O Legado escrita por Luna


Capítulo 20
Capítulo 20


Notas iniciais do capítulo

Obrigada a Holden pelo comentário, capítulo é todo seu ;*
Mais de 40 serzinhos acompanhando e um comentário? Shame! Shame! Shame!



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/713733/chapter/20

“Não me façam feliz. Por favor, não me saciem nem me deixem pensar que alguma coisa boa pode sair disso. Olhem para meus machucados. Olhem para este
arranhão. Estão vendo o arranhão dentro de mim? Estão vendo ele crescer bem diante dos seus olhos, me corroendo? Não quero ter esperança de mais nada.”

A menina que roubava livros

 

Quando o dia tomou forma Amélia percebeu que estava mais uma vez atrasada. Não daria tempo ir ao Salão Principal comer, então ela apenas faria sua higiene matinal e correria para a sala. Ao se olhar no espelho notou as olheiras em seu rosto, era difícil dormir quando sua noite era permeada de pesadelos. Neles ela escutava gritos e pedido de socorro, escutava correntes se arrastando por uma fortaleza negra e via multidões cair em meio ao sangue.

Todo dia ela prometia a si mesma que não pegaria mais naquele compêndio, vivia com ele na bolsa para que pudesse devolvê-lo a Thomas, mas nunca parecia certo entregá-lo sem terminar de ler, e todas as noites ela lia mais e mais páginas.

As informações pareciam gravadas a fogo em sua mente e isso a perturbava no decorrer dos dias. Ela foi notando que inconscientemente afastava cada vez mais Scorpius e depois se recriminava por isso. Scorpius era tão parecido com Draco que a assustava, os cabelos loiros muito claros, o sorriso as vezes gentil, mas tinha aquele sorriso repleto de malícia que via poucas vezes, a única coisa que diferenciava os dois eram os olhos. E quando ela se encontrava pensando no que tinha lido naquele livro maldito era os olhos de Scorpius que ela tentava visualizar. Olhos que sempre eram gentis e amáveis.

Scorpius era Scorpius, ele não tinha culpa de nada, ele não fizera nada. Era o que ela repetia a si mesma, mas cada vez que escutava o sobrenome dele um arrepio estranho passava por sua coluna, como se aquilo fosse um agouro. E se sentia terrivelmente culpada por isso, mas não foi pior do que o que aconteceria na véspera do primeiro jogo de Albus.

 

Amélia estava estranha na opinião de Scorpius, mas a atitude da garota poderia ser decorrente de todo o problema familiar que ela enfrentava sozinha. Mas depois ele notou que ela só ficava daquela forma quando ele estava por perto, um dia ele observou quando os amigos estavam na biblioteca e Amélia estava como todos os outros dias, o que significava que ela tentava se distrair com qualquer coisa que aparecesse na frente dela. Mas quando ele se aproximou do grupo sentiu ela se retrair.

Ele teve a certeza que tinha ofendido a menina de alguma forma quando na aula de Poções que dividiam turma com a Corvinal a garota o ignorou completamente e foi se sentar do outro lado da sala com uma menina que Scorpius não fazia ideia de como se chamava. E ele tinha certeza que Amélia tinha visto a mão dele erguida a convidado para dividirem a bancada, ele não ficou muito mais tempo pensando no motivo para aquilo, já que minutos depois Timothy chegou e se sentou ao seu lado.

Estar perto de Amélia agora era como quando ele se aproximava de algum lufano desavisado. Claro que não eram todos assim, alguns do 3º ano já se familiarizaram com ele o suficiente para saber que não seriam jogados em cima de uma planta carnívora ou que ele não os amaldiçoariam.

Eram raras as vezes agora que os quatro ficavam juntos. Ou faltava Scorpius ou faltava Amélia e Albus e Rose estavam começando a pensar que aquilo não era coincidência. Mas para a sorte do loiro Albus estava tão cheio de trabalho que não lhe fez nenhuma pergunta a respeito disso. Logicamente tal atitude não poderia ser esperada de Rose.

A menina perguntou se tinha acontecido algo, então Scorpius passou a relatar os acontecimentos que o tinham feito se afastar. Amélia mal o olhava e quando o fazia encarava seus olhos tão fixamente que o deixava constrangido, era como se ela quisesse enxergar algo por trás das orbes azuis.

Rose não soube o que falar, por que até onde sabia Scorpius não tinha feito nada que pudesse ter trazido chateação a corvinal e ela tampouco tinha feito qualquer reclamação. Mas Scorpius já recebia olhares atravessados demais para ainda ter que aguentar isso do seu seleto grupo de amigos, portanto percebeu que era mais fácil ignorar aquilo até que passasse.

Rose não concordou. Achou que seria melhor que ele chamasse Amélia para conversar e se resolvessem logo, mas ele fugia de qualquer confronto, com quem quer que seja e isso a irritava terrivelmente. Porque discutir com Scorpius significava que você ficaria vermelha de raiva enquanto ele se matinha naquela perfeita pose de cavalheiro e concordava com o que quer que você dissesse, era como ele dizia: “Se um não quer, dois não brigam. Se você quer brigar vai ter que fazer isso sozinha, Rose”. A ruiva saiu de perto dele com um insulto travado em sua garganta.

Covarde.

Aquele dia começou como qualquer outro, Rose acordou cedo, Albus teve que praticamente derrubar Scorpius da cama, Amélia estava mais uma vez atrasada. Foram para as aulas da manhã, sorriram, fizeram brincadeiras e anotações. E almoçaram juntos.

Quando a bolsa de Amélia rasgou assim que ela levantou da mesa para poder ir para as aulas da tarde o tempo pareceu seguir um ritmo mais lento. Ela praguejou baixo e começou a recolher os livros o mais rápido que conseguiu, o coração dela batia ao um ritmo desenfreado, mas ela parou ainda no chão porque faltava um livro.

Quando ela ergueu o rosto viu Scorpius parado encarando a capa do compêndio, ele o abriu lentamente e depois a encarou.

— É por isso então? – Scorpius perguntou.

Amélia se levantou rapidamente e tomou o livro das mãos do loiro. Ela tremia levemente e seus sentimentos estavam confusos.

— O que está acontecendo? – Albus quis saber. Nem ele e nem Rose estavam entendendo o que estava havendo ali.

Eles viam que a respiração de Amélia estava acelerada e que Scorpius a encarava com frieza, seu rosto entalhado em uma máscara que não deixava nenhum sentimento ultrapassar.

— Amélia está tendo uma interessante leitura da obra de Barnabás Pike. – Scorpius falou e um sorriso cínico apareceu em seu rosto. Ele olhou para Amélia buscando algo em seu rosto, mas só encontrou medo. – Imagino que tenha sido um presente do nosso querido Thomas, não?

— Amy? – Rose chamou pela menina.

— Eu tinha percebido o seu comportamento. – Scorpius falou dando um passo na direção de Amélia e isso fez com que a menina se encolhesse levemente. – Eu pensei que tivesse feito algo que a magoasse, então lhe dei espaço. Achei que em algum momento você falaria comigo, que seria sincera e nós poderíamos nos entender novamente. Mas você só me afastava.

Albus e Rose encaravam os dois. As mãos de Scorpius estavam fechadas em punho e Amélia tinha seus olhos arregalados olhando para o loiro sem reação.

— No fim eu estava certo, não é? Eu realmente fiz algo, eu nasci em uma família com um passado terrível. – Ele deu mais um passo. – Você quer saber mais detalhes, Hall? Quer saber quantos trouxas foram mortos na minha casa? Quantos sangues-ruins minha família matou? O que eles fizeram para não irem para Azkaban? Quem eles ameaçaram?

— Scorpius! – Albus falou em alerta.

— Eu fui nada mais que um amigo para você. – A fúria dele aumentava cada vez mais. – Desde o primeiro momento tudo que eu fiz foi tentar ajudá-la. Mas no fim você é igual a todos eles, no fim você olha para mim e só enxerga meu sobrenome. O sobrenome que é ligado as trevas.

— Não… Scorp… – Amélia falou em um sussurro.

Ele saiu sem olhar para trás, talvez ele não tenha escutado o chamado dela ou pode ter escolhido ignorar. Quando ela fez que iria seguir o mesmo caminho teve seu braço segurado por Freya que a olhava com os olhos injetados de raiva.

— O que diabos você fez? — Ela perguntou.

— E-eu só…

— Amélia estava com o compêndio de Pike. — Rose respondeu e Freya abriu a boca sem palavras.

— Por mil infernos como você conseguiu isso? — Freya falou apontando para o livro que Amélia segurava. — Barnabás Pike era um tolo, escreveu um livro sensacionalista que propagava ódio, por isso ele foi rapidamente retirado das bancas.

— Amy. — Albus chamou a atenção da corvinal. — Nós demos todos os títulos de livros que falavam sobre a guerra, os melhores, os mais imparciais, com diferentes pontos de vista.

— Eu não q-queria… e-eu não…

— Saia da minha frente, sua estúpida. — Freya a afastou com a mão a jogando para o lado e saiu em busca de Scorpius.

— O que eu fiz? — Amélia perguntou.

— Algo ruim, Amélia. Muito ruim. — Rose falou triste.

 

Scorpius sabia bem como se esconder, não que ele estivesse em um local secreto, mas ele duvidava que alguém saberia onde procurá–lo. Do alto da torre de astronomia ele podia ver boa parte da escola e a vista era fantástica. Ele gostava de observá-la durante o dia, mas adorava estar lá quando anoitecia, as estrelas pareciam tão próximas que ele sentia que se estendesse a mão poderia pegar uma.

Quando era criança em um dos natais ele pediu uma estrela para os pais. Os dois sorriram e disseram que estrelas foram feitas para serem apreciadas de longe, admiradas e não aprisionadas. Então ele passou a estudá-las, conhecer seus nomes e aquilo o acalmava de uma forma que ele não conseguiria descrever. Ele buscava as estrelas que tinham dado nome a muitos Black, e tentava descobrir seu significado por trás daquilo.

Mas não havia estrelas naquele momento.

Scorpius se sentia gelado, com um aperto em seu coração. Ele sentia como se tivesse perdido algo muito importante, ele queria gritar, voltar ao salão principal e sacudir Amélia e perguntar como ela podia ser tão idiota.

Ele se sentia traído e abandonado.

Ele não experimentava aquela sensação já fazia 3 anos, desde que uma garota tinha lhe agarrado a mão e saído o arrastando pelo trem em busca de uma cabine. Desde de que ele fez amigos que o aceitavam pelo que ele era, e com eles passou a se sentir apenas como Scorpius, um menino comum.

Talvez por isso doesse tanto saber que Amélia o afastava pelo mesmo motivo que a maioria o faziam. Por algum tempo ele foi plenamente feliz, os pais estavam bem, sua irmãzinha estava cada dia maior e mais esperta, ele tinha amigos. Até mesmo os outros pareciam não mais se incomodar tanto assim com ele, ou então ele tinha realmente aprendido a ignorá-los.

Ele ficou sentado encarando a paisagem e a viu se modificando. O tempo foi esfriando e o céu escurecendo, as primeiras estrelas foram aparecendo junto com uma lua crescente e ele percebeu que tinha que descer.

Astória uma vez disse a ele que quando se ama alguém você dá a essa pessoa a chance de feri-lo. Era por isso que estava doendo tanto? Porque ele tinha aberto seu coração a Amélia, tinha deixado ela entrar e morar lá e agora ela o tinha quebrado por dentro? Era fácil entender todo o sentimento que tinha envolvido naquela amizade. Embora a amizade tenha sido feita em uma viagem de trem ela foi se fortalecendo aos poucos. Ela foi crescendo com o tempo, com o carinho e a dedicação.

Ele não tinha sido um amigo bom o suficiente para Amélia? Ele já tinha a ferido alguma vez? Ele não tinha dado provas o suficiente que não ligava para a natureza mágica dela? Ele era Scorpius, só Scorpius… Ele pensou que ela soubesse disso.

— Sr. Malfoy?

O menino parou quando escutou seu nome sem saber onde estava realmente e se forçou a não corar quando percebeu que estava a alguns passos de Melanie Green.

— Pensei que iria encontrá-lo hoje na minha aula. — Ela o olhava com firmeza.

— Ah… sim, er… eu… — Scorpius não tinha pensado em uma desculpa.

— Sr. Potter disse que o senhor estava se sentindo mal.

— Sim, isso. — Ele afirmou rapidamente. — Eu não estava bem.

A professora o olhou com os olhos cerrados e deu uma passo para o lado permitindo que ele passasse. Ele caminhou em direção as masmorras e parou quando escutou ela chamá-lo.

— Não vai para o Salão Principal? É hora do jantar.

— Eu prefiro ir para o quarto logo, não estou com fome.

Ele queria sair dali antes que ela lhe fizesse mais perguntas e se surpreendeu quando ela se dirigiu a ele usando seu primeiro nome.

— Scorpius, está tudo bem? — Ela perguntou com um vinco formando entre suas sobrancelhas.

O garoto a encarou e demorou mais do que o aceitável a responder e quando ele o fez ela soube que ele mentia.

— Sim, é claro. — Sua voz não demonstrava nada, seu rosto muito menos. Mas seus olhos tinham um brilho incomum. — Boa noite, Srta. Green.

Ela viu o menino se afastar sem saber se deveria deixá-lo de fato ir ou se deveria obrigá-lo a falar o que estava acontecendo. No fim ele já tinha sumido de vista.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Eu não vou ser a chata de ficar regulando comentário, mas é muito ruim escrever e não ter uma resposta de vocês.
Me digam o que acharam, não custa nada :)