The man that's never grown up escrita por Maga Clari
Todas as crianças crescem.
Exceto uma.
Mas não estou falando de Peter Pan.
Pelo menos não o Peter Pan da Terra do Nunca. Quero falar do verdadeiro Peter Pan. Aquele que cresceu sem ter crescido de verdade.
E ele descobriu isso de uma forma não tão romântica ou fantasiosa. Infelizmente, Pan teve que enfrentar sua sombra para que acreditasse em si mesmo, para que aceitasse o homem que nunca cresceu.
Pan estava encarando sua sombra na frente de uma cascata quando teve coragem para dizê-lo:
— Então esse sou eu — soou mais como uma afirmação do que uma pergunta, sua primeira intenção, no caso.
A sua sombra deu de ombros e apertou a testa.
— Eu pensei que você fosse mais baixinho — tornou a falar, um pouco irritado.
— E eu pensei que você fosse mais bem educado — a sombra respondeu, com um leve sorriso de ironia.
— E eu pensei que você não fosse se casar — Pan insistiu em criar uma discussão.
— E eu pensei que você não tivesse pensamentos negativos. Sabe? Por causa do pó de fada e tudo mais.
— Pois eu realmente pensei que você fosse mais inteligente.
— E eu que você fosse mais honesto.
— Pois você pensou errado! — Peter Pan gritou o mais alto que conseguiu, chutando a queda-d’água.
O menino-fada tentou agarrar a sua sombra com toda força que seus braços finos podiam lhe oferecer, e quando finalmente o havia segurado, Pan o trouxe para seu lado.
— Vamos resolver isso tudo de uma vez! — ele gritou de novo, com os resquícios de paciência que ainda possuía.
— Por quê? — a sombra caçoou, com a sobrancelha erguida — Você sabe como isso vai acabar. Você sempre soube, Peter Pan.
— Vá embora! Não preciso mais de você!
— Ora, ora, ora — a sombra riu com gosto e sentou-se num rochedo — Pois não era você que vivia tentando me prender no seu pé?
Pan não disse nada. Não conseguiu responder nada.
— Vá embora, eu não quero mais você!
— Pois você também não é tão inteligente assim, não é mesmo? Como quer que eu vá se você mesmo me puxou de volta?
— Para conversarmos! Só isso!
A sombra voltou a rir, só que dessa vez, a risada recheada de pena.
— Você fez sua escolha.
Peter Pan então puxou-o pela mão e empurrou-o de volta para a água. Mas nada aconteceu. Tentou, tentou, tentou, e tentou de novo. Mas tudo que Pan conseguiu foi irritar a sua sombra, que voltou à superfície recheada de raiva.
— Ah, então você realmente quer se livrar de mim?
— Eu tenho vergonha de você! Vá embora!
— Pois eu vou mesmo!
— Vá! Vá e leve seus sentimentos com você!
— Vou mesmo!
— Estou esperando!
— Não vai ter volta...
— Estou esperando! — agora, sua voz era quase cantada.
— Última chance, Peter Pan. Não seremos mais amigos.
— Passar bem!
— Então isso é um adeus.
— Adeus!
A sombra de Peter Pan espremeu os cabelos para tirar a água pesada dos fios. Deu uma última olhada, cheio de raiva, e falou:
— Pois pensei que fôssemos amigos.
— Você sempre soube. Sempre soube que nunca seríamos amigos, James.
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