Two Lives escrita por Lybruma


Capítulo 3
Sorte?


Notas iniciais do capítulo

HEEEEEEEEEEEY!
Esse capítulo explica algumas coisitas, e espero que esteja ao agrado de vocês!



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Irlanda, 1733

Final da tarde (um pouco depois das seis horas)

Oona estava eufórica.

Afinal, naquela tarde completava seu terceiro mês de casada, e nenhuma outra bruxa havia descoberto. Parte dela sabia que o dia em que alguém descobrisse iria chegar, mas enquanto isso não acontecia, ela aproveitaria o máximo possível.

A garota estava voltando para casa enquanto pensava em Frank, claro. Estivera em um rio perto de sua casa – usava-o para lavar suas roupas, e até isso era bom, já que o rio ficava perto de um campo de margaridas (era de tirar o fôlego) – e não via a hora de encontra-lo. Não que fizesse muito tempo que eles não se viam (no máximo 3 horas), mas sim porque Oona simplesmente não conseguia desgrudar de seu marido.

Ela nunca havia experimentado nenhum sentimento sequer parecido com o amor, e quando experimentou... Foi simplesmente destruidor – de um jeito bom, lógico.

Oona simplesmente conseguia sentir Frank a tocando se fechasse os olhos e imaginasse com muita força. Suas mãos eram calejadas e viviam cheias de farpas – graças a sua profissão – mas ela simplesmente não ligava. Era como se o toque dele fosse mais suave que o pouso de uma borboleta.

Começou a caminhar mais rápido quando avistou sua casa. Simplesmente necessitava dos lábios de Frank nos seus. Encarar seus profundos olhos azuis, enquanto repousava suas mãos nos curtos cabelos claros. Só de imaginar tudo isso... Já perdia a respiração e suas bochechas ficavam rosadas.

Assim que chegou à porta abriu-a empurrando levemente com as costas, já que estava com as mãos ocupadas pela cesta cheia de roupas, depositando o cesto no chão e chamando por Frank.

Não obteve respostas, então decidiu ir para os fundos da casa, onde havia um pequeno balcão que seu marido usava para trabalhar – ele era um habilidoso carpinteiro.

Estranhou que a porta estivesse fechada, mas mesmo assim foi em frente e a abriu, se deparando apenas com a enorme bagunça de ferramentas de Frank. Tentou manter a calma enquanto se dirigia para a Floresta Sombria, onde ele costumava pegar madeira – já que era relativamente perto de sua casa, e a madeira daquelas árvores eram realmente de boa qualidade.

Ele sabia sobre as lendas, mas simplesmente as ignorava. E esse provavelmente era um dos motivos pelo qual Oona se apaixonara por ele. Mortais corajosos não eram comuns, mas os poucos... Ah, esses eram incríveis!

A garota saiu de casa, encarando a Floresta Assombrada. Era um pouco longe, e ela queria ser rápida...

Correu para a cozinha e pegou alguns ingredientes específicos. Misturou-os em um pote, amassando bem, e acabou obtendo uma espécie de pasta. Engoliu aquilo e imediatamente se sentiu mais forte, seus sentidos mais aguçados.

Ela gostava de ser uma bruxa principalmente por causa dos feitiços que podia realizar.

Era tão... Incrível! Oona conseguia ficar mais rápida apenas misturando raízes, podia melhorar sua visão apenas bebendo o chá de algumas folhas... Fora os seus próprios poderes. Cada bruxa nascia com o seu e Oona dera sorte ao nascer com o mais cobiçado de todos; manipulação.

Ela podia simplesmente entrar na cabeça de qualquer pessoa e leva-la a fazer o que bem entendesse. Raramente usava-o, mas mesmo assim... Era uma vantagem a mais que tinha.

Depois de ingerir a pasta ela entrou para buscar sua capa. Capas, para as bruxas, sinalizavam que elas não queriam briga. Era como se fosse um pedido adiantado de desculpas, caso alguma fizesse algo errado no território de outra. Achou melhor vesti-la, visto que iria para a Floresta.

Respirou fundo, fazendo uma curta prece para Ganesha, a deusa da sorte e enfim indo para a Floresta.

Quando Oona chegou – o que não demorou muito, visto que ela estava sob efeito de um feitiço que a deixava mais veloz – começou a procurar qualquer rastro que indicasse a presença de Frank naquele lugar. Observou o chão, tentando rastrear pegadas, ou qualquer outra coisa útil e acabou achando algumas marcas de sapato no chão, e decidiu tentar a sorte seguindo-as.

Alguns minutos de caminhada depois, Oona começou a sentir um cheiro levemente metálico. Demorou alguns segundos para que ela percebesse que aquele cheiro era de sangue. Sentiu o coração gelar e o sangue sumir de seu rosto.

Começou a correr, enquanto tentava se convencer de que não era o cheiro do sangue de Frank. Afinal... Ele estava bem. Tinha que estar. Ela acreditava que simplesmente encontraria um cervo que fora usado para algum tipo de ritual na noite passada e logo depois iria para a cidade, onde encontraria Frank comprando flores para ela. Logo depois ele a chamaria de chata, por estragar a surpresa, para em seguida roubar-lhe um beijo.

O cheiro do sangue estava ficando cada vez mais forte, e cada vez mais Oona tentava manter pensamentos positivos.

Até que viu a cena.

A primeira coisa foi o sangue. Vermelho carmesim, que escorria solto pelas árvores, pesado e pegajoso.

Depois, viu ele. Estava amarrado em uma das árvores pelo pescoço, balançando levemente. Sua barriga havia sido aberta, e Oona viu seus órgãos e tripas no chão. Chegou mais perto e pôde perceber vários cortes nas veias do braço, junto com um profundo corte na garganta.

Àquela altura, Oona nem estava se importando com o cheiro do lugar, muito menos com o sangue na barra de seu longo vestido. Queria apenas acordar daquele pesadelo. Em um ato de desespero, se beliscou, ao mesmo tempo em que uma gota de sangue pingava em um de seus braços.

Aquilo não era um sonho. Era real. Frank estava morto.

Oona gritou, em desespero, enquanto começava a chorar. Um misto de tristeza e raiva.

— Quem fez isso?! – berrou, enquanto caía no chão de joelhos. Mal percebeu que estava em cima dos restos de Frank.

De repente, sentiu uma leve brisa. E depois novamente, só que mais forte. E mais uma vez, e outra e mais outra, até que a leve brisa se transformou em uma forte ventania. As folhas voavam em círculos, os galhos das árvores balançavam e uma voz se fez ouvir:

— Lembre-se de não quebrar as regras, minha pequena doce Oona. – Ela conhecia aquela voz. Pertencia à Dama. A garota sentiu um frio na espinha e, ao se levantar, percebeu que havia mudado de cenário, como em um passe de mágica.

— Mas o que está acontecendo... – Oona começou a formar uma frase, até que percebesse onde estava.

No centro da cidade. Flutuando sobre as pessoas e com as mãos em chamas.

Fez-se um minuto de silêncio até que alguém gritasse:

— Bruxaria! Ela é uma bruxa! Tem que ser queimada viva! – e então, depois disso, foi tudo rápido demais. Oona conseguiu apagar o fogo de suas mãos e a pousar no chão, e rapidamente começou a correr, concluindo com tristeza que o efeito do feitiço havia passado.

Só tinha um lugar para onde ir; à Floresta Assombrada. A única coisa que a separava de lá era um enorme campo de margaridas.

...

Alemanha, 1942

Ramat Gan (bairro tipicamente judeu)

Louise estava brincando com seus dois irmãos mais novos, os gêmeos Isaac e Benjamin, quando começou a ouvir gritos do lado de fora de sua casa.

As crianças ficaram assustadas, afinal, elas não sabiam o que estava acontecendo.

Mas Louise sabia. Ela sabia também que aquele dia chegaria, e lhe doía o coração saber que não podia fazer nada contra os soldados nazistas.

Imediatamente ela se levantou, ajudando seu pai a apagar as luzes e a improvisar uma pequena barricada na porta, empurrando cadeiras e uma mesa. Parecia seguro.

Sua mãe correu na direção das crianças, pegando-as no colo habilmente e indo com elas até a cozinha, escondendo-as em um dos armários.

Louise, por sua vez, saiu sorrateira de onde estava e foi na direção da escada de sua casa (que ficava no final de um estreito corredor), onde havia um pequeno espaço – no qual ela se encaixava perfeitamente se abraçada aos joelhos.

Sentou no chão, se arrumando, enquanto ouvia mais e mais gritarias. Assustava-se toda vez que algum soldado apertava o gatilho de sua arma, e derramava lágrimas a cada voz que deixava de gritar.

De repente, ouviu repetidas pancadas na porta de sua casa e vários xingamentos em alemão.

Eles haviam chegado.

Deus, eu te peço, me proteja. Proteja minha família. Eu te imploro.

Louise apertou ainda mais os joelhos.

Deus...

— Vermes! Onde estão? Vamos, novato, procure na cozinha! Eu vou pelo corredor.

Por favor...

Louise ouviu passos no corredor. Uma figura surgiu em sua frente, assustando-a. Para sua surpresa, era uma mulher. A pele tão escura quanto a noite e os olhos, completamente brancos, causaram arrepios na pobre garota. Ela sorriu de uma forma divertida para a mesma, tocando levemente em sua testa.

— Minha pequena doce Oona... – sussurrou – Você irá precisar de sorte... Confesso, depois de tantos anos... Arrependi-me levemente de ter te dado um destino tão cruel... Vamos, pegue um pouco da minha! – completou, com um grande sorriso em seu rosto. E então, como se fosse mágica, desapareceu, ao mesmo tempo em que o soldado nazista puxou Louise pelos braços, xingando-a de coisas nem um pouco agradáveis e completando tudo com um forte tapa em seu rosto – o que fez com que a boca dela começasse a sangrar e seu rosto ficasse com uma enorme marca vermelha.

A pobre menina apenas se deixou levar, pois ainda estava um tanto quanto enfeitiçada e perplexa pela figura da mulher – principalmente pelo que ela havia dito.

Tão perplexa que nem percebeu seu pai sagrando no chão, com uma faca em seu pescoço, ou sua mãe, tendo suas roupas arrancadas a força por um soldado. E, claro, seus dois irmãos, que acabaram indo para outro caminhão, que os levaria a um destino completamente diferente do dela.

Aquilo era sorte?

Louise preferia simplesmente ficar com o seu tão conhecido azar.

...

Alemanha, 1943

Campo de Concentração Flossenbürg

Trabalho e extermínio

— Perdidamente apaixonado

Ao ouvir aquelas duas palavras o coração de Louise gelou.

Pai meu que estás no céu...

— Isso é sério? – foi tudo que ela conseguiu responder (ou melhor, perguntar), enquanto “perdidamente apaixonado” se repetia diversas vezes em sua cabeça.

Muito sério. – Heinz respondeu. Ele não parava de encarar Louise. Nem por um mísero segundo. Parecia até que ele estava... Enfeitiçado.

De repente, uma ideia surgiu na mente de Louise.

Era loucura, ela sabia, mas se não aproveitasse aquela oportunidade... Arrepender-se-ia para o resto de sua – provável – curta vida.

Resolveu acreditar no que Rachel repetia todos os dias e fingir, nem que por breves 5 minutos, de que ela era uma bruxa e que um soldado estava apaixonado por ela.

Afinal, se ele estava tão apaixonado assim por ela... Será que... Bem, será que ela conseguiria convencer ele a ajudar ela e Rachel a fugirem do Campo?

Sim... Ela só saberia a resposta se arriscasse fazer alguma coisa.

Resolveu, por fim, usar uma técnica que funcionava muito bem para garotas bonitas como ela: Sedução.


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Notas finais do capítulo

Beeeeem, amanhã será o desfecho, e eu espero conseguir desenvolvê-lo em menos de 2.500 palavras (regras do desafio) e, ah, para quem está meio perdido e está achando o Heinz meio idiota, lembrem-se que ele está bem enfeitiçado, ok? Ahuahauhau
É isso. Até amanhã!