O Anel Claddagh escrita por ferporcel


Capítulo 19
Capítulo 19: Tempo Juntos




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Capítulo 19: Tempo Juntos

 

Severo estivera muito quieto desde que ela voltara para Londres. Hermione estava acostumada com as cartas diárias e sentia muita falta delas. O que poderia ter causado esse silêncio? Hermione tentou lembrar o que dissera na última carta, mas não se lembrava de nada que pudesse tê-lo ofendido.

 

Talvez uma ofensa não fosse o que Hermione devesse procurar, ela percebeu e corou. Será que ele estava ciente da natureza real de seus sentimentos por ele? Será que ele sabia que estivera pensando nele como mais que amigo que ele, calado, concordou em ser?

 

Hermione suspirou.

 

Ela não tivera a intenção de que isso acontecesse, mas como sua mãe sempre dizia, existem certas coisas que simplesmente não podem ser evitadas. Amor, paixão, desejo, ou fosse lá o que ela sentia por Severo estava entre essas coisas. Ela simplesmente não podia evitar; apaixonara-se por esse homem misterioso, inteligente e surpreendentemente divertido; um bruxo complicado cuja história estava intrincada com aquele de seu mundo. Um bruxo que ela queria entender, e cuidar, e proteger, e amar...

 

Hermione aceitara aqueles sentimentos e estava feliz com eles, mas o Severo não tinha nem idéia de como ela se sentia. Era cedo demais, eles ainda estavam se conhecendo e ela não podia simplesmente aparatar para onde ele estava e beijá-lo.

 

A idéia de beijar Severo a distraiu do problema em mãos. Ela comprara trufas de chocolate para ele em seu último dia na Bulgária e não conseguia parar de pensar nos lábios dele se fechando ao redor do doce, fazendo-o derreter na quentura...

 

Hermione molhou os lábios que ficaram repentinamente secos com a idéia. Essa fantasia não se realizaria tão cedo se ela não descobrisse o que estava acontecendo de errado com o Severo, por que ele não escrevera uma carta em dois dias. Buscar todas as razões possíveis e imagináveis era um exercício fútil. Ela deixou o sofá e foi atrás de pergaminho e pena ao invés disso. Escreveria para ele e veria o que ele diria – esperando que ele dissesse alguma coisa.

 

o0oOo0o

 

Querido Severo,

 

Estou em Londres desde segunda-feira e o trabalho está tomando a maior parte do meu tempo. O que você tem feito? Não tenho notícias de você há algum tempo. Sinto falta das suas explicações impossíveis para a sua sobrevivência, das suas recomendações de livros, dos relatos de seus dias miseráveis. Sinto falta de você.

 

Estou esperando ansiosamente pelo nosso encontro no final de semana. Entretanto, não sei para onde poderíamos ir. Tem algum lugar que queira visitar? Você poderia me mostrar aquele museu bruxo que me falou, ou se não quiser ir muito longe do castelo, poderíamos almoçar no Três Vassouras. Você tem alguma coisa em mente?

 

Os exercícios de defesa que sugeri funcionaram? Espero que seus alunos do sétimo ano estejam todos bem e saudáveis.

 

Estarei esperando sua resposta.

 

Com carinho,

Hermione

 

Severo delineou as três últimas palavras da carta, como fazia todas as vezes que a coruja o encontrava em algum lugar privado. Suspirou.

 

Também senti sua falta, Hermione.

 

Ele tentara ficar longe dela, tentara acreditar que agora que ela estava de volta perto dos amigos ela nem perceberia que parara de escrever, mas Severo estava aparentemente errado. Ela sentia sua falta; quais eram as chances daquilo acontecer? Hermione Granger seria o seu fim.

 

— Droga! — amaldiçoou.

 

o0oOo0o

 

Hermione,

 

Infelizmente não poderei lhe encontrar nesse final de semana. Hogwarts está a todo vapor, precisando de seus Diretores de Casa para evitar que o castelo seja implodido. Podemos continuar a nos comunicar por cartas até que encontremos uma data melhor.

 

Terminou de ler minhas últimas recomendações? Se gostou, tenho mais para recomendar na mesma linha.

 

Os exercícios de defesa foram um sucesso, uma idéia muito boa.

 

Severo

 

Hermione sentiu uma pontada no coração ao final daquela carta.

 

Ele está me evitando novamente. Ela suspirou.

 

Ela sabia que não teria uma data melhor, que ele continuaria inventando desculpas, e no quesito desculpas, a possível implosão de Hogwarts não enganaria Hermione. Doía, e não havia nada que ela pudesse fazer.

 

A carta dele era uma confirmação de que Severo sabia como ela se sentia com relação a ele, e essa era a maneira gentil dele dizer: "não, obrigado". Ele estava mantendo ela longe, tentando ser gentil e dizer que eles podiam continuar com as cartas, mas ser gentil não era o que o Severo fazia de melhor, então...

 

Se aquela era a decisão dele, ela a respeitaria. Ficaria longe.

 

Hermione dobrou a carta e colocou-a gentilmente sobre o livro que lia – uma das recomendações dele – e levou seu coração dolorido para a cama.

 

o0oOo0o

 

— As torradas o ofendem novamente, Severo?

 

— Dá para esquecer, Minerva? — ele disse sem dar muita atenção a ela.

 

Severo estivera olhando feio para o seu café da manhã sem tocá-lo. Era sábado, e completavam dois dias sem sinal de Hermione. Ele estava tão absorto pensando nela que nem notou como a Minerva o escrutinava.

 

— O que você disse para a Hermione? — Minerva perguntou.

 

Ele olhou rapidamente para ela, surpreso pela pergunta inesperada. Desviou o olhar e observou os alunos do primeiro ano se sentarem para a refeição, tentando cobrir sua reação de surpresa. — Do que você está falando?

 

— Não de torradas, obviamente — ela disse. — Eu sei que tem trocado cartas com a Hermione Granger já há algum tempo, mas faz alguns dias desde a última carta. Posso apenas assumir que a culpa é sua. O que você disse? Finalmente contou a ela como se sente?

 

Ele estreitou os olhos para olhar novamente para ela. — Como me sinto sobre a Hermione? Está gagá?

 

— Hermione, heim?

 

Severo amaldiçoou o deslize. Minerva não desistiria agora; ele escutaria o sermão todo.

 

— Ela sente o mesmo por você? — O sorriso dela era desconcertante.

 

Ele tomou um gole de café para esquentar a garganta. — Sente o quê?

 

— Ah, pode parar, Severo. Você está vivo, ela está viva. Ao contrário do que você gosta que as pessoas pensem, eu sei que tem um coração. Não consigo ver o que tem de errado em desenvolver sentimentos por uma jovem inteligente e bonita — Minerva insistiu.

 

Sua testa franziu ainda mais. Ela não consegue ver a impropriedade das próprias palavras?

 

— Estivemos discutindo alguns encantamentos, só isso. Até onde eu sei, isso não tem nada a ver com sentir alguma coisa — respondeu.

 

— Você é muito jovem para ser tão amargurado, Severo. Se você não disse nada, o que aconteceu?

 

Severo decidiu ignorá-la. Ficou incrivelmente difícil de aturar o olhar incessante dela depois de um tempo. Ele suspirou, olhando de volta para ela.

 

— Ela queria me encontrar neste final de semana, mas estou muito ocupado. Agora, pode cuidar da sua própria vida? — ele perguntou, irritado.

 

— Ah, Severo, querido. — O tom dela era tão brando que o assustou. — Você faria bom proveito de um tempo longe de Hogwarts vez ou outra, e a Hermione é muito boa companhia. Tire uma folga e vá ver sua garota.

 

— Você está sugerindo que eu deixe o Salão Principal e vá direto traçar seu precioso anjo grifinório? — Ele esperava que ele visse o absurdo do que implicava.

 

— Não seja bobo, Severo. — Ela afagou sua mão. — Não existem anjos na Grifinória.

 

— Minerva! — ele sibilou surpreso. Não podia esconder sua reação às palavras dela. Conhecia Minerva desde os onze anos, e nunca em todos esses anos ela falara assim com ele, sobre aquilo. Era desconcertante, para dizer o mínimo.

 

Minerva deu um riso curto, afagando sua mão uma última vez antes de dizer:

 

— Como suas torradas, Severo. Precisará da sua energia.

 

Aquilo era demais. Ele se levantou e deixou o Salão Principal. Todos ao seu redor tinham enlouquecido, e estavam tentando levá-lo com eles. Severo estimava sua sanidade.

 

o0oOo0o

 

Hermione andava de um lado para o outro do apartamento. Da lareira para o balcão da cozinha, depois até a janela e de volta em frente à lareira de novo, Bichento seguindo-a do sofá, girando a cabeça para observá-la. Ela limpara, organizara, lera, mas nada conseguia tirar sua mente de Severo, e andar de um lado para o outro a deixava ainda mais impaciente.

 

É impossível!

 

Ela jogou os braços para cima e caiu no sofá ao lado de seu gato, cansada de andar. Ele olhou fixamente para ela por um momento antes de esconder a cabeça nas almofadas. Já passava do meio dia de domingo, e ela não almoçara ainda. Não que ela se importasse. O que ela devia fazer era comer quantidades enormes de sorvete de chocolate e assistir filmes água com açúcar. Pelo menos era como as mulheres enfrentavam esse tipo de coisa, certo?

 

Chocolate...

 

Aquilo lhe lembrou da caixa de trufas que ela comprara para o Severo em Sofia. Elas seriam tão eficientes quanto sorvete, com o bônus de privar o Severo delas. Era irracional, mas Hermione estava brava porque ele estava empurrando ela para longe.

 

Levantou-se e foi pegar a caixa. De volta ao sofá, ela rasgou o papel de presente da caixa, abriu-a, e tirou um bombom. Deu uma mordida, esperando algum tipo de conforto com o ato. Tudo que isso fez foi levá-la a pensar em Severo mordendo-o, fazendo um barulho de prazer.

 

Ai meu Deus!

 

Ela suspirou. Não havia como ela esquecê-lo com chocolate. Deu outra mordida, agora por frustração. Por que ele tinha que afastá-la? Por que ele tinha que se esconder toda vez que ela mencionava um encontro? Ele não podia negar que havia algo entre eles, nem que fosse somente amizade da parte dele. Amigos deveriam se encontrar também.

 

Isso não está funcionando — ela pensou, olhando feio e depois comendo o resto do bombom.

 

— O que ele está fazendo é errado, Bichento. — Ela afagou o pelo alaranjado do gato. — Não dá para continuar assim.

 

Ela nunca o veria novamente se não fizesse alguma coisa; nunca ouviria a voz aveludada dele fazendo sons de prazer ou rindo... e ela deveria! Queria vê-lo, e aquele sentimento não passaria só porque ele queria que passasse. Ela tinha que fazer alguma coisa sobre isso, ou morreria de frustração.

 

— Vou para Hogwarts — declarou.

 

Decidida, ela se pôs em pé e foi rapidamente para o quarto. Mudou de roupa – ela não queria parecer desesperada, mas também não precisava parecer toda surrada – puxou a caixa de chocolates para perto, e antes que perdesse a coragem, aparatou para os portões de Hogwarts. Sem pensar duas vezes no que estava fazendo, pegou o caminho que levava as portas do castelo.

 

O calor lá dentro era receptivo. Alguns poucos estudantes se viraram para ver quem entrava no castelo. Ela andou rapidamente em direção às masmorras, para longe dos olhos curiosos. Agora não era hora de sentir-se como uma aluna do terceiro ano fora da cama depois das nove.

 

Encontrou mais alunos no caminho pelos corredores escuros. Rapidamente – talvez rapidamente demais – ela alcançou a porta do escritório dele. Ela tinha que bater, sabia disso. O que ele diria a ele? Que desculpa ela tinha para estar ali?

 

Ótimo plano, Hermione — caçoou de si mesma.

 

Respirou fundo e levantou a mão direita para bater e assustou-se quando a porta se abriu antes.

 

— Hermione? — ele disse, obviamente surpreso com a presença dela ali.

 

— Boa tarde, Severo — ela cumprimentou sem graça. — Eu... — Era mais difícil inventar algo para dizer agora que ele olhava fixamente para ela. — Eu... estava em Hogsmeade e tinha esses chocolates que comprei em Sofia para você e pensei que podia aproveitar minha viagem e trazê-los, mas eu sei que está ocupado–

 

— Hermione — ele interrompeu, ainda olhando atentamente para ela.

 

Meu Deus, meu nome na voz dele!

 

Ela ofereceu a caixa, sem saber mais o que fazer e certa de que deveria fazer alguma coisa, dizer alguma coisa.

 

Ele aceitou, e ela desviou o olhar do dele, corando. — Eu–

 

— Entre — ele disse antes que ela pudesse dizer mais nada.

 

O escritório dele estava exatamente como ela se lembrava. Era desconfortável estar ali em circunstâncias tão diferentes. Era um pouco perturbador, e Severo pareceu notar seu desconforto. Ele foi até uma prateleira e tirou um livro dela. A estante se moveu para revelar uma porta secreta, que ele abriu, dando um passo de lado para chamá-la. — Depois de você.

 

Hermione entrou no espaço estreito que logo se abriu numa sala ampla. A luz estava baixa e convidativa, um fogo estalava na lareira, jogando sombras pela sala. Hermione percebeu que eram os aposentos dele.

 

— Sente-se — ele ofereceu, apontando para as poltronas perto da lareira. — Gostaria de beber alguma coisa?

 

— Chá, por favor. — Ela escolheu uma das poltronas e acomodou-se, olhando em volta pela sala. Estava cheia de livros em estantes que iam do chão ao teto. Havia poucos itens de decoração, mas aqueles poucos eram o suficiente, na opinião de Hermione. A mesa a um canto, coberta com pilhas de papéis e livros, davam à sala um ar de ambiente vivido que Hermione achou bem reconfortante.

 

Suas contemplações foram interrompidas quando uma xícara apareceu à sua frente. Ela a aceitou, tomando um gole e observando Severo tomar a outra poltrona com sua graça habitual.

 

O silêncio a deixava nervosa. As coisas eram muito mais fáceis no pergaminho.

 

Ele a observava por cima da borda da xícara. — Você não respondeu minha última carta.

 

De todas as coisas que ela achou que ele diria, aquela não era uma delas. Foi muito inesperado.

 

— Você estava ocupado — ela respondeu. — Não achei que estivesse esperando uma resposta — acrescentou, deixando um pouco de sua insegurança tingir sua resposta.

 

Ele ergueu uma sobrancelha para ela, depois colocou a xícara numa mesa entre as duas poltronas. — Pensei ter dito que poderíamos continuar nos correspondendo até que pudéssemos nos encontrar.

 

— Estou aqui agora.

 

— Mas não esteve ontem, ou antes de ontem.

 

Por que tudo isso? — Hermione pensou, franzindo a testa para ele. — Pensei que estivesse ocupado, porque você disse que estaria ocupado.

 

— Para um encontro! — ele disse. — Ainda podia lidar com a minha correspondência sem nenhum problema.

 

— Severo, isso é ridículo!

 

Aquilo o silenciou e deu-lhe tempo para tentar entender o que estava acontecendo. Ela estava distraída quando ele se levantou da poltrona e pareceu estar procurando por algum livro nas estantes, só que ele não estava.

 

— Acho que deveria ir embora — Hermione disse depois que o silêncio se esticou por tempo demais. Ela se levantou e olhou em volta procurando a porta por onde eles entraram

 

— Espere. — A palavra quieta chamou sua atenção. Ele se virou para olhar para ela. — Você já está aqui. Fique, por favor.

 

Aquilo aqueceu o sentimento gélido no fundo do seu estômago; o medo que sentira com a hostilidade inesperada dele se dissolvia em algo tolerável.

 

— Desculpa por não ter respondido a carta — ela se pegou desculpando-se.

 

Ele suspirou, andando de volta para a poltrona. Ela se sentou na que abandonara momentos antes.

 

— Hermione, eu não sou bom com essas coisas — ele disse, olhando fixamente para as mãos, que brincavam com os braços da cadeira.

 

Hermione se derreteu com a visão da timidez dele. Era tão raro ver Severo Snape vulnerável em qualquer circunstância. A inaptidão dele era meio que fofa, ela achou.

 

— Severo — ela chamou, e só continuou a falar quando ele olhou para ela —, você está sendo bobo. — Ela sorriu, incapaz de evitar que a leveza de seu coração se mostrasse.

 

Ele fez uma cena ao revirar os olhos para ela.

 

— Você não está ocupado de verdade, está? — Quando o pouco de expressão existente no rosto dele desapareceu por sob uma máscara de frieza, antes que ele pudesse dizer qualquer coisa, Hermione antecipou: — Eu entendo que você não pode deixar o castelo à mercê dos alunos demoníacos com risco de implosão e tudo mais, o que estou perguntando é se você se importaria com a minha companhia. Sou boa em Defesa. Poderíamos formar um bom time. Os alunos não teriam chance. — Ela sorriu novamente, desta vez com menos convicção.

 

E se ele me rejeitar? O que eu estava pensando ao propor isso? Hermione esperava o pior.

 

— Por que você iria querer isso?

 

Melhor que o pior, ela achou.

 

— Somos amigos, Severo, e é isso que amigos fazem. Eles ficam por perto, passam tempos juntos, falam besteira — ela explicou, esperando que ele comprasse a idéia. Ela precisava ficar perto dele, essa era a razão, mas não podia dizer isso a ele.

 

— Está bem — ele disse.

 

Ela levantou os olhos de suas mãos, surpresa por ele ter concordado.

 

— Com uma condição — ele acrescentou, e o sorriso de Hermione nunca apareceu —, você irá corrigir as redações dos alunos do primeiro ano.

 

— Você não consegue se segurar, consegue?

 

Ele ergueu uma sobrancelha e os olhos dele dançavam com curiosidade divertida.

 

— Está bem, mas serei boazinha e darei só "O"s. — Ela não podia segurar o sorriso. Estava provocando Severo Snape e ele a provocava de volta.

 

— Você só vai apontar os erros. Eu direi qual será a nota. — Ele se levantou da poltrona e foi até a mesa. Com um feitiço murmurado, uma pilha de pergaminhos voou do escritório para pousar ordenadamente no centro da mesa.

 

— Eu lhes darei "O"s, e não há nada que você possa fazer.

 

Ele separou metade das redações e entregou para ela. — Você corrigirá metade, eu corrigirei a outra metade. Se você der "O"s para elas, será injusta com a metade que eu corrigirei.

 

— Sonserino cretino — ela murmurou, pegando a pilha de pergaminhos, a pena e a tinta que ele forneceu.

 

Por dentro, Hermione se sentia leve e boba, feliz por ele não estar pondo ela para fora.

 

o0oOo0o

 

Severo estava sentado em sua mesa, uma pilha de redações para corrigir a sua frente, mas pouca correção sendo feita. Ele não conseguia parar de observá-la quando ele sabia que ela não estava olhando. Ela era um anjo, sujeitando-se às redações dos alunos do primeiro ano por sua causa, porque queria passar o tempo com ele.

 

Anjo...

 

As palavras sugestivas da Minerva voltaram para frente de sua mente. Não existem anjos na Grifinória. Que tipo de amante a Hermione seria? Fogo ardente e exigente, ou como uma flor delicada e meiga? Ele podia imaginá-la das duas formas e isso afetava seu corpo.

 

— Você não está corrigindo sua parte — ela reclamou, olhando de canto de olho para ele.

 

Pego sonhando acordado, velho pervertido? — Severo se puniu. — Alguém tem que supervisionar o seu trabalho.

 

Ela bufou e voltou ao trabalho, e ele também. Passaram mais de uma hora de trabalho camarada e olhares furtivos. Ele até a fizera rir uma vez. Ele se esquecera de como esse tipo de alegria podia ser bom. Quando ele sugerira essa tarefa, ele não sabia por que o fazia; pareceu uma coisa natural de se pedir a uma amiga. Agora ele percebeu por que se sentira assim. Isso era o tipo de tempo que ele passara com freqüência ao lado de Lílian, só que eles escreveriam e discutiriam redações ao invés de corrigi-las.

 

Severo se concentrou na sua parte da correção, contente com a presença da Hermione na sala. Perdeu-se na tarefa. Foi por isso que enrijeceu de susto quando uma mão caiu sobre seu ombro.

 

— Relaxe — ela disse, e ele tentou obedecer.

 

— O que está fazendo?

 

— Você já notou como fica tenso quando trabalha? — ela perguntou, a mão se movendo em seu ombro, perto do pescoço.

 

Merlin! Seus olhos se fecharam quando o movimento lhe causou prazer. A outra mão dela pulou para seu ombro negligenciado para trabalhar ali também. Ele não conseguiu segurar o suspiro que vagarosamente escapou de sua boca.

 

Tudo estava mais que perfeito até...

 

Seus olhos se abriram rapidamente quando ela foi abrir o mais alto dos muitos botões de sua sobrecasaca. Ele segurou a mão dela. — Hermione? — perguntou incerto.

 

— Não consigo sentir seus músculos através de toda essa lã — ela justificou.

 

Isso era perigoso. Ele já estava bem ciente das mãos dela, como partes do seu corpo podiam atestar, e ele queria senti-las em sua pele nua, mas o que aconteceria se ele permitisse que ela abrisse seu casaco? Ele não sabia... A Lílian nunca fizera isso para ele; todos os seus parâmetros de amizade eram inúteis agora.

 

— Hermione, estou mais relaxado agora do que estive em vinte anos.

 

— Você não tem nem idéia do que significa relaxado, tem? — ela perguntou, mas não parecia esperar uma resposta. — Onde está o chocolate?

 

— Eu guardei. Por quê?

 

— Acho que já corrigimos redações suficientes no momento. Vou lhe ensinar como relaxar.

 

Perigoso novamente. Chocolate e Hermione era uma combinação muito perigosa, mas é claro que ela não sabia disso.

 

Você sobreviveu à Lílian; pode sobreviver à Hermione também.

 

— Eu estou relaxado, Hermione — ele tentou uma última vez.

 

— Está nada — ela descartou, e Severo ficou feliz por ela ter descartado.

 

Ela se afastou da cadeira e foi até a área em frente à lareira, olhando em volta por algo. — Severo, você se importa que eu transfigure sua mobília?

 

— Vá em frente.

 

Ele assistiu o trabalho de varinha dela e suas poltronas se transformaram num grande sofá. Sofá e Hermione era uma combinação ainda mais perigosa.

 

— O que você está fazendo aí? — ela perguntou. — Preciso de você aqui.

 

Ele olhou receosamente para o sofá. Ela veio até ele para puxá-lo pela mão.

 

— Venha. Prometo que não vai cair quando você se sentar nele.

 

E quando você se juntar a mim? — ele pensou e imediatamente quis mudar de idéia sobre essa loucura.

 

— Hermione, isso não é uma boa idéia.

 

— Onde está o chocolate? — ela insistiu.

 

— Hermione...

 

Ela olhou criticamente para ele, mordendo o lábio inferior da maneira mais encantadora. — Fora dos sapatos. Fora do casaco.

 

As palavras perderam impacto quando ela prosseguiu tirando os próprios sapatos. Severo podia apenas assistir com horror o que estava rapidamente se transformando na sua ruína.

 

— Severo?

 

Ela não tem noção do que está fazendo. Ele desabotoou sua sobrecasaca e pensou que iria para o inferno antes de ser quem lhe daria aquela notícia; não quando era ela quem queria que ele relaxasse. Que Merlin me perdoe...

 

— Chocolate?

 

Accio chocolate — Severo chamou, e a caixa de bombons voou para sua mão. Ele entregou-a para ela. A alegria nos olhos dela era quase demais para ele.

 

— Sente-se.

 

Ela o ajudou a tirar as botas.

 

— Deite-se.

 

— Mandona — ele reclamou, mas obedeceu assim mesmo.

 

— Feche os olhos — ela ordenou em seguida.

 

Ele olhou atentamente para ela depois daquele pedido. Era desconfiado por natureza.

 

Ela colocou as mãos na cintura, batendo o pé em uma falsa demonstração de impaciência.

 

— Você é mandona mesmo, Hermione — ele disse e fechou os olhos. — Pregue uma peça em mim e arque com as conseqüências — ele avisou.

 

— Quieto agora — ela lhe disse, a voz dela mais perto do seu rosto do que antes; ela deve ter ajoelhado. — Abra a boca.

 

— Hermione... — Ela não poderia estar fazendo o que ele achava que ela estava fazendo.

 

— Abra — ela ordenou novamente, mais gentilmente desta vez.

 

Ele abriu os lábios de leve e sentiu o calor do chocolate os tocar. Ele quase gemeu com este sonho que se tornava realidade. Esticou a língua para experimentar. Ele morrera e fora para o Paraíso. Isso não podia ser real. Então ela falou.

 

— Dê uma mordida.

 

Merlin...

 

Ele cerrou os dentes, tirando um pedaço do bombom, e não conseguiu segurar o zunido de prazer. Mastigou contentemente, apreciando cada segundo. Ele abriu os olhos então. A Hermione olhava fixamente para sua boca com os próprios lábios levemente partidos.

 

— Dê uma mordida — ele lhe disse.

 

O olhar dela subiu da sua boca para os seus olhos.

 

— Vá em frente — ele insistiu.

 

Ela fez o que lhe era dito, o olhar nunca deixando o seu. Ele assistia enquanto ela fechava o bombom mordido na boca e mastigava. Perfeição.

 

Ele pegou a mão dela e trouxe-a para sua boca, esticando a língua em direção ao resto do bombom. Ela ofegou, e ele percebeu o que estava preste a fazer. Soltou a mão dela no mesmo momento e desviou os olhos, envergonhado de si mesmo. Ele soubera que isso não era prudente desde o começo, mas não conseguiu impedir que eles fossem tão longe. Ela deve estar horrorizada.

 

— Você deve ir embora agora — ele disse, movendo-se para uma posição sentada e segurando a cabeça nas mãos.

 

— Severo...

 

— Está tarde, Hermione. Eu tenho que terminar as correções.

 

— Severo, eu sinto muito. A culpa é toda minha–

 

— Vá embora, Hermione.

 

Ele ouviu ela se mover pela sala, recolhendo os sapatos e colocando-os de volta. Podia ver as sombras que os movimentos dela produziam à luz da lareira. De repente, os movimentos pararam. Ele não ousou levantar os olhos; sabia que ela olhava para ele. Depois havia passos se distanciando mais e mais, até que ele não mais os ouvia, deixando o estalar do fogo como sua única companhia.

 

Ele estragara tudo. Perdera Hermione como perdera Lílian.

 


 

No próximo capítulo... Um final feliz?


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