Protegida por um Anjo escrita por Moolinha


Capítulo 34
Trinta e Quatro




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— Nome, por favor. — Pediu um guarda mal-humorado que estava bem na minha frente.

— Belatriz Keaton. — Bocejei.

— Nome completo, por favor. — Ele suspirou, impaciente.

— Belatriz Anne Keaton.

— Certo. Pode entrar. — Ele abriu a porta de um gabinete. — Mas sem a garota, sua amiga. — Ele apontou para Louise.

— Ah. — Ela recuou e voltou a se sentar na cadeira onde estava antes.

Eu estava com a mesma roupa da noite passada, sentindo-me um lixo com um vestido imundo por baixo do meu casaco e com meus pés inchados devido ao salto alto. É, certo, não me sinto um lixo só por causa da minha aparência e por causa das minhas roupas. Mas porque Jimmy causou isso tudo.

Será que aquele idiota ainda não percebeu o que nós dois temos?

É amor. Não se pode desperdiçar uma coisa que está no pulsar dos nossos corações. Não posso arrancar meu coração, jogá-lo no lixo e depois comprar um novo. Se fosse assim, o mundo não seria do jeito que é. Se fosse assim, Wendy não teria se apaixonado por Peter Pan.

Jimmy acha que eu sou o quê? Algo descartável que ele pode usar e jogar fora?

Nós nos envolvemos demais. Essa coisa de humana e anjo existe para mim e não sei porque ele se atreve a não pensar nisso. Pra mim, ele é como se fosse humano de carne e osso e não entendo porque diabos ele ignora uma coisa que está bem a nossa cara.

— Olá, sente-se. — O delegado estava atrás de sua escrivaninha de madeira rústica e nem olhou para mim quando entrei.

— Oi.

— Então, o que você quer? — Ele procurava alguma coisa em seu computador quando deu uma pequena olhadela pra mim.

— Vocês, por acaso, tem algum ... Documento sobre Harry Blunt?

— O nome do acusado é Harry Blunt?

— Sim.

Ele digitou o nome de Harry no teclado e balançou a cabeça negativamente.

— Não existe ninguém com esse nome aqui nos meus arquivos.

— Droga. — Sussurrei baixinho, preparando para me levantar.

Ele percebeu minha decepção e perguntou:

— Prossiga, por favor. Diga o que ele fez a você.

— Tudo bem, certo. — Pausei, deliberadamente. — Tudo começou quando ele se passou por um bom e exemplar aluno da Academia Nicolau Glover, onde eu estudo. Num certo dia ele me chamou para sair e eu aceitei...

— O que mais?

— Ele passou a me agredir. Me machucar feio. Me mandar para o hospital. Deixou hematomas por todo meu corpo e quando eu pedia a ele para parar, ele começou a me ameaçar falando que ia matar minha família e meus amigos. Tipo um vilão desses filmes, sabe? — Comecei a estalar meus dedos. — Só que a coisa foi perdendo controle total, Sr. Delegado.

— Especifique, Srta. Keaton.

— Ele sempre dizia que me amava, mas já me jogou dentro do mar com um carro, me espancou umas duas ou três vezes, me perseguiu e já tentou me estuprar.

O delegado olhava para a parede atrás de nós, passando a mão no rosto toda hora e concordando com tudo o que eu estava dizendo.

— Continue, por favor.

— Ontem foi a gota d’água. Ele passou dos limites. Eu tenho um primo e ele percebeu o que acontecia comigo e então eu contei pra ele. Só que quando estávamos dentro do elevador, Harry apareceu e nos forçou para ir ao salão de jogos, que fica no quinto andar. Foi aí que ele disparou cinco tiros em nossa direção, e estávamos perto de uma grande vidraça. Caímos dos cinco andares.

— Cinco andares? No seu prédio?

— É. Não sei como estou inteira...

— E seu primo? — Ele me interrompeu.

— Está vivo. Também, não sei como. Saí de casa naquela hora e fui passar a noite na casa da minha melhor amiga.

O Delegado se levantou e andou em volta da minha cadeira.

— Seu pai sabe?

— Não.

— Belatriz, casos como de agressão contra a mulher são muito comuns, mas existe um cara com um arquivo estranho...

— Como?

— Casos do tipo do seu são raros. Esse Harry é novo, e até mesmo o nome dele pode ser falso. Mas é novo por fazer isso, você não acha? Esses tipos de agressões e até mesmo para ficar com uma arma.

Não entendi, por isso balancei a cabeça em tom de desaprovação.

— Esse Harry pode estar usando o nome falso. E você não é a primeira garota que vem aqui fazer queixa sobre essas mesmas coisas.

— Como é que é? Quer dizer então que...

— Que por tantas queixas desse tipo, eu acabei criando um arquivo e passamos a pesquisar mais sobre esse garoto.

— Esse garoto?

— Esse garoto é Harrisson Michael Bloontead. Conhecido como Michael Tead na Escola Mafred, Harrisson Bloon na Sue Lee Academia Escolar e Harry Blunt, na Academia Nicolau Glover.

— Todos eles são a mesma pessoa. — Concluí, incrédula.

— Exatamente. — Ele sorriu, triunfante. — Você é apenas mais um jogo dele, Srta. Keaton. Só que existe um grande detalhe que você vai ter que ficar atenta.

— O que é?

— Você é a única que está viva. Procuramos esse cara há dois anos e nada foi encontrado sobre ele. Nenhuma outra pista. As outras duas garotas foram encontradas mortas, uma flutuava no mar e a outra foi achada morta no próprio quarto.

Estremeci. Senti ódio e medo percorrerem juntos nas minhas veias e mais medo ainda quando saí da delegacia. Ele pode estar em qualquer lugar.

— Droga... — Sussurrei outra vez. — O que eu posso fazer? Acho que seria bom se alguns guardas me acompanhassem até em casa...

— Certamente. Sua segurança é importante para nós. Fique tranquila. Você é nosso amuleto de sorte e irá nos ajudar a encontrar o tal garoto. Duas viaturas serão enviadas até seu prédio para ficarem nas redondezas tomando conta de tudo.

— Fico muito mais tranquila. — Enchi meu peito de ar. — Obrigado. — Respondi, e saí da sala.

— Aguarde-nos na frente da delegacia. Iremos levar você e sua amiga para casa.

— Muito bem! Estou orgulhosa de você. — Louise me abraçou. — Vai ficar tudo bem.

— Espero que sim... — Sorri um pouco, aliviada. — Lou, Harry se passou por diferentes nomes. Falsificou documentos e engana todos a nossa volta. Fez a mesma coisa o que fez comigo com mais duas garotas, só que elas foram mortas. Ele as matou. — Sussurrei baixinho, enquanto abríamos a porta e esperávamos a viatura.

— Minha nossa! — Ela sussurrou de volta.

Os segundos seguintes foram difíceis de explicar e ao mesmo tempo dolorosos. Um carro prateado, em alta velocidade, invadiu a calçada de onde estávamos e de propósito nos pegou distraídas e desprevenidas, passando por cima de nós. Nossos corpos se chocaram contra o vidro do carro. Não consegui ver Louise, porque o sangue que descia da minha testa estava perto do meu olho, deixando minha visão turva.

Eu não tinha dúvidas de quem era aquela pessoa.

Violentamente, senti o impacto de todo o meu corpo atravessando o carro e bater bruscamente no chão.


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