O Legado escrita por Luna


Capítulo 24
Capítulo 24


Notas iniciais do capítulo

Desculpa a demora, pessoal.
Aproveitem o capítulo e vou estar esperando ansiosamente os comentários.
Alguém suspeitou? Quero saber :)



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[…] Não importa o quanto a gente tenta ignorar ou negar, aos poucos a mentira acaba perdendo a força, a gente gostando ou não. Então a verdade absoluta sobre a verdade é que ela dói, por isso mentimos”.

Meredith Grey – Grey's Anatomy

 

A biblioteca estava com a maioria de suas mesas ocupadas por alunos debruçados por cima de livros. Aquela era a última semana de aula antes do feriado e os professores estavam passando vários rolos de pergaminho com deveres tão complicados que era praticamente impossível responder algo sem a ajuda de colegas ou de vários livros. Em uma mesa mais afastada, que ficava próximo a Sessão Restrita, estava Albus, Amélia, Rose e Scorpius tentando terminar a tarefa de Poções que não conseguiram concluir no final de semana. Cada um estava com um livro diferente e por vezes trocavam para ver se achavam algo que o outro não tinha encontrado. Dentro das mochilas tinha embalagens de doces e restos de comida que tinham pego com alguns elfos na cozinha, tudo escondido para que Madame Pince não visse e expulsasse os quatro aos gritos de lá.

— Amélia, são três voltas do sentido horário e dez no horário. – Scorpius falou devolvendo o pergaminho.

Há alguns dias ele tinha voltado a falar com ela diretamente, não com a mesma amabilidade de antes, agora ele sempre a chamava de Amélia ou pelo sobrenome e apenas falava o essencial, mas para ela aquilo já era um grande avanço e ela ficava feliz com o menor dos contatos.

— Obrigada, Scorp.

Ela começou a corrigir o que ele falara e estava terminando quando Timothy chegou com o rosto vermelho como se tivesse corrido um longo caminho para chegar até lá, ele se deixou cair na cadeira ao lado de Albus.

— Vocês já estão sabendo da novidade? – Tim perguntou.

— Qual delas? – Rose falou ainda escrevendo doando parte de sua atenção ao garoto.

— Clube de duelos. – Isso foi capaz de chamar a total atenção da ruiva que ergueu a cabeça e dos outros que também pararam de escrever. – Vão reabri-lo, ideia do professor Flitwick pelo que seu soube, as inscrições começam amanhã e ele vai começar assim que voltarmos do feriado.

Não se falava de outra coisa na escola. Um dos problemas de se morar em um castelo é que a menor das notícias se torna uma coisa gigantesca e quando você observa todos já estão sabendo e comentando sobre e não seria diferente com aquela. Os alunos do terceiro ano para cima poderiam participar, os primeiros meses se teriam aulas inicias para se aprenderem as regras de duelo e treinamento básico e no próximo ano letivo começariam os torneios, algo que estava deixando alguns animados era a ideia de que o ganhador levaria 50 pontos para a sua casa e isso poderia definir o vencedor da Taça das Casas.

Os quatro se inscreveram, assim como Freya, Timothy e os Miller. Amélia viu o sorriso perverso que apareceu no rosto de Albus quando viu Thomas se inscrevendo com a Monitora-Chefe e não quis saber o que aquilo significava, ficou repetindo para si mesma que não se importava com Thomas, mesmo que seu coração tenha ficado apertado com a ideia do que Albus poderia fazer com o lufano em um torneio sendo permitido usar a varinha a vontade, desde de que não machucasse severamente o oponente. Ela sabia como Albus era bom em feitiços.

Mas isso tudo foi deixado de lado com a chegada do feriado, eles passaram a viagem treinando formas que a Amélia faria para começar uma conversa com Eliza, imaginado diversos cenários e respostas. Até mesmo o “Você é filha de Harry Potter”, dito por Scorpius e que causou riso em todos. Mas parece que toda boa vontade do sonserino para com Amélia se esgotou na brincadeira, já que ele nem mesmo lhe desejou Feliz Natal quando saiu com o pai da plataforma.

Mas Amélia jamais chegaria a usar o que foi treinado em horas de viagem, ela não teve coragem de falar. O Natal veio e passou e ela apenas ficava ainda mais nervosa usando toda sua concentração em parecer normal quando estava perto da mãe, a solução lhe surgiu quando o presente de Albus apareceu e no cartão vinha dizendo: O seu silêncio significa que você não falou nada ainda? Imagino que sim, então porque você não procura algo nas coisas dela? É bem invasivo, mas não acho que tenhamos muitas opções. O que eles mais gostavam uns nos outros é que o problema de um era um problema de todos e assim eles nunca estariam sozinhos.

A oportunidade para Amélia só foi surgir na véspera de ano novo quando Eliza foi chamada para cobrir um acidente com um político importante dos Estados Unidos que estava passeando com a família em Edimburgo.

Assim que a mulher saiu Amélia correu até o quarto e começou a vasculhar em todo lugar que achou que poderia ser um possível esconderijo, quando já estava quase desistindo e indo ver outro cômodo ela ergueu a cabeça e seus olhos foram até a parte de cima do armário. Ela pegou a cadeira da penteadeira e foi ver o que poderia ter lá em cima. Lá Eliza guardava algumas pastas com documentos, pelo que Amélia conseguiu notar, mas o que chamou a atenção da menina foi um pequeno baú. Ele estava trancado, então uma nova busca começou.

Ela achou a chave escondida dentro de um porta-joias e sua esperança começou a florir, já que ela não imaginava o que mais Eliza poderia querer esconder. Mas ao mesmo tempo achou que não poderia ser nada, já que a caixa estava em cima do armário. Porém logo o sentimento de culpa a invadiu quando percebeu que a mãe nunca imaginaria que ela iria sair mexendo em suas coisas, mas ela balançou a cabeça para afugentar aqueles pensamentos, e tentou se forçar a pensar que a culpada era a própria Eliza e suas meias verdades. A garota ainda não conseguia assimilar que sua mãe poderia mentir sobre algo tão importante.

Bem, as coisas estavam prestes a se tornarem bem ruins para Amélia. Logo a morena perceberia que a sabedoria é uma dádiva, mas também uma maldição. Assim que você toma conhecimento de algo, seja o que for, você tem que aprender a viver com isso, seguir em frente ou então você vai se afundar. Ás vezes a ignorância é uma benção. Mas para alguém como Amélia viver no escuro era algo inaceitável, ela só teria que saber viver com a verdade que logo descobriria.

Ela colocou a chave na fechadura e a girou lentamente, com a esperança que talvez Eliza voltasse antes que ela pudesse olhar, mas as coisas não seriam tão fáceis. Depois de abrir o baú ela começou a olhar o que tinha lá, algumas cartas, fotos, joias que Amélia nunca tinha visto Eliza usar, mas o que lhe chamou mais atenção foi a caixa retangular que ela temia saber o que tinha dentro, ela já tinha visto aquela caixa alguns anos antes quando fora até o Olivaras em busca de sua varinha.

Ela abriu a caixa retangular e seu coração falhou uma batida a ter suas suspeitas confirmadas, era uma linda varinha. Era preta, com entalhes na base e estava lustrada como se nunca tivesse sido usada. Ela sabia das regras, alunos menores de idade não poderiam fazer magia fora da escola, mas aquela não era a sua varinha, naquela varinha que ela segurava com tanta força não tinha um rastreador, então em um sussurro ela falou “Lumus” e a ponta da varinha se acendeu. Algumas lágrimas escorreram dos olhos da menina que as limpou rapidamente. Aquilo não respondia suas perguntas e ela tinha que ter suas perguntas respondidas.

Ela se voltou aos papéis. Tinha um documento de um hospital bruxo francês em que constava a informação que Eliza estava grávida e mais detalhes sobre a gestação, esse Amélia deixou de lado, assim como alguns outros. Seus olhos se voltaram para um conjunto de cartas que estavam amarradas com uma fita de cetim azul.

Para minha querida Eli”, era o que tinha escrito na maioria dos envelopes e Amélia pediu a Merlin que aquelas cartas fossem do seu pai. Mas o desejo logo se transformou em um pesadelo quando ela viu quem assinava as cartas.

As primeiras cartas tinham mais de duas folhas, parecia que ele gostava de descrever seus dias longe de Eliza, sempre enaltecendo a falta que sentia da companhia dela. Parecia ser o começo do romance, como se eles tivessem se conhecendo. Ela não conseguia visualizar aquele homem das cartas com o que conhecia na vida real, parecia ser a vida de outra pessoa, mas se ela fosse justa ela não conhecia o homem tão bem para saber como ele era de fato.

 

Querida Eli,

Acho que você tem razão, como sempre. Eu sei sua opinião sobre estarmos indo muito rápido, mas a vida é tão simplória e pode acabar tão rápido que acho bobagem esperar, então estou olhando casas menores, já que para você a Mansão é “de mais”. Verei uma amanhã e pelas imagens que já recebi eu sei que você irá adorar, ela tem um lindo jardim e apenas sete quartos. Achei simples para os meus padrões, mas farei tudo para deixá-la feliz. Tony perguntou de você, ou acho que ele o fez, ainda é meio difícil entender o que ele diz. Mas sei que ele ficou feliz em conhecê-la e sei que dentre pouco tempo irá adorá-la.

Blaise Zabine

 

Eles pareciam discordar bastante sobre a casa pelas cartas que Amélia leu em seguida. Ela não entendia o que poderia ter feito a mãe fazer algo assim, eles iriam morar juntos. O que poderia ter dado errado? As cartas pareciam ter sido escritas por alguém apaixonado. A menina passou avançou na leitura chegando as últimas cartas do monte.

 

Eli, está tudo bem? Faz uma semana que não recebo nada de você. Aconteceu algo, querida?

Com carinho e preocupação,

B.Z.

 

Eli? O que aconteceu? Três semanas e nenhum sinal seu. Minha querida, fale comigo. Por favor.

B.Z.

 

Você saiu da França? Eliza, o que, pelo sangue de Salazar, aconteceu? Eu fiz algo que a magoou? Fale comigo!

B.Z.

 

Tinha vários bilhetes parecidos, todos mostraram um homem confuso com o sumiço de Eliza. Tinha ainda mais duas cartas, uma estava levemente amassada, como se Eliza tivesse a apertado enquanto a lia e logo Amélia entendeu o motivo.

 

Eu não entendo o que aconteceu, em um momento estávamos felizes e então você desapareceu. O que deu em você?

Estou cansado de cartas que nunca são respondidas, de ninguém parecer saber onde você está. Isso é confuso demais para mim, isso é demais para mim.

Antonella e eu ficamos juntos mais uma vez. Ela está grávida. Parece que dissolver o casamento agora seria um erro.

Espero que seja feliz, Eliza.

Blaise

 

Isso explicava porque Amélia e Freya tinham a mesma idade, mesmo com Amélia sendo mais velha alguns meses. Mas só trazia mais questionamentos, porque Eliza iria embora se estava grávida? Amélia abriu a última carta.

 

Minha linda e amada Eliza,

Minha menininha irá nascer dentre algumas semanas e eu não consigo parar de pensar como seria um filho nosso. Ele teria seus lindos olhos castanhos? Sua proficiência em poções? Seria um sonserino como eu ou o mandaríamos para Beauxbatons? E se fosse uma menina, que nome lhe daríamos? Antonella vai chamá-la de Freya, disse que é o nome de uma deusa e que isso trará força para nossa filha. Você sabe como eu sempre fui ruim em tudo que se trate de trouxas, talvez você saiba sobre o motivo do nome melhor do que Nella conseguiu me explicar. Sempre foi fácil entender as coisas que você dizia, mesmo quando você tentou me ensinar a mexer naquela coisa de tinha várias funções para apertar.

Sabe, sempre que pensei em nós dois imaginava uma família grande. Você disse que sempre quis ter uma família grande e eu seria feliz em dá-la a você. Anthony iria adorar ter muitos irmãos, eu acho. Já que ele não parece tão animado com Freya, mas ao que parece é apenas ciúmes por perder o posto de filho único. Sempre pensei em homenagear meus avós, eu já lhe contei como eles foram bons para mim quando minha mãe vivia indo embora com seus inúmeros maridos. Consegui fazer isso com meu filho, mas gostaria de ter tido uma filha chamada Amélia. Sei que vovó ficaria feliz com a homenagem.

Sinto sua falta ainda, mesmo que o aperto no meu coração tenha diminuído. Antonella tem sido uma boa amiga e uma coisa que ela me falou chamou minha atenção. Talvez eu nunca tenha expressado meu amor por você, achei que estava tão claro como uma noite de lua cheia. Você foi embora por achar que eu não a amava o suficiente? Acho que nunca vou saber.

 

Com amor,

Blaise Zabine

 

— Amélia? – A menina se virou rapidamente derrubando a caixa que ainda estava sobre a cama, fazendo a varinha rolar até os pés de Eliza.

O rosto da mulher ficou pálido e lentamente ela abaixou para pegar a varinha a mantendo segura na mão direita.

— Blaise Zabine é meu pai?

A mulher continuou parada, estática, parecendo incapaz de proferir qualquer palavra.

— Você é uma bruxa? – Amélia voltou a perguntar e em seguida deu um sorriso nervoso. – Que ridículo perguntar, é claro que você é uma bruxa.

— Filha… – Eliza deu um passo na direção da menina que ergueu a mão fazendo-a parar.

— Não! Não! – Amélia dava voltas no quarto segurando a própria varinha. – Ele é o meu pai? Blaise Zabine?

Uma lágrima desceu pelo rosto de Eliza antes de respirar fundo e responder:

— Sim.

A verdade que ela tanto desejou estava jogada na sua frente e ela não sabia o que fazer com ela. Porque aquilo mudava tudo, nunca existiu um Jacob Atlas, ela não precisava ir até o Ministério em busca de informações sobre o pai, ela o conhecia, falara com ele, estudava com a filha dele, sua irmã. Ela tinha irmãos. A verdade pareceu sufocá-la e ela caiu no chão chorando desolada. Eliza foi abraçá-la a apertando fortemente como fazia quando a menina tinha um pesadelo.

 

Demorou até que Amélia se controlasse, ela tinha ficado em uma situação que Freya jamais estaria. A sonserina jamais de descontrolaria daquela forma, era mais fácil ela ter azarado Eliza até o fim dos tempos ou até o esquadrão de Aurores pará-la. Enquanto tomava o chá que a mãe preparara para que as duas pudessem conversar com mais calma ela se pegou se comparando com Freya e Anthony. Ela não poderia ser mais diferente de Freya física e na personalidade, Amélia já tinha ouvido falar que a sonserina parecia uma cópia da mãe, enquanto Anthony era parecido com o pai. Mas a menina nunca tinha prestado real atenção no rapaz para saber se eles tinham algo em comum, a pele de Anthony era mais escura em comparação a sua, os olhos eram de um castanho quase preto e ele e Freya tinham sorrisos parecidos. Talvez ela, Amélia, tenha puxado muito da mãe para ter algo parecido com os irmão Zabine.

Agora ela também era uma Zabine, pensou. Ela se desfez do pensamento tão logo ele surgiu, se corrigindo, pensando que era uma Hall, como Eliza. Apenas Amélia Hall, uma bruxa sem pai e ela não tinha certeza se estava pronta para abandonar aquilo e trazer a verdade a tona.

Eliza colocou a xícara na mesa chamando a atenção de Amélia que a encarou com os olhos ainda vermelhos. A mulher prendeu os cabelos em um coque deixando alguns cachos fugirem da liga que os matinha presos. A varinha estava na mesa, como uma promessa silenciosa que toda a verdade seria dita.

— Eu morei anos na França, fui para Beauxbatons e quando me formei arranjei trabalho com um importante pocionista, Enrico Constant, ele era o melhor em toda a França e isso fez com que eu viajasse muito em busca de plantas e de mais conhecimento para ajudá-lo no livro que ele planejava escrever. Em uma das minhas viagens eu o conheci. Ele era lindo, inteligente e charmoso. – Eliza deu um sorriso triste, como se fossem boas memórias, mas não fosse bom lembrar. – Nós continuamos nos falando por cartas, quando ele tinha tempo livre vinha a França e nas férias eu ia a Itália, onde ele morava. Algumas vezes nos encontrávamos em algum outro país, ele era rico, podia viajar a vontade. – Ela parara para tomar mais um gole do chá. – Eu era feliz, estava apaixonada e ele iria se separar da atual mulher, ela já tinha voltado para a casa da família e apenas a resolução de algumas propriedades estava demorando da dissolução do casamento. Ele já falava sobre morarmos juntos, sobre eu ir para a Itália. Eu conheci Anthony em uma de minha idas a Itália, era uma criança linda e levada, não falava muito e parecia bastante observador.

— Ele ainda não fala muito. – Amélia falou. – Porque você foi embora?

— Blaise veio de uma família purista. Eu já tinha ouvido falar sobre isso na escola, nunca tinha experimentado o preconceito de ser nascida trouxa, mas eu sei o que aquela ideia tinha feito a muitas pessoas. Apenas poucos anos antes o maior bruxo das trevas que já viveu tinha sido derrotado em Hogwarts, e aquele ideal ainda não tinha se perdido.

— Ele não sabia? – Amélia temia a resposta.

— Sim, ele soube no momento que me apresentei. Mas ele não se incomodou, ele nunca me lançou um olhar diferente do encantado e apaixonado. – Eliza botou um cacho atrás da orelha corando com a memória.

— Eu não entendo.

— Em um verão, o último que passei com ele, fomos para a Itália, ele me mostrou a sua nobre mansão. Lá eu conheci Sofia Zabine, mãe de Blaise, no momento eu não vi nada em particular nela. Notei que ela não pareceu gostar de mim, mas ela não era obrigada a gostar. Talvez ela apenas fosse daquele jeito.

— Mas não era, certo? – Amélia já tinha ouvido algumas coisas sobre a mulher. Era certo que Freya a detestava, falava da mulher com o mesmo rancor que falava do Sr. Malfoy, avô de Socrpius.

— Ela me fez uma visita quando voltei para a França e me deu um ultimato. Seu único filho não se envolveria com uma sangue-ruim. Ela reforçou a ideia quando me lançou a maldição cruciatus…

Os olhos de Amélia se arregalaram.

— Quando Emily chegou a nossa casa eu estava desmaiada na sala e ela me levou ao hospital. Lá eu soube que estava grávida, felizmente a maldição não prejudicou você. Claro que eu não poderia fazer uma denúncia, os Zabine tinham dinheiro suficiente para apagar qualquer rastro meu. E se ela fez aquilo apenas para afastar uma namorada do filho o que ela não faria ao saber que o herdeiro Zabine teria um filho mestiço? – Eliza já chorava. – Eu não poderia arriscar. Tirei meus pais da cidade na semana seguinte, pedi demissão e fui embora.

— Mas… – Amélia estava atordoada. – O sr. Zabine… Blaise… ele…

— O que ele poderia fazer? Me proteger da própria mãe? Ir contra a família por mim?

— Sim. – Amélia falou batendo na mesa. – Ele poderia ter feito isso. Ele a amava.

— Ou ele poderia ter me dado as costas e nós duas estaríamos mortas agora. Ou ele poderia ter ficado do nosso lado e estaríamos mortas agora. Ou ela poderia ter esperado você nascer e matar a sujeira que sujou o nome de sua nobre família. Eu não poderia arriscar. – Eliza limpou as lágrimas que desciam incessantes. – Não por um amor que nunca se provou real. O pouco que eu sei sobre pessoas como eles é que são leais aos seus, e eu não era um deles, Amélia. Para pessoas como os Zabine eu sou menos do que nada, me equiparo a elfos domésticos indignos de atenção, sou desprezada.

— Mas você disse que ele…

— Com quem estaria a lealdade dele? Com a sua família, seu sangue e nome ou comigo? Eu só era uma garota comum com talento para poções que teve sorte de chamar a atenção de um pocionista famoso. Eu não era nada no mundo dos Zabine, Amélia. Mas eu tinha você. Eu lutei e desisti da minha vida por você, meu amor. – Eliza esticou a mão para tocar a de Amélia. – Eu não poderia continuar no mundo mágico, fui para a América logo que consegui manter meus pais seguros, fiquei longe de todos até você nascer. Fazia alguns trabalhos autônomos, trabalhei em alguns hospitais e depois forjei documentações trouxas, morei es cidades pequenas da França. Depois de um tempo ele parou de procurar por mim, nenhuma carta chegava mais, eu já tinha perdido o contato com todos os meus amigos e voltei para a Escócia. Eu nunca tinha falado sobre isso com ele, ele não poderia nos achar aqui. Nenhum deles.

— Você mentiu para mim. – A menina falou.

— Faria tudo novamente se assim pudesse mantê-la segura. E você só estará segura se ninguém souber disso, Amy.

— Mãe…

— Não, eu a mantive em segurança por 13 anos. 13 anos, Amélia. Aquela mulher monstruosa não poupará esforços se descobrir sobre isso, sobre nós.

— Você tem que contar a verdade a ele. – Amélia falou agitada.

— Não! O que eu tenho que fazer é mantê-la viva, bem e protegida. Amy, por favor, me prometa que você nunca dirá nada a ninguém.

Amélia prometeu, em parte porque o rosto em agonia de Eliza não lhe dava escolha em outra porque ela ainda imaginava a mãe se contorcendo sob o feitiço de Sofia Zabine e não conseguia deixar de tremer diante da possibilidade de algo assim voltar a acontecer ou pior. Ela não conseguiria suportar saber que perdera a mãe.

Mas como seria quando ela voltasse das férias e encarasse os Zabine? Quando visse Blaise na estação, na casa dos Malfoy ou quando ele ia pegar Freya na casa do Sr. Potter ou Sr. Weasley. Como seria quando Anthony aparecesse para conversar sobre nada em particular ou fizesse comentários sobre o livro que ela tinha nas mãos, como ele fazia normalmente? O que Amélia faria quando tivesse que estudar ao lado de Freya?

Ela tinha a verdade que tanto desejou. Mas o que ela faria com essa verdade agora?


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