Black Desert escrita por Kallin


Capítulo 8
Uma calorosa Recepção


Notas iniciais do capítulo

Nyahoo~~! K.K. estava aqui analisando algumas coisas e se sentiu na necessidade de se explicar sobre um detalhe! (Como sempre~~ hehehe)
Muitas vezes o fim dos capítulos e o começo deles realmente podem não fazer muito jus à forma que um capítulo deve começar ou acabar, mas isso tudo é porque quando K.K. escreve Black Desert ela não o divide em capítulos, mas sim escreve tudo direto!
Só mais tarde que ela pega a história e começa a analisar aonde dá para cortar os capítulos para postar aqui, explicando assim porque essa história tem tão poucos "cliffhangers" e as vezes uma sensação estranha de continuação recorrente aonde simplesmente não há!! =D

(K.K. cogitou adaptar cada final de capítulo para realmente parecer um final, mas no fim ela achou que essa forma em que está sendo feito é apenas uma assinatura pessoal da história, e que não era razão para alterar o texto original! =D)
Então se em algum instante o fim ou o começo de um capítulo ficar estranho, por favor, apenas ignorem e curtam~!



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Finalmente olhando para baixo ao que Kuki havia me largado ali em silêncio, descoberto e próximo de Sal e do homem, eu pude parar para admirar as inusitadas e práticas roupas que eu usava e que em tão poucas vezes no dia eu tinha realmente a chance de expor totalmente...
Do meu pescoço até uma parte de meu peito, meu corpo era completamente envolto em uma justa bandagem branca que se destacava da minha pele morena, eliminando a necessidade de eu ter que realmente usar qualquer tipo de blusa... E na minha cintura, uma cinta firmemente composta de várias faixas de padrões e cores diferentes que se entrelaçavam com cordas e guizos, dava início à vários panos compridos, hiantes e bem leves, que caíam pelas minhas pernas contornando-as e chegando até meus tornozelos agindo quase como o fim de uma delicada túnica.
Os vãos entre esses panos serviam para que eu pudesse facilmente mover meu corpo sem que me minhas roupas me atrapalhassem, mas sob o custo de revelarem durante movimentos bem mais bruscos, talvez um pouco mais do que algumas pessoas normalmente revelariam...
"Ainda bem que uso roupa íntima por baixo..."
Também pelos meus braços e tornozelos haviam algumas pulseiras e braceletes dourados cheios de detalhes que eu usava apenas como decoração (Um hábito não tão incomum entre os humanos dos desertos). E em meus pulsos e pés também se podia ver os mesmos braceletes, porém um pouco diferentes ao que estes eram ligados por panos do mesmo material que minha túnica e prendidos na ponta de um anel em minhas mãos, ou em uma sola nos meus pés, servindo-me como luvas e sapatos bem leves que podiam me adornar e proteger sem me atrapalhar.
Tudo isso podia não parecer certo de se ver em um homem... Mas dado a forma que eu fui criado pela minha família, e depois ainda por cima a forma que fui preparado para usar e vender minha aparência, acho que tudo se acumulou para que se tornasse inevitável eu ganhar esse senso... bem inusitado de vestimenta. Especialmente quando eu acabei adquirindo um físico (uma aparência) que combinava tão bem com todas essas roupas. As roupas de uma "Odalisca", como todos me acusavam de estar vestido.

Eu novamente passei meus dedos pelo meus lisos cabelos -loiros e bem claros-, tirando a irregular franja que estava atrapalhando meus olhos. Mesmo bagunçado, o meu cabelo combinava bem com o resto da minha aparência. Na frente -caindo pelos meus ombros-, duas compridas mechas eram a única lembrança que eu tinha ainda da época em que meu cabelo era muito comprido. Já o resto dele atrás era curto, ultrapassando só um pouco a altura do meu pescoço mas quase sem volume algum...
Para complementar ainda mais aquela aparência exótica que eu adotei de vez desde que saí da posse dos saqueadores, eu também continuei a manter meus olhos fortemente contornados pela mesma tinta preta que desde pequeno decorava meu rosto... contrastando com a cor clara e intensa de meus olhos azuis.
Diferente de todo o resto da minha aparência, aquele contorno nos olhos era a herança que eu tinha do meu povo, era a proteção que me foi ensinada pela minha mãe e que todos da minha vila -que eu me lembre- faziam dizendo proteger contra energias ruins.
Eu sei que minha infância inteira foi uma prova contrária de que isso realmente funciona, mas essa é a única coisa do meu passado que eu procuro ainda carregar até hoje, talvez por costume, ou talvez porque é realmente uma das poucas coisas que eu tenho que ainda podem me ligar à outros sobreviventes da minha tribo que estejam perdidos por aí...
"Isso só o tempo vai me responder, mas não me mata continuar com um hábito para me sentir mais próximo da minha família..."

Porém toda aquela minha aparência exótica -por mais útil que me conseguisse ser em vários momentos-, também era o grande motivo para eu precisar me cobrir ao menos durante o casual dia a dia, ao que andar em meio às outras pessoas normais se tornava constantemente uma necessidade. Sabendo disso eu me virei lentamente para Sal que estava me ignorando, focando inteiramente no estado de saúde do homem como a profissional que era. E... para o homem em si que finalmente podia ver a real aparência de seu salvador, e que começara a fazer exatamente a expressão que eu já imaginara que faria.
Sua boca e seus olhos começaram a abrir, enquanto seu rosto aos poucos ficava corado (não pela transfusão, acredite) sem que ele mesmo se desse conta.
Em meio ao evidente espanto, ele começou a tentar dizer qualquer coisa sem conseguir soltar mais do que um balbuceio espantado, como se não estivesse quase morrendo a até tão pouco tempo atrás.

— "E-e-ele, é "ele"!?"

Sal não precisou olhar para mim para entender o que estava acontecendo, e automaticamente soltar um riso pessimamente contido diante da previsível reação do homem. Ela sabia perfeitamente como era a minha aparência, e sabia como era fácil as pessoas reagirem daquela forma assim que me viam pela primeira vez de verdade.
Provavelmente não era porque eu poderia continuar a parecer com uma mulher ao ficar descoberto (muitos me confundem com uma mulher quando estou completamente coberto, e não consigo me incomodar com isso), já que nem meu físico, nem minha voz, nem meu jeito são femininos para se criar qualquer ilusão estranha aos olhos dessa gente por mais do que um mero instante... O espanto dele e de muitos era na verdade quase sempre pela mesma razão: Mesmo sendo homem, eu conseguia combinar bem demais com esse visual a ponto de competir facilmente contra a beleza de qualquer outra mulher que ande por aí, sem precisar enganar as pessoas quanto o que realmente sou.
Isso na maioria das vezes acabava confundindo a percepção pessoal de cada um, causando quase sempre esse mesmo tipo de reação nelas até acertarem mais uma vez seus pensamentos... Pensamentos não sobre o que eu pareço ser, mas sim sobre o que realmente é o certo ou errado quanto a seus próprios gostos.

Por não ser uma pessoa inocente, eu sei que existe um poder de atração na minha forma de vestir, e também muitas pessoas pervertidas que honestamente gostam dessas coisas (Afinal como eu disse, eu fui criado para saber usar e vender minha aparência...). E não foram poucas as vezes que já utilizei esse poder ao meu favor. Mas fora desses momentos, em dias comuns como hoje -aonde continuo vestido assim já que essa é a minha identidade pessoal-, poder me cobrir, e cobrir por completo essas roupas com meu manto passou a se tornar quase que uma obrigação. Seja tanto para me proteger do sol, do frio e do vento que carrega a areia por aí... quanto dos olhos curiosos dos estranhos e da atenção fora de hora.

Aos poucos percebendo meu jeito desconfortavelmente mudo e intimidador, o homem lentamente se esforçou para se recuperar do seu choque enquanto ainda continuava a me encarar fixadamente da forma mais natural que conseguia forçar.
Na realidade, mesmo bem incomodado eu já havia me acostumado no fundo no fundo com aquele tipo de clima estranho, e apenas cruzei meus braços continuando a encarar os dois silenciosamente, como se estivesse apenas aguardando surgir qualquer outro assunto ou acontecimento que roubasse o foco de mim, de preferência.

— "Yuuu-!"
— "Yuraaa!"
— "Yura!!"

De repente quebrando totalmente o clima (graças a Grivah), um pequeno grupo de 5 meninas entrou correndo pela sala como um estouro de antílopes do deserto, todas aos pulos esticando seus braços e prontas para se jogarem em cima de mim!
Duas se seguraram nos meus braços enquanto as outras apenas me abraçavam da forma que conseguiam, pulando de alegria e quase me derrubando no calor do momento!
Eu tentei rapidamente nos jogar para trás tirando-nos de perto de Sal, preocupado que aquela confusão fosse no mínimo atrapalhá-la! Mas continuando a olhar diretamente para o que estava fazendo como se não precisasse espiar a confusão por trás dela, Sal apenas soltou outro riso (menos contido ainda) ao que o homem na cadeira também parecia querer fazer o mesmo, escapando finalmente de sua própria confusão sobre minha aparência e voltando a si graças a animação inesperada das garotas.

— "Kuki disse que você estava aqui!!"
— "Yuraaa... Você não vem a tanto tempo nos ver!"
— "Eu queria que você me ajudasse com o treino!!"
— "Você vai ficar hoje aqui com a gente?!"
— "Estávamos com saudades!!"

Cada uma das meninas me puxava para um lado falando algo diferente, mas todas com as mesmas expressões de felicidade por poderem me reencontrar.
Enquanto eu tentava controlar aquela situação, pude ouvir Sal falando baixo com o homem que provavelmente estava admirado com aquela cena toda:

— "Ele não quer fazer parte desse lugar, mas ainda sim as meninas o amam como à um irmão mais velho..."
— "E-ele não é um de vocês?"
— "... Bem... Desde que ele veio para essa cidade ele tenta não se envolver com nada... Mas Yura é um bom rapaz, e nunca deixa de nos ajudar sempre que precisamos... Então mesmo que não trabalhe aqui, ele é considerado como um de nós."
— "I-incrível... Não é qualquer jovem nessa cidade que ainda tenta se importar com os outros..."
— "Heheh, às vezes você só precisa procurar nos lugares certos para encontrá-los."

Dizendo isso enquanto jogava um olhar de relance para as suas meninas que estavam me cercando, Sal finalmente parou aquela conversa para pensar um pouco, falando alto suficiente para que as garotas pudessem ouvir sua ordem em meio à bagunça:

— "Garotas, porque não levam Yura lá para frente enquanto eu continuo o tratamento? Deixem-no confortável enquanto ele espera eu terminar, não vou demorar muito aqui."
— "OK!!"

Quase em coro a maioria das meninas responderam Sal, não perdendo tempo algum para me carregar involuntariamente para fora da sala e ficando apenas duas delas para trás, provavelmente para auxiliarem Sal no meu lugar se fosse preciso já que todas aqui são ensinadas à ajudar durante os tratamentos, para maior segurança do paciente.
Eu não queria muito ir lá para a frente e deixar Sal sozinha com aquele homem, mesmo que ele estivesse debilitado... Por mais que fosse um paciente, ele também era um estranho, e o meu maior problema com estranhos é o de não saber ainda se são ou não confiáveis. Porém não havia muito o que eu podia fazer... se ela pediu para me levarem para fora, era porque ela sentia que estava tudo bem e que eu podia deixar as coisas em suas mãos. Afinal, aquela era Sal, sempre fazendo seu otimismo e compaixão disfarçarem sua enorme cautela e seriedade.
Bem... Realmente o homem não tinha um jeito de ser alguém perigoso, mas ele apareceu ferido e em um lugar aonde crimes apenas não acontecem (Porque eu duvido muito que ele tenha feito uma jornada pela Citadela até as Avenidas, ferido daquela maneira)... Agora que eu estava pensando sobre isso, algo naquela história estava começando a me incomodar, mesmo que bem pouco... E seria uma boa descobrir o que aconteceu só para matar essa pequena e recente curiosidade.

Eu fiquei elaborando essa ideia na minha mente, enquanto me sentei em uma confortável poltrona dentre outras que se encontravam espalhadas na recepção da clínica... Algumas das garotas voltavam às suas atividades, a maioria precisando me ignorar enquanto terminavam suas tarefas pendentes dentro dos outros cômodos da clínica, ao mesmo tempo que umas 2 ainda me cercavam conversando entre sí e me olhando, felizes por estarem me revendo (como sempre). De minutos em minutos, outras meninas que ainda não haviam me visto também vinham finalmente falar comigo, todas alegres com a minha simples presença, mesmo que eu não fosse o ser humano mais amigável ou agradável daquela cidade.
"Pelo visto quase todas elas estão na clínica hoje... Já deve ser fim do expediente."
Na minha cabeça eu realmente não fazia parte das Feiticeiras D'água, e nem mesmo passei muito tempo ao lado de Sal para fazer amizades para toda uma vida ali dentro, mas de tanto me verem aparecendo e sumindo pela clínica, abordando-as pelas mesmas passagens escondidas entre os becos que usávamos como atalhos e ouvindo sempre histórias sobre mim das quais Sal gostava de contar, elas acabaram se apegando a mim independente dos meus esforços (ou da falta deles).
Na verdade não era só com elas, mas eu tinha essa capacidade bem inusitada de atrair as pessoas sem realmente me esforçar.
"... Algo bem inusitado para alguém que tentar agir como um pária, Yura..."
Eu pensei comigo mesmo, percebendo o quão confuso eu conseguia ser, até mesmo para mim.


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