Uma estranha no ninho escrita por Emmy Tott


Capítulo 1
Onde jogam três, jogam quatro




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Era mais um dia normal na cidade de Patópolis. Seus habitantes faziam suas atividades diárias, enquanto que, na banca de jornais, a Patada exibia em sua primeira página: “Os Metralhas atacam novamente. Roubo em caixa-forte do Patinhas”. O mesmo de sempre. Porém, na casa de uma certa família Pato, o dia tinha começado de uma maneira um tanto estranha:

Não entendo… — dizia o jovem pato de boné verde, coçando a cabeça. — Onde ele pode ter se enfiado?

Vai ver foi abduzido por alienígenas — disse Huguinho, deitado despreocupadamente no sofá. — Vocês sabem, não seria a primeira vez.

Acho que pode ter algo a ver com aquele telefonema de ontem — ponderou Zezinho enquanto andava de um lado ao outro da sala. — Se lembram de como ele ficou perturbado depois que desligou?

Ah, se lembramos…

 

Os trigêmeos estavam em uma competição acirrada de videogame. Mas não era o bastante apenas mover o personagem virtual com o controle, era também necessário levantar-se, pular, cutucar e gritar para desconcentrar os outros.

Sai fora, Zezinho! Essa gema é minha! — gritava Luizinho, empurrando o irmão com o ombro.

Quem disse, Zé mané? — gritou ele de volta, rindo maleficamente ao tomar a pedra do outro.

Isso mesmo, vão rindo! No fim quem ganhará será o grande Huguinho!

Nesse momento, surgiu um pato de aparência muito zangada, vestindo uma camisa havaiana estampada.

Mas o que significa isso? — gritou ele, tentando se sobrepor à algazarra dos meninos. — Vocês já arrumaram o quarto?

Mas é claro… — disse Huguinho, sem tirar os olhos do jogo.

Que não — completaram os outros dois, um tentando subir em cima do outro.

Quac! O que estão esperando?

Agora não dá — desculpou-se Zezinho.

É, é um jogo importante, tio…

É muita folga!

Antes que Donald pudesse tomar alguma atitude drástica com os sobrinhos, o telefone começou a tocar. Ele passou na frente da TV de propósito, o que causou exclamações de indignação, e também um tropeço em um dos fios do controle do jogo, arremessando o pato diretamente contra a mesinha do telefone, que caiu bem em cima de sua cabeça, formando um galo gigante.

Alô… Quem…? — ia dizendo ele enquanto se levantava e massageava a parte de trás da cabeça. — QUAC! O QUÊ? — Ele deu um pulo tão grande, que fez até os sobrinhos olharem para ele. — Mas será que não tem outro jeito...? Não sei se isso vai dar muito certo… Está bem…

Quando ele desligou o fone, sua expressão estava totalmente mudada.

O que foi, tio Donald? — quis saber Luizinho.

É, quem era no telefone? — corroborou Zezinho.

Não é nada, voltem a jogar, meninos. — Ele fez um gesto com a mão como quem espanta uma mosca inconveniente, e saiu da sala com os olhos perdidos em algum ponto invisível.

Os jovens patos apenas deram de ombros, voltando ao seu jogo sanguinário.

 

Só pode ser, não tem outra explicação — concluiu Zezinho.

Mas se ele não voltar até a noite… — disse Huguinho.

Teremos que fazer alguma coisa — completou Luizinho. — Talvez seja mais uma missão para o Esquadrão T!

Vá com calma, apressadinho… — Tornou Zezinho, vislumbrando pela cortina uma silhueta feminina se aproximar da casa.

Antes que ela pudesse apertar a campainha, Zezinho escancarou a porta, fazendo-a dar um pulo para trás com o susto.

O que é isso, Zezinho? Quer me matar do coração?

Estamos preocupados com o tio Donald!

Margarida? — disse Huguinho, levantando-se do sofá. — Você sabe onde ele está?

Margarida, por sua vez, caminhou lentamente até o sofá, passando os dedos por entre seus cabelos e ignorando os três jovens rostos ansiosos que a seguiam.

Diga logo! — impacientou-se Luizinho.

Seu tio vai chegar logo — disse ela lentamente. — Ele está na casa do tio Patinhas, ah… resolvendo algumas coisas…

Na casa do tio Patinhas?

O que está havendo, Margarida?

É, depois daquele telefonema todo mundo resolveu ficar estranho.

Acalmem-se, meninos. Tudo vai se esclarecer assim que seu tio chegar… — disse ela, pouco à vontade com a enxurrada de perguntas.

Isso está parecendo um complô contra a gente.

É, e dos grandes…

Por mais que Margarida tentasse desconversar e ganhar tempo, ela logo viu que os meninos eram espertos demais para deixarem-se enganar por qualquer coisa que ela dissesse. Quase chegou a desistir de sua missão, mas tinha que pensar que aquele era um momento crucial. O bem daquela família dependia de sua fibra agora, pois ninguém sabia a reação que os meninos teriam ao receberem aquela notícia bombástica. Já tinha sido difícil o bastante para Donald.

Quando é que ele vai chegar?

E por que tanta demora?

Não direi mais nada — decidiu Margarida. — Aguardem e vocês logo vão saber…

Essa é boa!

Os três cruzaram os braços, emburrados, porém não ficaram muito tempo nessa posição, pois logo ouviram o barulho da maçaneta da porta abrindo-se novamente. Um Pato Donald sério e meio assustado passou por ela, encarando seus sobrinhos.

Olá, meninos, tudo bem? — cumprimentou ele, sem saber como continuar a conversa.

Quem tem que dizer se está tudo bem é o senhor, tio Donald — precipitou-se Zezinho.

Hã? E por que não estaria?

Não sei — tornou Huguinho. — Talvez porque o senhor tenha sumido o dia todo sem dar explicações…

É bom saber que ainda se preocupam com o seu velho tio. — Ele permitiu-se um breve sorriso.

Os trigêmeos congelaram, sentindo um leve rubor lhes subir às faces.

Não é nada disso…

Donald, porque não conta logo a eles? — interveio Margarida, salvando os três da situação embaraçosa em que o tio lhes metera.

Isso mesmo, diga o que foi fazer na casa do tio Patinhas!

Está bem — disse ele, ainda sem se afastar da porta. — Acontece que ontem recebi um telefonema desesperado da tia de vocês, a Dora Pata…

Dora Pata?

Quem é essa agora?

Meninos, deixem seu tio continuar — interveio Margarida mais uma vez.

Como sabem, nossa família é muito grande, e a Dora Pata vive nas montanhas, onde o acesso é muito difícil, por isso ela mandou a filha dela para estudar em um internato, onde teria mais oportunidades.

Não enrola, tio.

Está bem! As coisas não deram muito certo nesse internato e ela teve que sair. Então, para não precisar voltar às montanhas e ficar sem estudar, decidimos que seria melhor que ela viesse para cá…

Espere um pouco, quando você diz “vir para cá”…

Não quer dizer aqui em casa, certo?

Meninos, eu lhes apresento… — Donald abriu a porta novamente, deixando entrar uma jovem pata com um rabo de cavalo e um topete rebelde na franja. Ela vestia uma camiseta amarela larga que lhe caía pelos ombros e uma saia de um tom amarelo mais escuro. — Sua prima Debby.

O queixo dos três caiu.

Mas tio… — começou Luizinho.

É uma garota — completou Zezinho.

Bem observado! — disse ela de cara amarrada, aparentando gostar tanto de estar ali, quanto eles estavam gostando de recebê-la.

Nada pessoal, mas não podemos dividir a casa com uma garota — tornou Huguinho.

Prazer em conhecê-los também — disse ela ironicamente.

Margarida se aproximou da garota, colocando as mãos protetoramente em seus ombros.

Meninos, não sejam tão rudes com a sua prima. Ela acabou de chegar na cidade, não conhece ninguém…

Quem liga?

Ela está invadindo o nosso espaço!

Não somos obrigados a aceitá-la só porque ela é nossa parente distante.

QUAC! — gritou Donald, tão alto que fez seus sobrinhos se calarem. — Já chega! Ela vai ficar aqui quer vocês queiram ou não! E não quero mais saber de brigas, já para o quarto vocês três!

Ótimo, tio! — resignou-se Huguinho.

Se é assim que o senhor quer… — tornou Zezinho.

Assim será! — completou Luizinho com uma piscadela.

Os três saíram, lançando um olhar de desprezo para Debby.

Viram, não foi tão ruim assim — disse Donald, indo tranquilamente se deitar no sofá. — Eles só precisam de uma autoridade firme.

Margarida o olhou com descrença.

Acha mesmo que eles vão mudar de atitude só porque você falou duro com eles?

Mas é claro. Eles são uns anjinhos.

Ela revirou os olhos, voltando-se para a garota.

Acha que vai ficar bem, querida?

Não tem outro jeito — disse ela, com um olhar estranho.

Bem, se as coisas ficarem difíceis com os meninos, você pode me procurar a qualquer hora, terei prazer em ajudá-la.

Tá, eu vou ficar bem!

Antes de ir embora, Margarida virou-se novamente para ela:

Ainda não disse porque saiu do internato…

Eu não saí… Fui expulsa — completou ela, com um sorriso malicioso nos lábios.

 

***

 

Na manhã seguinte, a mesa do café tinha virado um verdadeiro campo de guerra. Huguinho, Zezinho e Luizinho se recusavam a dividir com Debby o seu cereal, enquanto a pata descartava a torrada seca.

Eu não vou comer isso — disse ela com desprezo.

O problema é seu — tornou Luizinho, dando mais uma colherada no cereal.

Debby olhou para a mesa, fixando na garrafa de leite. Seus lábios retorceram-se em um sorriso malicioso enquanto ela a pegava.

Vocês gostam de um café molhado? Então tomem isso. — Ela atirou o leite sobre os três, que ficaram completamente encharcados e indignados.

Isso não vai ficar assim! — avisou Zezinho.

Você assinou sua sentença de morte — arrematou Huguinho.

Os três passaram a atirar os grãos de cereais com o auxílio de suas colheres. Debby tentava se esquivar do ataque utilizando um prato como escudo. Nesse momento, Donald adentrou o recinto, sendo atingido em cheio por um dos cereais.

QUAC! Que bagunça é essa?

Ela começou! — os três apontaram para a pata. Ela até podia ser desprezível, mas era ótimo finalmente ter alguém para colocar a culpa.

Eu só queria um pouco do cereal — desculpou-se a garota.

Não quero saber, já para escola vocês três, já estão atrasados! E você arrume essa bagunça!

Os três passaram pela garota esbarrando em seus ombros de propósito e exibindo um sorriso de superioridade. Tinham ficado encharcados, mas como Debby ainda não havia sido matriculada na escola, ela teria que limpar a cozinha toda sozinha, o que era muito bem-feito para que aprendesse a largar de ser atrevida.

Pois esperem para ver — espumou ela de raiva quando se viu sozinha.

Ignorando a sujeira da cozinha, Debby subiu até o sótão da casa, lugar que funcionava como quarto para os três sobrinhos de Donald. Com agilidade, ela abriu o alçapão e saltou para dentro, olhando com grande interesse todos os pertences de seus primos. Uma brincadeirinha não iria fazer mal a ninguém.

Mais tarde, quando os três entraram correndo pela porta da frente, logo perceberam que havia algo de diferente no ar.

Está muito quieto aqui…

Será que ela…

Vamos investigar!

Eles largaram suas mochilas no sofá e vasculharam todos os cômodos da casa, mas tudo estava como antes. Donald tinha saído com Margarida para cobrir um furo de reportagem e não havia nem sinal de Debby. A casa estava no mais completo silêncio.

Ora, pelo visto ela se deu conta de que estava sobrando e caiu fora — disse Huguinho, já se preparando para cair no sofá.

Não acredito que seria tão fácil assim — tornou Luizinho. — E você?

Acho que vocês estão esquecendo de um cômodo lá em cima…

Não, ela não ousaria… — Huguinho riu, mas logo em seguida enrijeceu o corpo, sentando-se reto no sofá. — Ou será que ousaria?

Eles se entreolharam. A resposta era óbvia. Eles abriram o alçapão com um cabo de vassoura, temendo que alguma armadilha os estivesse esperando. Mas nada aconteceu. Luizinho foi o primeiro a entrar e ficou chocado com o que encontrou. Aquele não era mais o seu quarto.

E então, Luizinho? — os outros quiseram saber, mas como não obtiveram resposta, seguiram o primeiro, ficando igualmente estupefatos.

O chão estava totalmente coberto de entulho, que incluía diversos objetos quebrados que não dava para serem identificados. Das camas e de todos os móveis pendiam tiras de papel higiênico, o que dava a coisa toda um aspecto de carnaval de mau gosto.

Minha bola! — indignou-se Luizinho ao encontrar sua querida bola de basquete murcha a um canto.

Meu notebook! — endossou Zezinho, ao tentar ligar o aparelho e descobrir que seus arquivos haviam sumido.

Nosso troféu dos escoteiros mirins! — completou Huguinho, apontando para o lugar vazio da estante onde ele costumava ficar.

ISSO PASSOU DOS LIMITES! — gritaram os três.

Sem saber de onde ela havia surgido, Debby se materializou ao lado da estante, rindo da cara dos três.

Vejo que gostaram da nova decoração do quarto de vocês — provocou ela.

Vejo que não tem medo de morrer! — retrucou Zezinho.

Sério? — continuou ela no mesmo tom de zombaria. — E o que pretendem fazer comigo, me bater?

Venha, Zezinho, deixe essa baderneira pra lá — chamou Huguinho, indo para a entrada do alçapão.

Isso mesmo, ela não vale a pena. — Luizinho o seguiu.

Meus irmãos têm razão — disse Zezinho por fim, também caminhando para fora. — Se quiser rir, que ria sozinha.

Hey, esperem! Onde vocês vão?

Não é da sua conta! — gritaram eles, já distantes.

Curiosa e cansada de ficar em casa, Debby seguiu os garotos para ver onde iriam. Eles pegaram os skates na garagem e saíram em disparada, mas como o caminho era curto, a pata conseguiu ver que eles tinham entrado na lanchonete de Gumpki.

O lugar estava vazio, exceto pelos três patos e o grande e gordo Gumpki. Meio sem jeito, Debby se aproximou da mesa em que eles estavam, mas os garotos ignoraram sua presença.

Oi, será que eu podia me sentar com vocês? — pediu ela de cabeça baixa e envergonhada.

Ora, mas é claro… — começou Huguinho.

Que não! — completaram os outros dois, rindo da garota enquanto ela se afastava cabisbaixa.

Eles continuaram rindo e fazendo piadas, enquanto Debby foi se sentar sozinha em uma mesa afastada no fundo do estabelecimento.

Olha só aquela cara de perdedora — desdenhou Zezinho, pegando um pedaço de pizza.

Que ela aprenda a não mexer mais com a gente — continuou Luizinho.

Nesse momento, um garotinho entrou pelo local patinando e pediu um balde de refrigerante.

Maninhos, acabei de ter uma ideia genial — confabulou Huguinho com um sorriso perverso nos lábios.

Os outros o observaram com interesse enquanto ele chamava o garotinho do refrigerante.

Está a fim de ganhar uma prata? — Ele tirou uma moeda do bolso e com um peteleco a atirou para cima. Ela cintilou no alto antes de voltar rodando para as mãos de Huguinho. O olhar de cobiça do garoto indicava que ele já estava no papo.

É só fazer uma coisa pra mim — ofereceu ele, dizendo seu plano em voz baixa. 

O garoto aceitou na hora e saiu em disparada. 

O que vai fazer?

Apenas observem. 

Eles viram quando o garoto se aproximou da mesa de Debby. Ela ia dizer alguma coisa, mas ele se desequilibrou dos patins e acabou derramando todo o refrigerante sobre a pata. Ela levantou-se indignada e pingando, enquanto seus primos se acabavam de tanto rir do outro lado da lanchonete:

Veja, uma patinha encharcada! 

Coincidência? 

Eu acho que não! 

Vocês... — começou a retrucar ela, mas sua garganta deu um nó e ela foi incapaz de continuar. 

Envergonhada, a garota saiu correndo porta afora. Do balcão, Gumpki observara tudo com olhos de reprovação.

Pegaram pesado desta vez, meninos.

Essa sonsa teve foi o que mereceu — falou Zezinho.

É, ela não tinha o direito de mexer nas nossas coisas — Huguinho argumentou. 

Não sei, talvez Gumpki esteja certo... — ponderou Luizinho. — Vocês viram a cara dela? Parecia até que ia chorar. 

Não venha com essa, esqueceu o que ela fez com a sua bola?

Pois é... Vocês têm razão — decidiu ele.

Na saída, os três pegaram seus skates, impulsionando-os com os pés para ganhar velocidade.  Porém, na metade do caminho perceberam que havia algo de errado. Os skates quicaram, traçando uma linha difícil. Luizinho, que ia na frente, tentou frear, mas a prancha foi projetada para a frente, desprendendo-se das rodas, o que o fez dar uma cambalhota no ar e cair de cabeça. Zezinho e Huguinho, que vinham logo atrás, também não conseguiram frear, trombando com o skate de Luizinho e caindo por cima dele. Os três rolaram pelo chão como uma bola de neve, só conseguindo parar ao atingirem o tronco de uma árvore.

Ainda no chão, eles viram Debby passar por eles rindo.

Ora, mas o que é isso? Será que são três patos ou três toupeiras? - provocou ela.

JÁ CHEGA! — revoltou-se Zezinho, levantando-se de um pulo. — Isso já foi longe demais.

Devo lembrar que foram vocês que começaram essa guerra! — ela se defendeu.

Você destruiu o nosso quarto! — atirou Huguinho.

Em pensar que eu cheguei a ficar com pena! — disse Luizinho.

Pois eu não preciso da pena de ninguém! 

Os quatro continuaram a brigar pelo resto do caminho, atropelando Pato Donald ao passarem pela porta. Ele tentou impedi-los, mas assim que conseguiu se recuperar, a sala já havia se transformado em campo de batalha. 

Tomem isso! — gritava Debby ao atirar um vaso em seus primos.

O vaso passou direto pela janela e cada um dos três pegou um objeto para revidar.

Tome isso você! — gritaram juntos.

Debby usou a poltrona de Donald como escudo, que rasgou-se ao ser atingida por uma estatueta pontiaguda.

QUAC! — Donald fez-se ouvir em meio aquela zona toda. — PAREM JÁ COM ISSO, VOCÊS VÃO DESTRUIR A CASA TODA!

Diante da ira do tio, os quatro deram uma trégua.

Já está na hora dessa rixa boba ter um fim. Deem um jeito de se entenderem, senão... — ele deixou a frase morrer sem conclusão, saindo da sala espumando de raiva.

Assim que se viram sozinhos novamente, um silêncio mortal caiu sobre os quatro. Cada um dos três irmãos olhava para um lado, sem querer encarar a prima, enquanto ela os observava com um olhar triste. No fim, ela resolveu quebrar o gelo:

Vocês venceram…

Os três a encararam surpresos.

Quê? Como assim? — falou Luizinho.

Eu já sabia que não ia dar certo aqui também. É sempre assim, por mais que eu faça, não consigo me encaixar em lugar nenhum... Mas tudo bem, já estou acostumada... Tenho uns parentes por parte de pai em Gansópolis, posso ir pra lá... — ia dizendo ela enquanto virava as costas para sair e ir arrumar as malas.

Espere, não vá! - disse Luizinho para a surpresa de todos.

Mas era isso que queríamos, que ela fosse embora — ponderou Zezinho.

Sim, lembre-se de que ela arruinou o nosso quarto, sumiu com o troféu dos escoteiros mirins, furou a sua bola e apagou os arquivos do Zezinho, sem falar dos skates sabotados. — Huguinho argumentou.

O troféu está escondido atrás da TV, os arquivos estão salvos em um pen drive que deixei guardado e, quanto a sua bola, eu posso enchê-la de novo. Os skates eu só fiz aquilo porque estava com muita raiva.

Isso não justifica nada! — disse Huguinho.

Na verdade justifica — observou Luizinho. — Desde que Debby chegou aqui, nós nunca demos a ela a chance de uma aproximação. Desde o início a rejeitamos e tratamos mal, e tudo que ela fez foi para se defender. Depois as coisas saíram do controle e tudo virou uma guerra sem fim.

Debby o observava admirada.

Sim, se eu tivesse chance, nunca teria feito aquelas maldades.

Huguinho ainda estava relutante, mas Zezinho logo percebeu que seu irmão tinha razão:

Faz sentido... Se você quiser continuar aqui, Debby, não vamos mais pegar no seu pé, certo Huguinho?

Os dois lançaram um olhar inquisidor para o irmão, que enfim suspirou derrotado.

Está bem... Se meus irmãos não se importam, não serei eu quem irá impedi-la de ficar. Afinal, onde jogam três patos, jogam quatro.

Debby não se cabia de contentamento. Enfim, havia encontrado um lar, e ela sentia que poderia ser feliz ali.

Isso é sério mesmo? Vocês realmente querem que eu fique?

Os três se entreolharam, sorrindo.

Bem-vinda a turma, Debinha! — gritaram os três em uníssono.

Mas, antes mesmo que ela pudesse os agradecer, seu tio Donald já estava de volta, e eles descobriram logo que seu mau humor não havia mudado:

Ótimo, fico muito feliz que tenham se entendido. Agora TRATEM DE ARRUMAR ESSA BAGUNÇA TODA!

Os quatro engoliram em seco, entreolhando-se. Ninguém iria escapar daquela vez.


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