Lily podia ouvir tudo que acontecia no andar de baixo. Sua vontade era de descer e enfrentar Voldemort ao lado de seu marido. Morrer junto ao amor da minha vida não pode ser tão ruim assim. Mas ela não podia. Harry era seu filho e ela precisava salvá-lo. Sabia que não conseguiria se salvar, mas o pequeno Harry era sua prioridade. Antes que pudesse fazer qualquer coisa, porém, ouviu o baque de um corpo caindo no chão e na mesma hora, soube o que aquilo significava.
Lily Evans nunca tinha sido de acreditar no tal amor que era tão famoso nos contos trouxas e nos bruxos. Pelo menos não até James Potter. James Potter com o ego do tamanho do universo e um senso de humor duvidoso foi o único cara que ela amou. O único que ela amaria para o resto da sua vida - fosse o fim dela naquela noite, ou dali a 50 anos. Lily Evans passou a amar James Potter e de repente, tudo sobre o amor ficou claro para ela.
E é justamente por ter passado a entender aquilo que a dor que ela sentia naquele momento era maior do que qualquer outra coisa que já sentira antes. Nunca imaginou que doeria tanto assim, mas uma parte dela, sua alma, tinha morrido com James. E ela mal podia esperar para se juntar a ele. Não existia mais Lily Evans sem James Potter. Um sentimento de culpa pesou no seu coração por estar abandonando Harry daquela forma, mas sabia que ele estaria em boas mãos com Remus e Sirius. A frase saíra estranha sem o nome do Peter no meio, como já era de costume, mas Pettigrew era o único motivo pelo qual seu filho, com apenas um ano, se tornaria órfão. Pobre Peter, sempre tão covarde. Sempre tão não - grifinoriano.
No meio de tanto sofrimento e amargura, Lily não percebeu Voldemort entrando no quarto até que já fosse tarde demais para tomar qualquer atitude. Não sabia o que faria agora, só esperava conseguir salvar Harry. Por um instante, seus olhos se encontraram com os de seu menino, tão verdes quanto. Ah, se ele soubesse o quanto era amado.... Se ele soubesse que James e Lily desistiriam de qualquer coisa no mundo para fazer esse menino feliz.
Por alguns segundos, enquanto os olhos de Lily fitavam os de seu filho, ela enxergou. Enxergou todos eles, sua pequena família problemática (que incluía um lobisomem e um cachorro que conseguia realmente se transformar em um cão). Enxergou - os depois da guerra, depois de todo esse terror a que haviam sobrevivido. Enxergou - os comemorando os aniversários de Harry. Enxergou seus melhores amigos casando e tendo filhos que com certeza seriam tão amigos quanto eles. Enxergou ela e James levando Harry à plataforma. Enxergou a si mesma chorando agarrada a James, por não querer deixar seu bebê ir. Enxergou o envelhecimento deles, ela se tornando avó. Enxergou toda uma vida que poderiam ter tido. Em apenas alguns segundos, enxergou tudo que teria sido de sua vida, o quanto ela teria amado aquilo, se o sangue não fosse mais importante.
Determinada a fazer Harry sair vivo, para que ele pudesse ter a própria vida, construir seus próprios sonhos, ela implorou. Mas Voldemort se considerava Lord demais para ouvir o pedido de uma sangue ruim como aquela. E assim que ele levantou a varinha para acabar logo com aquilo, ela desviou os olhos dos olhos verdes que eram a cópia dos dela, e se jogou na frente.
Avada Kedavra. Lily finalmente fechou os olhos. Os segundos com Harry acabaram. Estou indo James.