Black Desert escrita por Kallin


Capítulo 67
Irmã mais velha




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Sem ter muito mais o que fazer a respeito de Gale, eu então procurei concentrar todas as minhas forças para ignorar aquele nosso breve encontro. Voltando assim a pensar no que eu estava tentando fazer antes dele ter resolvido aparecer daquela maneira.
Só que assim que eu me aproximei dos papéis que estavam largados sobre a minha cômoda, lentamente então meu corpo foi perdendo a vontade de prosseguir ao que estava ficando já muito difícil de fingir que eu podia continuar com meus planos depois de todas as coisas que aquele cara me disse!
"Hahh... Quem afinal eu quero enganar, tentando insistir em algo que não vai na realidade adiantar de nada?"

Eu finalmente admiti deixando que meus ombros caíssem um pouco e as palavras de Gale voltassem a atormentar minha mente. Ele havia levantado a suposição de que poderia muito bem estar cultivando aquela flor aqui dentro dessa cidade, e eu sequer estava encontrando motivos para conseguir acreditar que aquilo fosse só mais um blefe dele!
Gale não era uma pessoa ingênua, e ele realmente estava apostando alto demais para poder ficar dependendo até o fim de um fornecedor qualquer de rua. Por essa razão que então eu infelizmente tive que concordar que ele estava sim falando sério sobre a história de estar cultivando aqui dentro essas plantas!

— "E se essa for a verdade mesmo, então quer dizer que não vai mais adiantar de nada ir atrás do tal fornecedor!"

Eu falei extremamente frustrado -sem conseguir segurar aquilo dentro de mim-, fechando então minha mão em um punho e socando a parede com vontade para tentar aplacar um pouco daqueles sentimentos revoltantes que começaram a me dominar todos de uma vez!
"Não acredito que ele conseguiu mais uma vez tomar a dianteira!"
Minhas palavras atestaram incredulamente, ao que lentamente então eu fui entendendo porque na realidade ele sequer estivera se deixando importar pelas minhas pequenas ameaças...

Enquanto eu só quisesse tentar atrapalhá-lo, Gale não ia então ter com o que se preocupar. Obviamente Damian era o único obstáculo que ele não tinha como controlar sem acabar correndo riscos, e isso tudo iria deixar de ser realmente um problema no segundo em que suas flores nascessem e ele pudesse produzir mais veneno -fato que por sinal ele já estava tomando como garantido!
Sendo assim Gale tinha como contornar tudo que estava contra ele, enquanto eu mesmo não decidisse me tornar seu próximo grande inimigo -o que ele admitidamente revelou preocupá-lo, só por ter vindo aqui falar comigo.

"Tsc! Dessa maneira aquele idiota só vai é conseguir me incentivar mais ainda em desistir de vez e me aliar logo ao Damian! Ele não está me deixando sequer acreditar que há outra forma de resolver isso senão matando-o mesmo!!"
Só que ao que eu pensei aquilo, instintivamente então minha cabeça balançou tentando me forçar a não deixar que eu fosse convencido por aquele desabafo tão facilmente!
Passar por cima da minha teimosia -quanto a não querer machucar Gale- já não seria algo fácil. Só que mais do que isso, eu agora sabia que a BlackHole também estava vigiando cada passo que Damian dava por essa cidade! E sendo assim, se eu tentasse fazer alguma coisa contra Gale que estivesse envolvendo Damian junto, ele iria acabar descobrindo na mesma hora e dando seu jeito de contornar...
"Eu não posso me misturar à Damian... Tirar o elemento surpresa de qualquer ataque seria o mesmo que entregar a vitória ao Gale. Sem falar que ainda por cima eu iria acabar dando todas as razões (que a BlackHole ainda não tinha) para finalmente começarem a tentar me eliminar aonde quer que eu fosse."

— "Não... mesmo que eu me desespere, não dá para apelar e deixar Damian fazer as coisas do modo dele. Eu tenho que acertar meus pensamentos e encontrar uma nova forma de bloquear Gale!... E preciso fazer isso enquanto ele está me subestimando, porque ele tem a vantagem de estar escondido, mas eu também tenho a vantagem de não estar com sua atenção totalmente voltada para mim!"

E então com essa convicção começando a tomar conta das minhas atitudes, eu novamente olhei para aqueles papéis sobre o móvel, pegando em minhas mãos aquele que continha o serviço de encomenda. Gale realmente havia me desestabilizado com essa história toda. Mas se eu não podia ir atrás dos seus fornecedores, então o que realmente estava me impedindo de mudar um pouco meu caminho e ir de uma vez atrás das flores que ele estava tentando plantar?!
Se estamos falando de uma planta proibida, então Gale não iria poder também estar plantando hectares delas por todos os cantos da cidade! Com certeza ele estava de mãos bem atadas quanto a localização e quantidade delas, e se eu pudesse encontrá-las, nada iria me impedir de acabar com isso tudo de uma vez por todas!

Eu então pensei comigo deixando um satisfeito sorriso escapar da minha boca. Por sorte eu já o conhecia bem o suficiente para saber que ele não atuava fora da Ala Oeste ou sequer fora da Citadela, e se estávamos falando de uma planta que não é nativa dos desertos -afinal, eu nunca vi nenhuma delas por aqui-, isso então só poderia significar que ele estava escondendo-as em um lugar que pudesse funcionar como uma estufa, bem fechado e discreto para não chamar a atenção dos Skreas -o que por outro lado não funcionaria contra um Feiticeiro d'água como eu, que conseguia detectar qualquer planta ou organismo (próximo) independente de obstáculos!
"Porém ainda sim existem prédios demais por aqui, e tentar procurar na Ala Oeste inteira por isso vai sem dúvidas gastar um tempo que eu já não tenho... Sendo assim eu então preciso dar um jeito de reduzir os meus locais de buscas! Tenho que descobrir tudo que puder sobre essa flor, para poder eliminar pelo menos os lugares aonde ela certamente não iria conseguir sobreviver!"

E com isso eu então apertei os meus olhos em determinação, trazendo mais próximo do meu rosto o papel com o serviço e lendo-o muito cuidadosamente ao que minha outra mão livre também pegava um pouco do dinheiro que estava jogado sobre aquela pilha de coisas. Sendo assim eu então dobrei o papel e guardei tudo junto entre as faixas da minha cintura, tendo certeza de que dessa vez eu não iria encontrar novas razões para precisar voltar em casa até o fim do dia!
Após tudo que tivera passado pela minha cabeça, eu finalmente retomei a certeza de que precisava continuar com meus planos originais -de rondar toda aquela cidade atrás do fornecedor de Gale! Porque querendo ou não, era justamente ESSA pessoa que iria me ajudar agora!

No momento, ter todas as informações possíveis sobre a Flor da Meia-Noite tinha que ser a minha prioridade. Porém, depois do que aconteceu ontem eu sabia que Ebraín com certeza não iria mais abrir comigo o jogo sobre esse assunto -sem falar que eu não iria também arriscar atrair Damian novamente até aquele lugar, caso fosse verdade o que Gale disse quanto a ele estar me seguindo pela cidade...
Sendo assim então, pela lógica eu iria ter que pesquisar sozinho sobre essa planta, mas isso também era impossível já que os Skreas haviam sumido com tudo referente a existência delas! Fazendo assim com que me restasse apenas uma única maneira de aprender algo sobre elas...
"Encontrando o fornecedor que originalmente deu essas flores ao Gale! Essa pessoa com certeza precisava ter algum conhecimento sobre o seu produto, e não duvido nada de que possa ter sido justamente ela quem também ensinou ao Gale como cultivá-las! Encontrando-a, eu vou ter acesso a exatamente as mesmas informações que o Gale também teve!"

E nisso então eu balancei uma última vez minha cabeça -concordando com o que precisava ser feito-, não gastando assim mais nenhum segundo atoa! Agilmente minhas mãos então alcançaram o meu manto e meu bastão -que estavam jogados sobre a cama-, recolhendo-os em um único impulso e carregando-os comigo ao que antes que eu pudesse me dar conta, eu já estava novamente de volta às ruas da Citadela! Sendo assim eu então acelerei meus passos e segui meu rumo para o norte, em direção aos Distritos aonde a pessoa que me contratara estava me aguardando com o pacote em mãos. Deixando que a forte luz do sol da tarde batesse em minhas costas, iluminando assim o longo e movimentado trajeto que eu ia ter que enfrentar até meu destino!

Eu não tenho realmente certeza do tempo que levei (ou deixei de levar) para sinceramente chegar até aquele meu cliente. Mas eu sentia que o Sol mal parecia ter saído do seu lugar quando eu finalmente parei em frente àquela porta e olhei para cima -para o céu- discretamente. Deixando que ao longo da minha breve distração, o misterioso cliente então terminasse de me entregar -pela fresta de uma porta semiaberta- uma pequena caixa amarrada assim como o papel que continha o endereço da entrega.
Balançando minha cabeça em confirmação eu então dei minhas costas para ele o quanto antes e desdobrei o novo bilhete, lendo e relendo os novos dados até garantir para onde agora eu deveria seguir. Sendo assim eu então ajustei mais uma vez meu rumo, e segui meu caminho para além das Escadarias, ao que de tempos em tempos meus olhos ansiosamente observavam -por baixo do meu manto- os estranhos que passavam por mim... procurando sempre ver se seus rostos eram ou não vagamente familiares.

Só que infelizmente, -independente de eu ter tomado o caminho mais longo até o meu destino só para aumentar minhas chances de esbarrar em quem eu queria- ainda sim eu sequer tive a sorte de encontrar alguém que pudesse ter me sido útil... Houveram algumas feiticeiras disfarçadas que cruzaram o meu caminho, assim como também houveram rostos que eu podia jurar já ter visto já dentro dos territórios da Blackhole. Só que de qualquer forma, nenhuma daquelas pessoas tinha como me ajudar com o que eu precisava no momento, e assim sendo eu simplesmente as ignorei. Abaixando a minha cabeça por um instante e suspirando discretamente entre aqueles panos que envolviam meu pescoço... sabendo que aquilo ia ser difícil, mas desejando do fundo do meu coração que eu pudesse dessa vez estar errado.

De qualquer modo, quando eu finalmente dei por mim, eu reparei que já havia passado por mais da metade do caminho que eu decidira fazer! E ao que o local da entrega ficava muito próximo da Rua do Alquimista eu então desisti finalmente de postergar ainda mais as coisas, corrigindo aquele percurso e descendo por fim as Escadarias ao que agora eu ia seguir o resto daquele caminho através da própria rua principal mesmo!
Por ali eu ainda tentava reparar em cada pessoa que cruzava com o meu olhar, só que cada vez mais que eu me misturava à multidão, mais ainda isso se tornava um desafio já que aquele pedaço da Citadela era justamente o cruzamento principal entre várias regiões ao mesmo tempo -fazendo com que muita gente passasse por ali de uma vez só durante a tarde!
E ao que a minha concentração foi totalmente tomada por isso, eu então mal pude ter alguma reação quando senti algo meio baixo esbarrar de frente -e com vontade- contra mim! Quase me fazendo cair para trás ao que eu facilmente me desequilibrei no impacto!

— "Ah, não-!!"

Eu ouvi então uma jovem voz feminina gritando alarmada, ao que logo em seguida o distinto som de algo caindo no chão e se quebrando pode ser ouvido também! Nisso antes mesmo que eu pudesse acertar minha postura, eu rapidamente voltei meus olhos para baixo e foi aí que eu finalmente pude perceber aquela garota ali, ajoelhada bem na minha frente. Desesperadamente se inclinando sobre o que parecia ser uma panela de barro quebrada, e uma pequena pilha de comida que agora estava se misturando entre os cacos e a areia do chão.
"Haah... não me diga que ela estava carregando uma panela de tagine..."
Eu indaguei fazendo uma expressão bem amarga, ao que isso dificultava ainda mais para mim ignorar aquela cena. O tagine era um prato que eu vim conhecer na Citadela -provavelmente porque ele é típico daqui-, aonde as pessoas faziam esses cozidos e depois os serviam dentro das próprias panelas de barro -pela praticidade. Para alguém como eu essa era uma refeição realmente deliciosa, mas igualmente não muito barata já que os ingredientes quase sempre eram trazidos de outras regiões distantes (em especial os legumes e as carnes).

E foi por isso que então no mesmo instante eu observei a garota que estava ali desesperadamente tentando recolher o tagine do chão... sentindo pelas suas roupas que ela não era alguém com condições de realmente comprar aquele tipo de comida sempre que quisesse -e ressentindo por isso ao que eu sabia o que era ter uma infância difícil também.
Sendo assim eu então deixei um incomodado suspiro escapar de dentro de mim e me agachei na frente dela, largando o pacote do meu lado enquanto tentava ajudá-la a recolher aquela comida do chão. Observando durante isso aquele rosto que propositalmente evitava olhar para mim.
Estava claro que aquela menina queria chorar. Sua mão de tempos em tempos largava os cacos da panela e ia direto para os seus olhos, esfregando-os sempre que eles ameaçavam ficar cheios de água -o que não demorava muito. E com isso eu então finalmente desisti de apenas ficar quieto, segurando por fim suas mãos e impedindo-a de continuar com aquilo -o que finalmente então obrigou aqueles grandes e avermelhados olhos a me encararem.

— "Não dá para salvar."
— "Gh-... N-não, eu preciso!...-snif! Essa era todo o dinheiro que eu tinha, eu não posso-...!"
— "Haah..."

Ouvindo então às palavras desesperadas daquela menina, eu não tive outra reação senão fechar os meus olhos por um instante e tirar de dentre as minhas faixas um pouco do dinheiro que eu tinha comigo, oferecendo para ela algumas notas sem me sentir obrigado a pensar muito no que eu estava fazendo.
Sendo assim aqueles grandes olhos então mais uma vez me encararam sem acreditar no que estava acontecendo, deixando que duas últimas lágrimas escorressem deles enquanto um acanhado sorriso timidamente tentava surgir no rosto desacreditado daquela garota!
A princípio ela não estava sequer tendo a reação de pegar o dinheiro da minha mão, mas ainda sim eu não deixei de insistir que ela o aceitasse de uma vez por todas já que eu não ia voltar atrás nisso logo agora.

— "Toma, pega isso e vá comprar mais-..."
— "VOCÊ!! SE AFASTE DELA!!"

Do nada então uma alarmada voz soou por trás de mim, fazendo no susto que eu e aquela menina nos afastassemos um do outro e nos levantassemos do chão -quase como se um estouro de camelos estivesse vindo para a nossa direção!
"Ótimo, só falta agora ser a mãe dela achando que eu-...!!"
Porém antes que eu pudesse terminar de pensar aquilo, quando meu rosto se virou para encarar a dona daquela voz, meus olhos então se abriram em surpresa e as palavras simplesmente engasgaram dentro de mim por um instante, fazendo com que me faltasse qualquer reação!

— "S-Saret!?"
— "Eu já disse para se afastar dela!!"

Saret então desprendeu seu bastão das costas e o empunhou na minha direção quase me fazendo recuar para não ser acertado por ela! Só que antes que ela pudesse chegar mais perto de mim, a garota então que estava do meu lado saiu correndo com seus braços esticados e pulou de uma vez só sobre Saret, abraçando-a como se elas fossem muito próximas uma da outra!
Nisso então a própria Saret -se vendo sem opções- largou aquele bastão no chão e se agachou para abraçar a garota de volta, puxando-a ainda mais para perto dela enquanto me encarava com uma hostilidade acima do seu normal!

— "Saret!! Eu não sabia que você já havia terminado o seu serviço!"
— "Sim, eu acabei mais cedo e fico feliz de ter feito isso..."

Saret então disse finalmente afastando um pouco aquela menina do seu corpo e olhando-a de perto, ao que sua mão cuidadosamente tirava a escura franja de cima daqueles grandes e avermelhados olhos -que não sabiam esconder o quão chateados ainda estavam.
Sendo assim Saret me encarou novamente de um modo mortal, finalmente pegando o seu bastão do chão e se levantando mais uma vez ao que ela não parecia estar muito disposta a tirar seus olhos de mim.

— "Minka, você estava chorando... Aquele idiota por acaso tentou fazer alguma coisa com você!?"
— "Eh-!? N-não! Pelo contrário, ele só tentou me ajudar! F-foi tudo culpa minha!"
— "Eu duvido muito disso..."

Saret então falou dirigindo novamente sua palavra na minha direção, como se fossem agulhas tentando me alfinetar. Só que de um modo ou de outro eu já estava vacinado demais contra ela para deixar que suas palavras me atingissem, e assim sendo eu apenas peguei de volta o pacote do chão e cruzei meus braços em resposta a desconfiança dela.
Só que antes que nós dois pudéssemos sozinhos transformar o ar ao nosso redor em uma troca de ameaças mentais, aquela menina então puxou Saret pelo seu braço a a sacudiu um pouco, roubando sua atenção de volta para ela e encarando-a seriamente.
Sendo assim Saret finalmente precisou ceder e apenas suspirou em desistência, concordando com sua cabeça e finalmente admitindo.

— "Certo. Eu acredito em você... dessa vez."
— "Obrigada!!"
— "Mas a final, o que aconteceu!?"
— "Ah-...! E-eu... Eu me distraí e acabei derrubando nosso jantar no chão. Me desculpa, de verdade!!"
— "Haah... então foi isso."

"'Nosso jantar'...?"
De repente então eu me deixei surpreender por aquelas palavras e pela postura tão compreensiva com a qual Saret encarava a menina, -relaxando seus ombros e deixando que ela tomasse toda a sua atenção- ao que pelo visto as duas eram realmente bem próximas!
Sendo assim eu não tive como resistir -já que eu sabia tão pouco da vida de Saret para deduzir algo sozinho-, ingenuamente interrompe-as ao que eu me senti realmente obrigado a confirmar...

— "Espera, vocês duas por acaso moram juntas?"
— "Sim!! Ela é a minha irmã mais velha moço!"
— "EHHH-...!?!?"

Ouvindo aquilo eu então recuei muito espantado, encarando Saret de um jeito estranho ao que todas as palavras pareceram ter sido roubadas de dentro de mim!!



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