermione já tinha desistido de corrigir seu sobrenome, poucos ainda eram os que a chamavam de Weasley, em meios formais ela era Granger-Weasley, mas no cotidiano era apenas Granger. Achava que as pessoas agradeciam por isso, eram tantos Weasley que ter alguma diferenciação era uma complicação a menos. Mas ele parecia sentir um gosto especial em contrariá-la.

— Senhor Agrippa, a que devo a honra da invasão?

— Por que não pede que seu lacaio espere lá fora? – Ele falava com falsa cortesia.

Ela viu Eric tencionar o maxilar e olhar duramente para o homem, para então olhar para ela esperando um comando.

— O senhor Nott ficará onde está. – Ela tomou seu lugar no outro lado da mesa e Eric permaneceu em pé ao seu lado. – Porque não nos diz o que o traz aqui para podermos acabar logo com isso?

O homem mexeu em sua bolsa e de lá saiu um bloco e uma pena. Hermione escutou a respiração pesada de Eric e sabia que a mão dele deveria estar apertando a varinha.

— O Ministério tem segurado informações importantes, negligenciado o mundo bruxo os deixando na ignorância. Temos o direito de saber o que está acontecendo.

— Vocês sabem tudo que devem saber, senhor Agrippa.

Ele bufou e a pena escrevia loucamente, provavelmente acrescentando fatos que Hermione nem pensou em confessar.

— Isso é um ultraje, censura. Pessoas morreram nos últimos ataques, crianças ficaram feridas em Hogsmead e moradores faleceram. Onde estavam os Aurores que deveriam estar no vilarejo?

— Como já deve ter tomado conhecimento a partir do depoimento de comerciantes e moradores havia bruxos defendendo os aldeões e alunos.

— Mas as mortes...

— Foram fatalidades, senhor Agrippa. Uma triste fatalidade, algo que o governo não tolera. Fazemos o possível para protegermos os nossos cidadãos, mas até nossos braços tem um limite.

— Se não estivesse ao lado de admiradores das trevas talvez seus braços conseguissem ir mais longe. – Ele vociferou para Eric.

— Já conversamos sobre isso, fui bem clara sobre o meu posicionamento depois de sua matéria atacando vários funcionários do Ministério. Eric goza de minha total confiança e permanecerá comigo até ascender para um posto mais elevado.

Nott permaneceu parado e com a expressão de educada indiferença, mas a confiança na voz de Hermione havia mexido com ele. A mulher sempre o ensinava coisas novas, o deixava a par das reuniões, mesmo aquelas que ele não tinha autorização para participar. Sentia os olhares cobiçosos e de inveja quando caminhava pelo prédio, Carlos García havia lhe dito que os burburinhos que corriam pelo Ministério é que Hermione o estava treinando para ocupar seu lugar ou para antes disso trabalhar diretamente com o Ministro, ele apenas bufou e disse como isso era ridículo. Ela apenas não tinha muita paciência para erros então o ensinava tudo para que ele pudesse caminhar com suas próprias pernas sem ter que ficar enviando memorandos a cada dúvida, como Sofia fazia.

— Mas isso...

— É minha decisão e ela não mudará. – Hermione foi resoluta. – Da próxima vez que invadir meu escritório vai ser retirado por um Auror, senhor Agrippa e isso não é uma ameaça, mas um aviso. Seria inteligente da sua parte levá-lo em conta.

Com um movimento de mão a pena e o bloco de notas pegou fogo para a surpresa do jornalista.

— Não concedo entrevistas, como já lhe disse anteriormente. Temos pessoal responsável para dar as notícias a jornalistas como o senhor, se dirija até lá se quiser saber mais sobre os recentes acontecimentos.

Não havia dúvidas na postura de Hermione que chegou até mesmo a soar ameaçadora, o homem se levantou mais rápido que pode e a porta bateu as suas costas. Hermione respirou aliviada e Eric descansou os ombros tensos.

— Sente-se, Eric. Você me deixa nervosa parado aí.

Ele a obedeceu, mas sentou na cadeira mais distante da mesa, próximo onde o mesmo deixou documentos que deveriam ser analisados por ela.

— Por que não me diz o que está pensando? – Ela pediu.

Eric deixou de lado os papeis que tinha acabado de pegar e ponderou se deveria ser franco com ela ou não. Hermione sempre era sincera, na medida do possível, é claro. Sabia que ela não lhe dizia tudo, mas lhe contava o suficiente para que ele estivesse a par do que estava acontecendo. Isso gerava desconforto com algumas pessoas que desconfiavam de sua família, sentia que em algum ponto a própria Hermione temia que ele falasse algo que não devia a alguém.

— A senhora tem que revisar as últimas emendas, o Ministro fez algumas modificações, mas com o seu consentimento nós podemos leva-las logo para uma última análise na Suprema Corte.

Ela reprimiu o sorriso que queria aparecer, Eric era tão contido e centrado em seus deveres, mas às vezes sua falta de expressão o prejudicava. Ela poderia ver o pequeno vinco entre suas sobrancelhas que geralmente não estava ali, ele torcia a boca em descontentamento, geralmente seus lábios só formavam uma linha reta.

— Você desaprova meu comportamento. – Ela disse.

— Não cabe a eu dizer como à senhora deve se portar. Mas sim, realmente acho que deveria tomar outra atitude com Cornelios Agrippa, ele é uma víbora traiçoeira, provavelmente fará mais uma manchete sensacionalista, agora lhe atacando.

— Querido Eric, você tem que aprender algo. – Ela disse puxando toda a atenção dele como geralmente fazia quando falava essas palavras. – Quando ocupar minha cadeira deverá saber a quem dar informações, a quem ser cortês e a quem dispensar sem cerimônia. Agrippa falaria qualquer coisa no jornal eu dando informações e servindo-lhe bolo e chá ou o expulsando da minha sala. A única coisa que ele queria é que alguém o visse entrando e saindo como se fosse dono do lugar. Ele não se importa com a verdade, com o bem estar da população, só o que ele quer é vender jornais. Então sim, ele falará mal do Ministério, de você e de mim. Coitada de Sofia, pela forma como ele saiu daqui até o nome dela deve constar nas palavras infames dele.

Eric prendeu a respiração no momento que ela falou sobre ele ocupar seu lugar. Hermione percebeu a fisionomia tensa dele e sorriu complacente.

— Você já deve ter ouvido sobre isso. Merlin sabe quantas vezes eu fui parada mês passado apenas para negar a informação. Tinha comentando um dia com Harry e Rony sobre estar o preparando para o cargo, alguém deve ter ouvido... Claro que isso é algo que demorará anos ainda. Você terá que subir de posição até chegar a Chefe do DELM, mas você demonstra a sagacidade, desenvoltura e apreço pelas leis e ordem.

— Mas... Eu não entendo. Eu pensei que estivesse aqui por que...

— Eu precisava vigiá-lo? Ter o controle sobre sua mente jovem para que seu avô não o influenciasse? Bem, sim. Mas por sorte você se mostrou uma pessoa muito inteligente, o melhor estagiário que eu tive em anos, mas não deixe Victorie descobrir isso, ela ficaria realmente chateada.

Hermione ainda mantinha o sorriso, mas a preocupação de Eric a fez perceber que aquilo era mais do que o susto inicial da expectativa que ela estava colocando nele.

— Haverá um momento em que você terá que tomar uma decisão, Eric. Neutralidade não é uma opção quando eles forem atrás de aliados. O que você fará quando esse momento chegar? Acompanhará seu avô? Esperará que Theodore decida por você? Tomará sua própria decisão?

Ele temia esse dia, não saber o que faria quando fosse confrontado. Seu avô passou toda sua infância difamando pessoas como Hermione, mas ele havia trabalhado com ela, a visto em sua forma mais brilhante e não tinha conhecido bruxa mais magnifica. Como alguém como ela poderia ser inferior? Por que ele jogaria fora a posição que por tantos anos almejou por um ideal que nem mesmo acreditava? Uma imagem na mesa ao seu lado chamou sua atenção, Hermione adorava fotos, havia várias delas por seu escritório, por ir tantas vezes lá sabia que aquela era nova. Timothy estava ao lado de Albus Potter, dava para perceber o olhar dele indo para Rose e depois voltando para a câmera, Nicholas estava do outro lado ao lado de Lily, o garoto não parecia estar lá por vontade própria, Eric já poderia dizer que ele já estava nas mãos da ruiva, ele piscava para ela e a fazia abrir mais o sorriso. Jamais ele diria aquilo em voz alta, mas o sorriso de Lily era um dos mais bonitos que ele já tinha visto e vendo o olhar de Nicholas sabia que o irmão achava o mesmo. Era um grupo tão diferente, mas estavam juntos. Amigos como Eric nunca havia tido realmente, algo que ele não entendia de fato, mas sabia que os irmãos sim. Eric os amava mais do que a qualquer um, mais do que amava Robin ou o próprio pai, mais do que amava o poder ou controle. Então a verdade veio, ele não decidiria a favor do pai, do avô ou de um grupo de bruxos. Ele decidiria a favor de Timothy e Nicholas, as pessoas que mais importavam para ele.

E quando ele olhou para Hermione ela percebeu que a decisão dele já estava tomada, não havia porque temer mais. Ela tinha conseguido o seu intento, o tinha feito perceber o que realmente importava, a verdadeira família.

— Vamos ver o que Quim aprontou dessa vez, talvez consigamos sair antes do jantar. Estava pensando em fazer uma torta hoje, você poderia vir...

— Sem querer ser grosseiro, sra. Granger, mas eu já ouvi seu marido falando sobre suas aptidões culinárias. Não é algo que eu queria passar nessa vida, mas obrigado.

Ela fez um som de total perplexidade e depois começou a insultar Ron falando como ninguém cozinharia bem se a comparação fosse Molly Weasley. Ele parou de escutar quando as reclamações dela se prolongaram por mais um minuto, aquela era um desses momentos que ele percebia como ela se sentia a vontade ao lado dele, para receber brincadeiras, que vindo dele sempre tinha um tom sombrio ou para falar mal de Ron e sua total falta de tato, depois de tanto tempo agora ele até se dava ao luxo de sorrir vez ou outra.


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