Protegida por um Anjo escrita por Moolinha


Capítulo 10
Dez




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Você já notou que a vida nos surpreende às vezes?

Digo, em relação a minha vida.

Veja bem: há um pouco mais de um mês, eu vivia em uma fazenda junto com patos e leitões e nem imaginava que eu teria um anjo da guarda me perseguindo todo lugar que eu fosse. E pior, eu nem sabia que esse anjo da guarda é irmão da minha melhor amiga, e muito menos, antes de Jimmy morrer, foi ele, a santa alma que apareceu naquele ônibus e salvou Ana do incêndio.

Não é complicado, tipo, como se minha vida tivesse virado completamente ao avesso. Deixando tudo estranho.

Na noite passada, quando Jimmy me disse que Louise era sua irmã, eu senti todo meu corpo se arrepiar. Juro. Da cabeça até o dedão do pé.

— Louise é minha melhor amiga. — Foi o que eu disse, com uma voz chocada, na noite passada, após minha descoberta.

— Eu sei. Bom, aquele dia em que você marcou encontro com o imbecil. Eu a vi estudando. — Respondeu, fitando-me.

E nem perguntei o motivo dele não ter me dito que era irmão dela. Lembro-me apenas de sair daquela casa na correria, pegar um táxi e chegar em casa, totalmente arrasada.

Porque tantas descobertas assim? Primeiro, é o doente do Harry que me agrediu, depois é Louise que é irmã do meu anjo da guarda gatão e ele, por sua vez, salvou a vida de Ana enquanto deixava sua vida virar pó ao meio daquele incêndio.

Não preciso disso agora. Isso acabou verdadeiramente com meu alto-astral, e, sabe, eu podia estar agitando em baladas essa noite, ou curtindo um bom filme no escurinho do cinema, mas eu resolvi ir à casa do meu anjo da guarda, conhecer o ambiente onde ele viveu e me decepciono muito. Muito mesmo. Ele poderia ter me dito que Louise era sua irmã. Claro, que não vai mudar nada. Mas como ela é minha amiga, eu podia apenas dar meus pêsames a ela.

No entanto, como eu disse, em vez de estar numa balada ou algo assim, eu estava dentro de um taxi gelado, com um velho taxista tagarelando sobre os perigos de uma jovem andar por NY de madrugada e ouvindo Jazz Clássico.

É, foi uma noite perfeita, devo dizer, na ironia.

Enfim. Cheguei em casa às três da manhã e para minha sorte meu pai estava aos roncos na cama de casal e ao seu lado estava Ana, adormecida com um rosto angelical e encantador. Só me lembro de ter vestido meu pijama mais esganiçado, passado um creme nos meus hematomas e ter caído na cama e dormido como pedra.

Na segunda-feira, acordei às seis e trinta da manhã, com Ana pulando toda serelepe em cima de mim.

— Ana! — Gritei, tirando-a de cima de mim.

— Papai disse pra eu te acordar. — Ela sorriu pra mim, radiante.

Ignorei a dor nos meus braços ao pegá-la no colo.

— Pode pedir para a empregada fazer uma xícara de leite pra mim? — Beijei sua testa.

Ela saiu correndo a direção à cozinha e me deixou mais a vontade sozinha no meu quarto. Coloquei apenas um jeans claro, uma blusa de mangas longas e uma sapatilha confortável, que amenizasse a dor nos meus pés. E tenho que confessar: eu estava muito, muito cansada mesmo. Quase não parando em pé. Passei o domingo deitada, mas mesmo assim não adiantava.

E eu precisava encontrar Louise da forma mais rápida possível, por isso voei para a escola, sem tomar o café da manhã e sem qualquer possível resistência no corpo. E, quando avistei Louise perto do campo, balançando sua cabeleira castanha, gritei por seu nome:

— Louise!

Ela se virou e me olhou com seus olhos castanho claros brilhando e correu livremente na minha direção, como se eu fosse algo muito precioso.

— Oi! — Disse ela empolgada, puxando-me para o banco mais distante do gramado, longe do campo de esportes, onde alguns garotos sem camisa comemoravam um gol em gritos histéricos. —Me conte! — Pediu, quando coloquei minha bolsa sobre as costas, tentando fazer com que ela funcionasse como uma almofada.

Olhei para os lados para ver se Harry estava por perto.

— Louise... Foi um fracasso. Ele me levou para comer lagostas. — Fiz cara de nojo. — Sério, depois me levou para um mirante numa droga de rodovia abandonada e...

— Te beijou! Mas o beijo foi ruim, não é? — Os olhos dela não brilhavam mais.

— Não. Isso teria sido ótimo.

Ergui as mangas do meu casaco de tricô que havia colocado sobre minha bata e mostrei os hematomas que ele havia deixado, que estavam bem roxos por causa do frio, sobre seus olhos.

Ela arregalou os olhos e jogou o cabelo liso para trás.

— O quê?!

Acomodei-me no banco.

— Eu pedi para ele me levar embora, quando estávamos lá no mirante. Mas ele me agarrou com força, não tentando me beijar e nem nada, era de forma agressiva, e disse que queria ficar lá. Mas eu acertei o “ponto fraco” dele — fiz o gesto de aspas nos dedos — e aí ele foi embora, me largando lá. E, eu fui embora andando. Estou literalmente morta.

— Nossa, sua aparência está... Você precisa dormir. — Ela disse, desanimada. — E quanto à esse Harry, me sinto tão culpada! Tipo, claro que você se defendeu de forma inteligente, mas, me sinto culpada de ter levado ele na sua casa e ter meio que jogado ele pra cima de você...

— Não. Tudo bem, se eu não quisesse ter saído com ele, eu teria rejeitado. Mas eu queria. Quebrei a cara e aprendi a lição.

— Ele parecia tão ligado em você... — Ela passou os dedos pelas marcas roxas. — Você precisa de um médico.

— Já vai passar, Lou. — Tentei sorrir.

Na mesma hora, Harry apareceu diante de nós duas. E, eu estava me mordendo de medo dele, é claro.

Louise me olhou de modo que pudesse me alertar, sem fazer escândalo que um cara que quase me espancou estava diante de nós e correu para o outro lado do gramado, onde encontrou Elena.

— Se você está aqui para me deixar cheia de hematomas, Harry, — suspirei. — Fique sabendo que irei dar outro chute no seu testículo, se for preciso.

Ele estava bem diferente. Com uma roupa mais descolada, meio mauricinho. Seu cabelo cor de bronze que era desgrenhado e com um corte brega estava em um topete igual o de Zac Efron, que interpreta Link em Hairspray. Seus olhos azuis me fitaram — não de forma profunda, intensa e hipnotizante como Jimmy me fita. — E claro, daquela forma estranha. Doentia e macabra, devo dizer.

— Desculpe. — Disse ele. — Eu estava bêbado.

— Você só bebeu água, Harry.

Suas sobrancelhas se estreitaram.

— Não, não bebi água.

— Sim, bebeu.

— Não.

— Sim! Harry, você bebeu só água ontem.

Seus olhos ficaram furiosos. Sabe, arregalados demais.

— Escute aqui, sua atrevidinha! Se você continuar com essa insistência e duvidando de tudo o que eu digo, irei quebrar esses dois bracinhos seus, falou?

Pisquei perplexa.

— Você não pode fazer isso comigo! — Sussurrei, afastando-me dele. — Posso gritar ou dar queixa na polícia.

Ele sorriu cinicamente.

— Você não pode evitar que eu acabe com sua raça, Belatriz. Sabe, você não pode evitar que eu te mate num piscar de olhos. Nem seu chutinho idiota e nem nada do tipo.

Gelei, sério. Acho que quando ele acabou de dizer aquelas últimas palavras, meu sangue parou de correr calorosamente entre minhas veias.

— Eu posso ir à polícia, seu panaca! Posso te processar e te colocar atrás das grades por ter feito isso comigo. — Respondi, inocentemente.

— Experimente fazer isso. Experimente envolver meu nome na polícia ou com qualquer outra pessoa daqui. Irei acabar com a raça do seu papaizinho, da sua irmãzinha ou de sua querida nova amiguinha. — Sua voz era muito ameaçadora.

Quando eu ia argumentar, ele colocou suas mãos em meu pulso e me agarrou discretamente, mas fortemente. O que me fez gemer de dor.

— Cale sua boca imunda que ainda não terminei de falar! — Ele sorriu. — Você terá de fazer o que eu quiser, quando eu quiser. Porque se você não fizer nada disso, eu vou te matar. Acabar com sua raça. Entendeu? Você está sob meu comando. E nem adianta tentar sair escondida, pois eu te segui e continuarei te seguindo. Entendeu?

Ameaças. Odeio ameaças.

— Como no resto da semana estarei ausente... — Continuou — Então quero que me encontre no sábado, no nosso mesmo restaurante para um jantar romântico, meu amor. — Suas mãos apertaram meu pulso. — E se você não for, já sabe, não é?

Perplexa, balancei a cabeça de forma afirmativa. E sorrindo de modo triunfal, como se tudo estivesse em mil maravilhas, ele saiu dali e foi para o campo, apreciar o jogo que tinha ali.

E, despistando minha cara de choro e de Louise, fui parar na área restrita da biblioteca, onde os livros eróticos ficam. Claro que, eu não iria ler livros numa hora tão constrangedora como aquela. Só fui chorar de pavor num lugar tranquilo, no escuro, onde ninguém me incomodasse. Cara! Odeio chorar.

Porque esse cara agora? Tipo, eu não quero morrer. Não quero andar por aí como Jimmy Fields.

Mas, falando nele, bom, acho que preciso agradecer a ele por estar me protegendo.

Porque agora, com Harry, ele pode ser minha única salvação.


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