O Legado escrita por Luna


Capítulo 54
Capítulo 54




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“[...] nosso caráter torna-se nosso destino.”

O Monge e o Executivo

A mesa estava farta, seus ocupantes sorriam felizes, contavam histórias, conversavam, tentavam adivinhar o que ganhariam de presente. Eliza estava sentada entre Mary e Gina, Hermione estava a duas cadeiras de distância conversando com Astória e Ron, ela mais ouvia Astória fazendo perguntas sobre a segurança de um dos novos lançamentos da loja para crianças pequenas.

Harry se entretinha no meio de Draco e Blaise, tentava segurar o riso, em sua juventude nunca poderia imaginar que eles tinham um senso de humor tão agradável e também uma pontinha de humor negro, agradecia pelas crianças estarem entretidas em suas próprias conversas, assim não dando atenção ao que os dois sonserinos diziam.

Robin fazia comentários oportunos, por muitos anos ela fez estudos sobre poções e formas de aperfeiçoar algumas que já existiam há séculos, um assunto que muito agradava Eliza. Todos se esforçavam para esquecer os horrores que estavam acontecendo do lado de fora.

Eric tinha se afastado dos pais assim que chegou a sala de jantar, muitas cadeiras já estavam ocupadas, por isso procurou a cadeira ao lado de Lily, achava que ficando do lado da ruiva iria ter menos chance de se irritar. Freya estava sentada entre Scorpius e Albus, logo depois do moreno vinha Amélia, Rose e Timothy, do outro lado da mesa sentava James, Anthony, Nicholas e Hugo.

— E aquele embrulho enorme que vimos você pedir para empacotar? – Amélia perguntou curiosa à Scorpius.

— Aquilo era para Arwen, espero que tenha chegado a tempo. É uma coleção de livros trouxas, lembram que ela disse que o nome dela veio de um personagem de um livro que a mãe dela gostava? Eu descobri o nome do livro e comprei a coleção. Espero que ela goste.

Albus, Rose e Amélia desviaram o olhar e sorriram sem graça.

— O que? – Scorpius perguntou.

— Nada. – Rose se apressou em responder. – Quer dizer, é claro que ela vai gostar.

— Pelo menos sabemos que ela é educada o suficiente para mentir e dizer que gostou. – Albus sorriu para o namorado.

Isso fez com que Scorpius refletisse sobre a questão e a dúvida se instaurou em sua mente. Eram bons livros pelo que lhe disseram, não entendia porque Arwen não gostaria.

Para mudar de assunto Timothy começou a falar sobre os torneios do Clube de Duelos que começaria após o ano novo. Isso trouxe uma nova animação para eles, estavam treinando há muitos meses para esse momento, o grande campeão traria 150 pontos para sua Casa e isso praticamente daria a ela a Taça das Casas.

Lily não se importava muito com isso, não poderia concorrer, apenas alunos do quarto ao sétimo ano poderia entrar no torneio, ela queria que alguém da sua família vencesse, mas não torcia para ninguém em particular, essencialmente porque sabia como Rose e Albus podiam ser competidores irritantes.

— Não temos visto você muito por aí. – Lily falou baixo com Eric, não queria atrair a atenção dos outros, embora Anthony e Nicholas tenham notado a atenção que ela deu ao mais velho dos Nott.

Eric apenas a olhou sem dizer nada, como ela percebeu que ele não responderia qualquer coisa continuou falando.

— Você está mais pálido do que me lembro. Acho que em Hogwarts você era obrigado a sair para as aulas de Trato das Criaturas Mágicas, agora você só fica enfurnado dentro de uma sala. Isso pode fazer mal, sabe?

— Preocupada? – Ele sorriu debochado.

Ela apenas deu de ombros, mas sorriu para ele.

— Soube de sua promoção, parabéns. – Ela tocou a mão dele por alguns segundos, isso fez com que Eric se retraísse, ele não gosta de contato.

— Obrigada.

— Deve ter ficado muito orgulhoso, é uma grande coisa trabalhar com tia Hermione.

— Sim. – Eric respondeu vagamente. – Bastante orgulhoso.

Ele se sentia minimamente incomodado quando falavam sobre a promoção, para os outros aquilo era apenas uma recompensa pelo seu árduo esforço, alguns ainda achavam que era um benefício que ele recebeu pela relação de seu irmão com a filha da chefe, outros achavam que sua família influenciou a decisão de pessoas importantes no Ministério. Mas ele sabia que tinha coisas mais importantes por trás da decisão de Hermione, nunca disse a ninguém que por um instante pensou em recusar e continuar no seu departamento, não queria ser usado por qualquer dos lados. Porém seu lado ambicioso e orgulhoso não o permitiu tamanha insensatez, então ele aceitou.

Lily sorria com graciosidade, ela tinha herdado os cabelos rebeldes de Harry, eles desciam pelo seu ombro descontrolados, embora ela mantivesse um laço no topo da cabeça para evitar que eles caíssem no rosto. Se Albus era a cópia de Harry, Lily era a de Gina, ela tinha pequenos olhos castanhos e sardas que enfeitavam seu nariz. Ela não parecia incomodada com a distância que Eric impunha a todos, pelo contrário sempre ficava empurrando a barreira, mesmo em Hogwarts quando ela era apenas a primeiranista chata amiga de seu irmão.

— O que vocês aprontam em Hogwarts agora? – Ele perguntou e no momento seguinte se arrependeu. Não queria parecer interessado e não estava de fato, mas conversar com Lily impedia que ele conversasse com os outros e a menina não poderia ficar fazendo perguntas pelo resto da noite.

Lily parecia animada com o interesse dele, era a primeira vez, que ela lembrava, que ele tinha lhe feito uma pergunta que demonstrava querer saber algo que não era relevante. Na verdade era a primeira vez que ele lhe fazia qualquer pergunta.

— Nada de novo. – Ela lamentava não ser tão vivaz quanto seus colegas de turma, não tinha muito que falar para ele. – Sabe aquele kit das gemialidades que faz crescer um pântano?

Eric não gostava de brincadeiras bobas como essas, nunca viu a real graça de toda a coisa, mas Lily parecia se esforçar para não gargalhar.

— Colocaram nas masmorras, perto de onde o Barão Sangrento gosta de ficar. Tenho certeza que ninguém conseguiu dormir direito na Sonserina por uns três dias, durante as aulas ele ficava entrando nas salas se lamuriando e arrastando aquelas terríveis correntes. Os professores demoraram a conseguir retirar tudo aqui, parece que meus tios inventaram uma forma de fazê-lo mais permanente.

— Mas por quê?

— Quem se importa? De qualquer forma parece que foi uma aposta, os culpados nunca foram encontrados. – Falando mais baixo para que os outros não escutassem ela continuou. – Acho que os Sonserinos os teriam amarrado na Floresta Proibida se o tivessem.

— Isso parece coisa de grifinórios. – Eric acusou. – Você não suspeita de ninguém?

Lily conteve o riso e bebeu um pouco do seu suco antes de responder.

— Claro que não. – As cor nas bochechas dela diziam o contrário. – Albus e Scorpius não me perdoariam se eu não contasse, sem falar que a Diretora estava querendo encontrar os responsáveis também.

— Por acaso não foi você, não é mesmo?

— O que? – Lily não conseguiu deixar de sorrir atraindo a atenção das crianças e de alguns adultos. – Ah querido Eric, você realmente não me conhece.

Aquilo era o tipo de coisa que James faria e que Albus acobertaria, Lily era muito atrapalhada para fazer algo sem ninguém perceber. Ela teria acordado todo o Castelo na tentativa, além de morrer de medo do Barão Sangrento, jamais faria algo que o chatearia daquela forma.

O sorriso de Lily era contagiante e por alguns segundos Eric se permitiu sorrir da menina sorrindo. Nicholas estreitou os olhos vendo aquilo, Eric parecia vendido à Lily, mesmo que ignorasse todos os outros e o corvinal sentiu uma pontada vendo aquilo, não sabia se era porque Lily parecia tão envolta ao redor de Eric ou se era porque o irmão parecia a vontade ao lado da ruiva. Ciúme não era um sentimento que Nicholas conhecesse.

A hora mais aguardada da noite foi quando eles puderam abrir os presentes. Os adultos foram mais contidos, dando abraços e agradecendo. Os pequenos se amontoaram para abrir os presentes, em Hogwarts eles faziam isso apenas pela manhã, mas não deixariam ninguém dormir sem ver o que tinham ganhado aquele ano.

Houve dois momentos naquela situação que chamaram a atenção de todos, o primeiro foi quando Lily caminhou até os Nott e estendeu um embrulho bonito para Eric, o rapaz evitou o olhar do pai, mas poderia senti-lo, assim como sentia o de todos. Lily não parecia se preocupar tampouco.

Ele rasgou o papel e leu o título do livro. Parecia ser uma edição especial, tinha uma capa de couro escura com as letras prateadas.

— Tia Hermione deu um livro igual à Vic quando ela foi estudar as leis. – Lily lançou um sorriso à tia. – Pensei que você fosse gostar e que seria útil para o trabalho na DELM.

— Posso ver? – Hermione se adiantou no grupo para ver o presente.

Eric estendeu o livro para que ela pudesse pegá-lo.

— É uma edição atualizada. Ela dá um ótimo contexto histórico, é um bom livro. Você analisa as leis e seus momentos e percebe como muito do nosso sistema legislativo é regido por ocasiões específicas. – Hermione teve que se impedir de sair falando todos os pontos que tinha gostado, poderia fazer isso quando as férias acabassem. – Posso apresenta-los se você gostar do que vai ler?

— A senhora conhece Eleanor Vasquez? – Eric tentou esconder a surpresa.

— Sim, uma pessoa muito interessante. Você gostaria dela, eu acho.

Como se não tivesse sido estranho Lily dar um presente a Eric vê-lo colocar a mão no bolso e tirar de lá uma pequena caixa se enquadraria em uma nova percepção de estranheza.

— Espero que você goste.

Eric jamais faria a indelicadeza de receber um presente e não dar nada para pessoa. Ele tinha visto a delicada pulseira quando tinha ido ao Beco alguns dias antes, achou que Robin fosse gostar, fazia bem o gosto da mãe. Ele já tinha comprado um presente para ela, mas não conseguiu se impedir de entrar na loja e sair com a pulseira.

Estava planejando presenteá-la quando fossem se retirar, queria dar quando houvesse mais privacidade. Mas quando Lily lhe presenteou ele não poderia deixa-la sair sem nada.

Por um instante Lily apresentou a mesma surpresa de todos, mas depois sorriu e o olhou como se soubesse de algo mais e ali ele percebeu que ela sabia que aquele presente não era para ela.

— Você não precisa me dar nada. – Ela devolveu a caixa para ele, que ergueu a mão a empurrando de volta.

— Vai ficar bem em você. Abra. – Ele insistiu e ela desistiu.

Os olhos castanhos se iluminaram com a beleza da peça. Não era algo grandioso, mas se podia notar o trabalho minucioso que o artesão teve. Ela tinha uma corrente e no centro cinco pedras azuis em volta de pequenos brilhantes. Lily só tinha visto joia mais bonita no pescoço de Astória e no mostruário de Gina.

— Isso é demais, Eric. – Lily se aproximou para falar só com ele. – Tenho certeza que a sra. Nott apreciará a peça, dê a quem é de direito.

 – É um presente, Potter. Não seja deselegante. – Ele se afastou de Lily e se aproximou de Robin dando a entender que a pequena interação entre eles tinha encerrado.

Para livrar a todos do momento constrangedor surgiu Ron. Ele trouxe pequenas caixas e as colocou em duas pilhas, algumas tinham laços rosa e outras azuis.

— Esse é um presente das Gemialidades, então o Jorge mandou dizer que é dele também. – Ron revirou os olhos. – Podem atacar.

Os Weasley foram os primeiros a se dirigirem as caixas, os presentes das gemiliadades eram sempre úteis, ainda mais se você gostava de pregar peças. Mas eles não entenderam bem aquele em especial. Eram colares, o dos meninos diferenciava um pouco, eram quadrados e possuíam apenas uma fênix desenhada, ele poderia se abrir, no lugar onde poderia colocar uma foto tinha algo escrito, “Feliz Natal, pestinhas”.

Eles olharam para Ron com duvida e agradeciam com educação.

Ele sorriu para os pequenos e parou de atormentá-los quando Hermione pediu logo que ele explicasse.

— São encantados. Vocês poderão passar mensagens pelos colares, elas têm que ser curtas, mas podem ser muito úteis. – Ele explicou. – Quando tem uma mensagem o colar esquenta um pouco, só vocês saberão como mandar a mensagem, então quando a receberem saberão que são verdadeiras.

— Isso é... – Rose não conseguia encontrar as palavras.

— Brilhante. – Scorpius disse.

— Incrível. – Nicholas parecia verdadeiramente surpreso.

— Sensacional. – Freya olhava para o colar, até poderia esquecer que ele não era assim tão bonito. O das meninas era mais arredondado e tinham pequenas pedras com a fênix no centro.

Ron e Hermione começaram a ensinar como mandar as mensagens, ou tentando por ter um Nicholas os interrompendo a todo o momento perguntando como aquela magia funcionava. Anthony e Eric já sabiam como fazer a magia funcionar, só precisavam saber o que ativava o colar, depois disso passaram a ficar mandando mensagens enquanto os outros ainda estavam aprendendo. Anthony ria abertamente da expressão zangada dos menores, Eric também se divertia enquanto os via tentando e falhando.

Os adultos ficaram observando de longe isso, quando a chegada de Elke chamou a atenção de Astória e Draco. Há essa hora todos os elfos já tinham se recolhido. Draco foi até ela ver o que tinha acontecido, eles viram quando o elfo entregou um papel e aparatou.

Draco voltou carregando uma expressão preocupada, olhando de relance para as crianças voltou-se para os outros e disse baixo.

— Há um Auror na porta, ele entregou isso à Elke e pediu que ela repassasse à você, Potter.

Nenhuma visita àquela hora poderia significar coisa boa, ele desdobrou o papel rapidamente e Draco usou o corpo para esconder o que Harry fazia. A expressão dele se fechou em segundos e ele assumiu a postura que tinha quando estava no QG dos Aurores.

— O que aconteceu? – Gina perguntou alarmada.

— Assunto ministerial. – Ele lançou uma olhada para Hermione e deu o pergaminho para que ela pudesse ler também, sabia que ela seria informada em pouco tempo também. – Tenho que ir ao Ministério.

— Mas é Natal. – Gina se aproximou dele. – As crianças estão aqui.

Harry olhou para o papel novamente, ele não precisaria lê-lo para lembrar o que tinha sido escrito apressado.

— Diga a eles que sinto muito. – Ele apertou a mão da esposa. – Eu mando notícias assim que puder.

Gina não conseguiu falar mais nada, só viu quando Draco o acompanhou até saída da sala. De lá poderia apenas imaginar o que tinha acontecido. Harry só daria notícias horas depois e elas não seriam boas.

Rose não saberia dizer como chegou até lá, ela apenas foi caminhando, passou pelo jardim até chegar ao conjunto de árvores. Sabia que não estava fora da propriedade ainda, os feitiços de proteção jamais a deixariam sair, o que era assombroso considerando a distância que ela estava da Mansão.

O terreno estava bem cuidado, era como se um jardineiro estivesse acabado de sair dali. Os túmulos, mesmo os mais antigos, ainda eram belos. O mausoléu mais distante mostrava como a família era poderosa, mesmo séculos antes. Rose se aproximou, sabia que não poderia entrar, provavelmente apenas aqueles que carregavam a sangue Malfoy teriam a honra, mas ela estava perto o suficiente para ver a pequena imagem daquele que descava lá dentro.

Armand Malfoy tinha cabelos loiros quase brancos, olhos inteligentes e sagazes e portava um sorriso de lado, pela data que tinha lá ele morreu jovem. Aquele foi o primeiro Malfoy na Grã-Bretanha, o início de uma dinastia que duraria séculos, o primeiro a carregar um nome que teria muitos significados para muitas pessoas.

Rose se perguntava se Armand já sabia naquela época o que sua família se tornaria, se ele treinou seus filhos para se tornaram tão sagazes quanto ele foi em vida. Não tinha muitos túmulos lá, nos últimos séculos se tornou quase uma tradição os Malfoy terem apenas um herdeiro, este tinha que ser homem, é claro.

Ela achava, como muitos outros, aliás, que a família envolvia magia na concepção de sua linhagem, durante séculos apenas homens loiros de olhos cinzentos nasceram, aquilo não era visto como algo natural. Sorte, talvez. Mas Septimus Malfoy uma vez interrogado sobre o assunto disse apenas que isso era a própria magia que vinha forte no seu sangue, o homem que ousou tirar chacota sobre isso apareceu morto no dia seguinte, o assunto nunca mais fora levantado.

O túmulo mais novo pertencia a Abraxas Malfoy e sua esposa Seraphine, Rose sabia que ele tinha sido uma das pessoas mais influentes do último século. Livros enalteciam a inteligência e o jogo de poder do velho Malfoy. As letras prateadas no mármore negro pareciam brilhar, a imagem trazia o casal ainda na sua juventude, e vendo isso agora Rose não poderia esquecer a semelhança entre eles e Lucius e Narcisa.

Eles eram tão diferentes de Draco e Astória, a mulher com seus lindos cachos castanhos deveria apresentar um contraste formidável na árvore genealógica da família. Por muito tempo pessoas como os Malfoy decidiam o futuro para pessoas como ela, os taxavam e os excluíam, os tratavam como seres inferiores apenas por não ter o sangue totalmente mágico, os caçavam e matavam e nada acontecia, eram casos relatados como acidentes, mesmo que houvesse sinais claros de tortura e da maldição imperdoável mais cruel.

Ela pensou, como as gerações que nasceram depois da guerra, que aquilo tinha ficado para trás. Que agora pessoas que pensavam assim se esconderiam, que elas seriam taxadas e excluídas, mas elas prosperaram, cresceram e se tornaram mais ricas. Algumas se extinguiram, mas a maioria venceu mesmo tendo seu Lorde perdido a guerra.

Seus pais e tios queria fazê-los acreditar que tudo estava bem, que eles ainda tinham o controle do mundo mágico, mas ela sabia que não. Eles apenas estavam sabendo esconder as coisas muito bem, e ela não sabia até que ponto aquilo era bom. Não entendia como sua mãe poderia concordar em esconder a verdade da população, o Ministério já fez isso antes e o que aconteceu foi Voldemort conquistando mais espaço e poder enquanto as pessoas acreditavam que tudo estava bem.

Ela via seus colegas de casa andando pelo povoado, rindo distraídos com suas varinhas longe de seu alcance. Rose nunca deixava a varinha longe, nem mesmo quando andava pelos corredores. Sabia que seus amigos agiam da mesma forma.

Scorpius todo momento olhava por cima do ombro, Albus e James estavam sempre tensos, mesmo havendo Aurores por perto. Amélia segurava a varinha por dentro do casaco, a mais assustada de todos eles. Até mesmo Lily e Nicholas, os que menos sabiam do que estava acontecendo sentiam a tensão no ar. Nas compras de Natal ela nunca se afastava o suficiente e sempre que ia um pouco mais longe ficava olhando ao redor, buscando os irmãos com os olhos.

Rose pensou em voltar para a casa, mas sabia o que encontraria lá, então sentou no túmulo de Abraxas. Eles estavam esperando, fingindo que o fato de Harry ter saído a noite e ainda não ter retornado não era assustador.

— Nossa ruiva. Você foi bem longe dessa vez. – Timothy surgiu entre as árvores, encostou-se a uma delas e cruzou os braços. – Sua mãe estava a sua procura.

Rose sorriu apenas.

— Ela sabe que estou por perto.

— Acho que perto para ela é o local onde os olhos dela alcançam. – Ele brincou. – O que veio fazer aqui, Rosie?

— Nada realmente, apenas vim andando e acabei aqui. Deve ser um local bonito na primavera, imagina as árvores com um verde vivo, o sol entrando pelos galhos, as flores florescendo. É um lindo lugar para ficar pela eternidade.

— Eu pensei que talvez pudéssemos convencer a sra. Malfoy a nos dar algumas varinhas, poderíamos fazer nosso próprio torneio de duelos ou pelo menos treinar um pouco. – Timothy falou com uma animação que não sentia.

— Seu pai trabalha no Ministério, ele deve saber o que está acontecendo. – Rose se levantou e passou a caminhar entre os túmulos.

Tim ponderou por alguns segundos, Rose o olhava com persistência e expectativa, mas ele não sabia o que dizer a ela.

— O trabalho dele não tem muito a ver com os Aurores, você sabe. – Ele saiu de perto da árvore.

— Você está dizendo que não sabe o que está acontecendo?

— Estou dizendo que... Rose... – Ele não queria ser aquele que falaria a ela o quão ruim as coisas estavam.

— Eles estão escondendo de todos nós.

— Só geraria pânico, medo irracional. Eles estão fazendo o melhor que podem.

— Mentir nunca é bom. Enganar as pessoas...

— Eles estão lidando com a situação. – Tim não entendia a posição dela.

— Por que você os está defendendo?

— Por que você está atacando? – Ele rebateu. – É sua mãe, uma das pessoas mais capazes do Ministério, é Harry Potter. Se tiver alguém capaz de resolver os nossos problemas são eles.

— Eles estão preocupados. Tia Gina passou toda a manhã olhando para as janelas, mamãe estava tensa, papai agitado, até mesmo os Malfoys pareciam amedrontados.

Tim foi até ela e a puxou pela mão com força suficiente para Rose se chocar contra seu peito. Ele deu pequenos beijos em seu rosto e terminou selando seus lábios.

— Essa é a primeira vez em dias que seu pai ou qualquer adulto não está nos bisbilhotando. O mundo mágico pode estar no meio de uma crise, mas agora eu quero apenas beijar minha linda namorada.

Rose riu, o que era a intenção de Tim desde o início. Ele a puxou até um tronco caído e a deixou sentada em suas pernas.

— Você está tentando me distrair do que é importante.

— Hei! Eu sou importante. – Tim protestou, mas sorriu em seguida. – Eu só quero passar um tempo com você, longe do alcance da varinha do seu pai.

Ele não queria que Rose lhe fizesse perguntas, não queria ter que mentir para a garota que gostava e não queria ser aquele que traria as notícias ruins. Era fácil demais estar com ela, seu riso saía tão leve e sua mente ficava vazia de preocupações. Ele gostava como Rose jogava o cabelo para o lado, a franja dela já tinha crescido o suficiente para não incomodar, seus olhos pareciam suga-lo em uma imensidão azul e ela tinha o sorriso mais sincero e lindo que ele jamais veria.

Ele a beijou como sempre beijava, com calma, aprofundando aos poucos. Rose era delicada como uma flor, deveria ser tocada dessa forma também. Ela era essencialmente boa, gentil e justa, mesmo quando as pessoas eram idiotas e aqui ele pensou em alguns colegas da Sonserina. Ele lembrou da conversa que escutou de seus pais antes de voltar para Hogwarts, aquilo esteve em sua mente por muito tempo, ele viu como Eric engoliu em seco quando Harry saiu e olhou para Hermione buscando alguma coisa.

Seu pai não parecia nem sequer incomodado com algo, era como se tudo estivesse normal, como se o mundo não estivesse a beira do caos. Se o pior acontecesse Timothy não sabia o que faria, temia a decisão que sua família tomaria e o que isso significaria para ele e Nicholas.

Rose o olhou com aqueles olhos lindos e sorriu, Timothy adorava aquele sorriso.

— Você parece preocupado. – Rose tocou em uma rusga que estava na testa dele.

Tim pegou a mão dela e a beijou.

— Quero falar algo, mas não quero que você me faça perguntas. Eu preciso dizer e você precisa escutar. – Rose esperou, tudo em Timothy passava seriedade, ele ponderou antes de dizer. – Não importa o que aconteça, que mudanças ocorram, eu estarei ao seu lado, ao lado dos nossos amigos, até o fim.

Muitas perguntas passaram pela mente dela, mas Tim tinha pedido para ela não fazer perguntas e ela respeitaria isso, pelo menos por agora. Ela lembrou algo que leu em um livro e aquelas palavras rondaram a sua mente por muito tempo. Recorda-se dela sempre que via seus pais serem carinhosos um com o outro, quando Hugo dizia que a amava mais do que amava qualquer um, quando olhava Gina e Harry rindo de coisas bobas que só eles entendiam, quando estava com seus amigos. E ali com Tim as palavras voltaram, ela não entendia bem o que Tim estava querendo dizer, mas conseguia sentir a verdade em suas palavras.

— Para sempre e eternamente? – Rose sussurrou.

— Para sempre e eternamente. – Tim falou enquanto acariciava o rosto dela.


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