O Legado escrita por Luna


Capítulo 29
Capítulo 29


Notas iniciais do capítulo

O que falar desse capítulo... Eu o imaginei por muito tempo, espero que vocês gostem.
Queria muito que me dissessem o que acharam, então fantasminhas, mesmo os que nunca comentaram me digam o que acharam. Preciso saber se alcancei vocês nesse.
Beijoos!!



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“A questão do destino é a seguinte: mesmo que não possamos mudar o cenário, nossas escolhas podem alterar os detalhes. É assim que nos rebelamos contra o destino, como deixamos nossa marca.”.

Rick Riordan

 

James Potter estava acostumado com a popularidade, foi assim desde que ele se lembrava. Seu primeiro beijo fora aos treze anos com uma grifinória, ele tinha acabado de vencer o campeonato de quadribol e Jasmine Evans o chamou para um passeio nos jardins e o beijou. Depois desse beijo ele tivera muitos outros, com meninas que ele mal falara uma segunda vez. Nunca chegou a ter algo mais sério, o mais próximo que chegou de um relacionamento foi com Laurel, sua companheira de time, mas no fim eles decidiram de comum acordo que eles funcionavam melhor como amigos. James ficou feliz quando na semana seguinte eles já conseguiam se falar sem o constrangimento dos primeiros dias.

Ele não era tão inteligente como Albus, ou talvez fosse caso se esforçasse mais. Por ser um Potter as coisas sempre vinham muito fácil para ele, as pessoas sempre pareciam prontas para atender suas vontades, por isso sua lista de amigos era tão reduzida, com o tempo ele conseguiu diferenciar quem lhe era fiel e quem era um fã dos seus pais. Ele estudava o suficiente para Gina não mandar um berrador para a escola, mas não conseguia se comportar, nisso ele culpava a influência de Fred na sua vida.

James era inteligente o suficiente para tirar o devido proveito de seu nome, algo que Albus não fazia, ele já tinha se livrado de várias detenções prometendo figuras autografadas de seus pais, produtos da loja de logros que ainda não tinham saído oficialmente, uma dica de beleza de Victorie… ele conseguiria quase qualquer coisa de Slughorn se dissesse que já ouvira Harry dizer que ele fora seu melhor professor.

Depois de cinco anos naquele castelo ele aprendeu algumas coisas. A professora Green não poderia ser enganada, a Diretora era facilmente contornada se você começasse a falar de quadribol, embora ele achasse que ela tinha certeza do que ele estava tentando fazer. Nunca vá as masmorras a noite depois do toque de recolher, o Barão Sangrento detesta pessoas e fantasmas também, na verdade o Barão detesta tudo. Não importa a hora que você apareça na cozinha, os elfos sempre serão atenciosos ainda mais se você reclamar de fome e o melhor local para chorar é no banheiro da Murta Que Geme, não na escadaria que dava para a sala de adivinhação.

Ele pensou em dar meia volta e achar outro caminho para ir para a torre da Grifinória, ele só estava ali porque as escadas mudaram de lugar duas vezes, mas parou quando reconheceu os cabelos cacheados amarrados no laço rosa. Na segunda vez que tentou seguir pelas escadas foi parar na proximidade da Torre Norte, para não correr o risco de ter as escadas trocando de lugar de novo ele resolveu ir caminhando e seguir pelo caminho que os estudantes normalmente tomavam para ir para as aulas de adivinhação, mas não imaginou que fosse vê-la encolhida com lágrimas escorrendo pelo seu rosto.

James não era o rei da sutileza em qualquer aspecto, de mal jeito ele deu um passo e bateu em uma estátua fazendo barulho e trazendo a atenção de Amélia para a si. James a encarou sem saber o que deveria fazer, a viu limpando as lágrimas e se levantando. Amélia ainda vestia a farda, mas a gravata estava folgada e a blusa fora da saia.

— Amy.

— James.

Os dois ficaram se encarando sem saber o que deveriam falar. James percebeu que ela tinha uma carta na mão, seus olhos estavam levemente inchados e vermelhos, seu cabelo estava preso em um rabo de cavalo com alguns cachos caindo no rosto. Ele não sabia quando tinha passado a encará-la e procurá-la pelos cantos do Castelo. Quando ele a viu sentada na escada triste por causa da briga com Scorpius ele quis acalentá-la, Amélia era boa demais para sofrer, meiga demais, bonita demais, essa última parte ele vinha tentando ignorar fortemente.

Ele percebeu depois daquele dia que ficava muito tempo olhando para ela quando estavam no Salão Principal e quando ela vinha para a mesa da Grifinória sempre arrumava um jeito de estar perto deles, ele dizia a si mesmo que fazia isso para ter um tempo com Albus, embora sempre arrumava algum assunto para falar com Amélia.

James caminhou até chegar a ela e a abraçou. Amélia ficou parada por alguns instantes até corresponder e ele a apertou mais ainda.

— Vai ficar tudo bem, Amy. – James sussurrava perto do ouvido dela.

Amélia o apertou e escondeu o rosto no casaco que ele usava derramando mais algumas lágrimas. Ele ficou passando os braços nas costas dela para acalmá-la, ele não sabia o que fazer para consolar alguém. Ela já respirava normalmente quando ele a soltou e a segurou pelos braços.

— Vem. – James a puxou para eles ficarem atrás de uma estátua e assim longe dos olhos de quem pudesse passar por ali. – Quer me dizer o que aconteceu? É o Scorp?

Ele achava que não tinha nada a ver com os amigos, ele tinha os vistos juntos naquele dia mais cedo. Amélia não respondeu de imediato, ela parecia pensar no que poderia falar para ele e James se entristeceu um pouco ao notar que não era uma pessoa de confiança para ela.

— O que acon... – James começou, mas parou quando viu que Amélia negava com a cabeça.

— Por favor, não me faça perguntas. – Ela apoiou a cabeça no braço dele. – Eu não posso dizer, não posso falar.

Então ele não fez perguntas. Pelos próximos minutos James falou sobre o jogo de quadribol que teria dali alguns dias e como estava animado com a perspectiva de enfrentar Albus novamente. Ele falou sobre as táticas que eles estavam planejando, depois fez Amélia prometer que não falaria aquilo para ninguém, ele ficou feliz quando viu a menina sorrindo.

— Eu não entendi metade das coisas que você falou, Jamie.

— Desculpa. – James falou envergonhado. – Eu devo estar entediando você.

— Não. – Amélia disse rapidamente. – Eu gosto do som da sua voz. – Ela pareceu perceber o que tinha dito e desviou os olhos sem ver o sorriso de James surgir.

— Bem, é certo que temos que manter um olho no Al. Claro que o Morgan vai ter alguém para protegê-lo, meu irmãozinho é a única chance deles vencerem o jogo…

Eles ficaram conversando mais um tempo, mas também ficaram em silêncio. Era reconfortante estar perto de alguém que não lhe encheria de perguntas, que não lhe olharia com receio ou com dúvida. Amélia sempre mudava de assunto quando este se convergia ao seu pai, de alguma forma os outros três sempre conseguiam trazer o assunto a tona e ela sempre se sentia mal quando pensava a respeito. A carta que recebeu de Eliza não ajudava em nada em sua confusão mental e ela só se entristecia mais e mais.

Eles se despediram quando Amélia garantiu que estava bem e deu o horário do treino de quadribol, o garoto saio de perto dela relutante e em nenhum momento ele tocou no assunto do dia anterior, Amélia ainda se questionava se deveria ter mandado algum presente para ele, ao menos como forma de agradecimento. Mas no fim decidiu realmente esquecer aquilo, achava que no fim estava certa, James provavelmente só quis ser gentil. Ele era um garoto bonito, famoso na escola e deveria ter várias garotas atrás, não teria motivo para ele olhar para a amiguinha do seu irmão mais novo.

Amélia começou a andar pelo Castelo um tempo depois que James a deixou. Ela desviava das pessoas e evitava ir por lugares que sabia que poderia encontrar alguém conhecido, resolveu tomar o caminho do terceiro andar. Ao se aproximar da sala de duelos ouviu o som de feitiços e bonecos se quebrando, movida pela curiosidade ela resolveu ver quem estava treinando. Não era exatamente proibido se treinar fora das aulas, mas também não foi algo recomendado.

Scorpius parecia muito concentrado em acertar o boneco que se desviava dos feitiços a velocidade inumana. Ela não tinha reparada que ele era tão bom naquilo, ou então ele vinha treinando bastante desde a última vez que eles tiveram aula. O observando ali ela percebeu que Albus teria um oponente de peso nos torneios do ano seguinte. Quando ele conseguiu acertar o boneco com um raio azul ela aplaudiu e ele se virou rapidamente na sua direção.

— Parabéns, Scorp. – Amélia o congratulou. – Você está muito bem.

— O que você está fazendo aqui? – Scorpius perguntou rude.

— Apenas passando. – Ela deu de ombros. – E você?

— Treinando? – Ele conjurou o feitiço que botava os bonecos erguidos. – Quer se juntar a mim?

— É proibido treinamentos conjuntos sem a presença de um professor ou monitor. – A menina recitou a norma que tinham ouvido no primeiro dia de aula.

Scorpius parou o que estava fazendo e voltou seus olhos para ela. Amélia estava como todos os outros dias, exceto que não estava. Tinha algo de diferente que ele não conseguia identificar, mas estava lá. Talvez nos ombros levemente caídos, na quase vermelhidão dos olhos, no papel que ela segurava com força na mão esquerda, na farda que estava uma bagunça total.

— Um duelo, Srta. Sem nome? – Scorpius falou para provocá-la, ele sempre a chamava assim quando só estava eles.

— Eu sou Amélia Hall, Scorpius. Pare com isso. – Amélia falou fechando a porta da sala. – É proibido, eu já disse.

— Pegue sua varinha, Sem nome. – Scorpius empunhava sua varinha e mirava nela.

— Scorp, deixe de bobagem.

— Accio papel. – Ele proferiu e a carta que Amélia segurava foi parar nas mãos do loiro.

— Malfoy! – Amélia pegou a varinha do bolso do casaco. – Me devolva isso. AGORA!

— Se eu ler será que aqui vai ter o nome dele, Amélia? Hum? – Scorpius balançava a carta no ar.

Por pouco o feitiço de Amélia não o atingiu, mas ele conseguiu desviar no último momento e sorriu cinicamente para ela, o que a irritou bastante. Amélia continuou proferindo feitiços seguidos e Scorpius apenas se defendia ou desviava quando podia.

— Petrificus Totallus. – Amélia viu o raio azul sair de sua varinha e ir na direção do loiro que rapidamente conjurou um escudo protetor e repeliu o feitiço.

— Estupefaça. – Amélia desviou e revidou com o mesmo feitiço.

— Por que está fazendo isso, Scorpius? – Amélia perguntou arfando.

— Estou querendo fazer isso há algum tempo, querida Amélia. Flipendo! – Ele enfeitiçou a cadeira para ir na direção da menina. – Vamos, me diga. Seu papai é um comensal? Eu não vou julgá-la.

— Incarcerous! – A boa vontade de Amélia já tinha ido embora. – Pare com isso.

— Petrificus Totallus.

— Reflectus Petrify. – Amélia conjurou o contra-feitiço e Scorpius se jogou no chão para se desviar.

Os dois estavam cansados e sujos. Scorpius não queria mais provocá-la, ele estava tão cansado de toda aquela situação, de tudo que ele vinha guardando há tanto tempo.

— Vamos entrar em um acordo, eu te conto um segredo e você me conta outro. O que acha? – Scorpius propôs se erguendo e limpando a poeira de suas vestes.

Amélia assentiu com a cabeça.

— Acho que estou apaixonado. – Scorpius disse.

— Pela Rose? – Amélia perguntou depois de um tempo.

— Rose? – Scorpius sorriu.

— Você sempre está perto dela e parece que ela é a única que você não se importa que te abrace, então eu pensei…

— Não. Merlim, não. – Scorpius parou para pensar nos momentos que já teve com Rose e como ele ficava ansioso para vê-la nas férias e ficava feliz quando ela estava por perto. Gostava do aroma que ela tinha e da forma como ela ficava vermelha as vezes, mas eles eram amigos. De qualquer forma o que ele sentia por Albus não se aproximava do que ele sentia por Rose, imaginar alguém beijando Rose não o consumia daquela forma. – Seu segredo agora.

— Eu me sinto estranha perto de James Potter. – Aquela era a primeira vez que Amélia dizia isso em voz alta. – Acho que posso estar gostando dele de uma forma que não seja adequada gostar do irmão mais velho do seu melhor amigo.

Eles se sentaram no chão encostados a parede e ficaram lado a lado. Foi de alguma forma bom para ambos dizer aquilo para outras pessoas.

— Não vamos dizer isso para ninguém. – Amélia estendeu o dedo mindinho na direção de Scorpius que o pegou também com o dedo mindinho. – Prometemos.

— Prometemos.

 

Como regra os alunos a partir do terceiro ano poderiam ir para Hogsmeade nos finais de semana permitidos, as carruagens saiam as 10 h. Mas era dada a opção de ir mais cedo para aqueles que quisessem fazer o percurso caminhando, como eles já estavam acordados e já tinham comido resolveram que esperar dar o horário das carruagens seria bobagem. O tempo também não estava tão frio e não tinha tido neve nos últimos dias o que fez com que o caminho estivesse limpo.

Eles passaram um tempo na Gemialidades Weasley escolhendo logros, depois foram para a Dedos de Mel e saíram carregando sacolas de doces. Quando eles iriam para o Três Vassouras a figura de três bruxos vestindo a farda dos aurores chamou a atenção de Albus que parou os outros.

— Pai? – Ele chamou alto fazendo Harry se virar na direção do som. O homem falou algo para os outros dois que o acompanhavam e foi em direção as crianças.

— Al. – O homem se abaixou para abraçar o filho. – O que faz por aqui?

— É o final de semana de passeio. – Albus explicou desviando o olhar para as duas pessoas que estavam mais atrás.

Harry olhou no relógio e pareceu confuso.

— Mas ainda não são 10 horas.

— Nós viemos caminhando. Passamos pela loja dos tios, mas nenhum deles dois estavam lá. – Albus parecia triste por não ter visto os tios.

— Hã… eles devem vir mais tarde. –Harry parecia estranhamente disperso.

— O que você está fazendo por aqui, tio Harry? – Rose perguntou e Harry pareceu finalmente perceber que o filho não estava sozinho.

— Rose. – Harry também a abraçou. – Meninos, como vão?

Todos responderam ao mesmo tempo, mas ele julgou que todos estava bem.

— O que o senhor está fazendo aqui? – Albus repetiu a pergunta de Rose e Harry percebeu que não conseguiria se livrar dela.

— Nada importante. Só vim ver umas coisas.

— E para ver essas coisas é necessário dois aurores mais a companhia do Chefe dos aurores? – Albus perguntou desconfiado.

Harry deu um sorriso amarelo e bagunçou os cabelos do filho negando com a cabeça.

— Divirtam-se e dê um abraço nos seus irmãos por mim.

Harry se despediu dos outros e foi caminhando na direção de seus colegas, mas teve seu caminho interrompido por Albus que segurou sua capa.

— Tem alguma coisa acontecendo? – Albus perguntou preocupado.

— Albus…

— Só me diga se nós temos que voltar para o Castelo. – Albus parecia aflito. A verdade é que ele já estava desconfiado fazia um tempo que as coisas não estavam tão bem quanto o Ministério queria transparecer. Ele lembrava quando Harry passava longos períodos com eles em casa, ou na Toca, quando viajavam, mas agora Harry sempre parecia cansado ou com algum machucado e mal ficava em casa. E isso para um auror não era coisa boa. Mas o que mais preocupou Albus foi o exitar de Harry em responder, o homem parecia ponderar alguma coisa.

— Não, filho. – Harry respondeu por fim. – Você não precisa se preocupar. Se divirta com seus amigos, tudo bem?

Albus assentiu e depois de abraçá-lo voltou para junto dos outros.

Já era tarde quando Antonhy se juntou a eles no Três Vassouras. Ele disse que estava entediado com seus colegas de casa. Eles pareciam indecisos sobre o que fazer em seguida, Zach e Emílio tinham saído com uns garotos da Corvinal há algum tempo. Tim deu a ideia deles irem ver a Casa dos Gritos, Rose e Albus sabiam a verdade sobre a casa, mas resolveram não falar nada. Aquilo ainda era um segredo para muitas pessoas e manter a misticidade sobre aquele lugar dava uma sensação gostosa aos alunos, eles não quiseram tirar isso dos amigos.

Tim permanecia ao lado de Rose desde o começo do passeio, as vezes eles ficavam tendo conversas particulares sobre o que achavam dos lugares que tinham ido. Scorpius se mantinha sempre a uma distância segura de Albus, mas não o ignorava, ele sabia que isso era tolice. Eles eram acima de qualquer coisa amigos e ele nem mesmo sabia o que sentia direito por Albus, o moreno também não tinha culpa de nada, mas mesmo assim ele ainda estava magoado e ficar a uma distância segura do sonserino de olhos verdes parecia acalmar as borboletas do seu estômago, assim ele ficou perto de Amélia. Freya e Anthony se mantiveram perto do grupo, sempre fazendo comentários oportunos sobre o assunto que estava em pauta no momento, ou no caso de Anthony comentários sarcásticos.

Quando chegaram ao local perceberam que não eram os únicos que tinham decidido visitá-lo. Parada perto da cerca que limitava a entrada do casebre, estava Eveline Clarke. Ela vestia um vestido longo leve, seus cabelos escuros estavam soltos e balançavam com o vento, ela moveu a cabeça levemente na direção dos garotos e em seguida voltou a mesma posição que estava antes.

Srta. Clarke era professora de adivinhação e para todos os efeitos era louca. A menos era a opinião partilhada pela maioria dos alunos. Ela tinha vindo da Irlanda, diziam que ela estudou na escola de magia americana e que veio para Hogwarts a convite da Professora Minerva. Sempre vestia negro, não importava a ocasião e sempre estava com um colar de ouro com um pingente de rubi em formato de gota, seus cabelos sempre estavam soltos e caiam ao lado do seu jovem rosto. Ela possuía olhos azuis e seus lábios viviam pintados de vermelho. Ninguém sabia nada a respeito da vida dela, se alguém sabia seria Minerva Mcgonagall, mas ela nunca dissera nada.

— O medo é algo engraçado, não acham? – Ela perguntou sem se virar. As crianças ainda estavam paralisadas no mesmo lugar. – Não lhes farei mal, se é isso que temem.

O primeiro a se movimentar foi Anthony.

— Desculpa, professora Clarke. Não esperávamos lhe encontrar aqui. – Ele disse se aproximando.

Ela olhou para ele e assentiu. Moveu seus olhos para os outros que em seguida também se aproximaram lhe cumprimentando.

— Dizem que essa casa é amaldiçoada, mas não consigo ver nada nela. – Eveline falou. – Talvez alguns resquícios de sentimentos há muito perdidos… medo, solidão, amizade, amor… Ninguém nunca viu ou ouviu nada nessa casa, mas mesmo depois de anos o medo sob ela continua. O medo é algo surpreendente, não acham? – Ela perguntou, mas ninguém respondeu. – Ele é o sentimento mais importante que existe, é o que nos mantém vivos, mas também é o que pode nos matar.

Ela voltou seus olhos aos jovens que a ouviam com atenção. Eles ficavam se entreolhando sem saber o que deveriam fazer.

— Poderia lhes perguntar do que sentem medo, mas que tipo de professora de adivinhação eu seria se lhes perguntasse isso? – Seu tom transparecia humor, mas seus olhos continuavam sérios e ela não sorria. Eveline Clarke nunca sorria.

— A senhora gosta da casa? – Rose perguntou.

— Não.

— Desculpe, professora. – Scorpius começou. – Mas se a senhora não gosta por que está aqui?

— Eu tinha que vir até aqui. Tinha que ver algo. – Ela parecia estar em um devaneio.

— Ver algo? – Rose voltou a perguntar.

A professora se afastou deles e caminhou um pouco dando voltas. Ela parou e os encarou.

— As coisas nem sempre parecem claras, as vezes são sensações, outras são vozes sussurrando. É difícil definir o que é real e o que é imaginação. O que vem pela verdade e o que vem pelo medo. Vocês conseguem entender? O medo está em tudo.

Albus achava que a mulher estava mais louca que o normal e agradeceu internamente por não ter escolhido adivinhação. Qualquer pensamento fugiu de sua mente quando ele viu que Eveline o encarava.

— Do que sente medo, Sr. Potter? – Ela caminhou na direção de Albus, mas manteve distância. – Seu pai enfrentou muitos desafios ainda mais novo que o senhor. Ele viu o horror quando ainda era uma criança de colo, talvez por isso o medo nunca o atingiu como atingia os outros. Seu pai não temia a morte e talvez por isso ela o procurou tantas e tantas vezes, ele não a temia e por isso perdeu tanto. Talvez se ele a temesse como outras pessoas a temiam ele tivesse sido mais cuidadoso. O medo nos deixa alerta. Sua mãe nunca temeu os desafios e por isso conquistou tudo que sempre quis. O medo pode nos impedir de conquistar coisas.

Albus não conseguia se mover, ele escutava cada palavra que ela dizia. Ele despertou quando os olhos dela abandonaram os seus e a viu encarando Scorpius.

— Seu pai temeu muito, muitas coisas, muitas pessoas. O medo o tornou fraco. Mas o medo também o impediu de fazer coisas ruins, medo de se tornar igual a ele. Medo de perdê-los, medo de nunca vê-la novamente, ele nunca disse, mas ele já a olhava, ele já a queria. Ele queria muitas coisas, mas descobriu depois de um tempo que se deve lutar pelo que importa. E ele lutou, ele venceu o medo e lutou. Nos momentos importantes o medo de ser como ele o impediu de progredir, menos naquela vez, naquele momento ele paralisou. Coitado. O medo também é proteção, ele estaria morto se o medo não o tivesse parado. – Eveline pareceu acordar, piscou os olhos seguidas vezes. – O futuro não é algo claro e certo, mas eu consigo facilmente ver o que poderia ter sido.

Ela saiu de perto de Scorpius e seus olhos pararam em Rose.

— Você é a prova do que poderia ter sido e do que é. Sua mãe tinha dois caminhos, ela seria grande, a maior bruxa que já existiu. Seu nome seria dito com reverência e iria se sobrepor ao nome dos maiores bruxos que já existiram. Ela estava destinada. Única e especial, é o que eu ouço eles clamarem. – Rose a encarava com os olhos rasos em lágrimas. – Mas as vezes o destino acha seus meios de encontrar as pessoas, ela escolheu um caminho que a levou onde está hoje… Eu quase consigo vê-la brilhar, se eu esticar minha mão eu quase posso tocá-la. – Ela ergueu a mão e tocou no rosto de Rose. – Sua mãe foi a mais corajosa dentre todos, ela nunca duvidou, nunca desistiu. Ela tinha fé nele, esperança que o mundo seria um lugar melhor para ela, pra você Rosie e para o pequeno Hugo. Ela já sonhava com vocês, os pequenos anjos que ela um dia teria. E mesmo no frio, na fome e na dor ela nunca desistiu, ela transpassou o medo, mesmo quando gritava em agonia…

— Pare! – Rose pediu. – Por favor, pare.

— Cada um deles lutou e sobreviveu. Derrotaram o mal, mas o mal nunca será derrotado de fato. Ele sempre surge, sempre volta.

— De que mal a senhora está falando? – Albus quis saber.

— Esse é um dos seus medos, jovem Potter? O mal está em todo lugar, criança. Está em cada um. Sonserinos, Grifinórios, em Ilvermony e Durmstrang… E o mal estará aqui. Por que ele pode ser derrotado, mas ele nunca morre… Eles estará aqui…

— A senhora está bem? – Anthony perguntou quando a viu empalidecer.

— Você terá que ser forte para protegê-las. Lembre-se disso, quando o céu se tornar vermelho siga a chama, siga a voz e as encontre. Você terá que encontrá-las, Sr. Zabine.

— Encontrar? Quem eu tenho que encontrar? – Anthony já estava perdendo a paciência com a mulher. – A senhora não está falando coisa com coisa.

— O senhor sentirá medo, mas o medo de perdê-las vai sobrepor qualquer outro e o senhor conseguirá. Eu sei. – Ela falou se distanciando dele. – O medo de perder um amigo nos trava, nos enfraquece e as vezes tentamos reprimir um sentimento e podemos acabar o matando, não há crime maior do que matar o amor que sentimos por alguém só por temer o resultado. Seja forte, encare o que tiver que encarar.

A temperatura estava baixando e o vento se tornando mais forte e com isso os cabelos dela balançavam desgovernados.

— O medo nos faz mentir e esconder as coisas. – Ela olhou para Amélia. – Eu esperei por muito tempo que você descobrisse a verdade, sinceramente eu fiquei curiosa com o final que isso levaria e levemente desapontada. Há algumas coisas que você deve saber, minha querida. A verdade sempre surge, ela tentou escondê-la e protegê-la, mas ele merecia saber a verdade, ela deveria ter dado a ele uma chance e o futuro seria tão diferente. Seu futuro é tão… eu não consigo… – Eveline balançava a cabeça como se algo a estivesse incomodando. – Eu vejo tantas coisas, e elas não se juntam. – Ela parou e seus olhos não se fixavam em nada. – A verdade vem e o perigo surge. Eles devem escutar o que será dito pelo som da sua voz e quando o perigo vier você não estará sozinha, quando ela vier ele a protegerá. Diga. Fale. O sangue irá protegê-la.

Amélia estava estática.

— Você não sabe o que diz. Com que direito você…

Eveline pareceu despertar de um sonho, ela olhou ao redor.

— Que estranho. – Ela pareceu ver os meninos pela primeira vez. – Olá, crianças. Nossa, está ficando bem frio, não acham? Bem, vou voltar para o Castelo. Sugiro que façam o mesmo, acho que essa noite deve nevar.

A mulher saiu andando sem olhar para trás e deixou a todos confusos e queimando por dentro.

— Ela enlouqueceu. De verdade, é sério. – Freya disse. – O que foi tudo isso?

Mas eles pareciam ter perdido a voz.

— Meu pai é Blaise Zabine. – Amélia sussurrou.

Scorpius virou o rosto na direção da menina sem acreditar no que acabara de escutar.

— O que você disse? – Anthony perguntou, Amélia ergueu o rosto e olhou para ele e para Freya antes de dizer:

— Meu pai é Blaise Zabine.


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