O Legado escrita por Luna


Capítulo 56
Capítulo 56




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“Ela sorriu pela primeira vez em dias, e isso fez tudo valer a pena”.

PJO – A batalha do labirinto

Nicholas afinava o violino com calma, a cada puxada das cordas ele as tencionava para ver se estavam ao seu desejo, já tinha trabalhado com três e já estava na última. Depois disso ele passaria para o arco, aquele seria o seu primeiro teste e ele estava tão nervoso que suas mãos tremiam levemente.

Seus dedos passavam pelas teclas pretas e brancas com graciosidade e fluidez, era como se sua mão soubesse como guiar todo o resto, sua mente poderia voar tranquilamente enquanto ele estivesse ouvindo o som soar.

— Você está ficando cada dia melhor. Às vezes acho que música possui algum tipo de encanto, uma magia que entra tão profundamente que ainda não conseguimos definir.

Aquilo fez algo acender na mente de Nicholas, como um estalo. Uma ideia que surgiu tão de repente que ele se questionou se ela não esteve sempre ali. Ele já tinha ouvido falar sobre usar música para encantar animais, para fazer pessoas entrarem em transe, seria possível então usá-la para fazer magia?

Ele era muito novo quando a ideia surgiu e somente quando foi comprar sua varinha, depois de uma conversa com Emme Olivaras é que tudo começou a se formar. Começou a ler sobre a criação das varinhas, uso da madeira e a relação com seu núcleo. Ele tinha feito o design do violino, Emme tinha trabalhado na execução, aquele era um segredo dos dois.

Ambos não faziam ideia se aquilo funcionaria, a madeira do violino veio de uma cerejeira, Emme tinha dito que elas faziam varinhas poderosas independentemente de seu núcleo, o arco do violino foi feito com pelo de unicórnio, dezenas deles apenas para compor aquele item, a artesã não sabia o efeito que um material poderoso em conjunto poderia proporcionar, e tinha expressado seu temor de forma explícita para Nicholas que prontamente a ignorou.

Aquela ideia parecia tão absurda que por algumas vezes ele pensou em desistir, é certo que já o teria feito se não lembrasse constantemente do aviso de Arwen. Derwin, um gatinho branco de olhos verdes, estava o encarando do outro lado da sala, o olhava como se soubesse o que ele estava querendo fazer e detestasse a ideia. Mas aquela era a única opção viável no momento, Emme foi expressamente contra fazer o primeiro experimento na presença de um humano. Nicholas posicionou o instrumento e olhou para Derwin pedindo desculpa pelo que poderia acontecer, puxou o ar para os pulmões três vezes antes de começar, Timothy o jogaria da torre se algo acontecesse ao bichano.

O som agudo começou a soar, Nicholas mantinha os olhos no animal buscando ver sua reação, passado alguns segundos Derwin se levantou, balançou a cabeça como se estivesse incomodado com o som e com o desenvolver da canção sua reação passou a ser mais violenta, ele rosnou e começou a miar muito alto. Nicholas parou em seguida. Derwin parecia extremamente incomodado e correu para fora da sala assim que a porta foi aberta.

— Nicholas, você acabou de perder o duelo da semana. Albus destruiu Emory Flint, foi quase tão bom quanto ver Freya arremessando a insuportável Burke pelo tablado.

Lily entrou na sala saltitando com sua animação inabalável, sentou na mesa do professor e ficou balançando as pernas enquanto descrevia cada parte do duelo, vangloriava o irmão e dizia que não via a hora de escrever aos pais, queria fazê-lo antes de Albus, pois sabia como a descrição do irmão seria pobre, mas a dela que tinha assistido tudo com atenção seria rica de detalhes.

— Eu o procurei na biblioteca e cheguei até mesmo pedir a um dos seus colegas que fossem ver se estava no Salão Comunal, só depois que lembrei que você estava se escondendo no 5º andar.

Assim que viu a menina se aproximando, provavelmente para ver o que ele escrevia, Nicholas fechou o caderno com uma força desnecessária. Em outro momento ele pediria licença e buscaria um tempo para se recompor, mas estava cansado e com raiva e Lily parecia perfeita para ser um alvo de suas frustrações.

— O que faz aqui? – Perguntou Nicholas.

Lily demorou a responder, ela ponderou e falhou ao tentar sorrir.

— Faz dias que não nos falamos, você sempre parece ocupado e quase não tenho lhe visto.

Ele a olhou com descrença e falou cada palavra como se cuspisse.

— Você quer dizer que faz dias que você me evita, não é? Não suporta o olhar das pessoas, os sussurros, os atos explícitos de revolta e o ódio que eles sentem de pessoas como eu. Não, a querida Lily, a mais perfeita grifinória, a filha do grande Harry Potter quer apenas os olhares de inveja por saber que eles nunca chegarão até você, os olhares de cobiça pela vida perfeita que você tem e que eles apenas sonham. Você quer ser louvada e admirada e não tem nada disso perto de alguém como eu. A escória dos Nott, a serpente perdida entre as águias.

Lily ouvia atônita, ela não viu isso chegando e a surpresa quase a derrubou.

— Do que você está falando? – A voz dela mal era ouvida. – Eu estive com você durante todo esse tempo, mesmo quando você permanecia em silêncio me ignorando eu fiquei ao seu lado. Achei que você queria um tempo sozinho.

— Que conveniente, quase consigo acreditar nas suas palavras mentirosas. Imagino que essa é a desculpa que encontrou para lhe livrar da culpa, por que é claro que a perfeita Lily não pode cometer um ato tão reprovável quanto abandonar um amigo por represálias dos outros. O que seus amigos da torre falam, hã? Eles já a avisaram dos perigos de andar comigo? De como sua reputação está sofrendo por andar com um futuro comensal da morte?

— Pare com isso, pare. Nicholas, o que está fazendo? Desde quando se importa com a opinião das pessoas?

— Está certa, não me importo. Eles não são nada além de inferiores a mim, mentes tão pequenas e insignificantes que quase sinto pena deles. Mas você se importa não é?

Ela estava tão surpresa com o ataque que estava sofrendo que não conseguia encontrar as palavras.

— Eu não entendo...

— Ótimo, então me deixe ser mais claro. Eu não preciso de você, sua mente é tão pequena quanto à deles, sua presença é tão incômoda quanto à deles, sua falação é irritante e a animação desmedida só demonstra o quão fútil e insípida você é. Quero que você me poupe de sua presença irritante.

Ele não sabia se a coloração avermelhada que tomou conta do rosto dela era pela raiva ou vergonha, os olhos dela ficaram brilhantes e por um instante pensou que ela pegaria a varinha, mas ela saiu da sala tão rápido quanto Derwin o deixando sozinho e amargurado.

Nicholas ainda segurava o violino em uma mão e o arco na outra, o último item foi parar no outro lado da sala o violino foi de encontro à parede inúmeras vezes até restar somente à madeira quebrada e um Nicholas com o coração machucado e ferido emocional e fisicamente.

Era estranho olhar para trás e não ver um bruxo de vestes escuras parado com a expressão fechada e a varinha na mão, mas com os recentes ataques todo o esquadrão fora chamado para o QG. Ainda havia alguns no povoado, os centauros garantiram que ninguém indesejado passaria pela floresta, as fronteiras mágicas que protegem a escola foram reforçadas. Em tese os alunos estavam seguros. Mas nem todos.

Nicholas parecia um caldeirão fumegante prestes a explodir. Por um tempo ele conseguiu aguentar a hostilidade de sua própria casa, o que o irritava profundamente eram os Sonserinos. Mas a cada dia as pessoas se tornavam mais hostis, fisicamente hostis.

O clube de duelos apenas piorou toda a situação. O primeiro torneio aconteceu três semanas depois da volta as aulas Albus e Scorpius foram os primeiros a competir e ambos venceram seus duelos, entretanto se a professora Melanie não tivesse com a varinha preparada Scorpius teria levado uma azaração assim que deu as costas ao oponente. O mesmo não pode se falar de Freya, Emilia Burke achou que seria inteligente não respeitar as regras e ataca-la com feitiços proibidos naquela etapa da competição. A jovem Zabine foi lançada poucos metros e quando se ergueu Emilia percebeu seu erro. Freya não deu tempo da corvinal erguer a varinha e jogou três feitiços seguidos na menina, que passou quase uma semana na enfermaria, mas como punição Freya foi proibida de competir. Não que ela tenha se entristecido com isso, naquele momento ela deixou claro o que aconteceria com aqueles que ousassem ataca-la de maneira covarde.

Claro que essa atitude não ajudou a situação complicada em que eles estavam, na semana seguinte só o que tinha no jornal eram mais declarações de pais que se diziam desgostosos com o que acontecia na escola, obviamente os jornalistas não diziam quem começavam as provocações e ataques.

Scorpius parecia um animal enjaulado que a qualquer momento atacaria alguém, ele já tinha ouvido uma gama de insultos, seus pertencentes eram protegidos com fortes feitiços o que impedia que o que aconteceu no primeiro ano se repetisse. Ele instruía os outros a andarem sempre em grupos, assim era mais fácil evitar as pessoas e no caso de algum problema eles estariam em número para se proteger.

O problema é que nem sempre eles conseguiam isso e naquele momento ele se arrependeu de não esperar por Rose e Amélia. Um grupinho de lufanos estava parado a sua frente jogando insultos e impedindo a sua passagem, ele tentava ir por um lado e um se postava a sua frente, Scorpius ainda não tinha tirado a varinha do bolso da capa e pedia para não ser necessário.

— Por que não volta para sua mansão? – Perguntou um garoto de cabelo cor de areia e olhos arregalados.

— Sabemos o que você está fazendo aqui, Malfoy. O mesmo que seu papai fez da última vez, mas não pense que deixaremos você pegar mais pessoas para sua causa suja.

— Eu só quero sair, vocês poderiam dar licença, por favor. – Pediu da forma mais educada que conseguiu.

Por sorte Melanie surgiu no final do corredor e notou a estranha movimentação.

— Está tudo bem, aqui?

Os quatro lufanos responderam rapidamente que sim, mas se tornou claro que a pergunta não foi dirigida a eles. Scorpius pensou um pouco, seria bom vê-los pegar uma detenção, mas a situação apenas pioraria depois daquilo, então ele respondeu que estava tudo bem.

— Ótimo, me acompanhe, por favor, Sr. Malfoy.

Os garotos deram passagem aos dois que seguiram caminho para o térreo. O silêncio durou até metade do caminho, quando Melanie achou por bem começar a fazer perguntas sem grandes pretensões, Scorpius respondia com monossílabos e se afastou dela tão logo quanto pode.

Para seu azar Albus estava no dormitório, ele sempre tentava fazê-lo se sentir melhor, o que só o fazia ficar pior. Ele se preocupava, lhe dava atenção em demasia e sempre dizia para ele não se preocupar com o que os outros faziam, que eles não importavam. No final da conversa um dos dois sempre acabava magoado, geralmente Albus.

— Pensei que você fosse estudar com as meninas.

Pelas roupas Scorpius sabia que ele tinha acabado de voltar do treino de quadribol, o cabelo ainda molhado por causa da chuva fraca que caia, Albus sabia que algo tinha acontecido, Scorpius sempre ficava com aquela expressão quando queria azarar alguém.

— Quer me dizer alguma coisa? – Albus tentou, mas só o que conseguiu foi uma careta.

Scorpius afastou a cortina da sua cama e se sentou colocado à cabeça nas mãos, Albus foi ocupar o lugar ao seu lado momentos depois. Todos eles estavam cansados, ele e Rose tentavam ser compreensíveis, mas sempre que falavam algo já começavam os discursos de que eles não faziam ideia da sensação que era ser odiado por metade da escola e a outra metade sentir medo.

Albus segurou a mão dele e fazia círculos com o polegar, Scorpius olhava para frente fixamente.

— Os responsáveis logo serão encontrados e mandados para Azkaban, as pessoas vão parar a perseguição com vocês.

— Até o próximo ataque.

— Elas vão perceber que estão sendo idiotas.

— Ou conseguirão nos fazer ser expulsos da escola.

Albus respirou fundo, animar Scorpius era algo complicado de se conseguir. Por sua vez Scorpius não queria ser animado, só queria um meio de jogar toda aquela frustração para longe. O garoto ao seu lado continuou falando, ele repetia as mesmas coisas que todos os dias, como se um milagre fosse acontecer e no dia seguinte as pessoas fossem parar de falar sobre eles, apontar e pará-los no corredor para dizer o quão desprezível eles eram.

Albus foi pego completamente desprevenido, quando foi perceber estava deitado na cama com Scorpius em cima dele o beijando furiosamente. Eles já tinham tido beijos mais quentes, mas nunca como aquele. Ele se deixou ser levado e guiado, levou uma das mãos até a nuca do loiro e o puxou para mais perto, Scorpius mordia seu lábio com força como se quisesse que Albus sentisse a dor. Quando respirar foi necessário Scorpius passou a distribuir beijos pelo pescoço dele, fazendo Albus soltar um leve gemido de apreciação, ele sentiu as mãos frias de Scorpius por baixo da camisa, sua pele se arrepiou com o toque, sentiu a mão dele subindo por suas costas e se contorceu, aquilo em conjunto com os beijos lhe traziam sensações nunca antes sentida.

Seus corpos nunca estiveram tão próximos, Scorpius tinha voltado a beijá-lo com a mesma intensidade de antes, ele impulsionava seu quadril para de encontro ao dele o fazendo se sentir quente, mesmo com as roupas molhadas. A razão voltou para Albus quando ele sentiu a mão de Scorpius percorrendo o caminho para sua calça.

— O que você está fazendo? – Perguntou Albus.

Scorpius demorou a responder.

— O que você acha que estou fazendo?

Albus o empurrou o jogando na cama e se levantou. Sentia o seu rosto ficar quente, infelizmente não havia bolso na calça então ele cruzou os braços.

— Você está chateado, mas não é assim que as coisas vão melhorar.

— Você não me ouviu reclamar segundos atrás. – Scorpius trazia novamente aquela expressão que desagradava Albus, um misto de indiferença e zombaria. – Estava aproveitando muito bem.

O sorriso que ele deu deixou Albus ainda mais envergonhado, ele detestava quando se sentia tímido perante Scorpius.

— Você está se sentido frustrado, todos nós estamos.

— Al, eu não quero uma analise dos meus sentimentos agora. Neste momento quero apenas usar esse seu corpo bonito e sua boca para esquecer o mundo lá fora.

Scorpius pontuou cada palavra, ele não estava tentando ser engraçado, deixa-lo envergonhado ou apenas brincando, ele realmente quis dizer aquilo. Por um instante ele se sentiu lisonjeado, mas a sensação foi embora tão rápido quanto veio. Nicholas ficava trancado em uma sala fazendo sabe-se lá o que, Amélia ficava enfurnada na biblioteca com uma muralha de livros ao seu redor, Freya estava acabando com Timothy na sala de treinamento de duelos, cada um deles buscou uma forma de fugir do que estava acontecendo e Scorpius estava querendo usá-lo. A sensação de se sentir um mero objeto, como livros e treinamento trouxe uma sensação amarga no fundo de sua garganta.

— Vou tomar banho. – Ele se virou para o malão para pegar uma troca de roupa e toalha limpa. – Você deveria começar a lição de História da Magia, quando Freya e Timothy voltarem vamos começar a de Poções.

Albus o deixou sozinho, não pela primeira vez ele sentiu os olhos arderem após perceber que tinha magoado Albus, puxou um travesseiro e abafou seu grito nele.

Janeiro e Fevereiro passaram rapidamente e Março já avançava para seu término, os ataques a cidades trouxas diminuíram o que causou um alívio em toda a população. Todos os bruxos que tiveram alguma ligação com Voldemort no passado foram chamados para prestar esclarecimentos no Ministério da Magia, algumas pessoas foram afastadas de seus cargos até que fosse comprovado que elas não tinham ligação alguma com os ataques.

O jornal trazia na capa a imagem de Theodore Nott saindo do Ministério de maneira altiva, com a cabeça erguida e um singelo sorriso no rosto. A matéria declarava que ele tinha sido afastado de suas funções por suspeitas de participação nos ataques em Surrey, apenas dois dias depois o Profeta Diário publicou uma declaração do Ministro da Magia negado qualquer suspeita de Theodore, assim como de outros bruxos. Ele apenas estava seguindo a lei.

A situação de Timothy e Nicholas não melhoraram na escola, os garotos foram ainda mais rechaçados, as provocações e insultos aumentaram exponencialmente e depois de um ataque de fúria Timothy também foi proibido de competir no torneio de duelos, além de ficar em detenção por duas semanas.

Nicholas só falava quando alguém lhe fazia uma pergunta diretamente, na maioria das vezes um professor. Ele conversava um pouco com algumas colegas de sua Casa, mas a maioria o ignorava ou fazia parte do grupo que o queria longe da Escola. Lily desde a discussão dos dois não tinha voltado a procura-lo, ele por vezes se pegou olhando na direção dela, buscando seu olhar, mas a menina parecia tê-lo esquecido totalmente.

Os outros perceberam que algo havia acontecido com os dois, antes era quase impossível vê-los separados, mas agora Nicholas andava sempre sozinho e Lily com Helena, uma menina da Grifinória. Nenhum dos dois parecia bem com isso. James e Rose tentaram falar com ela, entender o que tinha acontecido, mas a garota os deixou falando sozinhos e em outro momento foi dura ao dizer para não se meterem em sua vida. Timothy e Albus tiveram mais sorte com Nicholas, ele tinha dito que cometera um erro, que a tinha magoado, mas que resolveria a situação em algum momento.

Ele sabia que não deveria ter falado aquelas coisas, não achava Lily fútil, às vezes ela podia ser um pouco irritante, mas ele já tinha se acostumado. Era estranho estudar sem as constantes interrupções dela, não sentir mais o cheiro de chocolate que sempre impregnava as suas roupas ou vê-la sair saltitando pelos corredores. Mas os testes com o violino estavam consumindo todo o seu tempo livre. Emme ficou particularmente irritada quando ele escreveu dizendo do que tinha acontecido com o violino de cerejeira, junto com a carta que mandou enviou também galeões para pagar pelas despesas que ela estava tendo. Ela demorou mais uma semana para preparar outro instrumento, ele duvidava que ela estivesse sequer dormindo.

Ele fez alterações na música, Emme não quis lhe contar de que madeira o instrumento fora feito e junto com ele ela também mandou um novo arco, ele conseguiu perceber que ele tinha runas na madeira, as mesmas runas que a artesã tinha desenhado no violino. Derwin passeava pela sala, a sua última tentativa não fora muito boa, mas pelo menos o gatinho não tentou mordê-lo, como na anterior a essa. Ele só esperava que dessa vez houvesse algum ponto positivo.

Ele chamou o gato que atendeu prontamente, ele veio andando calmamente e se sentou no outro lado da sala esperando pelo que viria. Nicholas colocou o violino no ombro quase tocando seu rosto, jogou o ar para fora dos pulmões e começou. O som era calmo e fluído, era difícil conseguir um timbre mais aveludado no violino, no piano com certeza o som sairia melhor, mas não teria como Emme mandar um piano para ele, sem contar que ele não conseguiria imaginar a quantidade de madeira necessária para fazer um instrumento desse porte.

Ele jogou seus pensamentos para longe e encarou Derwin, o gato o olhava paralisado, ele estava deitado com a cabeça de lado o encarado fixamente, os olhos dele foram baixando lentamente até não abrirem mais. Nicholas parou de tocar, prendeu a respiração até perceber que Derwin respirava e parecia apenas dormir, o mexeu levemente, mas o gato não dava sinais, demorou alguns minutos até que ele se ergueu como se não soubesse como tinha dormido, deu um miado alto e passou a cabeça na mão de Nicholas o lambendo em seguida.

Nicholas exprimiu o primeiro sorriso em meses, ele sentia vontade de erguer Darwin e sair rodopiando pela sala. Nem conseguia acreditar que algo tinha acontecido, mal podia esperar para escrever à Emme contado da incrível novidade, mas então outra pessoa surgiu na sua mente, e de tantos era para ela que ele queria falar primeiro.

— Tenho que encontra-la, Derwin. – Ele jogou o violino dentro do estojo, o colocou na bolsa junto com suas anotações e saiu correndo da sala.

Ninguém nunca o tinha visto tão emotivo, ele corria pela escola perguntando a qualquer um que passasse se tinham visto Lily Potter, foi parado por Rose e Timothy, mas apenas disse que tinha que achar Lily e se afastou rápido. Sabia que ela não estava na Torre, por que Rose tinha acabado de vir de lá. Não estava na biblioteca, e ela não teria aulas a tarde. Ele já estava cansado e sem mais ideias de onde procurar quando Scorpius apareceu perguntando se estava tudo bem.

— Lily, eu tenho que achar a Lily.

— Ela estava nos jardins há algumas horas com um grupo de grinifórios. Talvez...

Nicholas não esperou que ele terminasse e voltou a correr. Ele foi primeiro para perto do Lago, eles costumavam ir sentar perto de uma árvore quando o tempo estava bom e quente, mas não havia sinal dos flamejantes cabelos vermelhos, então ele foi em direção às estufas, havia um jardim coberto lá que poderia atender as necessidades de quem queria estar ao ar livre sem ficar coberto de neve.

Ele chamou o nome dela assim que a viu, percebeu o assombro da menina ao perceber de quem era a voz. Ele andou apressado, seus cabelos estavam desalinhados, seu rosto vermelho pelo esforço até chegar lá e havia um resquício de sorriso em seus lábios.

— Eu preciso falar com você. – Ele disse com urgência.

Lily o olhava com descrença, ela não acreditava que depois de tanto tempo ele simplesmente apareceria como se nada tivesse acontecido. Ela estava mal há meses, nas primeiras semanas só dormia depois de chorar até soluçar e agora lá estava ele, parado, exigindo falar com ela como se não a tivesse menosprezado e a taxado como nada.

— Lily, olha, eu... – Nicholas não era bom em se desculpar, não era algo que ele costumava fazer com frequência. – Tudo que eu falei... aquilo... olha, me desculpa. Eu não acredito em nada daquilo, você é inteligente, uma boa amiga, é esperta, sua presença é agradável. Na verdade você foi a melhor pessoa que eu já conheci em muito tempo. A única que não me faz querer revirar os olhos a cada cinco minutos. Desculpe-me.

Ele esperou pelo que pareceu muito tempo, enquanto a ruiva apenas o olhou com a boca levemente aberta.

— Aconteceu algo, Lily, algo realmente incrível e eu prometi que você seria a primeira a saber.

Ele queria aflorar o lado curioso dela, mas não parecia surtir qualquer efeito. Ele já estava perdendo as esperanças, mas aquilo já estava indo longe demais, ele não poderia ficar mais tempo longe dela. Ele se adiantou e se ajoelhou ao lado de onde ela estava sentada.

— Você terá que me perdoar em algum momento, você é minha melhor amiga e eu sou seu melhor amigo, você não vai encontrar alguém melhor do que eu.

— Eu sou sua única amiga. – Ela o corrigiu.

As pessoas que estavam com Lily olhavam aquela estranha interação calados. Eles nunca tinham visto Nicholas dizer tantas palavras de uma vez. Sabiam que o garoto era mais estranho que o normal, ele se achava melhor que eles, tinha toda a arrogância da Corvinal misturado a Sonserina, o que fazia com que ele não fosse uma companhia muito apreciada, não que Nicholas quisesse estar perto de qualquer um deles.

A curiosidade venceu, Lily se despediu dos colegas de turma e foi andando com Nicholas até chegarem à árvore perto do Lago, havia nevado bastante no dia anterior o que fazia tudo ficar úmido depois, por isso os dois ficaram em pé olhando um para o outro.

— Você disse que tinha algo para me dizer. – Lily o lembrou.

Nicholas achou melhor mostrar do que falar, sabia que a menina poderia não entender todos os conceitos de magia que ele tinha estudado, mas ela teria uma base do que ele tinha conseguido. Ele a viu correr os olhos pelas palavras absorvendo as informações percebeu que ela estava começando a entender quando seus olhos se arregalaram e sua boca abriu em um perfeito O. Ela olhava para o caderno e para ele, sem conseguir produzir alguma palavra.

— Eu consegui, Lily. Estive fazendo testes todo esse tempo e hoje eu consegui algo. Tenho que fazer um teste em uma pessoa, é claro. Mas Darwin dormiu, ele dormiu bem diante dos meus olhos. Claro que por ele ser um gato o efeito pode ser mais rápido nele, mas eu já tenho um caminho.

— Música, você fez magia com música?

Nicholas apenas sorriu, o sorriso mais lindo que Lily já viu e foi impossível não abraça-lo. Ele devolveu o gesto sem nem mesmo pensar.

— Vamos! – Lily o puxou pela mão em direção ao Castelo.

— Para onde?

— Você falou que precisa testar em uma pessoa, eu sou uma pessoa.

Sophia lia uma carta atentamente quando foi interrompida por batidas na porta. Ela levantou a varinha e fez um movimento na horizontal permitindo a entrada da pessoa. Ela só levantou os olhos quando terminou a leitura.

— Flint acaba de receber uma carta do filho, o próximo passeio a Hogsmead acontecerá no último final de semana de março.

— Sente-se, Adria.

Adria fez o que a mulher pediu ocupando a cadeira do outro lado da mesa, ela avaliava Sophia da mesma forma que era avaliada.

— Esse é um movimento arriscado, Sophia. Um ataque a crianças pode fazer com que muitos partidários se virem contra a causa, em uma ação dessas é difícil controlar os resultados. Imagina o que Lucius fará se o menino Malfoy for machucado, e se Freya se machucar?

— Resultados não podem ser controlados, mas os danos podem ser reduzidos. Eles sabem quem devem... vamos usar as palavras corretas, querida, quem eles devem matar. Aquela fedelha suja e a pequena corja de traidores. Além de alguns sangues ruins se derem sorte.

— Imagino que já tenha um meio de neutralizar os Aurores que estão alocados na vila.

— O tabuleiro está da forma como eu quero, Adria. Todos os movimentos do inimigo estão acontecendo como previ. Vamos preparar um ataque grande, o Primeiro-Ministro trouxa vai querer explicações do nosso querido Kingsley em breve que estará tão perdido quanto um dia o velho do Fugde esteve. Não ficarei admirada se a população pedir a saída do ex-auror.

— Onde será o ataque? – Adria tentou esconder a preocupação.

— Londres, é claro. Chega de atacar cidades pequenas e insignificantes, vamos atacar o coração de Londres. Eles deixarão apenas um pequeno efetivo na vila, nós conseguiremos abatê-los rapidamente e depois só teremos que pegar o que fomos buscar.

Sophia sorria, a expressão em seu rosto seria bonita se não fosse tão macabra.


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