Um Futuro Escrito em Gelo e Fogo escrita por crownprincess


Capítulo 3
Nascida da Tormenta


Notas iniciais do capítulo

Agradeço os comentários recebidos e peço perdão pela demora para postar esse capítulo! Espero que gostem!



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O símbolo da Casa Targaryen estampado na vela do barco era estufado pelo vento, que fazia com que a embarcação se movesse em direção ao continente. Daenerys podia ver um pequeno pedaço de Westeros despontar no horizonte que era coberto pelo oceano, e seu coração disparou ao ver aquele lugar que um dia fora controlado por sua família. Ela tentaria repetir o feito que Aegon, o Conquistador, realizara trezentos anos antes, quando subjugou as casas nobres westerosis e fez com que seus lordes dobrassem os joelhos. Viu Drogon, Viserion e Rhaegal cortarem o céu com suas longas asas e teve certeza de que conseguiria honrar o nome de seu antepassado.

Contudo, sabia que teria que ser paciente. Ela e sua frota não iriam direto para Porto Real, mas sim para Pedra do Dragão. Soube que o falso rei Stannis Baratheon havia sido morto – assim como a maioria esmagadora de seu exército – no Norte, e que a ilha, que antes da Rebelião do Usurpador era o acento do príncipe herdeiro dos Sete Reinos, estava sem um senhor. Então, vinte anos depois, Daenerys estaria de volta ao lugar onde nasceu.

Ao final de quase dois meses atravessando o Mar Estreito, a Rainha e parte de seu exército aportaram em terra firme. Aquele lugar, que foi essencial para a primeira conquista Targaryen, seria fundamental para que a segunda fosse bem sucedida. Lorde Varys levaria o resto da tropa para Derivamarca e Gancho de Massey, já que as Casas Velaryon, Bar Emmon e Massey haviam se juntado à causa de Daenerys.

Render Pedra do Dragão não foi difícil. Restavam pouquíssimas pessoas no castelo, que após a partida de Stannis, havia ficado quase abandonado; os moradores remanescentes não ofereceram resistência, entregando de bom grado as chaves da fortaleza marítima. O único esforço que o exército Targaryen teria que despender era esperar o resto dos homens que os Tyrell e as bastardas dos Martell lhe prometeram.

O coração de Daenerys pulou em seu peito quando saiu do navio e pisou na areia branca e fofa que cobria o solo da ilha. Nunca estivera tão perto do legado de sua família quanto naquele momento. Viu as torres do castelo esculpidas em forma de dragões e soube que aquele lugar pertencia a ela e somente a ela. Prepararia uma estratégia e tomaria o resto do que era seu por direito, expulsando a vadia Lannister que sentava em seu trono. Qualquer um que ficasse contra ela pagaria o preço em fogo e sangue.

― Então, Majestade? Gostou do que viu? Ou Pedra do Dragão é pouco para seu apetite? ― Tyrion Lannister perguntou, enquanto se posicionava ao lado da Rainha.

― Conquistarei os Sete Reinos a partir daqui, Lorde Tyrion. Uma nova era se iniciará neste lugar, como isto pode ser pouco? ― olhou para o alto e admirou seus dragões, que sobrevoavam o castelo como se soubessem que enfim, estavam em casa.

***

Daenerys, Tyrion, Missandei e Verme Cinzento reuniram-se na Câmara da Mesa Pintada para decidir como seria a futura invasão que promoveriam. Possuíam o apoio de Jardim de Cima e Dorne, além de algumas pequenas casas nobres das Terras da Coroa. Contudo, deveriam escolher qual o melhor local para o início da investida militar.

― Devemos começar pelas Terras da Tempestade. ― Verme Cinzento ponderou ― O anão disse que os senhores de lá odeiam a rainha Lannister. Fariam qualquer coisa para retirá-la do Trono de Ferro.

― Então porque invadir? ― Tyrion indagou ― Se fizéssemos um acordo, eles se juntariam à nossa causa de bom grado. O povo das Terras da Tempestade odeia minha irmã por conta da desonra que causou à Casa Baratheon, fazendo os seus bastardos passarem por herdeiros de Robert. ― levou a taça de vinho que segurava até a boca e virou-a, dando um longo gole ― Se aliariam até ao próprio Estranho para derrubá-la.

― Tem certeza disto, Lorde Tyrion? ― Daenerys arqueou a sobrancelha, demonstrando ceticismo.

― Quando Aegon veio até o continente para realizar sua conquista, Argilac Durrandon, o último Rei da Tempestade, foi o único senhor westerosi que resistiu às investidas de seu antepassado, minha Rainha. ― colocou a taça que segurava em cima da mesa e encarou a garota ― Preferiu ser morto em batalha por Orys Baratheon a entregar seu reino para o invasor.

― O que acabou de dizer só comprova a tese de Verme Cinzento de que devemos começar a invasão por Ponta Tempestade. Não pretendo lidar com homenzinhos arrogantes que...

― Deixe-me terminar a história, por favor. ― o anão Lannister interrompeu a Targaryen ― Acontece que, depois da morte de Argilac, sua filha, a Princesa Argella, autodeclarou-se a nova Rainha da Tempestade e trancou-se dentro do castelo de sua família, bradando que resistiria ou morreria tentando. Sabe o que seus homens fizeram? ― Tyrion lançou um olhar inquisitivo à Rainha.

― Não conheço muito bem a história das outras casas de Westeros. ― Daenerys admitiu ― Mas pode contar-me o que fizeram com a garota Durrandon.

― Bem, os homens que guardavam Ponta Tempestade viram o que aconteceu com Argilac e seus companheiros de batalha... E decidiram que não sofreriam a mesma sorte que os pobres coitados tiveram. ― Tyrion lhe contou ― E para que isto não acontecesse, entregaram sua própria rainha nua e presa em correntes para Orys Baratheon, que era a Mão do Rei na época, e tomou-a como sua esposa. Foi assim que a Casa Baratheon surgiu, porque alguns homens foram covardes demais para lutar pela pobre Senhora Durrandon.

Aquilo fez o estômago de Daenerys revirar. Sabia que a conquista de Aegon tinha sido construída à base do sangue de muitas pessoas, e não era tão ingênua a ponto de pensar que mulheres não tinham sido vítimas das atrocidades cometidas para que o Trono de Ferro fosse forjado. Mas saber que Argella, que fora uma rainha assim como ela era, tinha passado por uma humilhação e traição tão grande quanto aquela a fazia se sentir enjoada e, de certa forma, intimidada.

― E o que os impediria de tentar fazer o mesmo contra mim? ― Daenerys perguntou ao anão, desconfiada.

― O fato de eles desejarem fazer isto com Cersei, não com Vossa Majestade. ― Tyrion respondeu, como se estivesse falando algo óbvio.

― E permitiria que fizessem isto com sua irmã, Lorde Tyrion?

― Prefiro que aquela puta pague por seus crimes de outra forma. ― ele pegou novamente a taça de vinho e deu uma bebericada ― Apodrecer nas masmorras da Fortaleza Vermelha me parece o suficiente.

A Rainha analisou o que o meio-homem havia lhe dito. Levou em consideração os prós e os contras que um possível acordo com os senhores das Terras da Tempestade lhe traria, e imaginou um jeito de dobrá-los. Sabia que estavam sem um Senhor Protetor desde a morte de Stannis Baratheon. Pensou que talvez, se tornasse uma das famílias nobres a Grande Casa da região, ganharia o apoio que precisava.

― Então farei como minha Mão aconselha. ― decretou ― Tentaremos o acordo, mas se este não der certo, levarei conselho de Verme Cinzento em conta e atacaremos.

Tyrion assentiu, satisfeito com a decisão da Rainha.

Daenerys, então, virou-se para a grande mesa que era do formato de Westeros, e passou a fitá-la de forma curiosa. Analisava minunciosamente os detalhes dos desenhos que representavam cada região que formava os Sete Reinos, e seus olhos recaíram sobre as Terras Ocidentais.

― Talvez devamos enviar uma parte da tropa para Lannisporto ou Rochedo Casterly... Desta forma, dominaremos a região e enfraqueceremos as tropas Lannister, deixando Cersei sem ter para onde fugir assim que a encurralarmos. ― a Rainha decidiu.

Ela encarou Tyrion, e percebeu que ele estava pensativo, analisando o mapa enquanto parecia montar uma estratégia para que a invasão fosse bem sucedida.

― Invadiremos Rochedo Casterly, assim a tática de enfraquecimento se dará de forma mais eficiente. Depois, iremos até Lannisporto e destruiremos a frota naval da minha família. O ideal seria fechar a parte do Mar Poente que faz limite com as Terras Ocidentais, além de interditar Covafunda, Dente Dourado e Cinzamarca. Assim, ninguém entra ou sai de lá. ― o anão falou, coçando sua barba e ainda analisando a situação.

Daenerys o encarou, surpresa mais uma vez com a astúcia do meio-homem.

― Conhece o lugar melhor que qualquer um de nós, Lorde Tyrion. Faremos o que diz.

― Mas antes de tudo, precisamos saber ao certo qual a proporção de homens está em Rochedo Casterly e quantos estão em Porto Real. É necessário dividir o exército de forma equilibrada para que consigamos ter sucesso. Esperaremos Varys retornar e então teremos as informações necessárias para que possamos tomar a decisão correta. ― ele disse.

― E o resto do reino? ― Missandei indagou.

― Bem, temos os Tyrell de Jardim de Cima e as bastardas de Dorne ao nosso lado. ― Tyrion respondeu-lhe ― As Terras Fluviais estão com os Freys e o Norte agora é controlado pelos Bolton; apesar de estes terem a fama de vira-casacas, devem saber que pagarão pelos crimes que cometeram quando nossa Rainha subir ao trono e apoiarão Cersei por conta disto. Tentaremos fazer um pacto com as Terras da Tempestade. Resta o Vale. ― ele moveu-se e caminhou até o lugar na mesa que representava as Montanhas da Lua ― A Casa Arryn manteve-se neutra ao longo da Guerra dos Cinco Reis, e agora é controlada por Petyr Baelish, o homem menos confiável em todo o continente. Não contaria com a ajuda deles, pelo menos não sem que déssemos algo grande e valioso em troca.

― Então esperaremos o retorno de Lorde Varys e o posicionamento do resto do exército de Jardim de Cima e Dorne. Não demorará muito para que ataquemos.

A reunião da Rainha e seu séquito foi interrompida pelo arrastar da pesada porta de madeira que dava acesso à Câmara da Mesa Pintada. Daenerys virou-se para ver quem ousou atrapalhar aquele momento, no qual o futuro dos Sete Reinos era resolvido. Viu os irmãos Greyjoy entrarem no cômodo, e como era de costume, Yara caminhava à frente de Theon.

― Todos reunidos aqui... ― um sorriso repuxado de escárnio formou-se nos lábios da mulher de ferro ― Creio que o convite enviado para mim e meu irmão perdeu-se no meio do caminho.

Daenerys revirou os olhos. Sabia que era importante honrar o pacto que fizera com os filhos do falecido Balon Greyjoy, já que eles contribuíram com mil navios para a causa Targaryen, tornando possível sua ida aos Sete Reinos; contudo, não gostava nenhum pouco do comportamento insubordinado de Yara, que parecia esquecer que Dany era a Rainha-Sol, enquanto ela era, no máximo, uma Rainha-Satélite que orbitava ao redor da Mãe dos Dragões.

― Perdoe-me pelo ocorrido, Senhora Greyjoy. ― Tyrion falou ― Se tal circunstância voltar a acontecer, punirei o responsável pelo extravio de seu convite.

O tom ácido de sua Mão fez com que Daenerys tivesse que segurar-se para não sorrir. Viu a expressão irada de Yara, e esforçou-se para manter sua postura impassível.

― Estávamos discutindo por onde devemos começar a conquista, Yara. ― Dany lhe disse ― Decidimos que atacaremos Rochedo Casterly e Porto Real simultaneamente.

― E as Ilhas de Ferro? Ao menos a levaram em consideração?

Naquele momento, Dany percebeu que de fato, ela e sua comitiva haviam esquecido-se das terras da Baía dos Homens de Ferro. Mas sabia que Euron Greyjoy não a esqueceria com tamanha facilidade. E nem seus sobrinhos, pelo visto.

― Claro que levamos. ― Tyrion mentiu ― Assaltaremos as terras de sua família assim que a Rainha recuperar sua coroa. Expulsaremos seu tio e a colocaremos no Trono de Sal, como foi o combinado.

Yara arqueou a sobrancelha esquerda, parecendo não acreditar no que acabara de escutar; contudo, para a surpresa de Daenerys, não protestou, apenas caminhou até a mesa e encarou o mapa.

― Precisamos agir rápido. ― ela disse ― Tenho certeza que meu tio tem uma carta na manga.

― Do que está falando? ― Dany indagou.

― Euron é teimoso demais para aceitar uma derrota tão facilmente. ― a mulher de ferro explicou ― Já deve saber que estamos aqui, e se não, tenho certeza que em breve saberá. E tentará de tudo para derrotar seus três dragões, até mesmo fazer um acordo com o demônio.

Tyrion sobressaiu-se e ficou visivelmente incomodado pelo que Yara acabara de dizer.

― Cersei... Ele tentará fazer um acordo com Cersei! Como não percebi isto antes? ― o anão deu um pesado tapa em sua própria testa.

― Porque não estava levando a ameaça dos homens de ferro tão à sério quanto diz, Duende. ― a Rainha de Pyke lhe respondeu ― E esse é um dos maiores erros que os lordes de Westeros cometem há tantos séculos. Ignoram-nos, mas quando se dão conta, saqueamos e tomamos o que tem de mais importante.

***

Haviam se passado cinco dias desde que Daenerys e sua frota chegaram a Pedra do Dragão. A Rainha mal conseguia comer e dormir pensando nos próximos passos de sua conquista, e sonhava acordada com o momento pelo qual esperou pela maior parte de sua vida. Passava o tempo todo encarando a mesa em forma de mapa, analisando-a minunciosamente, tentando encontrar algo que pudesse pôr em risco seus planos. Sabia que tudo teria de ser perfeito para que conseguisse ter o que era seu de volta.

Sua cabeça doía pelo medo de falhar. Pensou em seu pai, em sua mãe, seus irmãos e sobrinhos – todos aqueles que morreram por causa do maldito Usurpador e sua rebelião que quase causou a extinção de sua casa. Os Targaryen tinham conseguido escapar da Perdição de Valíria, o cataclisma que apagou um grande império do mapa, mas não escaparam da cólera de um mero homem que teve sua honra e orgulho feridos por um de seus príncipes. Teria rido, se aquilo não lhe causasse tanta dor.

Daenerys caminhou até uma das grandes janelas que lhe permitiam ter uma vista ampla do exterior do castelo e viu seus dragões sobrevoarem as pilhas em chamas que costumavam ser a frota real de Cersei. Acharam-na escondida em uma base atrás do Monte Dragão e sob ordens de Dany, seus filhos, Drogon, Viserion e Rhaegal dizimaram todos os cinquenta barcos, cuspindo bolas de fogo tão poderosas que consumiam até a madeira que estava em contato com a água do mar. Tyrion lhe aconselhou a poupar pelo menos metade da frota e incorporá-la a sua própria marinha, mas a Rainha recusou. Não precisava, e principalmente não queria usar embarcações que foram financiadas com maldito ouro Lannister.

Seu deleite em ver aquele espetáculo era tanto que mal pôde notar quando Missandei adentrou a câmara, visivelmente ofegante.

― Minha Senhora... ― a aia expirou uma grande quantidade de ar antes de prosseguir ― Lorde Varys retornou e trás notícias sobre a situação política de Westeros. Pediu-me para que a chamasse com urgência.

Daenerys sentiu seu coração saltar à boca.

― Ele disse do que se trata?

― Não, só disse que o conselho deve se reunir imediatamente para reformular o plano de invasão. Ele, Lorde Tyrion, Verme Cinzento e os irmãos Greyjoy já estão vindo para cá encontrá-la. Corri para lhe dar as notícias antes.

Não gostou de escutar aquilo. O fato de terem que refazer seu plano já mostrava que as mudanças não deviam ser boas, pelo contrário, provavelmente lhe trariam dor de cabeça. Começou a andar de um lado para o outro, enquanto esperava que seu Pequeno Conselho chegasse, e cada minuto se arrastava a ponto de parecer que horas haviam se passado. Sobressaiu-se quando a porta foi arrastada, e viu seus aliados, cada um por vez, adentrar a sala.

Lorde Varys prostrou-se diante de Daenerys, fazendo-lhe uma rápida reverência com a cabeça brilhante e careca. Como sempre, sua expressão era enigmática, e fazia com que a aflição da Rainha aumentasse.

― E então? Que notícias tão importantes são essas a ponto de ter que mudar o cronograma da invasão? ― Dany indagou, encarando o eunuco.

― A balança de poder das grandes casas de Westeros foi alterada mais uma vez, Majestade. ― ele respondeu ― Os Boltons foram derrotados e extintos. Os Freys perderam suas terras e estão sendo caçados como animais. Dizem que a cabeça de um vale uma fortuna.

― Mas... O que aconteceu, pelos Sete Deuses? ― Tyrion indagou, enquanto deixava transparecer o choque que sentiu ao escutar aquelas palavras.

― Os Starks aconteceram, Lorde Tyrion. ― o eunuco encarou o anão ― Os lobos ressurgiram das cinzas e tomaram o que era seu de volta. Em conluio com a Casa Arryn, derrotaram o bastardo legitimado de Roose Bolton e retomaram Winterfell.

― Pensei que os Starks estivessem mortos... ― Dany falou.

― Nem todos, Majestade. Lady Sansa Stark e seu irmão bastardo, Jon Snow, acabaram com quase todos aqueles que fizeram mal para sua família. Dizem que o próximo alvo são os Lannister. ― Varys deu uma rápida olhada em direção à Tyrion.

― Isso é bom para nós, não? ― Daenerys movimentou-se até a mesa de madeira, na qual apoiou suas mãos, encarando o Norte do mapa ― Significa que temos um inimigo em comum. Devem querer tanto quanto eu que Cersei Lannister seja escorraçada do Trono de Ferro.

― Bem... ― o Aranha cruzou as mãos, como se estivesse a ponto de dizer algo delicado ― As coisas mudaram com a ascensão dos Starks, Majestade. Lady Sansa foi declarada a Senhora de Winterfell, enquanto seu irmão bastardo foi aclamado pelos lordes como Rei do Norte. Comandam um reino independente agora, e dizem que não voltarão a seguir Porto Real.

Ao escutar aquilo, Dany sentiu o sangue ferver em suas veias. Dividiram o seu país ao meio e declararam-se independentes. Acabaram com a unidade e integridade dos Sete Reinos e tiveram a audácia de estilizarem-se como novos monarcas.

― Então acabaremos com eles após terminarmos com Cersei. Os varrerei para fora deste mundo sob o fogo de Drogon e os farei sofrer por tal insolência. ― Daenerys respondeu, e sentiu seu maxilar tremer tamanha era a cólera que sentia.

― Não será tão fácil, minha Rainha. Foram eles que expulsaram os Freys. Tomaram de volta as Terras Fluviais, e Sansa foi feita a Senhora de Correrrio, por ser neta de Hoster Tully. E Jon Snow... ― o eunuco hesitou, temendo a reação de Daenerys ― Parece que herdou todos os títulos de seu falecido irmão, Robb Stark. Fizeram-no Rei do Tridente também... O Vale anunciou que rejeita o poder do Trono de Ferro, e juntou-se ao novo Reino do Norte como uma espécie de protetorado.

Um sorriso involuntário brotou nos lábios de Daenerys. Aquilo tudo era ridículo demais para ser verdade.

― Tenho os Imaculados. Tenho meus dragões. Por acaso os títulos que esse bastardo ostenta seriam o suficiente para salvá-lo de queimar dentro de seu castelo ao lado da irmã?

― Os títulos talvez não, minha Rainha. Mas o sangue sim. ― Tyrion interveio e a encarou com uma expressão séria ― Jon e Sansa são Starks, e toda vez que um rei ousou derramar sangue Stark, coisas terríveis aconteceram à Coroa e ao reino. Lembre-se bem qual foi a causa da rebelião que culminou na quase aniquilação de sua família vinte anos atrás. Veja o que aconteceu depois que o estúpido do meu sobrinho mandou cortar a cabeça de Ned Stark. Os Sete Reinos estão em guerra até hoje porque desta vez foi a minha família que fez a besteira de subestimar os nortenhos.

― Então o que sugere que eu faça? ― Daenerys rangeu os dentes, incapaz de esconder sua irritação ― Quer que eu me ajoelhe aos pés dos Stark, renuncie aos meus direitos e os coloque no Trono de Ferro?

― Não, apenas aconselho a não matar nenhum deles. Pelo que Lorde Varys disse, o garoto Snow foi aclamado como Rei pelos senhores. Não se auto-coroou, mas foi escolhido. Vossa Majestade mais do que ninguém deveria saber o que isto significa. ― o anão argumentou ― E além do mais, eles controlam três dos Sete Reinos, o que significaria que teria o desprezo e rejeição de quase metade de Westeros se sequer tocasse em um fio de cabelo das crianças de Ned Stark.

Antes que Daenerys pudesse argumentar, Theon Greyjoy deu um passo adiante, ficando em silêncio por alguns segundos, como se decidisse se iria realmente dizer algo. Contudo, tomou sua decisão, e se dirigiu à Rainha.

― Os Starks são as pessoas mais decentes que conheci em toda minha vida, Majestade. ― o rapaz a encarava com seus tímidos olhos verde-azulados ― Eles me acolheram após a rebelião de meu pai e me trataram como se eu fosse parte da família. Robb Stark era um irmão para mim e eu o traí. ― Theon abaixou a cabeça e encarou o chão, demonstrando vergonha ― Se houvesse uma forma de voltar no tempo, eu o faria. Daria tudo para desfazer todos os meus erros e não ser Theon Vira-Casaca, aquele que saqueou Winterfell no meio da guerra e clamou ter matado Bran e Rickon Stark. Queria não carregar a mancha e a vergonha que isso me trás, não ser desprezado por todos...

― Vai defender aqueles malditos lobos que te fizeram de empregado? ― a voz de Yara ergueu-se no salão ― Eles te mantiveram como um brinquedinho, como uma garantia. Se nosso pai se rebelasse novamente, não tenha dúvidas de que o próprio Lorde Stark passaria a lâmina em sua garganta!

― Ele não faria isso! Ned era um homem honrado, assim como seus filhos são! ― ele ergueu a cabeça e gritou com a irmã, desviando-se em direção à Daenerys em seguida ― Por favor, Majestade, não faça nenhum mal a eles! Ramsay Bolton me quebrou de uma forma que qualquer pessoa pensaria ser impossível. Ele me despedaçou, destroçou... Foi Sansa quem me ajudou a juntar pedaço por pedaço para poder reconstruir o verdadeiro Theon Greyjoy. E Jon... Jon puxou toda a honradez do pai. Ele tomou o manto negro da Patrulha da Noite apenas para acabar com qualquer possível disputa por Winterfell. Eles perderam a família, perderam a casa, tiveram seus nomes manchados e mesmo assim conseguiram tudo de volta, da mesma forma que sei que Vossa Majestade conseguirá o que tanto deseja. Mas para isto, peço que não tire o que por direito é deles!

Daenerys manteve-se em silêncio e caminhou até a janela que permitia ter a vista da Torre do Dragão Marinho. De lá, conseguia ver uma pequena poção de terra de Westeros, e pensou em tudo que passara para chegar até ali, tão perto de conseguir de volta a herança de sua família. Lembrou-se de sua jornada em Astapor, Yunkai e Meereen, o quanto lutara para acabar de uma vez por todas com a crueldade e os desmandos dos mestres e deu-se conta que, talvez, estivesse pensando como um deles. Tinha a convicção de que os Sete Reinos eram seus por direito de nascença e seriam reconquistados com base nisso, independentemente da vontade de quem quer que fosse. Mas aquele seria a forma de raciocínio de um mestre, e ela não era um mestre, não queria ser. E se o povo de Westeros de fato desejasse outro líder que não fosse ela?

Pensou também que Theon tinha razão. Tyrion lhe colocou a par de tudo que os Lannister fizeram para manter o Trono de Ferro, em quantas pessoas passaram por cima – entre elas, os Stark. Ned foi, segundo sua Mão, injustamente executado como traidor; Robb e Catelyn foram assassinados de maneira covarde por seus próprios vassalos, os Bolton e os Frey, que venderam-se para Lorde Tywin em troca do controle do Norte e das Terras Fluviais, respectivamente. Mas uma garota e um bastardo conseguiram vingança contra aqueles que tentaram acabar com sua família, e o mais importante, obtiveram justiça ao tomarem de volta tudo que lhes foi tirado. Pensou que, talvez, não fosse tão diferente do tal Rei do Norte e de sua irmã, e que provavelmente desejava a mesma coisa que eles.

A Rainha voltou novamente a atenção para seu séquito, e encarou cada um antes de anunciar sua decisão.

― Mande um corvo à Winterfell, Lorde Mão. Escreva uma mensagem dirigida ao Rei Nortenho, lhe dizendo que Daenerys Targaryen, a Nascida da Tormenta deseja se reunir com ele para decidir qual será o futuro dos Sete Reinos.

***

Lyanna sentiu o corpo de Rhaegar sob o seu após os dois caírem no chão. A imagem da rainha prateada despareceu assim que sua mão deslizou para longe da árvore coração, fazendo com que ela e o Príncipe voltassem para a realidade. Sentia-se tonta e demorou a notar que estava tão próxima do rapaz Targaryen. Só percebeu o que acontecia quando sentiu os dedos dele passarem por entre as mechas de seu cabelo e sua voz macia e suave entrar em seus ouvidos.

― Está bem, Lady Lyanna?

Ela o encarou, ainda atordoada. Notou que os cabelos dele eram tão prateados quanto os da garota de sua visão, e sua pele de um branco tão leitoso quanto a dela, possuindo as mesmas expressões tão finas e perfeitas... Apenas os olhos eram um pouco diferentes, sendo os de Rhaegar mais azulados. Mesmo que não tivesse visto a bandeira negra com o dragão vermelho de três cabeças estampado, saberia que Daenerys era uma Targaryen, pois sua semelhança com o Príncipe de Pedra do Dragão era incrível.

― Não me chame de “lady”. Odeio este título. ― Lyanna finalmente respondeu, afastando seu corpo do dele e colocando-se de pé novamente.

― Mas é o seu título, queira ou não. ― ele respondeu ― Mas coisas tão superficiais pouco importam agora. A única coisa que é realmente importante é o seu dom. É simplesmente... Extraordinário!

Rhaegar levantou-se e segurou as mãos de Lyanna, encarando-a de uma forma curiosa, maravilhada. No entanto, a garota lembrou-se de detalhes de coisas que as pessoas de sua visão disseram e puxou seu punho.

Sangue Stark seria derramado, a ponto de a família ser quase extinta. Ned, tão silencioso quanto honrado, teria uma morte de traidor. Além de Brandon, perderia também o irmão do meio, e só os Deuses sabiam quem mais morreria em sua família.

― Como pode achar tudo tão maravilhoso assim? Ao menos prestou atenção nas coisas que vimos? ― Lyanna perguntou, como se Rhaegar fosse um tonto incapaz de perceber o que se passava ao seu redor.

― Claro que prestei! ― os olhos azuis-violeta de repente se fecharam ― Minha família será quase aniquilada, e aquela garota que eu nunca vi na vida será a última dos Targaryen. Não consigo entender como isto poderá acontecer! Aegon deveria ser o Príncipe Prometido...

Lyanna bufou. Não queria saber das idiotices que Rhaegar pensava, e não estava disposta a escutar suas lamúrias egoístas.

― Pode não parecer importante, mas a minha família também sucumbirá! Sei que acha que os Targaryen são mais importantes que o resto das pessoas, mas...

A garota não conseguiu completar sua fala. Sentiu-se sufocada, com um nó na garganta. Seus olhos começaram a arder e seu rosto a tremer, mas se recusava a chorar novamente na frente de Rhaegar; mas também não conseguia pronunciar uma palavra sequer, pois tinha medo de desabar e demonstrar sua fraqueza.

Apoiou-se na árvore, evitando chegar perto de seu rosto esculpido, pois a última coisa que precisava naquele momento era ser sugada para dentro de uma maldita visão.

― Lyanna, por favor... Por favor... ― Rhaegar aproximou-se novamente dela, puxando sua mão e segurando-a com força.

― Por favor o que? ― ela indagou, ainda tentando controlar o choro.

― Pare de tentar me afastar. Pare de tentar arranjar desculpas para ir para longe de mim. ― ele levou o coração da garota até seu peito, e ela pôde sentir o coração acelerado do Príncipe ― Nunca disse que minha família é mais importante do que a sua, pois não é. Acha que eu estaria aqui, me humilhando, aceitando suas grosserias e destratos se me achasse superior a você? Que eu deixaria meus filhos em Porto Real, junto de meu pai que a cada dia está mais louco, se eu a considerasse inferior de alguma forma?

Lyanna suspirou longamente, tentando tomar o ar que precisava.

― Não tente fazer desta situação algo sobre nós, por favor...

― Mas isto tem a ver com nós! Ou não consegue ver? ― Rhaegar lhe cortou ― Quando a vi pela primeira vez, sabia que tinha algo que nos unia... Sabia que tínhamos um destino juntos, e agora tenho certeza!

― Tem certeza de quê?

― Que devemos salvar nossas famílias! Unidos! ― ele afundou a mão de Lyanna em seu peito ― Os Deuses nos uniram aqui, lhe dando este dom para que víssemos o futuro e evitássemos que as desgraças atingissem nossas casas!

Sem saber o que dizer, Lyanna o encarou. Viu que ele era sincero, e realmente acreditava no que falava. Mas tinha medo que ele estivesse errado, e que todos haviam sido condenados de uma forma irreversível. Mas, no fundo de seu coração, ainda havia esperança de ter Brandon e Ned vivos ao seu lado no futuro.

― Acha mesmo que é possível? ― ela perguntou.

― Acha mesmo que é impossível? ― Rhaegar lhe devolveu ― Deve haver um motivo para ter sido presenteada com a visão verde, Lyanna... E não creio ser coincidência estarmos aqui... Ou termos nos encontrado em Harrenhal e eu ter me apaixonado por v...

― Não diga isto, por favor. ― Lyanna puxou sua mão e colocou os dedos sobre os lábios do Príncipe, evitando que ele prosseguisse com suas palavras ― Não fale de sentimentos, não agora. A única coisa que desejo nesta vida é salvar minha família, e nada terá importância até que eu consiga.

Rhaegar assentiu com a cabeça, concordando com ela. Os dedos de Lyanna deslizaram até o queixo do Príncipe e deu alguns passos para trás para evitar fazer algo que lhe traria arrependimento posteriormente.

Ela caminhou silenciosamente até a árvore coração, sendo seguida de perto por Rhaegar. Ajoelhou-se perante a face cravada na madeira e sentiu os pelos de seu corpo arrepiarem-se quando o Príncipe colocou a mão sobre a sua. Mas tudo aquilo foi esquecido quando a palma de sua mão tocou a árvore, fazendo com que todos os seus sentimentos fossem puxados para trás de sua mente, abrindo espaço para mais um turbilhão de imagens.


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Notas finais do capítulo

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