Agridoce escrita por Calpúrnia


Capítulo 1
"Estou em um amor ruim..."


Notas iniciais do capítulo

Olá, olá! E cá estamos nós de novo. Como me livrar desse casal maravilindo de incrível? Não consigo. E dessa vez uma parte que eu sempre quis escrever, mas nunca cheguei nem a tentar. Dessa vez fiz e consegui. Não sei exatamente se era o que eu queria, mas eu gostei bastante de fazer. Apesar de ter muitos erros, "The Last" foi um bom filme; gosto dele. E eu realmente queria falar sobre o momento em que o Naru se declara e a Hina vai embora. E como a boa dramática que sou, isso aqui saiu mais dark do que deveria, acredito eu. De qualquer forma espero que gostem.

Eu recomendaria ouvir a música "Comfortable Love" do Keaton Henson, e até deixaria um link aqui, no entanto não encontrei nenhum vídeo no YouTube. Bom, vou recomendar de qualquer jeito.

Sem delongas, boa leitura!



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“AGRIDOCE”

Capítulo Único

Escrito por G. de Oliveira

 

“Amamo-nos com um amor que era mais do que amor.”

(Edgar Allan Poe)

 

O céu noturno era belíssimo, ele não seria capaz de negar. Os vaga-lumes davam mais cor ao local escurecido. No entanto, o que Naruto estava mesmo observando era ela: Hyuuga Hinata. Seus longos cabelos azulados brilhando e a postura ereta que provavam a elegância e o porte da princesa que era ela. Os olhos perolados estavam focados no cachecol vermelho em suas mãos. Ele, então, percebeu como ela ficava linda tão séria e concentrada — mesmo que não houvesse realmente um momento no qual ela não estivesse linda.

Olhando-a assim, tão quieta, ele pensava em como ela estava se sentindo. Com o sequestro de Hanabi, ele sabia que seu coração estava partido. Apesar de ser uma situação diferente, Naruto sabia a aflição que era não conseguir salvar uma pessoa tão importante para si; conheceu esse sentimento quando Sasuke foi embora de Konoha e em como foi difícil assisti-lo tão distante. De alguma forma, o loiro só queria trazer Hanabi de volta o mais rápido possível.

Até então, ele não conhecia Hinata totalmente, no entanto, naquela missão, ele começou a perceber como os Hyuuga realmente são. Agindo friamente, discretos, escondendo suas sensações, sentimentos e tentando ao máximo não se deixar levar por algo que fosse banal. E como ele detestava esse lado. Sendo o hiperativo que era, não conseguia ficar quieto, não conseguia simplesmente ignorar o que sentia. Talvez por isso estivesse ali, observando a linda mulher que Hinata é e tentando encontrar um jeito de dar força a ela como a mesma já havia feito com ele muitas vezes antes.

Aquele jeito Hyuuga de ser fazia com que Hinata agisse de forma fria e ele sabia disso. Odiava quando isso acontecia, porque o brilho dos olhos perolados sumia e tudo que ele mais queria era que ela brilhasse como o Sol, afinal de contas, ela era um lugar ensolarado. Hyuuga Hinata era o lar que ele sempre procurou para si e constatar isso era novo ao mesmo tempo em que assustador e incrível. Observando-a dali, ele só conseguia pensar em vê-la sorrindo de novo, em ouvir aquele riso doce e suave que só ela tinha. O cheiro de canela que estava em sua pele.

Faça algo, seu idiota! Retribua o que ela fez por você!

Seus pés estavam travados ali, tentando tomar impulso para chegar até ela. Hinata tricotava com rapidez e ele ficou imaginando se ela não estava cansada de tanto fazer isso. Ficou imaginando o tanto de trabalho que deu para fazer isso da primeira vez, e então ver o tecido ser destroçado diante de seus olhos por causa daquele louco da Lua. Inclusive, Naruto detestava Toneri, uma pessoa que ele adoraria dar uma surra, ainda que não fosse o melhor método para se resolver uma situação.

Respirou fundo e recorreu ao seu lado impulsivo, aproximando-se de Hinata. Percebeu que ela havia terminado de tricotar o cachecol no momento em que ele ficou de frente com ela. A morena parecia cansada, inclusive suas mãos tremiam um pouco. No entanto, nada mais estava tão evidente quanto sua tristeza com a situação. Naruto queria somente explodir a droga de cara de Toneri e devolver Hanabi para Hinata o mais rápido possível.

— Eu sou uma péssima irmã. — ela murmurou chateada. — Hanabi foi raptada e eu aqui, tricotando.

Hinata usava um tom de melancolia misturado com uma mágoa que, ele tinha certeza, era direcionada a si mesma. Vê-la daquele jeito cortava o coração do Uzumaki mais do que ele gostaria. Doía muito ver os lindos olhos perolados tão tristes e desesperados. E era por doer tanto que ele lutava todos os dias para manter a paz no mundo shinobi; não gostaria de ver tanta tristeza e desespero assim nunca mais na vida.

— Nós vamos trazer a Hanabi-chan de volta, ‘ttebayo. É uma promessa e eu cumpro com a minha palavra! — ele disse, tentando soar o mais animado possível.

Ela, então, ergueu o olhar e tentou sorrir da melhor forma possível. Era um sorriso quebrado, doído, e de longe o menos favorito de Naruto. Ele sabia o que ela estava fazendo, sabia que estava tentando soar uma pessoa com esperança, mas não poderia engana-lo. Não, ele não.

— Você é tão gentil, Naruto-kun. — disse docemente. — Muito obrigada por se preocupar com Hanabi.

Ele sorriu, envergonhado. — Eu não estou falando isso porque gosto de você ou algo assim. Eu estou realmente preocupado com a Hanabi e...

— O que disse? — disse ela, um tanto surpresa e chocada, com os olhos perolados voltando ao brilho habitual.

De alguma forma, ver aquela faísca renascendo nos olhos perolados o deixou extasiado. Queria que crescesse e se expandisse até explodir em milhões de constelações e galáxias e estrelas naqueles olhos que ele tanto aprendeu a amar.

— Eu disse que estou preocupado com...

— Não. Antes disso. — ela murmurou, tentando encontrar um indício de que estava louca.

Naruto relaxou, deixando que um sorriso sincero e doce surgisse em seus lábios. Era estranho, porque estava se sentindo seguro, tinha certeza de seus sentimentos e sabia que não precisava hesitar em dizer às palavras que tanto desejou dizer um dia a alguém, e sabia que ela era a pessoa perfeita para ouvir tais palavras.

— Hinata. — chamou-a, fazendo-a prestar ainda mais atenção nele. — Eu te amo.

Ele observou como os olhos perolados brilharam e se arregalaram mediante a surpresa. Os lábios rosados e finos tentavam liberar algumas palavras, no entanto ela parecia em choque sem conseguir pronunciar nenhuma palavra. Naruto esperou pacientemente que ela dissesse algo, qualquer coisa.

Foi então que tudo aconteceu.

A terra sob seus pés tremeu e ele teve medo do que poderia acontecer, por isso acabou entrando em posição de ataque. E eis que Toneri aparece. Naruto não sabia por que, mas tudo nele o incomodava: o sorriso presunçoso, a voz mansa típica de um demônio, aquela postura de quem se considera o dono do universo. Portanto, tudo.

— Hinata. — chamou Toneri. — Vim saber sua resposta.

— Que resposta? — berrou Naruto, irritado. — Ela não tem nada para falar com você.

— Estou falando com ela. Cale-se. — disse antes de virar para a Hyuuga novamente. — Então, Hinata. Estou ansioso para nosso casamento.

Naruto estacou surpreso. Casamento? Tinha certeza de que estava louco, só poderia ter ouvido errado. Era uma alucinação? Virou-se para Hinata que se mantinha de cabeça baixa, não o olhava de jeito nenhum, mas ele sabia que ela sentia seu olhar sobre si. Queria que ela dissesse algo, queria que negasse aquela blasfêmia que Toneri estava proferindo sem nenhum cuidado. Queria tanto que ela dissesse que era mentira. Queria muito que ela desse uma surra naquele idiota.

— Hinata?

E ela não respondeu. Continuou com a cabeça baixa. Um minuto se seguiu em total silêncio até que ela se mexeu, erguendo a cabeça ainda que não olhasse nem para Naruto nem para Toneri. Simplesmente usou sua melhor postura como dona da situação, decidida e irredutível, e então se aproximou de Naruto apenas o suficiente para que pudesse entrega-lo o cachecol vermelho. Sem entender o que estava acontecendo, o Uzumaki estava prestes a puxa-la pelo braço quando ela continuou andando até chegar a Toneri.

E foi assim que ele entendeu. Mas mais do que tudo, doía muito. Seus olhos estavam arregalados, o coração batia tão rápido que lhe parecia que sairia voando do seu peito sem sua permissão. Suas mãos começavam a tremer de medo, angústia e uma saudade que ele sabia que sentiria. E, um pouco mais fundo, sentiu raiva. Era um sentimento de ruim se sentir, ainda que sentisse. Raiva de si, de Hinata, porém em especial de Toneri. Como ele poderia se atrever a tirar Hinata dele? Por que estava levando-a embora? E pior do que isso: por que havia escolhido ir com ele? Por que ela escolheu o esquisito? O que era aquele dor que ele sentia em seu coração que agora estava em milhões de milhões de pedaços?

— Hinata... O que está fazendo? — ele murmurou ainda tentando traze-la de volta.

Então, ela se virou para ele. A postura Hyuuga, postura de uma líder, aquela que aprendeu com seu pai. Olhou-o com frieza e não gaguejou entre nenhuma das letras.

— Adeus, Naruto-kun. — sussurrou firme antes de abraçar Toneri e se deixar levar por ele.

Não, não, não. Isso não está acontecendo.

Naruto ficou estático observando enquanto Toneri levava Hyuuga Hinata embora. Ela não se mexeu, não tentou impedi-lo; simplesmente se foi. Mesmo que quisesse negar a si mesmo que ela estava fazendo aquilo, não conseguia. Mas não deixaria que tudo terminasse daquele jeito, jamais permitira que a tirassem dele mais uma vez. Não, não mais uma vez.

Por isso, voou até eles. Fez o que pôde para alcança-los. Ele jamais permitiria que Hinata fosse embora de novo. No entanto, não estava concentrado o suficiente e por isso foi fácil para Toneri derrota-lo e arrancar até a última gota de seu chakra, e não havia nada que Kurama pudesse fazer por ele. Ele mesmo não se encontrava na condição de fazer algo, nem por si nem por ela nem por ninguém.

E doeu. Ah, como doeu. Conhecia a dor da perda, aprendeu quando soube que Jiraya havia morrido. No entanto, era diferente dessa vez. Seu coração estava partido. Claro que não sabia se ainda era correspondido por ela, mas manteve a chama da esperança dentro de si de que ela ainda o amasse. E, no fundo, ele sabia que sim, porque aquele olhar doce e amoroso ainda estava lá, toda vez que ela o olhava, mesmo que de longe. E ainda assim, isso não evitou que seu coração se quebrasse em mil pedaços, porque vê-la fazendo aquilo, dando adeus, era doloroso demais. Ele queria tanto que fosse só um genjutsu.

Enquanto caía e sentia todas as suas forças se esvaindo, ele via Toneri carregando Hinata para longe dele. Naruto queria rir de sua situação, sempre dizendo que jamais permitira que a tirassem dele de novo, e mesmo assim, lá estava ele. Quebrado, perdido e com dor, muita dor.

Como as coisas acabaram desse jeito? Como?

A única certeza de que ele tinha era de que seu coração doía e ele sabia que não haveria cura para isso, afinal de contas, a única pessoa que poderia remendar aqueles pedaços estava bem longe de si.

[...]

Em alguma parte longe de si, ele conseguia ouvir as batidas fracas e sofridas de seu coração. Doía bastante, mais do que ele pensou que seria, porém seu peito era aliviado por alguma energia boa. Provavelmente Sakura tentando fazer algo com aquele ser inútil que ele havia se tornado com imensa facilidade. Não queria abrir os olhos — e muito seja verdade que ele nem ao menos conseguia. E mesmo que pudesse, não o faria. Sentia-se destruído, magoado e destroçado. Só conseguia pensar nos olhos perolados e a frieza com que disseram adeus a ele.

O que diabo aconteceu comigo? Com ela? Por favor, que não seja real. Por favor.

Seu corpo todo doía, a cabeça pesava muito mais do que deveria, e nada disso o incomodava tanto quanto aquela dor no peito. Coração partido, então. Era isso que Sakura sentia então. Pela primeira vez estava entendendo os sentimentos da amiga com relação à Sasuke. Era uma dor insuportável, algo que o fazia querer gritar, chorar, espernear até se cansar. Como Sakura aguentou aquilo por tantos anos? Como ela conseguiu lidar com tudo aquilo sozinha?

Isso não pode estar acontecendo. Hyuuga Hinata destruiu meu coração.

[...]

Continuava sonhando com a mesma cena de novo e de novo. Ela o olhava, dizia adeus e então ia embora. Parecia que havia um buraco enorme em seu peito e, a cada vez que se lembrava da cena, sentia sangue escorrendo por ele. O que ele poderia fazer para parar com aquela dor? O que ele faria para controlar aquela dor insuportável que insistia em destroça-lo aos poucos sem dó nem piedade?

Queria pedir para Sakura fazer algo, mas ele sabia que ela não poderia fazer, porque a dor não era física. Era algo em sua alma, seu coração, e esse tipo de dor não se cura com um ninjutsu médico. Isso ele havia aprendido em algum ponto de sua vida, havia aprendido que, na verdade, essa dor não se apaga. Seria obrigado a conviver com ela até o momento em que parasse.

Naruto sentia medo, porque ele não sabia se seria capaz de aguentar menos ainda de superar. Amava aquela Hyuuga mais do que tudo e ama-la estava doendo muito mais do que o previsto. Como ele queria levantar dali, ir atrás de Toneri e quebra-lo inteiro e então levar Hinata para casa. No entanto, quando aqueles olhos perolados frios se prostravam diante dos seus, ele hesitava na ideia. Ainda que fosse aquela postura típica dos Hyuuga, ele estava incerto. Realmente, só queria acreditar que era mentira, queria muito que, quando abrisse os olhos, ela estivesse ali ao seu lado.

Eles sempre tiveram uma conexão muito forte, e ele sempre foi capaz de saber o que ela sentia, assim como ocorria com ela. Mas, de repente, ele não conseguia senti-la, não conseguia alcança-la como geralmente o fazia com tanta facilidade. E assim, a cena se repetia mais e mais, e ele só pensava em berrar por ela, pedir que não fizesse isso e para que voltasse urgentemente.

Por favor, Hinata, não faça isso. Não faça isso, droga!

Era um inferno aquela repetição maldita. Como sairia daquilo? Porque se fosse algo feito pelo Sharingan, seria tão fácil. No entanto, aquilo era resultado de um coração partido e esse tipo de dor não se eliminava. Teria de senti-la em sua pureza para que entendesse.

O cheiro de canela ainda estava impregnado em si, assim como a risada doce dela e sua voz em seus ouvidos. Ainda conseguia visualizar a forma com que ela ativava o Byakugan e se concentrava no ambiente em que estava. Via também a forma com que ela explicava algo que ele não entendia de forma calma e paciente, e ele adorava aquela delicadeza. E tudo isso doía, porque ele tinha a terrível sensação de que não veria nada disso mais em sua vida.

Além do coração partido, ele sentia saudade dela. Sentia saudade da delicadeza de suas mãos pequenas e pálidas, da forma com que falava sempre calma e serena e o jeito concentrado. Sentia falta de seu cheiro, daqueles cabelos sedosos e cheirosos balançando com o vento. Sentia falta daquele nariz arrebitado que ela tinha, e forma com que seus lábios se repuxavam lentamente quando sorria. Sentia saudade de como ela sempre se mostrava interessada em tudo que ele dizia mesmo que fosse uma grande besteira. No entanto, o que mais sentia falta era de seus olhos perolados, aqueles dois orbes que o passavam segura, paz e uma sensação tão forte e quente para seu coração.

Eu a amo. Por que doí tanto?

Ele sabia que havia sido um burro, mas ele era assim. Tapado, sempre se distraía demais e acabava se esquecendo das coisas, mesmo as importantes. E foi assim que deixou Hinata de lado, aproveitando a presença dela sem dizer o que realmente sentia. Só então ele começou a entender o sofrimento dela. Diante desse fato, teve certeza de que aquela dor que estava sentindo era bem pouco, porque, ele sabia, merecia tudo isso. No final das contas, Hinata havia passado por muito pior e sempre sorria para ele, sempre era gentil e doce, mesmo ele sendo um idiota completo.

Eu queria dizer que sinto muito. Só queria que você soubesse disso.

O fato de não poder dizer nada era o que deixava aquele gosto amargo em sua boca. O gosto de perdê-la, de novo.


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Notas finais do capítulo

Uau. Realmente uau. Muitos sentimentos. Assistir The Last é uma coisa muito louca, porque vejo muitos erros, mas ao mesmo tempo eu amo tanto, especialmente porque o Naru começa a experimentar sentimentos que ele não conhecia. O amor romântico, coração partido, saudade, a sensação de ser um tapado... Coisas assim. Talvez seja por isso que eu ame tanto a essência do filme.

Eu acho que, no texto, pode soar que o Naru sente raiva da Hina, mas não é. São coisas demais. Ele nunca sentiu aquilo, nunca teve o coração partido desse jeito. Sim, ele perdeu muitas pessoas, mas é completamente diferente, são dores diferentes, por isso ele se desesperou e não soube o que fazer com aquilo. Tadinho. Mas deu tudo certo no final.

É tão gostoso escrever essas one-shots. É uma sensação muito boa. Espero que tenham gostado. Quero agradecer desde já a quem leu. Espero vê-los em outras oportunidades.

Até mais! ♥ ♥ ♥



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