Vidas cruzadas escrita por slytherina


Capítulo 9
Ciúme




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Sam dormiu no sofá da sala naquela noite. Ele nem tentou subir para seu quarto, pois sabia que Ruby não o perdoaria por voltar bêbado para casa. Deitou de qualquer jeito e acordou com dores no pescoço. Por sorte, Ruby ainda não havia descido para preparar o café da manhã. Ele se dirigiu a passos incertos para suas tarefas matinais. Algumas imagens em sua mente o fizeram lembrar momentaneamente do sonho da noite passada. Ou seria da noitada de bebedeira?

Olhos verdes como pedras preciosas lhe perseguiram durante a madrugada. Fascinantes e hipnotizantes. Lábios cheios e generosos pareceram lhe segredar desejos impuros ao pé do ouvido, numa intimidade que o deixava em fogo, mas … não eram os lábios de sua mulher. Não, eles pertenciam a um cara. Ele custou a ligar os pontos, mas quando finalmente desvendou aquele emaranhado de pensamentos e sensações contraditórias, era como se já o soubesse há muito tempo. Ele estivera sonhando com Dean Singer, o playboy herdeiro de uma das famílias mais conhecidas da cidade.

Sam foi indulgente consigo mesmo. Certamente que a fama do seu novo amigo, e o inusitado de ter saído para beber, o fizeram ficar confuso e excitado, por isso teve um sonho ambíguo e vergonhoso. A partir do momento em que voltasse para suas obrigações no rancho, deixaria de pensar em besteiras. Sua vida já era complicada demais, sem que ele ainda tentasse entender desejos homossexuais em sonhos. Sua família era mais importante do que aventuras românticas. Ele tratou de se concentrar nos seus afazeres e voltar à normalidade da rotina.

Ajudou Ruby com o café da manhã e levou a filha para a escola na caminhonete, que alguém teve a bondade de trazer de volta do restaurante. Retornou logo depois para dar prosseguimento às suas tarefas. Procurou ver se a esposinha estava bem, e se podia substituí-la em suas tarefas de dona de casa. Novamente ajudou-a a repousar, enquanto terminava de preparar o almoço. Mais tarde trouxe a filha da escola e olhou seu material escolar, para ver se tudo estava em ordem. Pôs Lilith para dormir à tarde, e desceu para ver os animais.



      "Sam, quero falar com você." Ruby falou sem fôlego, quando Sam parou para descansar, sentado na cadeira rústica da varanda.

"Pois não, querida." Ele levantou-se para segui-la ao interior da casa. Ruby se movimentava agora como uma pata, com as pernas separadas e uma das mãos segurando a barriga.

"Só queria que você soubesse que eu notei que chegou tarde em casa e que estava bêbado. Você está solícito demais agora, o que é estranho, mesmo para alguém tão complacente como você. Eu quero saber se me traiu. Tenho direito a sua honestidade." Ela falou após sentar-se no sofá da sala, seu preferido no último mês.

"Não, eu não te traí." Sam permaneceu em pé, como um menino levado diante da acusação dos pais ou professores.

"Mas …?" Ruby segurou o advérbio como uma pergunta que exigia resposta.

"Saí para beber ontem, e voltei embriagado. Isso é verdade."

"E a garota?"

"Não há nenhuma garota."

"Não minta, Sam. Você fica ridículo quando mente. Seja homem ao menos uma vez na vida." Ela o fuzilava com os olhos.

Sam baixou a cabeça. Ele não tinha nada a dizer a Ruby. Não iria citar o nome de Dean Singer, porque não queria sua esposa indo atrás de um completo desconhecido que não era culpado de nada. Ele sozinho aguentaria o ciúme de Ruby, sem envolver mais ninguém nisso.

"Você é patético, Sam. Queria saber o que deu na minha cabeça para ficar com você. Sabe que vou descobrir o nome dessa sirigaita, assim como descobri o nome de todas as outras que você tentou encobrir. O que pensa que eu sou? Uma inválida só porque não consigo andar por aí livremente?" Ruby estava vermelha de raiva, e se ela não estivesse sentada, ele juraria que ela iria desmaiar de tanta emoção.

A lembrança das mulheres pegas pelo vendaval Ruby, cujo único crime foi conhecerem Sam, passou por sua mente. "Jessica, Madison e Amelia não eram minhas amantes. Elas eram somente amigas. Você não tinha o direito de prejudicá-las." Ele falou com a voz tremendo.

"Oh, ele agora põe as garras de fora. Vamos, Sam! Exponha essa raiva. Fale sobre sua dignidade ofendida. Sua macheza ultrajada. Faça-me rir!" Ela falou bem alto e com uma careta que lhe dava um ar maníaco.

Sam baixou a cabeça novamente. Ele sabia como lidar com ela. Era só fazer suas vontades que ela o deixaria em paz, mas a lembrança das pobres garotas o deixou irritado. Talvez … talvez fosse melhor falar a verdade para ela. Afinal ele não tinha feito nada demais, não é mesmo? Sam olhou para a esposa, que o mirava com ódio e desprezo. Não! Ele nunca iria entregar Dean Singer nas mãos dela.

"Eu … eu apenas bebi num bar qualquer. Sozinho. Fiquei bêbado demais para dirigir e alguém ficou com pena e me deu uma carona. Foi só isso." Ele falou e baixou a cabeça, esperando por uma chuva de impropérios.

"Eu não acredito em uma palavra que está me contando, Sam. Em nenhuma palavra. Eu só não te dou um chute no traseiro, neste minuto, porque estou nesse estado." Ruby parou de falar sem fôlego. Ela deixou a cabeça arriar e começou a respirar com dificuldade.

Sam a viu naquela aflição e hesitou 2 segundos antes de se aproximar e tocar nela para ajudá-la. "Ruby, o que houve? Você não consegue respirar? Acho melhor chamar uma ambulância."

"Eles … não … eles …" Ruby não conseguiu mais falar.

Sam chamou a ambulância que chegou alguns minutos depois. Ele ficou o tempo todo segurando a mão dela. Acalmando-a e dizendo que tudo ficaria bem. Os socorristas o avisaram que ela seria transferida imediatamente para a maternidade, pois sua gravidez se complicara. Sam subiu as escadas no mesmo instante para pegar Lilith, envolta em seu edredom, e foi com a filha na caminhonete, seguindo a ambulância. Lembrou-se de pegar a maleta da esposa com a bolsa do bebê, que já estavam prontas para o dia do parto.

Ruby foi medicada de urgência, entubada e ligada à monitores. Fizeram diversos exames para se decidirem por uma cesárea. Na madrugada daquele dia, seu filho nasceu de uma cirurgia cesariana, e foi mandado para a Unidade de terapia intensiva neonatal. Ruby também foi mantida em UTI, em estado grave. Eclâmpsia, os médicos disseram. O que eles não sabiam foi que uma discussão tinha desencadeado aquilo. Tudo porquê Sam achou que tinha direito a uma noite de bebedeira com uma celebridade local. Ele nunca se perdoaria por ter colocado em risco a vida de sua esposa e seu filho.


Sam e Lilith passaram a noite na sala de espera. A pequena foi posta cuidadosamente no sofá, e coberta com o edredom que trouxera. Eles comeram biscoitos e sucos de máquinas de vendas do corredor do hospital, e Sam insistiu que a filha escovasse os dentes antes de dormir. Ele mesmo não dormiu nada, ajudado por copos de café de outra máquina. Andava em círculos e só sentava quando as pernas doíam. Então, quando começava a cochilar, dava um pulo do sofá.

Sam ainda se consumia pela culpa, e nenhum montante de penitência iria salvá-lo se sua esposa ou o bebê morressem. Só se mantinha são pela filha Lilith, pois esta dependia dele para tudo. Trataria de se endireitar para que isto nunca mais acontecesse. Nada de bebidas em sua vida. Nada de fazer amizades com outros homens. Famosos ou não. E nada de trair sua mulher em sonhos.

Pela manhã, lhe informaram que a esposa e bebê passavam bem. Ele foi aconselhado a ir para casa, dormir. Sam queria protestar, mas pensando no bem estar da filha, fez como lhe foi sugerido. Avisou a família de Ruby sobre o acontecido, e pediu a uma senhora chamada Jody Mills, antiga amiga da família, que tomasse conta do rancho por aquele dia. Ele levou Lilith para a escola, a despeito dos protestos da pequena, pois ela estava elétrica e bem desperta. Quanto a ele, apenas desabou na cama e apagou. Acordou no fim da tarde, e Jody lhe sugeriu que fosse visitar a esposa no hospital, enquanto ela ficava tomando conta de Lilith. Sam agradeceu profusamente à boa mulher e voltou ao hospital. Sua esposa e filho continuavam na UTI, mas estavam passando bem, e provavelmente iriam para enfermaria comum no dia seguinte.

A família de Ruby enviou a secretária Meg Masters para ver se tudo estava bem. Eles se responsabilizaram pelos gastos hospitalares e enviaram presentes caros para o bebê. Nenhuma palavra ou a presença dos pais de Ruby, tal qual aconteceu durante o casamento. Eles ainda não a perdoavam por ter se casado com ele. Sam gostaria de ser grosseiro e recusar os presentes ou o maldito dinheiro deles, mas Ruby o havia proibido de confrontá-los, a menos que a vida dela estivesse em risco. E ele a obedeceu. Mais uma vez.


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