Meu tempo com papai tinha acabado, eu já havia embarcado no trem e ido direto para a cabine que diversas vezes tinha compartilhado com Fred e George. Estava pensativa e brincando com meus próprios dedos, Sirius havia me dito algo que estava impregnado em minha mente, sobre Fred, e por mais que parte de mim não quisesse que fosse verdade... No fundo eu sabia que ele estava  certo sobre isso.

Engoli seco quando vi os ruivos entrarem na cabine e sorrirem para mim.

George se sentou no banco em frente a mim, deixou suas pernas descansarem na almofada velha e sorriu marotamente para mim quando seu irmão gêmeo jogou-se em meu colo, descansando sua cabeça em minhas pernas e puxando minha mão esquerda para seus cabelos, enquanto brincava com meus dedos da mão direita. 

— Sentimos sua falta. - Fred disse com o tom de voz baixo, como se estivesse concentrado em algo, meus dedos. 

— Fiquei esse tempo com papai. - suspirei e ouvi um estalo de língua vindo de onde George estava deitava deitado, ri baixo e mordi o inferior da bochecha - Tonks me contou sobre o ataque durante a Copa.

O silêncio se instalou na cabine e os gêmeos suspiraram, os dedos sardentos apertaram os meus e lhe dei um pequeno sorriso preocupado. Antes que pudessem falar qualquer coisa, Cedric adentrou ao pequeno cubículo que estávamos e sentou-se no que restava da poltrona ao lado de George, dizendo:

— Foi um tanto quanto assustador... A marca negra no céu, um ataque tão perto de nós. - sua voz era temorosa - Acho que o bom de você não estar lá é que... Nenhum de nós precisou se preocupar ainda mais. 

— Não que não estivéssemos preocupados com você. - o dono dos cabelos ruivos que eu acariciava começou a falar - Tem um prêmio na cabeça do seu pai, basicamente por todo o Ministério, se eles te pegassem com ele...

— Eu poderia ser dita como traidora, assim como meu pai é para aqueles que não conhecem a história toda. - concluí e suspirei - Pelo menos estamos todos bem.

— Harry está um pouco...

— Agitado. - George completara o que o irmão iria dizer.

Umedeci os lábios, queria conversar com Harry e lhe dar umas fotos que achei em casa, porém lidaria com isso depois, as palavras de meu pai estavam em minha mente ainda e precisava lidar com o que quer que eu sentia sobre Fred primeiro, não queria que isso fosse uma incógnita... Ou que eu estragasse tudo. 

☾☾☾   

— Papai eu não estou apaixonada por Fred Weasley. - disse após ajudá-lo a guardar a louça. 

— Ah, por favor, Lynx. - a voz de Sirius soou zombeteira - Você mal consegue parar de falar do rapaz.

— Ele. É. Meu.  Melhor. Amigo. - falei pausadamente, sentindo minhas bochechas queimarem.

— George Weasley é seu melhor amigo. - Nymphadora palpitou quando entrou no cômodo e sorriu para nós dois - Pelo outro gêmeo você tem uma queda.

— Eu não amo Fred, não desse jeito. - comecei a dialogar e olhei seriamente para os dois primos enquanto andava para o outro lado da cozinha, não queria ser interrompida - Somente sinto falta dele quando ele não está por perto, gosto de sentir o cheiro dele e do jeito que ele tenta me tirar do sério em qualquer oportunidade que tem e como... Como as sardas dele ficam ainda mais a mostra quando toma um pouco de sol, ou como ele tem sempre uma resposta na ponta da língua.

— Você soa como James Potter sobre Lily Evans. - Black cantarolou atrás de mim.

— Dê uma chance à isso priminha. - Tonks me sorriu docemente. 

— Ao menos pense sobre o que estamos lhe falando, pequena estrela. - papai pediu.

☾☾☾  

E tudo o que tenho feito desde aquela conversa nos meus últimos dias com meu pai, era pensar em como meu estúpido estômago alimentava estúpidas borboletas por um dos meus melhores amigos há um tempo. 

☾☾☾ 

— Você está quieta. - Angelina disse para mim assim que me avistou, saindo do trem - Você não é quieta, Black.

— Muitas coisas na cabeça, Johnson. - murmurei, observando Harry mais a frente e dei um sorriso leve para a negra ao meu lado - Eu vou... Falar com Harry, volto logo. 

E antes que minha amiga pudesse falar qualquer coisa apressei meus passos até Potter, precisava conversar com ele antes de chegarmos ao castelo. 

No momento em que comecei a caminhar ao lado dos três grifinorianos mais novos, lhes abri um pequeno sorriso e recebi olhares surpresos.

— Acho que nós quatro terminamos o último ano tão bem quanto deveríamos, entendo o que aconteceu e depois... De bem, passar um tempo com papai, sinto por te excluir da família Harry. - comecei a falar, recebendo expressões ainda mais surpresas do que antes de eu abrir minha boca - Peço desculpas por agir por impulso, não gosto do que você fez, mas querer punir você e proibi-lo de participar da família que você participa desde que estava na barriga de sua mãe... Desde que nossas mães e nossos pais eram melhores amigos, isso foi errado. - puxei o ar e enfiei minhas mãos nos bolsos de minha capa, percebendo que os três olhos atentos estavam prestando atenção em cada palavra que eu falava, sorri leve e notei que Potter tinha os olhos marejados, como os meus também estavam naquele momento - Você, Harry James Potter, é parte da minha família, e sinto muito por ter feito você se achar menos do que realmente é. 

O silêncio se fez presentes enquanto andávamos até eu sentir a mão do menino que sobreviveu no meu braço, puxando-me para um abraço leve. Beijei a bochecha do filho dos Potter, e firmei meus braços em torno de seu corpo. 

— Nós somos uma família. - sua voz soou embargada. 

— Somos uma família. - sorri para ele antes de bagunçar seus cabelos - Roubei umas coisas do esconderijo de Sirius para você, espero que te ajude um pouco... Na saudade. - murmurei antes de tirar um pequeno álbum de meu bolso.

Um sorriso surgiu nos lábios do garoto e o vi ajeitar os óculos.

— Obrigado por isso, Lynx.

Dei os ombros e sorri levemente para Hermione e Ron.

— É besteira, mas... Tentem se manter fora de problemas por um tempo.

☾☾☾

Pedir para Harry Potter deixar-se ficar fora de problemas ou de atividades perigosas era a mesma coisa que pedir para que eu não levasse uma detenção nas aulas de Severus Snape, resmunguei carregando meus livros e travei uma batalha mental sobre conversar ou não com Cedric sobre os idiotas de nossa casa que usavam aquele maldito botton contra meu primo.

Era engraçado como as coisas estavam sendo, meu relacionamento com Potter havia melhorado muito, e eu basicamente o tinha como um primo, sangue do meu sangue. Mesmo que eu soubesse que ele não era. E honestamente, ignorar as borboletas que floresciam em mim quando Fred estava por perto era uma tarega difícil, mas mais fácil que fingir que ele não me afetava de modo algum.

Infelizmente o ruivo havia percebido que eu estava o evitando e quando não conseguia, apenas ignorava a presença dele em minhas aulas, mas o armamento que ele usava atualmente era cada vez mais pesado e sabia que estava encrencada quando o vi no final do corredor, as sobrancelhas elevadas a cima da sobrancelha e os braços cruzados na altura no peitoral, com um pergaminho velho debaixo do braço.

Maldito Harry Potter e maldito Mapa do Maroto; legado estúpido e traiçoeiro. 

Terminei de andar até onde ele estava, mordia o interior da bochecha com força e senti que minhas mãos suavam, lhe dei meu melhor sorriso e disse rapidamente:

— Você viu Angie? Preciso ver o que ela queria comigo antes da aula. 

— Black, pare de fugir de mim. - a raiva na voz de Weasley podia ser percebida à metros, senti os pelos da minha nuca arrepiarem, nunca o tinha visto daquele jeito.

— Está irritado com alguma coisa?

Estúpida, ele está irritado com você. 

Segurei a vontade que tive de revirar os olhos para mim mesma e para minha pergunta estúpida. No lugar de fazer isso, apenas observei  a testa de Fred enrugar, ele disse por fim:

— Você está me evitando, querida Lynx. 

— Acho que está se confundido. - murmurei, antes de umedecer os lábios - Não estou te evitando. 

— Você não almoça mais comigo, George ou Angelina. - o gêmeo que tinha meu coração começou a pontuar, olhando-me sério - Você passa mais tempo na biblioteca que qualquer coisa. - disse descrente e revirou os olhos - Por Céus, Lynx, você fazia tudo ao meu lado e agora preciso perguntar ao meu irmão mais novo como  você está. 

Mordi o canto do lábio inferior, com olhos castanhos atentos a cada movimento meu.

— Me desculpe. - meu tom de voz era quase inaudível. 

— Não quero que me peça desculpas, quero me fale o motivo disso tudo. 

Meus olhos marejaram e os fechei rapidamente, tentando controlar minha respiração. Senti a aproximação de Fred, suas mãos procuraram pelas minhas e seus lábios foram para minha testa. 

— Eu não aguento a distância que você está nos impondo, Ly, e muito menos o jeito que você tem saído do cômodo quando eu entro. Isso machuca, e não é pouco. - o ruivo começou e como um efeito de sua voz, meu corpo começou a tremer - Não sei o que está acontecendo, mas... Sinto que preciso saber. Eu quero saber. Porque preciso de você ao meu lado.

— Você realmente quer saber? 

Estúpida, mil vezes estúpida. Eu não pensara em como aquilo o afetaria tanto quanto me afetava. 

— Não acho que teria me dado ao trabalho de roubar o Mapa do quarto de Harry se não quisesse saber o que se passa na sua mente conturbada. 

Soltei meus dedos dos seus e soquei-me o ombro com minha mão direita, antes de abrir os olhos e tomar coragem. Vi-o sorrir divertidamente para mim e puxei o ar, demoradamente. 

— Talvez você me dê malditas borboletas no estômago e isso tenha me deixado confusa, quando estava na casa de meu pai... Ele e Tonks falaram para eu perceber o que estava acontecendo, porque... Porque eles achavam que eu estava... - ri, descrente do que estava prestes a falar para meu melhor amigo - Aparentemente todos acham isso, na verdade. - suspirei e encarei seus olhos, de forma séria.

— Todos acham o que? 

— Que eu estou apaixonada por você. Que o que sinto por você, o amor que sinto, é mais íntimo do que amor que sinto por seu irmão, ou por Cedric. Que isso é mais do que parece, pelo menos para nós dois, e que esse é o motivo de eu nunca pensar em nada que me afaste de você. Ou, de eu não deixar ninguém mais entrar. Mas... Mas você também não deixou ninguém entrar, então fiquei confusa. - despejei tudo com cuidado, tentando não me embolar nas palavras - Eu só...

No minuto seguinte minha boca foi calada pelos lábios de Fred, que tomou meu rosto suavemente e então meus olhos ficaram abertos, vendo a expressão doce no rosto sardento. 

Ele estava me beijando?

— Será que você pode parar de pensar tanto e me beijar de volta, Black? - Fred soltou vagarosamente, sem abrir os olhos.

Sem qualquer outro pedido, levei minhas mãos até os fios ruivos de seu cabelo e fechei os olhos, deixando que o beijo acontecesse. 

Meus lábios nunca haviam tocado outros antes, e o sabor de Weasley era bom e senti sua boca contra a minha era algo que acalmava e chocava cada parte do meu corpo, era como se a onda de eletricidade que passasse por mim tivesse o poder de me deixar energizada, porém calma ao mesmo tempo.

— Isso foi...

— Bom. - terminei o que quer que Fred fosse dizer, e então ele encostou nossas testas - O que fazemos agora? 

Perguntei sem se quer ter coragem de abrir meus olhos. 

— Acho que eu poderia te beijar por mais tempo, de verdade. - o ruivo riu nasalado e então belisquei seu ombro.

— Estou falando de nós dois, seu idiota. 

— Não me chame de idiota, Black. - murmurou ao beijar minha bochecha e puxou meu corpo contra o seu - Ainda não sei o que faremos, mas George irá adorar te irritar ainda mais sob isso.

Deixei um som irritado sair de minha boca e descansei minha cabeça em seu ombro, passando meus braços por sua cintura. 

☾☾☾  

Não era fácil. 

Fred ainda estava ranzinza pelo que eu havia lhe pedido, mas naquele momento, durante o Torneio Tribruxo, para mim... Era o melhor a ser feito. 

Segredo. Um segredo que eu senti que estava-o deixando irritado, mentira eu não senti, eu sabia. 

Cedric sentou-se a minha frente com aquele maldito Ovo metalizado em minha frente, aquela merda havia me deixado surda outro dia, arqueou as sobrancelhas e sorriu antes de perguntar:

— O que está havendo, Ly? 

Suspirei irritada e revirei os olhos.

— E não minta para mim, você e Fred estão com o mesmo comportamento e estão me irritando. Eu não deveria pensar em vocês dois e sua jornada para o amor ou qualquer merda parecida, fui selecionado para o Torneio, tenho que pensar nisso.

Dei-lhe os ombros e ouvi meu amigo bufar.

— Por Helga, você é mais difícil que essas terríveis missões. 

— Fred me beijou. - declarei por fim, arrancando uma expressão de choque de Diggory - E eu o beijei, e depois pedi para que deixássemos isso em segredo. 

— Você é mais burra do que os que acreditam que Harry colocou o nome dele naquela Taça. 

Suspirei e olhei para meus pés, a poltrona não parecia um lugar tão confortável e nem mesmo meu Salão Comunal.

— Por Merlin, Black, você gosta de Fred desde... O primeiro ano. - resmungou e bagunçou os próprios cabelos - Vá atrás dele e mostre que se importa, mostre que ele é importante e ponha-o embaixo de um desses malditos viscos encantados e beije-o em frente a escola toda. 

— Você parece estar estressado. 

— Você estaria estressada se visse como Potter olha para Cho, e eu gosto do garoto. - Cedric disse, em um suspiro - E ainda essas provas... Eu estou cansado e preocupado. Viktor é um monstro e Fleur só tem a aparência de alguém delicada, ela é...

— Determinada. E forte. - completei com um sorriso. 

— Não mude de assunto, só... Vá atrás de Fred. Ele a quer também, pronto, caso solucionado.

Revirei os olhos sabendo que Cedric estava certo e levantei-me da confortável poltrona que eu me encontrava, indo atrás de um ruivo que como outros de sua família pertencia a Grifinória. 

Andei sem prestar atenção nas pessoas que caminhavam pelos corredores decorados para o Natal, e assim que avistei duas cabeças ruivas conversando com Angelina Johnson, apressei meus passos, tirei a varinha de meu bolso e apontei para um visco, fazendo-o andar comigo, até o Weasley que eu queria. 

Cutuquei-o, sabendo que George estava ao lado de Angie, e assim que Fred me encarou, com uma sobrancelha arqueada. Encantei o visco em silêncio e apontei para cima.

— Estou fazendo isso por mim e por você Weasley, só podemos sair daqui se pararmos de esconder.

O sardento olhou para cima e me encarou, vi-o morder a bochecha e umedecer os lábios, medindo seus movimentos. Ouvi um murmurio do casal ao lado e segurei a respiração quando ele aproximou seu rosto do meu, unindo nossos lábios em um dos meus beijos favoritos.

— Até que enfim. - ouvi o gêmeo que era meu melhor amigo dizer em um tom travesso.