Era uma manhã de quarta-feira e o dia estava bem ensolarado. Havia combinado de encontrar Chloe no parque, junto a Lexie que seria levada pelo seu motorista. Quando cheguei tirei o meu óculos de sol e procurei pelas duas, mas achei apenas Chloe parada perto de uma árvore com os braços cruzados. Andei até ela e quando estava bem próximo sorri falando em um tom alto para chamar sua atenção.

— Tá pronta pra mais um dia animador?

Falei com um sorriso que ia de orelha a orelha para Chloe e dessa vez não havia ironia na minha voz, eu estava mesmo entusiasmado pela noite de ontem.

— Não tanto quanto você, garanhão!

Ela falou dando ênfase no garanhão e sorriu batendo em meu ombro passando por mim. Não entendi o porque do apelido e a encarava enquanto passava ao meu lado.

— Tá bom! O que é?

Eu falei andando ao seu lado e a olhando ao mesmo tempo.

— Brooke, Alyssa, Amberly, e metade da CIA é apaixonadinha por você. Tirando a mais nova da equipe. Lexie.

Ela suspirou, pensou por alguns segundos e completou.

— Até eu já fui.

Olhei pra ela surpreso por alguns segundos. Aquela era novidade.

— Até você, é?

Falei em um tom de brincadeira, sorrindo enquanto a  olhava. Encostei o meu ombro no seu a empurrando de leve, ela ficou envergonhada e sorriu abafado.

— Até eu.

Ela revirou os olhos, e eu coloquei meu braço envolta da sua cintura, encostei o corpo dela no meu e falei olhando nos seus olhos.

— Deveria ter me falado antes e teríamos uma tórrida vida juntos.

Falei brincando e começamos a gargalhar, mas em seguida ela me empurrou de brincadeira e olhamos para o lado quando uma voz doce mas ao mesmo tempo furiosa falou conosco.

— Vinheram aqui pra se agarrar ou trabalharem?

Chloe murmurou um "hum" tedioso e desdenho para Lexie e a respondeu.

— Trabalhar, é claro.

Todo o tom alegre havia saído de suas palavras, e ela começou a andar atrás de Lexie. Eu abaixei a cabeça a balançando em negação, em seguida ri abafado passando a mão pelos meus cabelos e as segui.

— Que bom, Chloe! Porque acho que esse que é o seu trabalho.

Lexie falou de costas para nós e eu sinceramente pensei que Chloe ia voar no pescoço dela. Mas a minha amiga tinha juízo e não o fez, apenas a olhou com raiva e continuou em silêncio.

Tivemos um dia longo. Nadamos, jogamos baseball e disputamos uma corrida. Lexie oscilava entre ser legal e irritante, mas na maior parte em que estávamos juntos ela era a primeira opção e nos divertíamos. Tinha hora que ela parecia se lembrar de algo, ou se incomodar com alguma coisa e soltava uma farpa, ou uma reação estressante obrigando Chloe a revirar os olhos em protesto, já que não podia matá-la. Eu apenas ignorava, ou ria, gargalhava até. Eu tinha mais facilidade pra lidar com esse tipo coisa e já estava acostumado com Lexie. Na verdade eu tava começando a gostar dela, como pessoa. Já não estava tão insuportável como antes, eu diria até que na maior parte do tempo estava amável.

***

No final do dia, que foi um tanto cansativo, deixamos Lexie em casa e dessa vez tínhamos ordens para não sair de lá, pelo menos um teria de ficar. Ficamos dentro do carro em bancos que não nos permitiam descansar tanto enquanto a ruiva descansava em sua casa. Depois de umas três horas, Chloe me disse que ia buscar alguma coisa pra comermos, eu conhecendo ela sabia que estava dizendo "vou ir pra casa dormir" e ela sabia que eu havia entendido. No começo não queria muito, ia ficar ali sozinho sem nada pra fazer, mas ela havia sofrido um acidente e eu sinceramente fiquei com pena a deixando ir "comprar alguma coisa."

Fiquei ali mais uma hora e o tédio invadiu o carro me fazendo bufar. Olhei pra janela do quarto da Lexie e sai do carro andando calmamente até ela. Era no segundo andar e por isso não era de fácil acesso. Chamei ela algumas vezes mas ela não atendeu, então resolvi escalar. Quando coloquei uma das minhas pernas pra dentro Lexie estava desfilando de um lado pro outro como se estivesse em um desfile. estava com o cabelo preso a um coque, com alguns fios soltos próximo ao rosto, uma blusa areia de manga longa que levava um laço preto bem no meio, junto a um short e descalça.

Ela levou o maior susto, dando um grito com a mão no coração. Tava com os olhos arregalados e me encarava perplexa. Terminei de entrar e ela me perguntou ainda com a mão sobre o peito.

— O que tá fazendo?

— Eu te chamei um tempão e você nem me atendeu.

— Eu tava tentando te ignorar.

Ela finalmente tirou a mão do coração falando com um pouco de irritação na voz e cruzou os braços.

— Ah, obrigado! bom saber que foi de propósito.

Falei indignado a olhando e ela nem esboçou alguma reação se mostrando culpada.

— Cadê a Chloe?

Ela falou me encarando, ainda com os braços cruzados.

— Foi pra casa.

Falei me sentando em uma poltrona que ficava no canto esquerdo do seu quarto perto de ursos.

— E você vai ficar ai na poltrona?

— Vou - A olhei esperando pelo o que viria depois, mas ela demorou um pouco pra falar. Segundos na verdade, mas eu acabei falando primeiro.

— Tem algum lugar que queira que eu fique?

— Tenho!

Ela respondeu naturalmente com uma voz calma me encarando.

— Onde?

Perguntei acreditando que ela queria que eu muda-se de lugar por algum motivo que me explicaria depois.

— NA SUA CASA!

Ela gritou e saiu andando até o banheiro do quarto fazendo meus tímpanos doerem, o meu corpo já estava exausto do dia.

Fiz uma careta de dor colocando a mão na cabeça e resmunguei para que ela não gritasse.

— Não grita, Lexie. Credo! 

A olhei de soslaio e ela bateu a porta. Ficou lá não sei por quanto tempo, cansado de esperar que ela saísse eu deitei a cabeça na poltrona e sem que eu percebesse o sono chegou, acabei adormecendo. Antes que isso acontecesse, confesso que fiquei pensativo nas palavras de Chloe sobre Lexie estar apaixonada. Às vezes ela não agia como tal, mas naquele exato momento, apesar da sua atitude, ela acabara de dar uma demonstração.

A Lexie disposta a se livrar de mim, gritaria, diria como aquilo foi um abuso e exigiria que me demitissem. A oportunidade perfeita para me mandar embora de sua vida, mas não, ela simplesmente foi para o banheiro depois de um chilique comum e sem muitos exageros. Ela havia evitado qualquer situação que a fizesse se afastar de mim.