Black Desert escrita por Kallin


Capítulo 59
Arrependimentos


Notas iniciais do capítulo

Oh-my-gosh... K.K. não acredita que está finalmente postando esse capítulo, porque ela realmente teve muito medo dele durante essas últimas 2~3 semanas! (E com isso ela acabou notando que qualquer cena com Damian ultimamente tem sido muito complicada de ser feita rápido, vish!) 〣( ºΔº )〣

K.K. sente que a razão toda por trás disso é sua tentativa de juntar a evolução de um personagem passional (que tenta ser racional) como o Yura, junto da evolução de um personagem racional (com crises de passionalidade) como o Damian... bugando em muitos momentos a minha cabeça por dias afim! ლ(¯ロ¯"ლ)
E dessa vez não foi diferente também, K.K. gastou 2 semanas presa nos diálogos desse capítulo tentando não deixá-lo virar um monólogo feito por um bipolar... e de repente logo hoje no dia em que fui postá-lo, eu dei a louca e reescrevi tudo (TUDO) em cima da hora, sentindo que finalmente achei a melhor forma de fazer a evolução dessa cena!! (・_・;) Yay para os processos criativos com delay! Um dia eles ainda me matarão do coração! (;⌣̀_⌣́)/

Então sem enrolar mais, K.K. agradece pela coragem de vocês em encarar o maior capítulo lançado até agora, esperando que tenha dado tudo certo no fim e que vocês gostem de tudo que acontecerá daqui em diante (especialmente porque estamos agora entrando em um momento de revelações interessantes~ muahaha)! o(>ω<)o
Mas bem, sem mais pseudo-spoilers... Boa leitura minha gente, e nos vemos no próximo futuro comentário!! Bye bye~ \( ̄▽ ̄)/



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Depois daquelas suas palavras, tudo o que me restou foi perceber o tempo de silêncio entre nós dois se esticando mais e mais em estranheza, ao que isso na realidade era tudo que eu precisava para deixar que pensamentos errados permeassem a minha mente sem qualquer autocontrole da minha parte.
Eu estava tendo um tempo grande demais para pensar sobre as palavras de Damian sem que ele me interrompesse, e por essa razão suas desculpas acabaram ecoando demais dentro de mim, fazendo-as serem assimiladas à assuntos -errados- que haviam sido previamente despertados já na minha mente, por Sal.
O que Damian havia feito comigo estava diretamente interligado à minha certeza de que eu odiava a raça dele, assim como esse ódio estava diretamente interligado a morte de Sáshia... E com isso, minha mente então acabou distorcendo aquelas suas palavras até que elas não mais alcançassem só o que ele fizera comigo mais cedo, mas sim o que sua raça fez comigo durante toda a minha vida na realidade!

E me deixando então levar mais uma vez pela raiva que continuava presente dentro de mim -mesmo que ocultada-, foi que eu então deixei um áspero murmúreo escapar de minha boca, fechando meus olhos com vontade e segurando ainda mais firme meu bastão como se eu pudesse à qualquer momento perder o controle propositalmente só para começar uma briga ali mesmo com ele!
Eu não estava pensando direito, e sequer isso estava me importando mais. Tudo que ainda me assaltava era aquela impotência pela conversa com Sal e Ebraín, a impotência por ter visto Sáshia morrer na minha frente, e a impotência por não poder ter feito nada sobre isso naquele dia, e em todos os outros dias que se seguiram depois disso...!

Com uma estocada então, minha mão elevou a ponta do meu bastão ainda mais na direção de Damian, apontando-o para o seu rosto ao que ele agilmente recuou em cautela -mantendo ainda sua palavra de que não faria nada comigo- e ficando parado bem ali, me encarando de uma forma bem tumultuosa ao que ele ainda controlava sua própria postura com muita calma.

— "Eu não acredito nas palavras de um Skrea!! Vocês NUNCA tiveram noção de limites, vocês NUNCA se importaram com nada do que fizeram, vocês NUNCA-...!!"

Só que antes que eu continuasse à perturbar a paz daquela rua, Damian então mais uma vez em um movimento rápido agarrou o outro lado do meu bastão, empurrando-o para o lado e voltando à se aproximar mais alguns passos de mim sem realmente parecer preocupado com toda a minha hostilidade.
E ao que seus movimentos foram precisos e seus olhos pareceram intensamente tentar me prender aonde eu estava -da mesma maneira que pessoas usavam agulhas para prender insetos em mostruários-, sua voz então voltou à sair de sua boca, contendo ela por outro lado uma calma e um controle que sequer parecia pertencer àquele momento.

— "Eu tenho, e eu sei que não deveria ter perdido a cabeça daquela forma, tentado te machucar sem ter um bom motivo... Eu estou te dizendo que errei, e minha raça não aceita que ignoremos erros."
— "Então você admite que a sua raça não considera errado tudo que fizeram até hoje contra a MINHA raça!? Porque afinal de contas vocês nunca pareceram preocupados com essas coisas antes!"
— "Sobre minha raça inteira eu não posso alegar nada, mas eu não estou aqui por causa deles, e sim por minha causa."
— "E porque você está se dando tanto ao trabalho? Você mesmo não se importa com outros Humanos para ficar se preocupando com o que eu penso sobre as coisas que faz!"
— "... Isso pode ser verdade, mas ainda sim eu me importo com o que EU penso sobre as coisas que faço. E na minha raça, não há coisa mais importante do que tomar atitudes corretas, assim como encarar quando não tomamos elas... e é isso que estou fazendo agora com você."
— "Humph, então agora Skreas começaram à sofrer de consciência pesada? Porque eu nunca vi nenhum de vocês se importar de passar por isso antes."
— "E talvez nunca vá mesmo, porque você acha que o que deveria nos afetar é essa sua 'consciência pesada', que no fundo não é nada além do resultado de sentimentos que só vocês Humanos têm, como culpa e remorso. Não, a minha raça é guiada por razões e compreensões muito diferentes do que as que afetam vocês..."
— "E quais outras razões sobram para te fazer querer se desculpar, se não forem essas?!"
— "Não sei se adiantaria eu tentar dizer, porque provavelmente entendê-las está além do alcance de uma mente limitada e passional como a sua..."
— "Limitada... Você realmente acha que consegue entender melhor o arrependimento do que nós Humanos?! Sinceramente, acho que você nem mesmo entende sua própria tentativa de desculpas!"
— "Haah... Você realmente está tentando continuar com aquela briga de mais cedo, não é? A sua raça não tem como nos entender naturalmente, porque vocês não tem a mesma natureza que nós temos. Apenas isso!"
— "... Isso é só uma especulação sua, se você não tentar se explicar, nunca que vai ter realmente certeza do que está dizendo!"
— "E porque eu preciso perder meu tempo fazendo isso...?"
— "Porque você já está aqui perdendo o seu e o meu tempo para começo! Então vamos, me prove que você tem mais razão do que eu agora! Não é isso que você quer fazer!?"

Ao que eu o desafiei à fazer isso, os olhos de Damian então demonstraram uma insegura surpresa, fazendo-o falsamente inclinar seu corpo para trás em exasperação. Se para mim a ideia de esticar aquele assunto era um tanto surreal já que eu deveria era tentar ir embora dali o quanto antes, para Damian então prosseguir com aquela conversa havia acabado de se tornar duplamente surreal! Afinal, se havia uma coisa que eu aprendi todos esses anos observando Skreas dentro da Boate, era que eles eram propositalmente ouvintes por natureza.
Não importa o quanto um Skrea se alterasse com sentimentos e se entranhasse dentro da minha raça, eles jamais perdiam essa característica de guardar suas filosofias internas apenas para eles, tratando a exposição delas como um limite que Humano nenhum precisava ultrapassar já que não éramos bons o suficiente para entendê-las de qualquer forma.

E por isso então foi que Damian se sentiu tão facilmente perturbado pela minha proposta. O resguardo natural dele estava agora indo de contra sua estranha necessidade de me convencer da veracidade de suas palavras, fazendo-o engolir a seco o ar enquanto tomava alguns minutos para pensar muito bem sobre meu complicado "convite".
Enquanto eu por outro lado aguardava pacientemente sua resposta para poder revidar tudo que ele fosse me dizer até não conseguir mais. Eu sabia que Damian não era o responsável pela morte de Sáshia nem nada, mas algo dentro de mim não queria também permitir que ele pudesse conseguir se desculpar comigo da forma que ele tão insistentemente estava tentando fazer, afinal...
"Se ele for capaz de realmente se desculpar, isso só vai significar que o Skrea que a matou sequer se deu ao trabalho de pensar no que fez... e eu não quero descobrir que realmente as coisas foram assim. Que realmente... só eu que quis me importar com a morte dela..."

Eu me deixei envolver naquilo, ao que realmente havia sido mais fácil até hoje aguentar a morte de Sáshia por acreditar que Skreas não sabiam voltar atrás em seus atos, e que por isso não havia muito o que pensar sobre a indiferença com a qual aquele Skrea atravessou sua lança pelo corpo dela... indo embora logo em seguida sem sequer olhar uma segunda vez para o rosto sem vida que estava caído do lado de seus pés. Ao contrário de mim, que olhei... achando que só eu havia feito aquilo porque Skreas eram incapazes de agir além de suas ordens, assim como incapazes de também relevar o mal em suas cruéis ações...

E com isso então minha raiva continuou à ser fomentada dentro de mim, tudo graças ao medo de ter aquela dor pertinente aumentando ainda mais depois de todos esses anos que se passaram... isso até que finalmente Damian terminou por se decidir, me encarando novamente com uma certeza em seus olhos ao que o seu óbvio desconforto igualmente se fazia claro em seu olhar.
Seguido então de um suspiro áspero que quase se transformou em um rosnar, sua voz voltou à sair dele ao que eu em resposta firmei ainda mais minhas mãos ao redor do meu bastão -que sozinho, era a única coisa assegurando uma distância segura entre nós dois-, sabendo que ele era alguém que perdia a calma fácil, e que eu não podia jamais subestimar esse seu lado não importa o quanto suas intenções iniciais não envolvessem me agredir.

— "...Não acredito que vou realmente precisar ter esse tipo de conversa com um Humano... Certo, me escute bem então porque eu não vou explicar isso duas vezes, independente de você entender ou não!"
— "..."
— "Diferente de vocês que só se importam em estarem sendo ou não exageradamente compassivos com suas atitudes, para nós, errar ou tomar a atitude certa não significa o mesmo que tomar a atitude que irá melhor agradar a todos... mas sim outra coisa."
— "Isso não quer dizer nada além de que vocês não estão nem aí para o que estão fazendo, porque vocês na realidade não sabem nada sobre err-...!"
— "Eu não terminei ainda. Não adianta eu tentar falar se você pretende me interromper à cada frase. Isso não é algo simples de se explicar à um Humano, e eu estou tentando... então tente também ficar quieto enquanto isso!"
— "Tsc..."
— "Escute com atenção... Para a minha raça, o que torna uma atitude correta não é quando agimos pensando no sentimento do próximo, e sim quando agimos através de regras ou de um propósito racional, evitando quaisquer ações muito desnecessárias só porque há outras pessoas envolvidas. Isso é porque acreditamos que cada atitude -boa ou ruim- possui uma consequência, e quanto mais prática forem nossas ações menos consequências irão ser geradas, poupando as pessoas de algo muito pior que poderia vir à acontecer, mesmo que vocês não fiquem satisfeitos com o resultado.
— "Só que entender de consequências ainda sim não é o suficiente para se alegar que vocês podem entender de arrependimentos! É necessário sentir também!"
— "Isso é apenas o que a sua raça pensa, mas a minha raça sabe que não se precisa sentir algo para poder perceber e admitir um erro. E eu posso até dizer que temos maior razão nisso do que vocês, já que há provas de como erros são muito mais censuráveis para nós do que sequer já foram para a sua raça."
— "Isso é a última coisa na qual eu vou acreditar!"
— "Verdade? Porque quando vocês falham, só decidem encarar como isso afetará as suas próprias consciências e nada mais, já que esses seus queridos sentimentos entram toda hora no caminho... só que sentimentos se esquecem, e por isso vocês voltam a cometer os mesmos erros mais e mais vezes! Ao que por outro lado quando minha raça falha, nós claramente enxergamos até onde nossas ações prejudicaram o progresso do nosso povo e de nós mesmos, nos fazendo aprender com isso a ter um receio muito maior e mais racional das consequências, diferente de vocês!"
— "Fale o que quiser... mas como você pode realmente alegar entender de consequências melhor do que nós, se é a minha raça que sofre sozinha até hoje por tudo que vocês fizeram, enquanto vocês nos encaram como se nunca tivessem se importado!?"
— "Isso é porque a sua raça nunca teve maturidade para saber lidar com nada. Remoer as consequências não significa entendê-las, aprender com elas é que significa, e isso a minha raça sempre soube fazer muito melhor do que a sua."
— "Não diga que não aprendemos também, quando somos nós que-...!"
— "Vocês não aprendem. Mesmo que você tente se convencer disso, ainda sim isso nunca será verdade porque os seus sentimentos continuarão cobrindo os seus julgamento e as decisões que você toma aqui dentro, causando repetidamente os mesmos problemas que minha raça por outro lado nunca mais causou para si. E isso é a maior prova de que vocês não aprendem nada de verdade."
— "Tsc, a sua raça nunca será melhor do que a minha, ao menos, não quanto a lidar da forma certa com os próprios erros e acertos!"
— "Insista o quanto quiser, os fatos vão continuar sendo os mesmos. A minha raça pode ter sido responsável por muitas coisas condenáveis do passado, e podemos ter deixado tudo isso passar sem chegar à admitir... só que quem continua depois de tudo isso ainda cometendo os mesmos erros e se afogando na mesma desordem, caos e violência são apenas vocês Humanos!"
— "-...!!"

Quando eu ouvi Damian falar aquilo, um estalo então de racionalidade (muito familiar aliás) acabou me acertando em cheio, me fazendo engolir quaisquer novas respostas ou retaliações que eu ainda seria capaz de jogar contra ele e me forçando assim à finalmente me calar de vez!
Damian podia ser um Skrea um pouco abusado na sua forma de abordar assuntos, criticando gratuitamente nossos sentimentos e enxergando sempre a culpa apenas na minha raça, antes de sequer cogitar que a dele também tivesse problemas (assim como qualquer outro Skrea igualmente faria). Só que ele finalmente chegou em um ponto do qual eu infelizmente não sabia também discordar: a fama negativa da minha raça que pelo visto era óbvia tanto para nós Humanos quanto para os próprios Skreas.
"Não sei se consigo culpar os nossos sentimentos por isso da mesma forma que ele faz, mas a minha raça não presta... E não posso fingir que logo eu não sei disso."

E foi por entender tão bem aquilo que então minha mão finalmente começou à tremer de leve em revolta, fazendo meu bastão perder sua firmeza e ir com sua outra extremidade de encontro ao chão, dando à Damian também a chance para ele empurra-lo mais uma vez para longe.
Todo o meu desejo de desafiar suas palavras e suas ideias agora estavam bloqueadas pela realidade que eu tão desagradavelmente conhecia sobre o resto da história de Sáshia, e que muitas vezes eu ignorava para poder reforçar ainda mais meus sentimentos de revolta contra a única das duas raças que não me traria problemas ao tentar vilanizar... Porém, por culpa das palavras de Damian eu não tinha mais como continuar dessa vez fazendo vista grossa sobre isso, e sabia que infelizmente teria que admitir agora aquilo que eu sempre tentei esconder dos meus próprios sentimentos de revolta.
"Um Skrea realmente acabou matando ela, mas... não posso dizer que ele teve toda a responsabilidade, quando sei que ela fazia parte da SevenRoses também..."

Eu então abaixei por fim a minha cabeça, apertando o cabo do meu bastão frustradamente ao que tentava controlar dentro de mim a imensa tristeza por saber que a culpa por sua morte não havia sido sozinha dos Skreas, mas sim também de nós Humanos e nosso péssimo jeito de tentar lidar com a nossa realidade. Sáshia sabia dos riscos, e ainda sim lutou até o fim ao lado daquele grupo, desafiando os Skreas e todo o domínio que eles tinham sobre nós aqui dentro...
Por mais que ela não tenha morrido em batalha e sim se escondendo comigo durante a última purgação da Citadela, eu não posso dizer que ela foi assassinada por um Skrea sem nenhum motivo também...
"Não importa o quanto eu tente jogar a culpa disso tudo sobre eles, eu sei bem no fundo que parte dessa culpa também foi da SevenRoses... e da minha própria raça."

E com aquilo eu então me fechei dentro de mim mesmo, não acreditando que até mesmo Damian havia conseguido contrariar minhas indagações sem sequer saber quais elas eram (diferente de Sal por sinal), só porque tudo que ele queria na verdade era que eu aceitasse sem questionar o que ele viera fazer... me pedir desculpas pela forma que me tratou mais cedo.
"Acho que dessa vez eu é que estou sendo entre nós dois o grande babaca, não é?"
Eu pensei aquilo -me censurando- ao que nem mesmo nosso último (péssimo) encontro estava mais pesando tanto dentro da minha mente agora, quanto essa sua tentativa despretensiosa de insistentemente reconhecer que errou, e me convencer disso -dentro da sua própria forma. E por culpa daquilo (e de meu abalado ânimo), foi que então por alguma razão começou a surgir na minha mente a ideia de que talvez eu devesse dar a ele uma chance maior do que eu estava disposto à dar desde o começo de todo o nosso papo (não uma chance quanto à Gale nem nada, mas sim uma chance quanto à entrarmos em bons termos).

E com isso eu então voltei a olhar na sua direção, pensando um pouco mais sobre suas palavras e decidindo quebrar o silêncio entre nós dois, ao que talvez fosse melhor resolver de uma vez aquilo tudo para poder ir embora, à ficar dando mais e mais chances para nos desentendermos novamente e eu ter no fim um Skrea irritado me perseguindo pelas ruas mais uma vez -já que eu sabia que não estava mais com energia ou disposição para tentar despistá-lo também no meio dessa noite fria.
Sendo assim eu então recuei finalmente meu bastão segurando-o ao meu lado em um sinal de relaxamento, atraindo a atenção de Damian para os meus gestos ao que o som da madeira roçando nas pedras fora o único barulho que por um tempo ressoara no meio daquela rua vazia.
E então com isso, finalmente -sem olhá-lo diretamente ao que eu estava ainda me sentindo um pouco mal sobre a realidade envolvendo Sáshia- eu tentei voltar ao seu assunto original, perguntando algo para ele que até então eu queria poder entender, mesmo que o tom em minhas palavras ainda sim tivesse saído bem desanimado -traíndo minhas sinceras intenções.

— "Porque afinal você está se importando tanto...?"
— "... Um?"
— "Porque dessa vez você está se importando tanto com o que fez comigo?"
— "Eu já te disse..."
— "Não, você me explicou sobre como a sua raça pensa. Mas não me disse sobre o que você realmente está pensando."
— "... O que eu realmente estou pensando..."

Naquele instante então os olhos de Damian se distanciaram de mim, para um lugar além do que meus olhos podiam alcançar -para o interior de sua própria mente. Despretensiosamente fazendo-o começar à mover seus pés um pouco (sem ainda sim se afastar muito de mim), como se ele tentasse desconfortavelmente caminhar na tentativa de clarear ainda mais as ideias sobre as quais ele até então não havia se importado de pensar sobre. E ao que ele continuava entretidamente gastando um bom tempo com isso, eu por outro lado apenas fiquei ali, observando-o distraidamente ao que também me encontrava curioso, já que aquela parecia até ser a primeira vez que alguém sequer o perguntou sobre seus próprios pensamentos -tudo por conta do tempo que ele estava gastando só para chegar à alguma conclusão que fosse.

E assim finalmente então Damian parou aonde estava -com suas costas de frente para mim- sem se importar muito com isso. Ele parecia estar encarando um velho prédio escuro que estava do nosso lado, ao que cruzara seus braços me permitindo ver em seguida não mais do que o movimento da fraca brisa passando por entre algumas mexas de seu cabelo -que era um pouco mais comprido atrás- assim como a ponta desgastada de seu sobretudo que parecia flutuar sozinha de tempos em tempos, ao que o clima provavelmente havia desgastado o pesado tecido tornando-o bem mais leve hoje do que talvez ele já fora um dia.
E ao que apenas aquelas duas coisas continuavam acontecendo em meio à sua reclusa postura, finalmente eu pude então voltar à ouvir sua pesada voz sendo jogada mais uma vez ao vento sem nenhum aviso, parecendo que ela em cada letra tentava rasgar o frio da noite, ao que seu tom estava sobrecarregado por um pesar além da minha compreensão.

— "Eu penso que... eu não posso ficar tendo sempre convicção em tudo o que digo, se no fundo acabei não sendo diferente do que você é..."
— "..."
— "... E é esse erro que eu quero encarar de frente, mesmo que isso signifique ter que admiti-lo para alguém como você. Eu não sou um Humano, mas acabei agindo com você nessa noite... exatamente como se fosse aquilo que eu menos quero me tornar."

Com isso um novo silêncio então invadiu aquela rua, ao que uma brisa um pouco mais forte começou à soprar preenchendo o espaço entre nós dois que ficara vazio após o som de sua voz desaparecer.
Nas palavras de Damian não havia mais do que aquele sempre presente remorso contra minha raça -sendo ele injusto, ou talvez não-, e me fazendo assim enxergar que entre nós dois realmente havia um buraco grande demais para sequer conseguir ser em algum momento tapado. Mesmo que eu pudesse um dia tentar reconsiderar o que eu sentia contra os Skreas, isso jamais significaria que eles por outro lado iriam um dia reconsiderar a minha raça, e Damian era o melhor exemplo disso no momento... o melhor exemplo de que não tem como um Humano e um Skrea entrarem em bons termos no fim das contas.
"Realmente nunca daria certo Humanos e Skreas se misturarem... não sei o que eu estou fazendo aqui ainda parado..."


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