Um Futuro Escrito em Gelo e Fogo escrita por crownprincess


Capítulo 5
Lorde Snow


Notas iniciais do capítulo

Perdoem-me pela (longa) demora. Um capítulo novo para vocês!



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A noite passou e o dia amanheceu sem que Lyanna se desse conta. Seu sono havia sido tão pesado que não acordara sequer uma vez durante a madrugada, tamanha a exaustão que sofria. Espreguiçou-se em sua cama, ainda sem abrir os olhos e percebeu que a dor de cabeça que sentira no dia anterior havia sumido. Rhaegar estava certo em dizer que tudo que ela precisava era descanso e uma boa noite de sono.

Finalmente abriu os olhos e levantou-se apenas quando sua visão ficou acostumada com a luminosidade do novo dia. Já de pé, foi até a janela e percebeu uma movimentação estranha no pátio do castelo; viu seu irmão Brandon parado enquanto conversava com um homem alto e de cabelos negros, que estava de costas. Esfregou os olhos e então pôde enxergar o símbolo do veado negro sobre um fundo dourado. Sentiu o coração saltar pela boca quando deu-se conta que aquele era o emblema da Casa Baratheon, e o homem que conversava animadamente com seu irmão mais velho era Robert.

Começou a andar de um lado para o outro, e teve vontade de esconder-se, fugir, ir para o mais longe possível dali, mas sabia que não podia. Era a prometida do melhor amigo de Ned e em breve deixaria de ser Lyanna Stark para ser Lyanna Baratheon. Seu estômago revirou pelo o simples pensamento de seu futuro como a Senhora de Ponta Tempestade. Caminhou até a cama e jogou-se novamente no colchão, cobrindo seu rosto com o travesseiro para abafar sua vontade de chorar, até não conseguir mais e desabar em lágrimas.

Odiava o fato de não ter o mínimo de controle sobre o próprio destino e ser utilizada pela própria família como uma moeda de troca; odiava Robert por ser tão egoísta a ponto de não conseguir perceber que Lyanna não o queria; odiava Brandon, Ned e Benjen por não fazerem absolutamente nada para mudar aquilo. Mas então, lembrou-se que os irmãos mais velhos morreriam, assim como provavelmente o caçula e seu pai, e que em suas visões não se referiam a ela como a esposa de Robert, mas sim Cersei Lannister. Perguntou a si mesma o que, afinal de contas, aconteceria com ela. Casaria com o jovem Baratheon e morreria em seguida? Ou sequer chegaria a desposá-lo?

Ouviu a porta sendo aberta e virou-se para ver quem tentava entrar em seu quarto. Mesmo com os olhos inchados e embaçados pelo choro, pôde reconhecê-lo.

― Ned. ― ela levantou-se e sentou-se na cama, e percebeu que sua voz estava irritantemente anasalada.

― Lyanna, a procurei por todo o castelo até que me disseram que não havia se levantado. ― o irmão se aproximou dela ― O que aconteceu? Você andou chorando?

― Estou com dor de cabeça. ― mentiu ― Por isso meu rosto está tão inchado.

― Não minta para mim, Lya. ― Ned sentou-se na beira da cama e colocou sua mão sobre a da irmã ― Conheço-a bem o suficiente para saber quando não diz a verdade.

Um longo suspiro escapou dos lábios de Lyanna.

― Eu vi Robert pela janela. ― a garota confessou ― O que ele veio fazer aqui?

― Veio visitá-la. Trouxe alguns presentes para tentar lhe agradar. Seja gentil com ele, por favor.

― Será que há algum bastardo gerado por ele entre os presentes? ― Lyanna respondeu, afiada.

― Não seja tão dura, a menina Stone nasceu bem antes do noivado de vocês. Sabe que Robert a ama. Ele é louco por você!

― Ele ao menos me conhece, Ned! Como pode me amar assim, sem sequer saber quem eu sou de verdade? ― a voz da jovem transmitia todo o desespero que aquela situação lhe causava.

Ned ficou em silêncio, sem saber como lhe responder aquilo.

― Robert é como um irmão para mim, sabe disto. E você, Lya... Você é minha irmãzinha, a única mulher que amo nesta vida. Eu queria tanto que fossem felizes juntos... ― ele finalmente disse.

Lyanna sentiu o rosto arder e a vontade de chorar retornar. Ned era o seu irmão mais gentil e honrado e saber que ele teria uma morte horrível de traidor fazia seu coração se partir. Pulou em cima dele e o abraçou com o máximo de força que pôde.

― Nunca me deixe, por favor. ― ela pediu, enquanto as lágrimas rolavam por seu rosto ― Prometa que jamais me abandonará. Prometa-me, Ned.

― Eu jamais a deixaria, minha irmã. Prefiro perder minha própria honra a deixar-lhe à própria sorte. ― ele sussurrou em seu ouvido, enquanto retribuía o abraço.

Ficaram grudados por alguns minutos, pois Lyanna tinha medo de se separar seu corpo ao do irmão; contudo, sabia que era necessário.

― Irei me aprontar e daqui a pouco descerei para recepcionar Robert. Prometo que serei gentil e educada.

― Obrigado. ― Ned sorriu e beijou a testa da irmã.

O jovem senhor Stark a deixou sozinha, para que ela pudesse se recompor. Lyanna lavou seu rosto e colocou um de seus vestidos que estava guardado dentro do baú que ficava ao pé de sua cama. Demorou mais que o de costume na tarefa de pentear seus longos cabelos negros, ainda tentando pensar em como agiria em relação a Robert.

Lyanna saiu de seu quarto e caminhou pelos corredores da Grande Fortaleza até chegar ao grande salão, no qual sabia que sua família recepcionava os convidados. Entrou no cômodo e viu o pai e seus três irmãos cercarem o jovem Senhor de Ponta Tempestade.

― Bom dia, filha. ― Rickard a cumprimentou ― Finalmente decidiu nos dar o prazer de sua companhia.

Robert a encarou com seus olhos azuis e sorriu assim que a viu. Ele era lindo, Lyanna não podia negar.

― Minha doce Lyanna. ― ele deu alguns passos e caminhou até a garota ― Não sabe o quão alegre meu coração fica ao vê-la!

― Também fico feliz em vê-lo, senhor. ― ela respondeu e forçou um sorriso.

― Eu lhe trouxe alguns presentes, coisas que achei que fossem lhe agradar. ― Robert pegou a mão de Lyanna e a guiou até um dos cantos do salão.

A garota deparou-se com uma pilha de caixas com o brasão dos Baratheon estampado em cada uma delas. Robert pegou o pequeno estojo dourado que estava no topo da pilha e entregou nas mãos de Lyanna.

― Abra, meu amor. Tenho certeza de que gostará. ― ele disse, entusiasmado.

Lyanna obedeceu e ficou surpresa ao ver três penas no interior do recipiente. Pegou uma delas e percebeu que o objeto mudava de cor na medida em que sua mão se movimentava.

― É... Lindo! ― foi a única coisa que conseguiu dizer enquanto movia a pena pelo ar, completamente maravilhada.

― Mandei buscar nas Ilhas dos Pássaros para você. Poderá escrever cartas para mim com elas, ou se preferir, poderá guardá-las.

― Oh Robert, não deveria ter feito isto! Deve ter sido muito caro! ― a garota lhe respondeu.

― Você gostou?

― Sim. ― ela admitiu.

― Então valeu a pena. Eu gastaria cada centavo que tenho se isso lhe fizesse feliz. ― ele passou as costas dos dedos no rosto de Lyanna, lhe acariciando ― Após o nosso casamento, mandarei trazer uma ave com essas mesmas penas para lhe fazer companhia em Ponta Tempestade.

― Desta forma vai acabar deixando a minha filha mal acostumada, Robert. ― Rickard manifestou-se e sorriu ao ver o gracejo do futuro genro.

― Isso ainda é pouco para Lyanna, Lorde Stark. ― ele respondeu, fitando a jovem com devoção.

Lyanna sentia-se incomodada pela forma que Robert lhe olhava. Não tinha certeza se ele a amava de verdade ou se era meramente obcecado com ela, e perguntou-se se toda aquela adoração duraria após se casarem. Isto é, se realmente chegassem a casar um dia.

― Posso dar um passeio com Lyanna? ― Robert perguntou à Rickard ― Gostaria de conversar a sós com ela.

― Não acho que seria adequado, pai. ― Brandon se manifestou ― Ainda não são casados, e Lya tem uma reputação a manter.

― Não seja implicante, Bran. Robert não seria tolo o suficiente para desrespeitar nossa irmã dentro de nossa própria casa. ― Benjen interviu ― Deixe que os dois se conheçam melhor.

A jovem encarou Ned, mas o irmão do meio ficou calado. Esperava do fundo do coração que seu pai não permitisse e que não tivesse que ter um contato mais prolongado com o noivo.

― Permitirei, como demonstração da minha confiança à Lorde Baratheon. ― Rickard enfim decidiu ― Mas não saiam do castelo e fiquem à vista das pessoas. Não quero que comentários maldosos manchem a imagem de minha filha.

― Obrigado por confiar em mim, Lord Stark. ― Robert sorriu para o futuro sogro e estendeu o braço para Lyanna ― Podemos ir?

A garota suspirou e enlaçou seu antebraço ao do noivo. Os dois saíram do salão e ficaram sozinhos, caminhando pelos corredores de Winterfell. Robert não escondia sua felicidade por estar ali, enquanto Lyanna tinha que simular uma alegria que não sentia.

― Realmente gostou dos presentes, meu amor? ― ele perguntou.

― Claro que sim, senhor. Não tenho palavras que expressem minha gratidão por ser tão bom e gentil comigo.

― Sabe que apenas desejo vê-la feliz, não sabe? ― Robert virou-se para ela e fixou seus olhos ao da garota.

Lyanna assentiu, mesmo não tendo certeza. Robert colocou as duas mãos entre o seu rosto e inclinou sua cabeça até tocar os lábios da jovem com os seus. Ela desvencilhou-se do beijo assim que pôde e deu alguns passos para trás, afastando-se do noivo.

― Perdoe-me pela ousadia, minha senhora. ― ele tentou remediar quando percebeu que Lyanna havia ficado incomodada com sua audácia ― Não foi minha intenção desrespeitá-la.

― Meu senhor, a única coisa que lhe peço é que não tente tomar liberdades indevidas comigo. ― ela estava nervosa, e apesar dos pedidos de Ned para que fosse gentil, não conseguia controlar-se.

― Eu não sei por que fiz isto... Apenas achei que...

― Qualquer coisa que tenha passado por sua cabeça, estava errada. ― Lyanna o cortou ― Dê-me licença, pois depois do que aconteceu, preciso de um tempo sozinha. Irei até o bosque sagrado para rezar.

Não esperou uma resposta e virou os calcanhares assim que pôde, dando as costas para Robert e deixando que ele falasse sozinho. Aquela era a desculpa perfeita para encontrar-se com Rhaegar e finalmente descobrir o que aconteceu entre Jon e Daenerys.

Apressou o passo, tamanha era sua curiosidade, e teve que tomar cuidado para não correr e acabar chamando atenção desnecessária para si. Teve que atravessar todo o castelo e caminhar até o pequeno represeiro que ficava nos fundos do bosque sagrado e um sorriso brotou em seus lábios ao ver Rhaegar, que já lhe esperava, sentado aos pés da árvore.

― Lyanna! ― ele levantou-se ― Enfim chegou! Pensei que não viesse!

― Desculpe, tive um imprevisto.

― E esse imprevisto tem a ver com os estandartes Baratheon que alguns homens recém-chegados no castelo portavam? ― o Príncipe arqueou sua sobrancelha prateada.

― Robert veio me visitar. Trouxe alguns presentes e quis passar um tempo comigo. ― ela admitiu.

― Meu primo realmente não perde tempo nem oportunidade... ― a voz de Rhaegar tinha um leve toque de ressentimento.

― Ele é o meu noivo. Tem direito de querer passar um tempo comigo. ― Lyanna deu de ombros, tentando disfarçar seu incômodo com a situação.

O jovem Targaryen pareceu engolir aquilo em seco, tamanha era sua expressão de desagrado.

― Bem, então vamos direto ao que interessa. ― ele disse.

― Concordo.

Ele colocou sua mão sobre a de Lyanna e ela sentiu um frio incômodo em sua barriga. A garota pedia aos Deuses que aquilo parasse, mas não tinha certeza se lhe escutariam.

― Preparado? ― a jovem loba perguntou.

― Sempre.

Lyanna estendeu o braço, e assim que a palma de sua mão tocou o represeiro, a dança de cores recomeçou em sua mente.

 

***

 

Estar de volta a Correrrio após tão pouco tempo era maçante. Não que Jon não apreciasse o castelo e as pessoas que ali viviam, mas detestava ter que sair do Norte com tanta frequência como agora fazia. Sabia que depois de sua aclamação como Rei do Tridente, era também o governante das Terras Fluviais, mas Winterfell sempre seria sua casa, e nenhum outro lugar poderia substituir o lar ancestral dos Stark em seu coração. O seu único consolo era saber que daquela vez não estaria lá para guerrear, mas sim para manter a paz que a região conhecera há pouquíssimo tempo.

O Lobo Branco levava consigo parte de seu exército, seus mais valiosos conselheiros, Sor Davos e Tormund, os Lordes Manderly, Glover e Hornwood, além da pequena Lady Mormont, que fez questão de lhes acompanhar no encontro que teria com Daenerys Targaryen. Faziam parte de sua comitiva homens das Casas Flint, Cerwyn, Locke, Ryswell, Dustin e Reed, e Jon achou prudente que Alys Karstark também o acompanhasse, pois temia que atentassem contra a vida de sua noiva enquanto estivesse ausente. Fantasma, seu fiel lobo, também viajou ao seu lado durante o trajeto pela Estrada do Rei.

Deixara Sansa em Winterfell, para que comandasse o Norte enquanto ele estivesse nas Terras Fluviais. Ela ainda não falava com ele depois da briga que tiveram e sequer lhe disse adeus antes da partida do jovem Rei. Deixou Brienne de Tarth e Podrick Payne a serviço da irmã para que lhe protegessem e ajudassem em qualquer coisa que precisasse. Mesmo que estivessem brigados, Jon se preocupava com Sansa e desejava que tudo ocorresse bem para ela enquanto ele estivesse fora.

Suas conjecturas foram interrompidas quando escutou a voz de Davos ecoar na entrada do castelo.

― Abram os portões para Vossa Majestade, o Rei do Norte e do Tridente!

Sem demora, os soldados vestidos com as malhas tingidas de azul e vermelho obedeceram seu tenente, arriando as grossas correntes de aço que fizeram com que o pesado e enorme portal viesse abaixo. Assim que a ponte que ligava o castelo aquático à terra firme foi estendido, Jon e sua comitiva adentraram a sede ancestral dos Tully. O jovem Rei viu que Correrrio estava quase pronta para sua chegada, e principalmente para a recepção de Daenerys Targaryen e sua comitiva. Era difícil acreditar que, pela segunda vez em sua curta vida, Jon conheceria outro integrante da família dos dragões.

― Majestade! ― um dos criados correu até Jon e ajoelhou-se em frente a ele ― Ficamos muito feliz que tenha retornado tão rapidamente!

― Levante-se, por favor. ― o rapaz ordenou, enquanto descia do seu cavalo.

O jovenzinho, que não devia ter mais de quinze anos, obedeceu ao comando e fitou Jon.

― Alguns lordes já chegaram, Majestade. Lordes vindos de todos os cantos das Terras Fluviais.

― Diga os nomes, garoto. ― Sor Davos interveio, posicionando-se ao lado de Jon.

― Blackwood, Grell, Butterwell, Harlton, Mallister, Bracken, Piper. Ainda estamos aguardando a chegada de outros senhores. ― o garoto respondeu.

― E há espaço para todos? Correrrio não é um castelo muito grande... ― Jon perguntou, enquanto olhava ao seu redor, analisando a construção.

― Claro que há, Majestade. Os nobres ficarão bem acomodados aqui dentro, e seus exércitos podem acampar na margem do Tridente.

― Inclusive o exército da Rainha Targaryen?

O garoto empalideceu. Apenas a menção ao nome da antiga família real o fez tremer. Devia ter escutado as histórias sobre o exército imbatível formado por eunucos e os três dragões que Daenerys supostamente criava como se fossem seus filhos.

― Sim, Majestade. Há espaço para os homens da Rainha também. Inclusive separamos as duas câmaras principais, uma para o senhor e outra para ela.

― Eu prefiro um quarto mais simples. ― Jon disse ― Fez o certo em reservar o quarto para Daenerys, mas coloque a Senhora Alys Karstark no que preparou para mim.

― Senhor... Tem certeza?

― Escutou o Rei, garoto. ― Davos interviu.

O criado acenou rapidamente com a cabeça e correu para dentro do castelo. Jon e  Davos os seguiram, sendo acompanhados de perto pelos lordes que lhe acompanharam desde o Norte. O jovem Rei caminhou pelos corredores de Correrrio e viu os estandartes da truta prateada lado a lado com o lobo cinza; pelo que sabia, não existiam mais Tullys no mundo, mas era importante manter aquele símbolo para que ninguém colocasse em dúvida o direito que Sansa tinha sobre aquela propriedade.

Quando chegaram ao grande salão, Jon parou ao ver que os senhores das Terras Fluviais o esperavam com um banquete. Sentiu Fantasma parar ao seu lado e roçar em suas pernas assim que um senhor robusto de cabelos brancos parou em frente a ele.

― Majestade, é uma honra recebê-lo. Sou Jason Mallister, Senhor de Guardamar. ― ele apresentou-se ― Eu e meu filho mais velho fomos salvos pelo seu exército. Éramos reféns dos Freys dentro de nosso próprio castelo, mas nosso pesadelo acabou assim que veio nos acudir. Serei eternamente grato.

Mallister. Sim, sabia quem era. O sobrinho de Sor Denys, um de seus irmãos da Patrulha da Noite que lhe apoiou na eleição para Senhor Comandante; um homem educado e distinto, que comandava a Torre Sombria de forma eficiente. Desejou que o homem a sua frente se mostrasse tão honrado quanto o tio.

― Não há razões para me agradecer, Lorde Mallister.

E realmente não havia, pensou Jon. Grande parte do exército do Norte era, na verdade, composto pelos cavaleiros do Vale. Tentou imaginar o que seria dele se a Casa Arryn não fosse tão generosa, e qual o preço teria que pagar por tanta benevolência.

― Esse é o meu filho mais novo, Rodrik. ― o velho homem apontou para um rapaz que estava a poucos metros de distância ― Foi apontado pela Princesa Sansa como castelão de Correrrio. Aliás, se me permite perguntar, onde está sua irmã, Majestade?

― Ficou no Norte e agirá como regente em minha ausência. Sempre deve haver um Stark em Winterfell, meu senhor. ― Jon respondeu.

― Sim. Não se pode dar chance ao azar. ― assentiu.

Jon ouviu alguns passos indo em direção ao salão. Imaginou que seria o resto de sua comitiva, mas viu Alys entrar no cômodo sendo escoltada por alguns soldados.

Ela aproximou-se do Rei e encarou os outros homens com um pouco de receio. Não fez nada, esperando que Jon agisse.

― Senhores, esta é a Senhora Alys Karstark, minha prometida. Nos casaremos dentro de três quinzenas, e gostaríamos que se juntassem a nós nessa ocasião tão importante. ― o Lobo Branco anunciou.

Os homens se entreolharam, demonstrando surpresa; mas Jon não conseguiu captar se havia desaprovação ali, pois um jovem de cabelos louros rapidamente foi até eles e pegou a mão de Alys.

― Sou Marq Piper, Majestade. Fico bastante feliz em conhecer nossa futura Rainha e ver o quão bela ela é. Sem dúvida alguma, a Casa Stark será abastecida de belíssimos príncipes. ― abaixou a cabeça e beijou as costas da mão de Alys.

A garota corou violentamente. Jon achou graça, e imaginou como as coisas seriam quando de fato se casassem e ela se tornasse sua esposa.

― Obrigada, senhor. ― ela respondeu, com a voz quase inaudível.

― Vamos servir o banquete em honra ao Rei e sua futura Rainha! ― Marq berrou, e sua voz ecoou pelo salão.

Os outros lordes seguiram seu exemplo e começaram a gritar salvas para Jon e sua noiva; colocaram-no na principal mesa, com Alys ao seu lado, e finalmente depois de dias de uma viagem exaustiva, pôde comer algo que não estivesse congelado pelo frio.

 

***

 

Daenerys desejava conhecer Westeros, e teve sua ânsia sendo em parte realizada durante a viagem que fizera de Pedra do Dragão até Correrrio. Levava consigo Tyrion e Missandei, além de uma pequena fração de seu exército de Imaculados; deixara seus dragões na ilha ancestral dos Targaryen, mas esporadicamente via Drogon voar sobre sua cabeça, como se tentasse protegê-la pelo trajeto que fazia pelas terras que o bastardo Stark clamava serem suas.

Decidiu que não iria pelo Norte, como foi sugerido pelo garoto Snow, pois não podia confiar plenamente que ele não teria plantado uma armadilha para ela. Foi, então, até a Baía dos Caranguejos e desembarcou no porto de Lagoa da Donzela, em seguida marchando para Darry e Barreira de Pedra, até, enfim, chegar à Correrrio. Estava montada em seu cavalo quando viu o castelo de pequeno porte que parecia flutuar sobre a água, e mesmo de longe, podia enxergar os homens que guarneciam a construção, que estava cercada por tendas coloridas e bandeiras que mostravam o lobo cinza uivante, onde provavelmente o exército do dito Rei do Norte acampava.

A Rainha moveu os pés, fazendo com que suas esporas batessem na pele do animal, que começou a trotar rapidamente pelo campo verde, passando por entre as tendas, enquanto seguia o curso do rio. Ouviu os protestos de Tyrion e Missandei atrás de si, mas não deu importância. Estava ansiosa demais para conhecer o autodenominado Rei e seus lordes, e tentou imaginar como ele seria. Pelo que sua Mão lhe disse, era um garoto retraído e cheio de inseguranças, que sentia-se deslocado dentro de sua própria casa; mas devia ter mudado, pensou Daenerys. Quando as pessoas tem o poder de escolha, geralmente elegem um líder forte, e uma pessoa com aquelas características não tinha o perfil necessário para governar três reinos inteiros.

Dany puxou as rédeas do animal e fez com que ele desacelerasse, pois sentiu uma sensação de frio formar-se em seu ventre. Não sabia explicar o que era, mas tinha a impressão que no momento que entrasse naquele castelo, sua vida mudaria para sempre.

 

***

 

Jon conversava com os lordes do Norte e das Terras Fluviais quando começou a escutar um barulho que vinha do lado de fora da fortaleza. Era possível notar que gritavam, mas não o que os gritos queriam dizer. Correu até o pátio e viu os homens responsáveis pela defesa do castelo correrem de um lado para o outro, totalmente agitados.

― Daenerys Targaryen está aqui! ― um dos homens berrou.

Então era isso. Finalmente, depois de quase uma semana de espera desde que chegara em Correrrio, Jon iria encontrar a Mãe dos Dragões. Não sabia como se sentir em relação a isso, mas teve o impulso de correr e subir até as ameias do castelo e só reparou que Fantasma lhe acompanhava quando finalmente chegou ao topo da muralha de proteção.

Foi possível para Jon ver um ponto movimentar-se com rapidez pelos campos verdes, até parar bruscamente no meio do caminho. Só então o jovem Rei notou o pequeno exército que estava, em seus cálculos, a uns quatrocentos pés de distância atrás dela. Viu uma grande bandeira de fundo preto, cujo tecido tinha o dragão vermelho de três cabeças estampado, e era carregada à frente dos homens, sendo possível ver outros emblemas menores sendo trazidos na parte de trás. Jon nunca imaginou na sua vida que veria o símbolo da antiga família real, que há mais de vinte anos fora quase aniquilada com a ajuda dos Starks.

Daenerys galopou, com o exército atrás de si, passando por entre os homens do norte, até a entrada principal de Correrrio, e parou quando chegou à ponte que ficava sobre o fosso.

― Abram os portões! ― Jon gritou para os homens e desceu das ameias o mais rápido que pôde.

Correu até o pátio até os músculos de suas pernas arderem e viu quando Fantasma chegou perto da grande estrutura de madeira e metal antes dele. Colocou-se ao lado de seu lobo albino e fez-lhe um afago na cabeça, enquanto via o pesado portão ser abaixado aos poucos. Alguns dos soldados e lordes apressaram-se e posicionaram-se ao lado do Rei, esperando terem o primeiro vislumbre da Mãe dos Dragões; quando a entrada estava totalmente aberta, Jon finalmente a viu. Ela era baixa, mas tinha um corpo esguio e com curvas generosas, que eram perceptíveis mesmo embaixo da malha de couro fervido vermelho-sangue que usava sobre um collant e botas negras que cobriam quase toda sua perna. Parte de seu cabelo estava preso no topo da cabeça por uma trança, enquanto a outra estava solta, indo até a sua cintura e cobrindo parte de seu busto, que tinha uma pele alva como leite; os fios eram tão prateados que brilhavam ao sol, como se tivessem luz própria. Ela era a mulher mais linda que Jon vira em toda sua via, dona de uma beleza quase inumana.

Ela pôs-se a encará-lo e então seu olhar encontrou o dele. Jon percebeu que as pupilas de Daenerys eram de um violeta límpido e hipnotizante; teve que desviar os olhos para disfarçar o quão impressionado havia ficado pela aparência da Rainha. Assim que o portão tocou a ponte, a garota desceu do cavalo e começou a caminhar em direção ao interior do castelo, e só então Jon percebeu que um pequeno homem a acompanhava lado a lado. Era o anão de Lannister, Lorde Tyrion; mesmo com o cabelo cor de ouro sendo o mesmo, o jovem Rei notou que o Duende tinha mudado desde a última vez que se viram. Ele havia envelhecido e parecia bem mais velho do que realmente era, além de ter uma cicatriz que ia do lado direito da tua testa até o final de sua bochecha esquerda, que agora era coberta por uma espessa barba loura.

Parte do exército de Daenerys a seguiu, atravessando lentamente a estreita ponte enquanto ela entrava no castelo. Seu corpo parou, e então ela encarou o grupo de homens que a esperava.

― Então, qual de vocês é o Rei? ― perguntou, como uma voz firme, mas ao mesmo tempo melódica.

Jon deu um passo à frente.

― Eu, minha senhora.

Daenerys o encarou novamente, com um rosto impassível, mas com o olhar que entregava um misto de curiosidade e desconfiança.

― Snow, finalmente nos reencontramos... ― Tyrion Lannister disse, desviando a atenção de Jon e fazendo com que abaixasse sua vista para enxergá-lo ― Olá, bastardo.

Jon percebeu que Davos, que estava ao seu lado, iria reagir à forma como o anão se dirigiu a ele, mas interveio antes.

― Olá, Duende. ― ele respondeu ― Muito tempo se passou desde a última vez que nos vimos... Tanto tempo que meu pai ainda tinha uma cabeça sobre seu pescoço e o resto de minha família não estava morta ou desaparecida.

Ouviu Fantasma rosnar ao seu lado em direção ao meio-homem.

― Bem, meus sobrinhos e meu pai também estavam vivos naquela época, meu irmão ainda possuía as duas mãos e a minha irmã não era tão louca e fora de controle como agora. ― Tyrion rebateu ― Mas não viemos falar sobre nossas perdas familiares. Deixe-me apresentá-lo a Sua Majestade, a Rainha.

Novamente os olhos violetas encontraram os olhos negros, e a única reação de Jon foi balançar a cabeça, cumprimentando Daenerys.

― Seja bem vinda a Correrrio. Oferecemos nossa hospitalidade a senhora e a seus homens. ― Jon lhe disse.

A garota assentiu.

― Obrigada, Lorde Snow. ― seu timbre foi mais firme ao pronunciar as duas últimas palavras.

Jon escutou um burburinho formar-se atrás de si e uma voz feminina ecoando pelo pátio enquanto eles estavam na entrada do castelo.

― Majestade! Majestade!

O rapaz virou-se e viu Alys correndo até ele, visivelmente aliviada ao vê-lo ali. Ela jogou-se sobre Jon e o envolveu em seus braços.

― Me disseram que ela havia chegado. ― a garota Karstark sussurrou em seu ouvido, tomando cuidado para que ninguém mais a escutasse ― Senti um aperto no peito, como se ela fosse arrastá-lo para longe de mim.

Jon quebrou o abraço e encarou Alys. Ela tremia e tinha o rosto pálido, tamanho era seu nervosismo, e o Rei tentou acalmá-la, passando a mão entre seus cabelos negros e a encarando com um olhar alentador.

― Perdoe-me por atrapalhar seu momento romântico Lorde Snow, mas eu e meus homens podemos entrar no castelo ou não? ― Daenerys os interrompeu.

O olhar de Jon deixou Alys e pousou sobre a garota Targaryen, que àquela altura tinha uma expressão séria e fechada. Por um milésimo de segundo, pensou que ela continuava adorável mesmo carrancuda.

― Claro que podem. ― Jon respondeu ― Seu exército pode levantar acampamento ao lado do meu e há aposentos esperando a senhora e os seus conselheiros, ou se preferirem podem comer antes.

― Ótimo. ― o semblante de Dany se suavizou ― Eu e minha Mão gostaríamos de conversar com o senhor e os seus comandantes depois de nos instalarmos.

― Faremos como a senhora preferir.

A Mãe dos Dragões agradeceu com a cabeça e virou-se para seu exército, pronunciando palavras cujo significado Jon desconhecia, fazendo os homens virarem os calcanhares e marcharam em direção ao lado do campo que não estava ocupado pelos soldados Stark. Em seguida, ela atravessou a ponte, entrando no castelo e passando por entre Jon, Alys e os senhores que lhes acompanhavam, fazendo com que uma nuvem de dúvidas se instalasse sobre a cabeça do Rei.


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Notas finais do capítulo

E então, gostaram? Não deixem de dizer o que acharam, por favor! Beijinhos.