Aquele parecia ser apenas mais um sonho comum, igual aos outros que Ron tinha quase todas as noites. Ele estava quatro ou cinco anos mais velho e levantava o mais alto que podia uma taça de quadribol com ambas as mãos. Havia sido o grande jogador da final e todos gritavam animadamente o seu nome pela comunal, enquanto Fred e George o erguiam sobre seus ombros.

Quando retornou ao chão, ainda extasiado por tanto reconhecimento, mal teve tempo para pensar em qualquer coisa quando reparou em uma uma garota muito bonita, que lhe parecia um pouco familiar, empurrando todo mundo em seu caminho para chegar até ele e, assim que conseguiu, lhe deu um abraço apertado.

— Foi incrível, Ron! Você é o melhor jogador de quadribol do mundo!

— Nah, isso o meu irmão Charlie que sempre foi, eu só faço o melhor que posso… — Ele esbanjava humildade, embora concordasse com a jovem de cabelos encaracolados à sua frente.

— Ela diz isso, mas não entende nada de quadribol… — Harry resmungava de nariz torcido ao seu lado, ele também fazia parte do time e todo o tempo esteve feliz pelo bom desempenho do amigo, portanto seu descontentamento repentino deveria ser puro ciúme.

— Não precisa de tanta modéstia, você agora é uma lenda viva na Grifinória! E mais do que isso, você é o meu herói!

A sua fã nem esperou que ele esboçasse alguma reação e, lançando os braços ao redor de seu pescoço, o beijou lenta e apaixonadamente. Naquele momento, todo o ruído da comunal pareceu se transformar em silêncio e ele só pensava em como era um cara de sorte enquanto se deliciava com aquela demonstração de afeto, que parecia se iniciar em seu coração e terminar diretamente nos seus lábios.

Ao terminar o beijo, os dois apoiaram as testas uma na outra, se recusando a sair daquele caloroso abraço e logo começaram a rir nervosamente, esquecendo-se até mesmo que estavam cercados por uma multidão que os encarava, pois naquele momento apenas seus olhares fixos um no outro pareciam importantes e dignos de atenção. O ruivo já estava prestes a beijá-la mais uma vez, quando finalmente aquele rosto familiar se tornou reconhecível para ele.

— GRANGER?!

O grito de surpresa foi dado pelo próprio Ron primeiranista, ainda meio adormecido, que se sentou na cama bastante aliviado ao constatar que foi apenas um sonho. Estava arfando, devido ao susto, e preocupado de que mais alguém o tenha escutado ao gritar aquele nome. Espiou em volta e todos ainda dormiam tranquilamente, inclusive Harry, mesmo murmurando algo incompreensível durante o sono.

Após prometer a si mesmo que ninguém jamais saberia daquele sonho, que era extremamente vergonhoso para um menino de onze anos, voltou a se deitar. Mas não conseguiu dormir tão cedo, então resolveu ocupar sua mente com outras mil coisas, na tentativa de se esquecer o mais rápido possível daquele pesadelo. Ele nem imaginava que não seria tão fácil assim esquecer aquele sonho e muito menos que aquela menina insuportável algum dia daria um jeito de se intrometer até mesmo no seu coração!

Foi só o começo...