Quando ele me ouviu perguntar sobre a falta de envolvimento da sua raça, Damian então tirou sua mão de mim e recuou seu corpo para trás em um perturbado espanto, fazendo sem pensar duas vezes uma expressão muito desagradável e me encarando em muita hesitação ao que ele jamais imaginaria que eu iria trazer esse assunto à tona logo agora!
Era verdade que ele também havia ficado na defensiva durante a primeira vez eu o fizera essa pergunta, e que independente de já ter passado um tempo desde aquela vez, nada me garantiria que ele não iria continuar reagindo mal quanto a isso... Só que ainda sim eu decidi sem medo continuar a pressioná-lo mais e mais! Afinal, se eu não for capaz de ter coragem para pressioná-lo, como então eu vou ter coragem para desafiá-lo e provar que eu posso resolver as coisas do meu jeito também?!
E então com um pouco mais de coragem em minha voz eu voltei a insistir naquela pergunta, procurando todos os argumentos que eu poderia ter para convencê-lo a finalmente abrir o jogo comigo!

— "... Você disse que precisa da minha ajuda e que não tem outro jeito, mas eu não vou aceitar nada do que você diz se eu continuar sentindo que não posso contar ou confiar em você... por isso se precisa tanto assim de mim, me prove abrindo logo o jogo! A sua raça REALMENTE não se importou com o primeiro ataque e nem com o fato de ter acontecido um envenenamento, não é?"
— "..."
— "E se realmente for isso, então porque!? Mortes pequenas já foram ignoradas antes, mas nunca uma envolvendo dois generais, testemunhas vivas e provas tão-...! Tsc, o que eu quero dizer é que haviam fatos demais para fazer metade da sua raça sair por essas ruas atrás da BlackHole, e ainda sim absolutamente nada aconteceu! Tudo o que eu continuo vendo é apenas você, sozinho, vagando por essas ruas atrás de Gale quase como se se você não fizer isso, ninguém mais o fará!"
— "..."

Quando eu finalmente terminei de desabafar de todas as formas as minhas dúvidas, eu então voltei a me calar, apreensivo e muito desmotivado pelo silêncio de Damian que por sua vez ficara esse tempo todo apenas me encarando com uma atenta e inquietante expressão.
Seus olhos pareciam não conseguir desprender de mim como se ELE agora é que fosse o animal acuado entre nós dois, preso na posição em que estava ao que o rápido tremer de seus olhos era o único sinal que eu tinha de seu imenso desconforto perante minhas palavras.
Isso, até seu olhar começar então à parecer me atravessar, viajando para algum lugar além daquele momento e fazendo sua cabeça claramente mergulhar em pensamentos que estavam fora demais do meu alcance ou do alcance de qualquer outra pessoa.

Lentamente eu comecei então à aceitar que a boca de Damian estava definitivamente selada sobre esse assunto, vendo em sua falta de expressão essa certeza, ao que dessa vez ele sequer resolvera me afastar através de um ataque violento ou através de um discreto rosnado de insatisfação.
Não, ele apenas guardou todas as suas reações para si deixando apenas seus olhos ainda focados em mim por um tempo. E quase como se eu não tivesse feito nenhuma pergunta, aos poucos ele então finalmente decidiu virar seu rosto para o lado em indiferença, virando junto seu corpo até ficar de costas para mim em uma tentativa de ignorar completamente todas as minhas perguntas e argumentos -quase como se eu sequer fosse capaz de convencê-lo a fazer algo, caso ele não quisesse ser convencido de nada.
"Tsc, agora ele decide ficar quieto... Talvez no fim ele não queira um aliado, mas sim alguém que ele possa facilmente usar e jogar fora!"

Eu pensei aquilo me chateando ao que mais uma vez eu sentia a certeza de que estaria sozinho nessa história -graças a ele ter literalmente até mesmo me dado as costas sem necessidade. Damian tinha algo dentro dele que o fazia parecer entender as coisas pelas quais eu estava passando, mas ainda sim suas atitudes não eram diferentes das das outras pessoas que sequer achavam precisar me levar a sério. E eu não ia também ficar me esforçando de novo com alguém de fora só para tentar ser ouvido ou respeitado -especialmente sendo essa pessoa em questão um Skrea! Mesmo que até agora, essa pessoa diante de mim fosse a única que estava interessada em se envolver nos mesmos problemas que eu...

— "Quer saber, esqueça que eu perguntei. Estou cansado de tentar contar com a boa vontade das pessoas hoje."

Falando isso em um tom de desistência, eu então o imitei e me virei contra ele também, novamente pensando em sair dali sem olhar novamente para trás ao que eu já não estava gostando de sentir o ar da madrugada nos envolvendo sem que eu sequer estivesse no meio do meu caminho de volta para casa!
A rua já estava sem mais qualquer sinal de vida, e a escuridão se fizera ainda mais presente ao nosso redor ao que agora apenas as amareladas luzes da rua estavam acesas -devia ser tão tarde que janela alguma mais estava iluminada dentre aqueles prédios que nos cercavam-, me fazendo cruzar meus braços para tentar espantar um pouco do frio que agora (até mesmo para mim) era difícil de ignorar, e abaixar a minha cabeça, chateado comigo mesmo por não saber mais o que eu queria tentar tirar daquela situação ainda.

— "O que... está te incomodando tanto?"
— "!?"

De repente então aquela voz estranhamente calma surgiu por trás de mim sem aviso, me fazendo virar quase que em um pulo -no susto- ao que eu por um instante havia esquecido que Damian falava! Ele estava me olhando agora de um modo muito expressivo e quase complacente, me perdendo no meio do caminho já que eu não entendia de onde surgira aquela sua reação tão do nada! E acho que foi justamente por ter sido pego de surpresa, que eu então não soube disfarçar também o susto que tomei com a sua pergunta!

— "C-como assim?"
— "Eu não tenho como ficar ignorando isso pelo resto da noite... Mesmo que eu possa não conseguir entender vocês direito, ainda sim eu continuo podendo sentir quaisquer sentimentos quando passo tempo demais perto de um Humano. E sinceramente os seus sentimentos já estão mais do que me incomodando."
— "..."
— "No início eu achei que o seu problema era só com o que eu havia feito mais cedo, e que resolveria se eu pedisse desculpas e te deixasse gastar essa raiva... mas isso sequer parece que ajudou. E eu não tenho como passar essa noite inteira tentando adivinhar o que está se passando dentro dessa sua cabeça, só para poder finalmente conseguir lidar com você. Olha, você disse que precisa que eu abra o jogo para poder confiar em mim não é? Então vamos fazer uma troca, ao menos me diga o que é que está te incomodando tanto primeiro!"
— "O que é que está me incomodando..."

Eu repeti as palavras de Damian, surpreso ao que pude ver em seu olhar um misto de determinação e inquietude para me ouvir responder de uma vez aquela sua pergunta. Eu já devia de ter imaginado que ele não iria ficar imune às coisas que eu sentia, só que mesmo assim eu não podia deixar de me sentir levemente surpreso com todo aquele seu interesse vindo à tona logo agora! Mas-... Mas uma coisa ao menos eu podia entender.
Damian não só precisava me fazer cooperar com ele, como também precisava estar isento de sentimentos para poder conduzir nossa conversa direito. E enquanto eu estivesse me deixando sobrecarregar sozinho por problemas grandes demais, jamais que ele iria então ser capaz de ter qualquer uma dessas duas coisas em suas mãos.

E foi por isso que eu então voltei meu olhar para ele com certo interesse. Havia coerência no que ele queria, mas de qualquer maneira ser honesto com qualquer pessoa (sem que fosse por acidente) era algo ainda muito difícil para mim. Damian podia ser um Skrea -eliminando meu receio em ser direto com ele- e podia me entender melhor do que muita gente por estar junto comigo no epicentro de toda essa confusão, só que de qualquer forma ele continuava a ser uma pessoa estranha na qual eu não confiava, e nada me provava que ele realmente conseguiria me entender sem me-...!
De repente então eu travei meus pensamentos, encarando Damian por um instante e abaixando logo em seguida minha cabeça em compreensão.
"Certo... Entendi porque ele também não quis responder as minhas perguntas..."

Se abrir com um estranho em quem você nem confiava era algo muito difícil para qualquer um de nós dois, e por isso que eu não podia ficar exigindo dele a capacidade para se conseguir fazer isso -ao menos não enquanto eu mesmo não soubesse tomar também essa iniciativa!
Foi por isso que eu então balancei a minha cabeça, entendendo finalmente que eu ia ter que aceitar essa "troca" que ele me propôs tomando assim um longo fôlego para criar coragem. E ao que eu pensei bem em minhas palavras, enfim então eu comecei -desajeitamente- a me abrir.

— "Eu-...Eu estou perdendo o controle de tudo!... E é ISSO que está me incomodando tanto!"
— "..."
— "... Eu achei que podia contar com algumas pessoas se fosse preciso, mas acabei descobrindo que todas elas sequer querem acreditar mais no que eu digo... Para elas, arriscar as próprias vidas está sendo uma ideia muito melhor do que tentar me levar a sério!"
— "..."
— "E a propósito você estava certo, eu já descobri que estamos sozinho nessa! Só que o problema é que eu não estava preparado para descobrir isso, e agora estou precisando encarar algo que está me assustando muito mais do que eu queria-...!"
— "Não é só você."
— "...?"
— "Eu... Até eu também perdi o controle das coisas desde que isso tudo começou. E não estou tendo nenhuma sorte para recuperá-lo."
— "Como assim 'até você perdeu o controle' ?"
— "Haaah... você estava certo sobre aquilo que disse. A minha raça não deu importância alguma para a morte dos meus irmãos, e nem mesmo quiseram saber sobre essa história toda de veneno ou de atentado... Tudo que eles quiseram fazer foi sumir o mais rápido possível com os corpos deles, e fingir que eles nunca existiram."
— "Mas... porque eles iriam querer fazer isso?"

Ao que a voz de Damian lentamente demonstrou mais e mais dificuldade para conseguir sair de sua boca -à cada palavra que ele relutantemente me dizia-, foi que então eu temi pelo retorno do seu silêncio, não resistindo a novamente incentivar sua explicação já que eu agora eu havia feito minha parte e ele me devia essas respostas!
Porém ao que ele se demonstrou muito relutante -engolindo um sofrimento que não passava mais desapercebido por mim-, cada vez mais eu também me segurei então para não força-lo demais contra sua vontade. Damian era um Skrea e eu não devia de me importar tanto, mas eu não estava mais conseguindo querer ser insensível com ele, sabendo que ele estava sendo assaltado pelos mesmos sentimentos que eu também estava.
"Ao menos, não enquanto eu quiser que ele ainda coopere comigo..."

Nisso Damian então encolheu seus ombros deixando um alto suspiro sair de dentro dele, amparando seu rosto com sua mão como se não estivesse conseguindo lidar com toda aquela inquietação e deslizando seus dedos até puxar os cabelos de sua franja para trás.
Sua expressão era de imenso aborrecimento, mas eu sequer pude olhar para ela tempo suficiente já que sem qualquer aviso ele então mais uma vez resolveu dar suas costas para mim, não demonstrando agora que estava me ignorando, mas sim que estava tendo dificuldades para me encarar naquele estado.

Sem então dizer absolutamente nada, ele apenas começou a andar silenciosamente para frente, dando passos muito lentos e curtos e fazendo um discreto gesto com sua mão como se me dissesse para segui-lo.
Eu não tinha como saber o que ele estava pretendendo. Do meu ponto de vista ele só parecia estar tentando remoer dentro de seu próprio tempo esses assuntos dos quais ele sempre tinha dificuldade de falar sobre, e por isso foi que eu então não me vi sem outra escolha senão segui-lo assim como ele queria -mantendo sempre um pouco de distância entre nós dois. Esperando que em algum momento ele fosse finalmente me explicar tudo que eu precisava saber, se eu apenas tivesse a paciência para esperá-lo fazer isso.

E com isso o silêncio foi assumindo a partir daí, ao que apenas nossos lentos passos -assim como as correntes da roupa dele- faziam barulho por entre aquelas ruas tão abandonadas. Eu não sei por quanto tempo isso sinceramente durou, só que finalmente ao que eu já estava precisando cruzar meus braços para me manter aquecido, foi que então ele por fim parou -bem na minha frente.

Em resposta eu então também o imitei, parando no mesmo segundo mais por um impulso automático do que pela minha própria vontade de fazer aquilo -já que meu corpo estava gelado e cansado demais para eu me dar conta do que estava fazendo ainda ali no meio daquela rua... Isso, até eu finalmente voltar a ouvir sua pesada voz pronunciando para mim apenas 4 novas palavras e nada mais do que isso.

— "... Eu sou um híbrido."

Quando eu ouvi Damian dizer aquilo, um estalar então me tirou daquele estado automático e me fez dar alguns passos me inclinando em sua direção surpreso!
"Híbrido?! C-Como assim?!"
Eu me perguntei em exasperação, ao que eu jamais havia ouvido até hoje esse termo sendo usado para um Skrea antes! O que isso realmente significa?! Eu duvido que seja realmente o que estou imaginando, afinal Damian claramente não tem como ser-...!

Só que antes que eu pudesse continuar pensando nisso, ele então sem qualquer aviso voltou novamente à andar usando um ritmo ainda mais rápido -provavelmente dado ao seu imenso incomodo por ter me dito aquilo-, adentrando em um beco que estava próximo a nós dois e me deixando para trás sem sequer olhar para ver se eu o seguira ou não!
"Ah não, não vou deixar ele sumir logo agora! Eu me recuso à ficar adivinhando sozinho o que ele quis dizer com isso!!"
Eu pensei aquilo comigo não perdendo então tempo para apertar também meus passos no mesmo ritmo que ele, tentando alcança-lo mais uma vez em meio aquele labirinto interminável de prédios!

Só que seus passos dessa vez estavam mais acelerados, e mesmo que eu sentisse que ele não estava querendo fugir de mim, ainda sim eu não podia arriscar tentar ter outra conversa enquanto ele não parasse quieto um pouco -afinal eu não sou de ferro, ou eu respiro ou eu falo!
Bem, por sorte pelo menos eu sabia que ele ainda queria que eu o seguisse... afinal se ele realmente quisesse me deixar para trás ele já teria se deixado envolver por aquela energia estranha, subindo no primeiro prédio que visse -igual a um relâmpago- e desaparecendo por essa cidade... me largando por aí sem dizer absolutamente nada ou sem me deixar dizer também absolutamente nada. Não, ele queria que eu o acompanhasse por alguma razão, e por isso eu não podia parar logo agora!

Nisso então Damian virou em outro corredor igualmente estreito. Eu não sabia aonde estávamos e aonde sequer estávamos indo -já fazia um tempo na realidade-, os becos internos não tinham iluminação própria e a única coisa que me ajudava a não perdê-lo de vista era na verdade o distinto som de suas correntes balançando no ritmo de seus passos. Porém até mesmo depois de algumas horas isso também falhava -ao que ele adentrava em novas e confusas bifurcações- me obrigando em outros momentos à usar minha feitiçaria para detectar a presença dele e não perdê-lo por aí... Isso até ele então finalmente subir em uma pequena e estreita escadaria que estava muito bem escondida no meio de dois prédios à nossa direita!

Quando eu cheguei perto daquela escadaria, eu então olhei para cima notando o enorme breu que me impedia de ver o que estava adiante -sequer dando mais para ver a silhueta de Damian que se perdeu dentro daquela escuridão.
"Bem... Pelo menos eu sei que é só seguir reto..."
Eu tentei me consolar, sentindo certo receio de encarar uma escadaria de tamanho indefinido no meio da escuridão. Meus poderes ainda confirmavam que Damian estava mais afrente, só que ao que eu me mantinha parado e ele continuava prosseguindo, mais ainda se tornava difícil de meus poderes alcançarem a presença dele -me sentindo obrigado à encarar essa subida querendo eu ou não.
"Não acredito que vou ter que fazer isso..."
Eu pensei aquilo tentando me convencer, esfregando incomodamente então meu rosto, e tomando um longo fôlego para juntar coragem e subir às cegas aqueles degraus... isso tudo -claro- com a ajuda do meu bastão tateando o escuro em busca de quaisquer obstáculos pelo caminho.

Sinceramente eu não sei quantos degraus tinham naquela escada, porque eu perdi um pouco a noção da conta depois de 30... Mas quando eu não mais estava pensando nisso foi que finalmente então eu pude perceber a escuridão ao me redor se desfazendo, dando lugar a luz da lua que finalmente voltava à iluminar o que estava bem diante de mim -uma discreta sacada bem alta, escondida em meio a vários outros prédios amontoados e bem menores.
"Espera, isso não faz parte das Avenidas...?! N-nós andamos tudo isso!?"
Eu me questionei surpreso, ao que me apoiei no muro daquela sacada admirando a imagem daquela cidade de cima, estando ela agora inteiramente banhada pela luz da lua e das estrelas!
Andando pelas ruas não dava para notar, mas daqui de cima o material escuro -que era usado nos prédios mais modernos- refletia completamente todas as luzes da noite fazendo com que a cidade inteira se transformasse em uma extensão daquele infinito céu, refletindo também o brilho de cada uma das estrelas que estavam sobre, e agora também sob nós... era realmente muito lindo.

E ao que eu continuava deslumbrado por aquela vista eu então simplesmente me deixei esquecer sobre Damian -que discretamente estava com seu corpo apoiado na parede bem do meu lado-, observando também distraidamente aquele mesmo incrível cenário sem sequer me dar bola.
O frio do deserto e a escuridão da Citadela realmente traziam uma sensação muito inquietante e solitária quando você andava por aqui de madrugada, só que olhando agora tudo isso de cima, eu não conseguia mais me sentir sendo tomado por metade dessas sensações mais... tudo o que restara agora era uma paz dentro de mim, dissolvendo os meus problemas e me acalmando como se eu sequer tivesse tido um dia difícil hoje.
"Acho que entendo agora porque Damian quis vir aqui..."

Eu pensei aquilo ao que lentamente me permiti esquecer dos meus problemas, das minhas perguntas, e até mesmo das razões para eu estar ali em cima para começo de conversa!... Ali em cima era como se a BlackHole não existisse, era como se Gale não existisse, era como se meu passado não existisse, era como se Humanos e Skreas não existissem... Tudo o que parecia existir era apenas eu e Damian, no meio de um mundo infinito feito só de luz e escuridão.
Porém ao que eu contemplava sem palavras aquele mar de estrelas no meio do deserto, do nada então minha atenção foi roubada de volta por Damian, graças ao insistente som de uma pequena e discreta corrente sendo -inquietamente- remexida por suas mãos.

Deslizando meus olhos por sua silhueta -que era contornada pela luz da lua e das estrelas- eu procurei então a fonte daquele barulho, isso até perceber que ele estava distraidamente mexendo com o medalhão em seu pescoço ao que seu rosto se perdia em um pensativo silêncio.
Damian parecia estar incessantemente contornando o símbolo de Derak com a ponta de seus dedos enquanto pensava, e ao que eu sem querer entrei em transe observando aqueles seus movimentos, algo subitamente então me trouxe de volta à realidade -uma pertinente dúvida, que eu sequer havia chegado a questioná-lo sobre, antes!

Mesmo depois de tudo que passamos, eu não lembro de ter perguntando para Damian porque ele carregava o símbolo de Derak com ele, e não saber sobre aquilo me incomodava um pouco. Afinal, se ele não era um general, então ele precisava ser importante de alguma outra maneira para poder ter permissão de carregar o símbolo de um dos 4 Patriarcas da Ala Oeste daquela maneira!
Sendo assim, eu então perguntei isso para ele sem qualquer receio em minha voz.

— "... Porque afinal você carrega o símbolo de Derak com você?"

Ao som da minha voz, Damian subitamente então pareceu despertar do silêncio em que havíamos entrado por tempo demais, olhando surpreso finalmente para o medalhão em sua mão como se ele sequer tivesse se dado muita conta de que estivera durante esse tempo todo mexendo com ele!
Mas sua surpresa não durou mais do que aquilo, ao que -sem ainda olhar para mim- ele então voltou seus penetrantes olhos para a vista à nossa frente mais uma vez como se não fosse capaz de me encarar ainda direito. E naquele embalo, seus olhos então começaram à se apertar em frustração ao que sua mão se fechou em um punho sobre aquele precioso medalhão, fazendo sua feição se deixar sobrecarregar por um estranho e incontrolável remorso antes que ele deixasse aquela única e pequena frase escapar...

— "Derak é meu pai."

Damian falou aquilo quase que misturando suas palavras junto a um enfurecido rosnado, não sabendo conter direito tanta raiva de uma só vez e apertando ainda mais forte aquele cordão como se quisesse esmigalhá-lo com todas as suas forças!... Enquanto eu já por outro lado, apenas abri ainda mais meus olhos em completo choque!