O Legado escrita por Luna


Capítulo 23
Capítulo 23


Notas iniciais do capítulo

Obrigada pelos comentários e desculpa pela demora.
Capítulo não revisado, então me perdoem qualquer erro.
Vejo vocês nos comentários ;***



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“[…] Dê-me alguma coisa

Dê-me alguma coisa

Dê-me alguma coisa

Para segurar

Eu não tenho nada

Desde que eu perdi você”.

Give me something – Seafret

 

 

Dezembro chegava e junto com ele veio o frio, os alunos não se arriscavam mais em sair dos salões aquecidos se não estivessem com roupas grossas, cachecol e luvas. As turmas do terceiro ano estavam animadas para a primeira visita ao povoado de Hogsmeade, que aconteceram na última semana de Novembro. Bem, nem todos estavam tão animados assim.

Desde a conversa que Amélia teve com Scorpius ela parecia ter desistido de se aproximar. Todas as refeições ela fazia em silêncio na mesa da Corvinal e quando acabava ela voltava as aulas ou ia para o Salão Comunal, não ia mais a biblioteca junto com os outros, nem aos jardins. Ao se afastar de Scorpius ela também se afastou de Rose e Albus, mesmo quando eles tentavam se aproximar.

Ela não mais sorria, na verdade Amélia não fazia mais nada além de estudar. Seu rosto demonstrava cansaço pelas horas mal dormidas. Zach e Emílio estavam preocupados com a menina, mas ela não deixava que eles se aproximassem o suficiente para poderem ajudar.

— Amélia não está bem. – Zach falou ao encontrar os três na biblioteca.

Scorpius ergueu a cabeça rapidamente quando ouviu o nome dela.

— Dana falou que ela anda tendo pesadelos e mal tem dormido. Ela tá comendo mal e não conversa com a gente.

Albus se entristeceu, porque ele também não estava tendo bons momentos com Amélia, por mais que tentasse se aproximar da morena. Eles não sabiam o que fazer além do que já faziam todos os dias. Scorpius apenas ficou em silêncio observando os outros três discutirem sobre o que podiam fazer.

Scorpius passou a observar os movimentos de Amélia a partir daquele dia. Os atos dela pareciam mecânicos, nas refeições ela levava o talher a boca e comia, respondia alguma pergunta se fosse feita diretamente a ela, ia na biblioteca sempre no mesmo horário, que era quando eles não estavam lá e depois se refugiava no salão da Corvinal e foi no momento que ela saiu para a biblioteca que ele resolveu botar seu pequeno plano em ação.

Ele acompanhou os passos dela de longe. Ela caminhava com a cabeça baixa sem prestar atenção em nada realmente. Falou rapidamente com a Madame Pince e seguiu para a ala dos livros de poções.

— Você não vai conseguir grandes coisas com esse livro.

Amélia se assustou e se virou na direção da voz derrubando o livro que tinha acabado de pegar.

— Esse aqui. – Scorpius disse se adiantando e pegando um livro de capa verde-musgo – Você vai ter melhores informações sobre a poção do esquecimento.

Ela olhava para ele desconfiada.

— Por que…?

— Meu pai nunca matou ninguém. – Scorpius falou e viu Amélia arregalar os olhos. – Mas ele não impediu quando outras pessoas mataram. Meu avó fez coisas bastante ruins, tortura e assassinato, nada que o Ministério pudesse de fato comprovar, o que fez com que ele não fosse para Azkaban.

Eles se encararam.

— Nicholas disse que o Sr. Potter testemunhou a favor deles. – Amélia falou com a voz trêmula.

— Minha avô o ajudou e meu pai facilitou um pouco as coisas para eles. Acho que o Sr. Potter apenas quis devolver o favor. A varinha do meu avó está sendo permanentemente rastreada e qualquer envolvimento com algo ruim ele ganha uma passagem só de ida à Azkaban.

Amélia não conseguia decifrar nada apenas olhando para Scorpius. Pela expressão dele eles poderiam estar falando sobre qualquer coisa insignificante. Scorpius estendeu um embrulho na direção dela e ela relutantemente o pegou.

— São poções do sono sem sonhos, você deve beber meio fraco todos os dias antes de dormir. Isso vai ajudar.

Ele estava se virando para sair quando ela teve coragem de perguntar.

— O que isso significa, Scorp?

Amélia sempre se sentia diminuída quando ele a encarava daquela forma fria e sem sentimento. Ela costumava sentir o calor vindo dos olhos dele antes, como se ela olhasse para o céu em uma manhã de primavera.

— Isso não significa nada, Hall.

 

Amélia se sentia quebrada. Ela não achava que tinha o direito de impor sua presença a Scorpius, então tinha se afastado dele e consequentemente dos outros também. Mas ao se afastar dele ela apenas se sentia pior e mais solitária e mesmo quando Rose ou Albus se aproximavam ela não sabia como agir, porque ela estava sufocando com aquele sentimento ruim que crescia dentro de si.

No decorrer daquelas semanas ela tinha recolhido algumas informações sobre coisas específicas da guerra, tinha várias coisas ruins sobre os Zabine também e Anthony explicou para ela o que tinha de mentira lá sobre a sua família e algumas que ele conhecia, ele foi paciente e parecia entendê-la. Não a julgava, como Freya vinha fazendo. Nicholas também foi de grande ajuda. Mas por fim ela falou com o professor Flitwick que destrinchou o compêndio com ela e as reportagens que Thomas tinha colado no livro também. Muitas delas estavam posicionadas no contexto errado, dando a impressão de que tudo foi muito pior do que de fato foi. E ela sabia que aquela guerra já tinha sido bem ruim.

O pior para Amélia era que ela sempre tinha acreditado que todas as coisas tinham duas versões. Para ela aquilo era lógico e ela mesma já tinha entendido que na guerra sempre haveria várias versões e ela já tinha lido inúmeros livros, e se deixou influenciar pelo pior deles. Ninguém sabia onde Pike estava fazia anos, o professor lhe dissera que algumas pessoas achavam que depois que o Ministério proibiu a comercialização dos livros ele se refugiou no mundo trouxa.

Ela estava cansada, porque os sonhos a atormentavam todas as noites. Era coisas apavorantes, perseguições, feitiços a atingindo… Suas colegas de quarto já a olhavam mal por serem acordadas quase todas as noites, Dana era a mais gentil delas. Sempre a acordava quando ela não conseguia fazer por si só e lhe dava pedaços de chocolate. Dizia que isso aquecia o espírito.

Ela ficou vagando pelo Castelo quando saiu da Biblioteca, algo que estava se tornando comum, quando o viu. Thomas não era um garoto alto, Amélia chegava a ter alguns centímetros a mais que ele, mas ele era esguio, com cabelos loiros escuro e com as feições ainda carregando alguns traços infantis.

Ele notou a presença dela no corredor e parou de andar, Amélia caminhou o pedaço que faltava e se aproximou dele. Mesmo não a conhecendo tão bem quanto gostaria ele sabia que ela não estava bem. Ele observou cada movimento dela, descer a alça da bolsa, abri-la lentamente e tirar o livro que ele conhecia tão bem e estender em sua direção.

— Você sabia quando me deu? – Amélia perguntou.

— Do que? – Ele não entendeu o que era queria saber.

— Que o que tem aí é uma mentira.

Thomas sorriu com deboche.

— Foi isso que ele te disse, Amélia?

— Foi isso que todos disseram. Você sabia?

Thomas deu alguns passos se distanciando dela, passou a mão pelo cabelo e a olhou. Ela estava diferente, não tinha mais aquela pose confiante, seus olhos não tinham mais o brilho que ele lembrava.

— Pike foi desacreditado. É o que acontece quando você fala sobre as famílias ricas e…

— Chega! – Amélia gritou. – Chega de mentiras, desse ódio. Chega!

— Não, Amélia. Agora você sabe a verdade. – Thomas olhava para ela com súplica.

— Sim, eu sei. Scorpius é muito melhor do que você. Ele é um ser humano melhor. – Cada palavra dela estava envolva em mágoa e raiva. – Ele jamais faria algo assim, com o intuito de fazer mal a alguém. Você sabia o que ler isso ia me causar, mas não se importou, não é? Nada importava, desde de que eu me afastasse do Scorpius por que ele é mal. Sim, Thomas, eu sei a verdade. Eu sei agora quem você é.

— Eu lhe dei o livro. O que você fez dele é responsabilidade sua. – Não tinha mais deboche, ele a olhava duramente.

— Eu sei e estou pagando o preço pelo meu erro.

Ela ia se afastar dele, mas nos primeiros passos Thomas agarrou seu braço.

— Nós terminamos aqui, Thomas. Não se aproxime mais.

Ela puxou o braço e seguiu pelo corredor.

Amélia não queria mais ser a garota boba que fica chorando pelos corredores e é alvo da pena dos colegas. Pela primeira ela tinha amigos de verdade, pessoas com quem podia contar em qualquer situação e ela tinha falhado com um deles. E ela detestava falhar.

A visita ao povoado aconteceu na semana seguinte e ela ficou no Castelo, de longe ela viu Albus, Rose e Scorpius saírem. Eles não pareciam animados e as expressões vazias era um chamariz em meio ao entusiasmo dos outros ao redor.

James encontrou Amélia sentada nas escadas que levavam para a torre da Grifinória. Ele estava acompanhado de mais algumas pessoas, duas dela ela reconheceu como sendo parte do time de quadribol. Ele se despediu deles e se sentou ao lado dela.

— Você não deveria estar no povoando gastando seus galeões em doces e cerveja amanteigada? – James sorriu.

James sempre estava animado, sorrindo e fazendo brincadeiras. Realisticamente alguém não podia ser tão feliz o tempo inteiro, então ela só imaginava o que ele poderia querer esconder por trás de cada sorriso.

— Não finja que não sabe o que eu fiz. – Amélia falou e olhou para o lado evitando os olhos castanhos do garoto.

James a abraçou pelos ombros e Amélia deitou a cabeça no ombro dele segurando a vontade de chorar. Chega de lágrimas, foi o que ela estabeleceu para si mesma.

— O que você fez para Albus perdoá-lo? – Amélia quis saber.

— Não acho que ele me perdoou ainda, não totalmente, pelo menos. – James disse. – As vezes ainda noto o jeito como ele me olha, com uma sombra no olhar, sabe? Em alguns momentos ele se retrai ou não se abre totalmente. Ele ainda está magoado.

— Você foi muito idiota.

— Sim, eu fui e você também. – James a segurou mais forte quando ela fez que iria se afastar. – Mas está tudo bem, Amélia. Somos jovens, podemos ser idiotas.

— Eu o machuquei muito, James. Ele nunca me perdoará.

— Nós grifinórios somos pessoas de bom coração e de memória curta. – Amélia sorriu um pouco. – Mas aquelas serpentes são vingativas e parecem guardar magoa como mais ninguém nesse Castelo.

— O que eu faço? – Amélia perguntou.

— Pare com essa bobagem de se isolar. – Ele a soltou um pouco e ela levantou a cabeça e olhou para ele. – Albus me disse que você tem afastado todo mundo. Se mantenha por perto, a maior parte da raiva do Scorpius passou, esse é o momento em que você deve tentar se aproximar. Mostre a ele que você sabe que errou, que vocês são amigos e que ele pode confiar em você novamente mas faça isso com ações. Falar não vai ajudar em nada.

Amélia deu um sorriso mínimo.

— Como você ficou tão bom assim em entender sonserinos?

James bagunçou os cabelos com a mão e sorriu sem graça.

— Tive longas conversas com a Molly quando Albus não estava falando comigo.

— Isso vai dar certo? – Amélia não parecia confiante.

James a abraçou novamente e deu um beijo singelo na cabeça dela antes de levantar e dizer:

— Vocês ficarão presos nesse castelo por mais alguns anos. Acho que você tem chances, Amélia.

Ela viu quando ele virou no corredor e sumiu. Ela se sentia melhor, como se parte do peso que ela vivia carregando tivesse ido embora junto com James. E ela tentou não se sentir envergonhada por ter estado tão perto dele, eles nunca tinham tido uma conversa desse tipo e quando se falavam sempre tinha mais pessoas por perto. Ela balançou a cabeça para tentar fazer com que aqueles pensamentos sumissem da sua mente e quando não conseguiu foi rapidamente a biblioteca pegar algum livro para se distrair.

Naquela noite Amélia não se sentou na mesa da Corvinal. Ela foi até a da Grifinória onde Albus e Scorpius estavam junto a Rose, ela ainda olhou para James que sorriu, mas ela rapidamente desviou o olhar e agradeceu pelo tom escuro de sua pele, assim ele não notaria o quanto ela estava envergonhada.

Todos três pareceram surpresos, mas Amélia sentou como se estivesse fazendo aquilo todos os dias, como antes. Ela se serviu e fez perguntas sobre o povoado, eles falavam animados. Albus e Rose falavam, com Steph fazendo comentários quando achava necessário, mas Scorpius apenas ficava lá e acenava com a cabeça quando eles perguntavam algo;

Ela deu o primeiro passo e após esse ela só tinha que seguir caminhando.

 

Após Amélia se aproximar Scorpius tentou agir o mais natural que conseguiu. Ele tinha crescido fingindo, então não deveria ter sido tão difícil quanto foi. Os olhares de Albus em sua direção não ajudaram muito e ele parou quando recebeu um chute por debaixo da mesa. Ele não se sentia seguro para falar, por isso ficou apenas concordando com a cabeça quando um deles fazia uma pergunta retórica.

Felizmente Albus deu a desculpa que eles tinham que terminar um dever de História da Magia, assim ele pôde sair dali mais cedo e não se sentir desconfortável. Ele agradeceu quando eles já estavam indo para as masmorras o que fez Albus sorrir.

— Você ainda tem aqueles chocolates que sua mãe mandou? – Albus perguntou e Scorpius disse que sim. – Ótimo.

Assim que chegaram eles sentaram na cama de Albus, puxaram as cortinas e lançaram um feitiço que James tinha ensinado que fazia com que o que eles falassem não fosse escutado por mais ninguém. Eles começaram a comer o chocolate, com Albus pegando os melhores, já que segundo ele Scorpius lhe devia uma.

— Rose me falou o que você fez pela Amélia. – Albus falou como se não fosse nada de mais.

— Hum…

— Foi legal você ter dado as poções para ela. – Ele continuou. – Nós nem nos lembramos disso.

— Você acha que eu deveria perdoá-la?

Albus se surpreendeu, já que isso não era do feitio de Scorpius.

— Somente se você de fato perdoá-la. Ela estará esperando quando você estiver pronto, Scorp.

— Como você pode ter tanta certeza? – Albus olhou para ele e lhe lançou um pequeno sorriso.

— Porque somos amigos e é isso que amigos fazem. Ela cometeu um terrível erro, se arrependeu, se desculpou e um dia você a perdoará, porque é da Amélia que estamos falando. Nós somos quatro, Scorp, sempre seremos quatro. Estamos juntos nessa, todos nós. Sempre estaremos.

— Isso soou tão grifinório, Al.


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