A Lenda de Yuan escrita por Seok


Capítulo 11
Operação Especial


Notas iniciais do capítulo

Em primeiro lugar, obrigaaaaaado de coração pelos comentários!!! Eles significam muito, muito mesmo pra mim. Fiquei bastante feliz e entusiasmado para continuar a escrever. Obrigado, de verdade!

E, a propósito, algumas coisas não tenho como passar pra fanfic, como por exemplo, o último parágrafo, porque não dá pra escrever tudo, já que é só um ''livro'', diferente do desenho, que dá pra você ver tudo direitinho como está acontecendo. Tentei, ao máximo, mostrar o antagonista, mas foi só isso que consegui.



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       Quando finalmente saí do mundo espiritual, sentia-me renovado. O universo jamais explorado filtrou meu coração e apaziguou meus pensamentos. Pude experimentar sensações jamais antes sentidas. Senti-me, pela primeira vez, como um homem, e não como um menino. Quando eu olhava para os que me eram importantes, percebia que dentro de cada um deles havia uma luz. E eu sentia que, se os protegesse, parte de sua luz se tornaria parte de mim. Não cheguei a ver Fang, e realmente queria muito vê-lo, mas ele estava em seu quarto e eu não quis acordá-lo. Contei, então, à Jinora e seu filho, Ikki e Rohan sobre tudo que acontecera no mundo espiritual. Jinora sorria, orgulhosa. Até mesmo Ikki e Rohan pareciam animados com a ideia do possível retorno do ciclo.

— Você ficou mais maduro, Yuan — afirmou Jinora. — Eu posso sentir sua energia.

— Você é capaz de fazer isso?

— Korra e eu éramos muito próximas. Eu podia sentir quando havia algo de errado, e também podia sentir quando as coisas melhoram. Com você não é diferente…

— Mas já é hora de ir — alertou Kelzang, o filho de Jinora — Precisamos ir com a polícia para a cidade vizinha.

Kelzang pôs a mão em meu ombro e olhou-me curiosamente, bem nos olhos. Disse, por fim:

— Tem certeza que está pronto?             

— Eu não vou mais fugir de quem sou. Eu vou ajudar como puder.

Parecia ser a resposta que todos ali esperavam ouvir. Então, Kelzang e eu nos viramos para sair. Eu estava prestes a cruzar a porta, quando ouvi Jinora falar algo bem atrás de mim:

— Yuan, o que torna o Avatar tão poderoso não é o fato de dominar os quatro elementos.  São suas escolhas e sacrifícios que o tornam tão admirado. Você está a caminho de se tornar um grande Avatar.

— Como você sabe?

— Não sei — disse, calmamente. — Eu creio.

— Obrigado, Jinora. De verdade.

Um sorriso quase imperceptível se formou em meus lábios. Kelzang agitou meus cabelos com a palma de sua mão e nós partimos para a Capital.

 

Todo o batalhão chegou na cidade de Abbey. Satomóveis entalhados com os símbolos da polícia e um único dirigível que serviria como base de operações e comunicação com Cidade República compunham a guarnição. Haviam, em média, vinte e cinco policiais preparados, incluindo eu e meu irmão, que não éramos tão preparados assim. Não só isso, também haviam dois bisões com três dobradores de ar em cada. Para necessitar de algo assim, com certeza algo de muito sério estava acontecendo.

Disseram-me que dobradores estavam sendo perseguidos de maneira radical, e o pânico era tanto que os próprios cidadãos estabeleceram para si um toque de recolher. Não era a ameaça igualitária que incomodava, mas também o perigo dos dobradores de fogo. Eu não conseguia compreender o porquê dos igualitários estarem trabalhando com os dobradores, mas, provavelmente, com o passar dos anos, o principal fundamento dos seguidores de Amon — que consistiam em discursos de segregação e de ódio — se perdeu no tempo. A pessoa que estava por trás das duas ameaças certamente era alguém impiedoso e, ao mesmo tempo, genial.

Shun fez amizade com alguns policiais veteranos, por isso foi no satomóvel deles. Quanto a mim, fui no que me designaram. Meus pensamentos estava extremamente enevoados. Eu decidi, sim, fazer o que fosse preciso para proteger todos os que precisassem; contudo, ainda assim, não conseguia parar de sentir medo. Talvez o medo fosse parte da experiência, e superá-lo me tornaria mais forte. Em algum ponto, isso aconteceria. Eu só não sabia exatamente quando.

A cidade de Abbey era um lugar extremamente atrativo. Não era tão avançada tecnologicamente quanto Cidade República, mas haviam construções belas, tradicionais, que concediam um ar rústico à cidade. A maioria dos telhados eram recurvados, como nos tempos antigos, e havia um arco de bambu e uma placa escrita: Bem-vindo.

A cidade, entretanto, estava quase deserta. Não se via ninguém pelas ruas — pudera, afinal, todos estavam com medo dos igualitário e dos dobradores de fogo. Acredito que ninguém gostaria de ser capturado ou coisa pior. Eu pude sentir uma energia estranha por lá, como se o medo pairasse no ar, o que me deixava bastante desconfortável. Não havia espíritos em lugar algum, diferente da Cidade República.

O dirigível ancorou em uma planície vasta e lá formamos nosso acampamento. Levaram algumas horas até que o acampamento inteiro estivesse de pé, com a devida vigilância e as tendas montadas. Erguemos tudo ao redor do dirigível, de forma que todos tivessem igual acesso a ele, e, diga-se de passagem, eu adoraria ficar lá durante toda a viagem. Era extremamente espaçoso, tão grande quanto uma casa, e Beifong me disse que foi em um desses que Korra e seus amigos partiram em busca dos dobradores de ar quando foram descobertos após a Convergência Harmônica.

O céu estava em um tom alaranjado, repuxado para o escuro, em um típico fim de tarde. O sol projetava uma sombra fraca no acampamento e as luzes da cidade começavam a acender. Era possível vê-las à distância, já que nossa estalagem ficava em uma área fora da cidade, mas perto o suficiente para policiá-la. Era como aqueles banheiros de madeira que ficam do lado de fora da casa, sabe?

Um par de viaturas foi fazer uma ronda pela cidade, meu irmão quis ir, mas quando Beifong disse que iria me ajudar com alguns treinos, ele imediatamente mudou de ideia. ‘’Se o Yuan consegue, eu também consigo.’’, disse. Nos reunimos, então, em uma parte do acampamento que fora exatamente modelada para isso. O próprio Beifong usou sua dominação para moldar o relevo, de forma que ficasse parecido com uma área de treinamento.

— A dominação de metal é uma técnica de alto nível de dobra de terra — começou Beifong. — Ela consiste em dominar os pequenos fragmentos de terra presentes no metal e utilizá-lo à sua disposição.

— Parece simples. — eu disse.

Tao lançou-me um olhar frígido, alternando sua atenção entre meu irmão e eu.

— É simples, desde que você seja bom. — acrescentou Shun.

— Exatamente. — concordou o chefe.

Ele entregou uma rocha metálica para Shun e eu. Disse, então, que ela era muito mais fácil de dominar do que o metal comum e que servia para dobradores iniciantes.

— Fechem os olhos. — disse. — Concentrem-se no metal.

Tanto eu quanto Shun obedecemos. Eu levantei uma das mãos diante da rocha, como se ela fosse uma bola. Tentei me concentrar em cada grão de terra existente ali.

— Tentem focar apenas nos pequenos pedaços de terra dentro do metal.

Eu não consegui. Permaneci cerca de trinta segundos de olhos fechados. Fiquei frustrado e acabei abrindo os olhos. E, quando o fiz…

— Bom trabalho, Shun.

Sua pedra metálica estava como lava resfriada, com uma forma engraçada. Meu irmão estava sorrindo e me lançou um olhar desafiador. Acabei fechando a expressão.

— Você aprendeu muito rápido, irmão…

— Eu sei. Sou o melhor em tudo que eu faço.

— Não se engane, rapaz. Você está longe de se tornar um mestre na dobra de metal. Mas é um excelente começo, de fato. Continue tentando, Yuan.

 

                                                                    [...]

O anoitecer chegou. E não foi tão bom quanto esperado. Passei o restante da tarde treinando, mas não obtive sucesso na dobra de metal. Estava fatigado, fisicamente e psicologicamente. Beifong, então, me ensinou alguns movimentos avançados de dobra de terra. Disse-me que começaria a treinar minha capacidade de percepção através do solo, algo herdado de Toph Beifong. Não foi um desafio muito grande para que eu aprendesse novos movimentos; o chefe disse que eu era um excelente dobrador de terra, mas muito tímido e não colocava energia nos meus golpes. Depois, satirizou dizendo que eu deveria ser um dobrador de ar (o que é estranho, porque eu sou também), e falou que provavelmente eu pegaria muito fácil, porque já tenho um ‘’jeito de florzinha.’’ Foi o que ele disse. O engraçado foi que Kelzang ouviu esse comentário e fechou a expressão. Juro que seu rosto ficou um pouco vermelho, mas ele segurou seja lá o que tinha para dizer.

Saí para um passeio noturno, e coisas estranhas aconteceram.

A noite sempre foi meu momento preferido do dia. Eu olhei sobre a cobertura densa da floresta, meus olhos verdes buscando pelas estrelas brilhantes, mas vendo apenas seu brilho difuso através das nuvens grossas e galhos escuros. Conforme eu me afastava do acampamento montado, as árvores estavam se juntando, negras e cobertas em lodo, seus galhos estavam como membros tentando alcançar o céu.

 

Eu não conseguia mais ver o caminho, minha rota em frente estava obscurecida por ervas daninhas e trepadeiras. Espinhos soprados pelo vento arranhavam minhas vestes, e fechei meus olhos enquanto senti uma memória despertando dentro de mim.

 

Uma memória, sim, mas não de mim mesmo. Isso era algo além, algo tirado de meu interior, como se de alguém que veio antes de mim.

 

Quando abri os olhos, uma imagem brilhante de uma floresta sobrepôs a mata fechada à minha frente. Vi as mesmas árvores, mas em uma época diferente, de quando elas eram jovens e frutíferas e quando o caminho entre elas era regado à luz e ciliado por flores selvagens.

 

Eu nunca havia visto uma floresta assim. Eu sabia que estava vendo um eco do passado,  mas os odores de madressilva e jasmim eram tão reais quanto qualquer coisa que eu já havia experimentado.

 

Vi, então, uma silhueta espectral, que mostrava-me o caminho pela floresta ancestral. E eu a segui.

 

Ela levou-me por entre árvores murchas que cresceram demais e que já estavam mortas há muito tempo. O caminho subia pelas ladeiras da montanha rochosa e passava por pinheiros retorcidos e abetos selvagens. Ela cruzava os córregos da montanha e continuava ao redor das ladeiras antes de levar-me a um planalto rochoso com vista para um vasto lago de água escura e gélida.

 

No centro deste planalto estava um círculo de pedras elevadas, cada uma gravada com espirais circulares e símbolos curvos. Haviam quatro símbolos entalhados em formas das Quatro Nações, e eu soube que havia chegado ao lugar certo.  

No entanto, minha pele se arrepiou com uma sensação de antecipação febril, uma sensação que eu associava com o perigo; a mesma que senti no mundo espiritual. Eu não sabia como, simplesmente era capaz de sentir. Ciente, eu me aproximei do círculo enquanto meus olhos procuravam por ameaças. Não vi nada, mas sabia que algo estava ali, algo muito hostil e, de algum modo, familiar. Não iria fugir de outra vez.

Eu os senti antes que os visse.

Uma repentina queda na pressão. Uma mudança na temperatura do ar.

Eu fiquei em pé enquanto os espaços entre as pedras foram divididos. O ar se retorceu e um trio de feras berrantes investiu contra mim a uma velocidade feroz; carne de marfim, carapaças brancas como ossos de armaduras segmentadas e garras de aço.

Espíritos tomados pelas trevas.

Eu mergulhei abaixo de uma mandíbula fechando com dentes que pareciam ébano polido, levantando um jogo de espinhos de terra que cravaram-se sobre o corpo da criatura, deixando-a imóvel. A criatura caiu e sua ferida emitia um brilho celestial. Espíritos não morrem, pensei para mim mesmo. Eles assumem novas formas. Os outros os outros circulavam-me como um bando de caçadores, agora cientes de minha dominação. A criatura que eu ‘’matei’’ agora emitia uma luz mais forte de sua ferida, até finalmente desaparecer.

Eles avançaram novamente, um de cada lado. Sua cor já estava escurecendo em um tom roxo, sibilando na atmosfera hostil deste mundo. Eu saltei sobre a fera mais à esquerda e chutei o ar duas vezes, disparando dois projéteis flamejantes contra o espírito das trevas.

Ele desviou-se em alta velocidade e, quando eu estava prestes a cair, uni os braços e os alavanquei de baixo para cima, erguendo uma rampa abaixo de mim que fez com que eu deslizasse. A besta avançou novamente, e eu dei um forte pisão no solo, de modo a erguer dois pilares de terra abaixo da criatura, atirando-a pelos ares. Não hesitei em, ao vê-la rodopiar nas alturas, em disparar uma rajada de fogo que a atravessou, deixando faíscas brilhantes desprenderem-se de seu corpo púrpura. Um ferimento letal pode fazer com que espíritos desapareçam, mas por pouco tempo. Eles, normalmente, assumem novas formas, como animais.

A besta explodiu de dentro, liberando partículas brilhantes pelo ar. No entanto, não fui rápido o suficiente para defender-me da outra. As garras afiadas entraram no aço de minhas ombreiras e me carregaram. Ele arranhou-me com suas garras afiadas, e eu gritei, quando o frio anestesiante se espalhou pela ferida. Meu corpo foi atirado deliberadamente até ser parado por uma das árvores em um baque surdo. ‘’Uff!’’

Aquele espírito era mais forte que os outros, e também maior e mais rápido. Não pude mover um de meus braços, tudo que senti foi um líquido quente por dentro do meu uniforme da polícia. Sangue, pensei. Mas não havia tempo a perder. Em meu mundo, eu era capaz de enfrentar os espíritos. Lembrei-me do que Beifong dissera: se você não atacar, seu oponente irá te esmagar. Não dê essa oportunidade a ele! Ataque como se quisesse quebrar uma pedra.

Não havia tempo para me preocupar com o bem estar daqueles espíritos. Dado suas expressões, estavam prontos para me reduzir a estilhaços. Braços laminosos se desdobraram e se refizeram em um misto de ganchos e garras. Carne anormal fluiu como graxa para vedar o ferimento aberto por um de meus projéteis de fogo quando os lancei.

A criatura investiu contra mim.

Fechei os punhos e deslizei os pés pelo chão. Um soco para frente, subindo em um movimento brusco para baixo e para cima com os dois punhos. Diversos espinhos de terra ergueram-se do chão, como um deslizamento para cima, e o espírito saltou.

Oportunidade perfeita.

Ele estava preparado para me reduzir a fatias se eu não agisse.

Girei ao redor de meu próprio eixo, cerrei os punhos e desferi um soco brutal no vácuo, mirando no espírito. Um jorro poderoso de chamas foi formado, voando e projetando um clarão na noite direto contra a besta que estava pronta para me dizimar.

A fera destruiu-se em uma detonação de luz, seu corpo foi totalmente desfeito pelo seu golpe. Sua pele derreteu na noite, deixando-me sozinho na planície, meu peito agitando-se com esforço para respirar.

Espíritos não morrem, eles assumem novas formas, repassei mentalmente. Não tinha o porquê de me sentir mal pelos espíritos. Diferente das histórias que ouvi do Avatar Aang, ele era do tipo pacifista e não destruía nada. Korra, por outro lado, era o oposto: ela sempre atacava para vencer. Talvez eu tivesse herdado um pouco das características de cada um.

Eu pisquei e vi imagens póstumas de uma cidade que ecoava com um ermo, onde já havia pulsado com vida. A tristeza me tomou, apesar de nunca ter conhecido este lugar, mas mesmo ao lamentar por ele, a memória esvaneceu e eu voltei ao normal.

As criaturas se foram e as pedras no círculo brilharam com linhas de luz prateada. Livre do toque daquele lugar odioso do outro lado do véu, seu poder reparador penetrou na terra. Eu senti ele se espalhando no lugar, carregado por pedra e raiz, até a própria ossada do mundo.

Eu sentei-me no chão, na posição de lótus. Senti que era o certo a se fazer. Fechei meus olhos e respirei fundo. Concentrei-me em toda a energia daquele lugar. Meditar para mim era tão fácil, diferentemente da dominação. Ouvi dizer que muitos avatares possuem mais facilidade em um lado: o espiritual ou o da dominação. Acredito que no meu caso era o espiritual. Tentei apaziguar meus pensamentos e refrescar minha mente. Foquei nas imagens que eu havia vislumbrado, pois, afinal, elas significavam algo. Existia muita energia espiritual emanando daquele lugar. Algo estava muito certo, ou muito errado. Tinha a absoluta certeza de que as miragens eram reflexos de coisas que algum Avatar anterior à mim havia visto, ou vivido. E ele estava tentando me alertar de alguma coisa, agora que meu elo com o ciclo estava reestabelecido.

                                                                      …

‘’Yuan, então, teve vislumbres de um passado distante. Uma antiga inimiga, a Princesa Azula, foi o principal foco de suas visões. Ele estava conectado com visões do Avatar Aang, que tentava lhe alertar de algo, assim como fizera com Korra, anos atrás. O Avatar Yuan não pôde reconhecer a garota cujo os olhos eram tão frios quanto a noite gélida que lhe abraçava.

Ela era perigosamente bonita, mas não de um jeito bom; seus olhos dourados fizeram com que Yuan hesitasse em permanecer em meditação. Ele, de algum modo, sabia que a garota que via era uma antiga inimiga; inimiga, mas não dele, e sim de uma vida anterior. Era igualmente ameaçadora. Apesar de jovem, sabia que não estava vendo uma antiga realidade por um simples acaso.

Havia descoberto nos sonhos e visões algo muito além disso. Aprendeu que, para Avatares, os sonhos não eram apenas sonhos, e visões não eram apenas visões: eram recados, tentativas de comunicações. E aquela era extremamente clara, pois viu um dos episódios da vida de sua vida passada. A Princesa Azula, da Nação do Fogo, acertara um menino dobrador de ar pelas costas com um raio. E ele despencou em direção ao chão, apagado. Uma jovem de cabelos negros e pele escura o resgatou da queda, usando uma onda para se locomover, e o salvou. Estavam cercados por todos os lados por agentes Dai Li.

O corpo de Yuan suava com a visão, ainda que estivesse frio. Apesar de ser apenas um fantasma do passado, pôde sentir a dor do choque, tão vívida e real quanto todas as outras coisas que já experimentara.’’

                                                                         

Eu saí da meditação em um sobressalto, como se tivesse passado horas sem respirar. O frio da escuridão noturna me envolvia sutilmente. Ainda estava sozinho, embora não soubesse exatamente quem o quê acabara de ver. Levantei-me, então, e segui de volta para o acampamento.

Pude ver, no caminho, fontes de água ficando prateadas com a luz da lua. Olhei sobre a cobertura densa da floresta, meus olhos verdes buscando pela lua, mas vendo apenas seu brilho difuso através das nuvens grossas e galhos escuros. A floresta estava novamente como eu a encontrara. Se meu inimigo era mesmo tão perigoso quanto àquela menina que eu vira na visão, eu precisava agir.

   

                                                                                    ...

— O Avatar chegou à Abbey, senhor, como fomos informados.

— Ótimo.

— O que faremos?

— Está na hora de começar nosso plano. Tomaremos Cidade República e, depois, o Reino da Terra. E, por fim, marcharemos à Nação do Fogo, para reconquistar o que é meu por direito. Uma nova ordem mundial começará, meu caro. Uma era de um mundo homogêneo, de dobradores de fogo e igualitários. Eu asseguro: não haverá desigualdade.

Nos sádicos sádicos de Scar, um sorriso fez-se presente por breves instantes até desmanchar. Suas ávidas palavras mostraram-se extremamente convincentes, capazes de ludibriar até as mentes mais preparadas; um mentiroso nato — um manipulador nato. Estava certo de que não dividiria sua glória, seu poder, com os igualitários. Os não-dobradores seriam mantidos por perto apenas enquanto fossem úteis. Depois disso, de nada lhe serviriam: seriam eliminados, afinal, é para isso que os peões servem.

E os igualitários em conjunto dos dobradores de fogo saíram das sombras em Cidade República. Como moscas, o chefe de polícia e o Avatar foram atraídos para fora da cidade. Scar estava prestes a dar sua cartada final e, como um gênio, tomaria Cidade República primeiro. Os exércitos não seriam páreos para a força da tecnologia que possuía: pistolas que disparam energia espiritual, tais como foram utilizadas por Kuvira, anos atrás. Cidade República não seria tão difícil de se tomar: primeiro, o presidente. Depois, derrubar qualquer um que colocasse no caminho. O líder ainda operaria das sombras; no fim das contas, não poderia estragar seu disfarce perfeito.

Fora tão inteligente e paciente que suas forças estavam infiltradas nas Forças Unidas, aguardando o comando de agir. Fora um processo que levara anos, mas, finalmente, estava prestes a colher os frutos. A cartada perfeita. Tomando Cidade República e as Forças Unidas, poderiam marchar à Nação do Fogo.

O laço entre ''Scar'' e as visões de Yuan permanece desconhecido. Entretanto, informações continuam a vazar; não obstante, apenas membros de alta graduação do Lótus Branco e os Mestres do Ar sabem sobre todos os planos do Avatar. Quem seria, afinal, o responsável por isso tudo?


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