Black Desert escrita por Kallin


Capítulo 58
Desculpas




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Ao ouvir as consistentes palavras de Sal, foi que eu então finalmente me dei conta do quão eu estava impossibilitado de convencer ela e Ebraín à realmente se preocuparem com aquele assunto -e especialmente estando eu atado demais para poder abrir o jogo sobre o resto das coisas que eu sabia.
Era quase como se houvesse um muro entre nós 3 que eu não estava conseguindo ultrapassar -porque eles não deixariam ser ultrapassado-, e que tornava-se ainda mais intransponível ao que eu sabia que realmente tinha um histórico com eles de me preocupar atoa de vez em quando! Só que acima de precisar lidar com aquele estado de impotência, ouvir do nada o nome de Sáshia ser usado como um dos motivos para Sal alegar que eu estava exagerando foi realmente a última gota que eu precisei para começar à me irritar demais com o rumo que nossa conversa tomara -já que o nome dela estava sempre diretamente ligado à tudo de pior que aconteceu comigo naquela guerra de 4 anos atrás, para piorar ainda mais meu estado de espírito!

E como eu sabia que me irritar agora não iria fazer as coisas terminarem bem assim como sequer trazer qualquer tipo de concordância entre nós 3, eu então brevemente escolhi sair daquela casa para não perder a cabeça com nenhum dos dois -ao que eu já não estava tendo muita credibilidade, para arriscar ainda mais as coisas tendo uma atitude radical.
Com isso eu então apenas fechei minhas mãos em punhos, tentando engolir calado aquela enorme impotência que eu sabia que ia se agravar ainda mais quando eu saísse pela porta daquela maneira, abandonando tudo da forma que estava e dando as costas para eles sem dizer absolutamente nada.
Sem eu realmente me dar conta do que estava fazendo, meus pés se moveram sozinhos e meus ouvidos pareceram bloquear qualquer novo som que pudesse chegar até mim -se eles tentaram falar mais uma vez comigo, eu então simplesmente não percebi-, disparando assim em direção à porta da entrada e passando acidentalmente por Saret no meio do caminho que parecia ter congelado no lugar enquanto segurava uma bandeja e algumas xícaras encima.

Mesmo tentando manter apenas para mim o -não tão secreto- fato de que eu estava perdendo a cabeça, meus olhos acidentalmente se encontraram com os de Saret e eu então pude ver que sua atenção realmente estava sendo tomada pela minha abrupta atitude, fazendo-a me olhar de modo muito surpreso ao que silenciosamente ela me dava espaço para passar, sem sequer pensar em entrar no meu caminho por qualquer razão que fosse.
Eu não podia imaginar a expressão que eu estava fazendo no momento para que até mesmo Saret tivesse aquela incomum reação, só que com a oportunidade que eu tive de passar do seu lado, foi que eu então ignorei tudo que tínhamos um contra o outro e desabafei em sua direção a única coisa que eu sabia que conseguiria sair de mim naquele momento, sussurrando para ela de um modo bem irritado.

— "Não importa o que eles digam, não está tudo bem! Tente convencê-los à sair da cidade por um tempo, quem sabe ao menos você eles ouvirão."

Dizendo isso para ela ao que eu ignorava em partes a nossa natural rivalidade -já que a segurança de Sal e Ebraín era mais importante para mim no momento, do que uma desavença idiota-, eu então larguei Saret ali sem deixá-la ter tempo para me responder ou para me perguntar do que eu estava falando, abrindo aquela enorme porta de madeira em um único puxão sem sequer olhar novamente para trás e saindo daquela casa de uma vez por todas ao que eu podia sentir cada vez mais o meu controle se esvair de dentro de mim -já que cada vez mais eu queria poder ser capaz de convencê-los do contrário de alguma forma!

Assim que eu saí, a batida da porta de madeira que ecoou por aquela rua deserta e silenciosa viera acompanhada da confirmação de que nenhum deles se importou em me seguir até o lado de fora -dada a minha intempestiva atitude-, me fazendo então ir embora o mais rápido possível já que eu sabia que não ia ter mais razão alguma para continuar parado em frente daquela casa esperando um milagre acontecer.
Sal e Ebraín terem me deixado sair daquele modo sem fazer nada era a prova de que eu realmente estava alterado demais para o meu próprio bem, e por isso eu senti que a última coisa que eu deveria fazer agora seria também voltar para casa como se nada tivesse acontecido, ou para qualquer lugar que tivessem outras pessoas já que eu sabia que iria arrumar alguma confusão. Por essas razões todas então que eu decidi em tomar um rumo cego por entre outras ruas, ruas pelas quais eu normalmente não costumava andar normalmente, mas que sabia que estariam igualmente desertas nesse horário.

Eu estava irritado, irritado à ponto de nem mesmo querer enxergar dentro de mim as razões ou os porquês disso -possivelmente porque meu dia inteiro havia sido difícil na realidade-, ao que o tempo passava sem aviso ao meu redor! Tudo que eu queria agora era apenas queimar minha energia dando longos e pesados passos para o mais longe da Rua do Alquimista possível, em uma tentativa de me afastar dali antes que eu pudesse dar meia-volta e decidir insistir mais uma vez em uma situação que eu já havia perdido!
Só que com o tempo passando um pouco mais, o silêncio e a falta de outras pessoas à vista durante aquele meu indeterminado caminho finalmente fizeram então minha irritação se aquietar dentro de mim -quase como se eu fosse apenas uma criança sem plateia, tentando fazer birra-, dando lugar à um honesto sentimento de frustração que até agora estivera enterrado dentro de mim sob vários outros sentimentos tumultuados, e que eu pessoalmente não queria muito ter que encarar já que sabia que não iria ter como resolvê-lo também.

Eu estava me sentindo só dentro daquela enorme cidade, e não era apenas porque agora aquelas ruas -uma vez movimentadas- estavam desertas. Eu estava me sentindo só porque eu não havia conseguido o apoio das duas pessoas que eu sempre esperava poder contar caso meus problemas se tornassem grandes demais para eu resolver sozinho, me fazendo só agora com isso temer de verdade as chances dessa história com Gale tomar proporções muito maiores do que as quais eu poderia lidar!

E sinceramente, era assustador dessa vez pensar nos riscos todos ao que eu não tinha mais como poder ir até Sal e Ebraín para facilmente pedir ajuda caso as coisas saíssem do meu controle.
"E se eu não puder contar com eles, com quem então eu posso contar? As pessoas influentes mais próximas de mim são só eles dois e Gale...!"
De um modo ou de outro, se eu insistisse demais neles eu sei que iria ser forçado agora a explicar toda a verdade, e eu nem mesmo sabia dizer para mim mesmo que tipo de reação eles teriam ao aprender sobre todas as coisas que escondi dos dois, desde sobre as pessoas com quem eu andava até as coisas que eu fiz sem que eles soubessem!... e isso até que me assustava um pouco mais do que o resto dos meus problemas no momento.
"Queria que eles tivessem tentado confiar em mim, mesmo eu não podendo abrir muito o jogo..."
Eu repeti aquilo dentro de mim, tentando internamente ainda brigar com a lembrança da dura atitude de Sal ao que eu sabia que não aguentaria admitir hoje para mim mesmo que o verdadeiro culpado pelo rumo que aquela conversa tomou tinha sido na realidade eu, esse tempo todo.

E nisso, ao que eu então rapidamente bloqueei qualquer tentativa da responsabilidade cair sobre mim (coisa que seria inevitável em algum momento, mas que não precisava ser agora também), eu então permiti que minha mente acabasse vagando a esmo por aquela gelada noite, assim como meus próprios pés que por vez ainda se recusavam à voltar para minha casa, reagindo ao fato de que eu não queria carregar aqueles sentimentos desagradáveis comigo para o dia seguinte -eu queria me acalmar de algum modo, antes de ir dormir de uma vez por todas.
E com isso então eu tentei pensar um pouco mais sobre as outras coisas ditas também dentro daquela pequena reunião, ao que eu percebera que afinal havia um detalhe muito importante que eu não deveria deixar ser ignorado!

Eu não queria deixar de acreditar que as coisas podiam SIM se resolver se eu impedisse Gale de conseguir atacar novos Skreas, atrapalhando-o na produção desse veneno. Só que, saber agora que ele estava lidando com um reagente ilegal que sozinho afetou uma enorme guerra conseguira de repente mudar completamente para mim a gravidade e os fatos sobre essa história toda! Nenhum comerciante ou fornecedor que eu conhecia iria ser maluco o suficiente para fornecer um reagente banido por Skreas (porque para começar, Skreas sequer se davam muito ao trabalho de banir algo, aumentando ainda mais a seriedade desse componente existir). E por mais que nós humanos tivéssemos um apego à tudo que fosse minimamente ilegal, ninguém seria idiota o suficiente para contrabandear algo tão arriscado assim!

É decerto que alguns nessa cidade já desafiam as leis andando armados... Mas essa regra foi feita para proteger mais os humanos do que os próprios Skreas, já que eles conseguem desviar de tiros e sobreviver tempo suficiente para abater o Humano que ousar apontar uma arma para eles! Por essa razão que, mesmo sendo proibido, os Skreas não perdem muito tempo caçando quem tem porte de armas e nem vasculhando contrabandos de armamento -já que isso não seria nunca um grande diferencial para nós Humanos durante uma guerra contra eles.
Só que... Um veneno banido feito apenas para matá-los -e que não afeta Humanos- já é algo completamente diferente, porque eles não têm como se proteger disso. Se esses Skreas sequer descobrirem que isso está sendo produzido -ao que diferente de Sal ou Ebraín, eu duvido que eles já saibam-, eles com certeza então vão fechar mais uma vez essa cidade na tentativa de purgá-la de ameaças! E mais uma vez voltarão à uma caça às bruxas, matando todos que possam ter relação com a BlackHole e com a Flor da Meia-Noite, da mesma maneira que fizeram com a SevenRoses e seus mercenários!
... Tudo isso, se simplesmente descobrirem o que Gale realmente tem em mãos.

Nisso então eu continuei à vagar indefinidamente por aquelas ruas, cada vez mais absorvido nos meus pensamentos que lentamente procuravam formar sozinhos algum tipo de solução, ao que eu temia deixar o amanhã chegar antes de sequer ter um plano melhor para conter Gale.
"Se eu não tenho como encontrá-lo (assim como Damian disse), e o tempo está contra mim... O que me restaria então à fazer senão ainda tentar arriscar com os fornece-?!"

Porém ao que eu distraidamente submergia em várias perguntas, graças ao silêncio da noite, do nada eu pude finalmente perceber o som de algo muito estranho se escondendo por entre o barulho de meus próprios passos pisando sobre as firmes pedras da rua asfaltada.
Naquele mesmo segundo eu então instintivamente parei de me mover, desconfiado, notando que o som de um passo extra -que não me pertencia- ecoou pelo corredor de prédios em que eu estava! Nesse instante então como em um estalo, minha adrenalina acelerou minhas percepções e eu pude perceber realmente haver alguém bem atrás de mim, ao que meus poderes automaticamente me entregaram de bandeja aquela presença extra e sua exata posição -parada, bem atrás de mim como se fosse uma sombra!
"Essa não é uma pessoa só de passagem, senão ela nunca teria parado no mesmo instante em que eu parei-!!"

E com todo um ímpeto, em um rápido gesto eu soltei de uma vez só o bastão de minhas costas, deixando que o som do clique do fecho se misturasse aos meus rápidos reflexos ao que eu me virava na direção do meu perseguidor, empunhando a ponta do bastão contra ele ao que eu não ia logo agora tentar pensar duas vezes sobre enfrentar qualquer engraçadinho que pudesse achar que iria se dar bem nessa noite!!
Só que o forte e ameaçador impacto do meu bastão foi brevemente impedido por uma mão que o segurara antes que sua ponta chegasse a alcançar o corpo que estava diante de mim!
Feito aquilo, eu encarei preocupado aquela figura escura que a noite não me deixava reconhecer, enquanto sozinho eu tentava entender porque aquela pessoa na minha frente não estava se movendo ou fazendo mais nada além de facilmente impedir meu bastão com sua mão!

Só que não demorou também para que aquela pessoa finalmente cessasse o próprio mistério que criara, levantando um pouco mais sua cabeça e fazendo seu cabelo sair da frente de seus olhos, o que permitiu que nossos olhares finalmente se encontrassem e fizesse o meu coração acelerar por um segundo em receio -assim como em um confuso e incongruente alívio...

— "D-Damian!?"

Eu falei incrédulo, ao que meus gestos travaram e meu impulso de cegamente atacá-lo também desaparecera -mais por intimidação pela maneira que ele me retaliara em nosso último encontro, do que pelo fato de que eu o conhecia e de que sabia que não tinha com o que me preocupar (porque afinal eu tinha sim!).
Só que do mesmo modo que eu segurei meus impulsos, igualmente eu então franzi minhas sobrancelhas ao que eu não ia deixar ele se convencer novamente de que eu iria abaixar a minha guardar e deixar ele fazer comigo o que bem entendesse mais uma vez! Meus pulsos ainda doíam, e por essa recordação do que ele fez comigo -que não desaparecera de dentro de mim- é que eu rapidamente sacudi a mão dele para longe do meu bastão, recuando um passo e me colocando em uma posição extremamente defensiva!
"Mesmo longe da Boate e da super concentração de sentimentos, eu não vou subestimar um Skrea!! Não de novo!!"
Eu gritei aquilo dentro de mim, segurando com ainda mais força o meu bastão e esperando para ver o que ele iria afinal fazer em seguida!

— "...Não se preocupe, eu não vou te atacar. Só vim para conversar."
— "Não, pode esquecer!! Já tivemos 'conversas' o suficiente por hoje, e eu não estou afim de ter mais nenhuma delas agora!!"
— "Eu não vou te-..."
— "Já disse que não! Todas as minhas tentativas de falar com as pessoas hoje, nenhuma delas acabaram dando certo! Por isso me deixe em paz porque eu não vou querer saber!!"
— "Haah, só me escute então. Desculpe pelas coisas que eu fiz com você, e... até pelo que eu disse."
— "...?!"
— "Mesmo que você seja só mais um Humano, ainda sim eu sinto que passei de certos limites."

E com isso ele então apenas se calou. Sinceramente meu receio maior era de que Damian tivesse escolhido logo agora para insistir em continuar o assunto do tal acordo comigo -coisa que não havia terminado nem um pouco bem da última vez-, usando outros falsos assuntos para me deixar um pouco mais cooperativo quando ele fosse tentar mencioná-lo novamente.
Só que ao que o tempo se prolongava e sua cabeça levemente fugia para a direção do chão ao seu lado, foi que eu então me dei conta de que aquela era uma situação realmente inusitada demais para conseguir carregar segundas intenções junto!

Skreas não eram conhecidos por se arrependerem ou pedirem desculpas -na verdade, eu jamais tinha visto ou ouvido falar sobre isso acontecendo antes-, e por aquela razão mais e mais a ideia de que ele queria me manipular se afastou então da minha cabeça, me fazendo perceber que a cogitação de Skreas fazendo manipulação emocional também era algo absurdo de se pensar para início de conversa!
"Eles nem mesmo sabem lidar com os próprios 'falsos' sentimentos, quem dirá então com os sentimento dos outros...!"

E com isso eu então me senti preso ali aonde eu parei, ao que eu estava inteiramente tomado por uma perplexão grande demais para conseguir reagir, já que antes disso eu jamais havia também me dado ao trabalho de me importar ou deixar de importar com a seriedade nas desculpas dos outros, afinal de contas, humanos nunca são muito confiáveis mesmo quando o quesito é arrependimento. E naquele embalo de não saber como responder às desculpas de um Skrea, foi que eu então me peguei sem ação ao que tudo que eu conseguia pensar agora era...
"Ele... realmente está falando sério...?"


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