Protegida por um Anjo escrita por Moolinha


Capítulo 16
Dezesseis




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— Eu sou um anjo. Não um cadáver podre. — Dizia Jimmy, sentando em minha poltrona, como de costume.

— O quê? — Perguntei, abaixando o volume da minha TV.

Ele deu um sorriso satisfatório, o que me fez sorrir também.

— Nós temos sangue, veias, órgãos e um coração. Sim, estou morto. — Ele se levantou e ajeitou sua jaqueta de couro ao corpo. — Mas, pelo que sei e sinto, eu tenho tudo o que tive antes. A única diferença é que estou morto e que você é a única pessoa que pode me ver.

— Quer dizer que seu coração bate?

— Exatamente. — Ele deu seu sorriso satisfatório outra vez. — Aprendi que quando se é anjo, temos todos os sentidos e emoções que tivemos antes de morrer, mas não temos a presença, é claro.

— Jimmy, você está morto.

— Ora, não me diga! Eu posso sentir as mesmas sensações e os mesmos desejos de quando eu era vivo. É exatamente como antes, só que todos me viam. Agora só você me vê. Deu pra entender ou quer que eu desenhe?

Fiquei imaginando a questão de ter “todos os desejos de quando ele era vivo”. Será que isso incluía o desejo de beijar alguém? De sentir atração por uma garota? De fazer sexo com uma garota? Essas perguntas martelavam a dias minha cabeça, pode até parecer bobagem, mas quando ponho algo na cabeça, isso me tortura ao máximo. Balancei a cabeça, afastando pensamentos maliciosos da minha mente e esperei ele dizer o que queria sem que eu criasse qualquer expectativa ou previsão.

— Amor. Felicidade. Tristeza. Você sente isso tudo? — Mantive meus olhos grudados ao rosto dele, observando cada expressão sua.

— Claro.

— Você sente saudade? — Por mais que eu quisesse parar de fazer perguntas, eu não conseguia. Elas saiam da minha boca rapidamente, sem explicações.

Jimmy se conduziu até a janela, ficando de costas pra mim. Percebi que minha pergunta foi um tanto... Estranha. Nunca fui de perguntar sobre a vida passada dele e nem nada do tipo. E agora, como estamos mais próximos, nos vendo todas as noites, simplesmente tomei a liberdade de perguntar.

Olhei bem para o rosto do meu anjo da guarda, queria poder ler o que se passava naquela mente. Sério, daria tudo. Ele demonstrou uma expressão triste e ao mesmo tempo apática, parecia cansado, mas também parecia cansado.

— No começo, eu não sentia. Eu agradecia a mim mesmo por estar morto. Ele se sentou do meu lado e olhou para nossos pés. — Hoje, bom... Eu quero ser apenas quem eu era antes.

—Um garoto rebelde, suponho. — Brinquei, estalando meus dedos. — Louise me disse sobre você e o que você fazia antes de morrer. E, bom, sei que não sou boa nisso, mas lamento muito.

Ele suspirou e sorriu pra mim. Mas agora, sem aquela malícia toda. Claro que era um sorriso fascinante e hipnotizante, mas eu vi algo diferente. Algo verdadeiro, que fez meu coração dar umas palpitadas bem rápidas, me deixando muito ofegante.

— Não, eu que lamento. — Ele falou.

Seus olhos cor de azeitona ficaram sombrios e um tanto fantasmagóricos quando ele viu minha última reação.

E cara, vou te contar, estava tudo muito diferente entre nós.

Depois de me salvar, passar tardes inteiras comigo na biblioteca da escola, para se assegurar de que Harry não estaria por perto, e boa parte da noite, senti mais confiança nele. Não uma falsa confiança, mas na verdadeira. Algo estranho, que me faz ficar feliz toda vez em que ele diz “Olá, Bells.”

— Sei que se eu não estivesse morto, eu não iria te conhecer. Por isso, você foi um bom benefício que a vida de morto me trouxe. — Senti minhas bochechas se queimarem e mesmo assim dei meu melhor sorriso pra ele.

Admito que quando ouvi o que Jimmy disse, me senti muito feliz. Eu estava em frangalhos por conta de Harry, mas mesmo assim, senti vontade de abraçar Jimmy, e de principalmente beijar. Só que acho que beijar um anjo, ou para ser mais específica, para beijar um cara morto, não vá existir muito futuro nisso.

E como seria isso? Seria como beijar uma pedra de gelo? Quero dizer, ele está falecido da silva e, dessa forma, não tem circulação sanguínea e então não vai ter calor corporal. Certo? Sendo assim, seria o mesmo que abraçar uma geladeira que se mexe. Uma geladeira com um lindo par de olhos verdes e um sorriso tão malicioso que chega a me deixar sem fôlego, mas ainda continuaria sendo uma geladeira. Não que isso me incomodasse, mas seria um pouco estranho, suponho.

Quando recuperei o fôlego, eu disse:

— Louise me contou também sobre as garrafas. E disse que seus pais querem mudar para uma casa menor por conta desses acontecimentos.

— Não vai adiantar nada. — Jimmy se levantou e aumentou o tom de voz. — Aonde eles estiverem, estarei também.

— Jimmy, qual é? Isso não é legal. A vida deles está um caos, por conta sua. Não seria melhor você parar com isso?

Ele balançou a cabeça negativamente.

— Cale a boca, Belatriz.

Calei-me.

— Já basta eu estar morto, e agora você quer que eu pare de fazer tudo o que eu faço? Quer que eu fique parado como uma estátua esperando a hora de te salvar? — Sua voz estava grossa.

— Só estou pedindo para que você pare, porque Louise está a ponto de explodir.

— Estou morto há um tempo e todo dia faço a mesma coisa. Não quero ficar perambulando por aí sem rumo. Já é uma droga não ser reconhecido por ninguém e agora você vem com essa de me controlar? — Ele gritou.

As batidas do meu coração que antes estavam rápidas pareciam me espremer.

— Só tentei ajudar, Jimmy.

— Tome conta dos seus problemas.

—Só pedi isso. — Encolhi-me. — Não é nenhum sacrifício. Você pode tomar cervejas em qualquer lugar.

— Minha casa não é qualquer lugar. E quando você me perguntou se eu sentia saudade, sim, eu sentia e ainda sinto. Por isso que fico lá.

— Você não faz ideia de como...

— Vai pro inferno! — Jimmy sumiu, interrompendo-me, furioso.

Senti-me péssima. Não por ter pedido a ele que parasse de assombrar Louise, mas sim por termos brigado.


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