Black Desert escrita por Kallin


Capítulo 56
Uma Mensagem de Ebraín




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/711599/chapter/56


— "Yura, eu preciso voltar a servir minhas mesas, você vai ficar bem sozinho?"
— "Vou sim, não precisa se preocupar comigo."

Eu disse aquilo para a menina esperando que minhas palavras à convencessem muito mais do que me convenceram, me despedindo dela logo em seguida ao que eu não ia dividir com mais ninguém esse atormentador sentimento de se ter um Skrea perturbado te perseguindo aonde quer que fosse.
Dentro da minha mente eu até consigo encontrar coragem para encarar Damian (mesmo que eu continue incerto de como a situação vá sempre terminar quando estamos juntos), só que quando isso começa à envolver também a segurança das outras meninas dessa Boate, eu então passo a me sentir extremamente inseguro com a minha capacidade de garantir que todos ficarão bem, afinal ele admitidamente não gosta de Odalisca alguma para me fazer acreditar que as coisas acabariam dando certo, caso mais gente daqui tentasse encará-lo junto comigo.
"Eu não vou trazer um problema para as pessoas daqui de dentro... e também não vou trazer um problema ainda maior para mim."

Eu pensei aquilo, ao que então não só o receio pela segurança das garotas começara a cruzar a minha mente, mas também o fato de que Damian podia trazer publicamente à tona algum assunto envolvendo meu nome e o de Gale no fim das contas.
"Eu posso não ser de me importar muito com o que os outros pensam, mas por outro lado também nunca deixei as pessoas abertamente saberem que eu conheço alguém da BlackHole -e pretendo continuar não deixando. É muito fácil de se afastar as pessoas dessa cidade quando o nome de uma gangue se mistura ao seu nome."
E foi afirmando isso para mim que que eu então fortifiquei ainda mais o muro que eu queria construir entre os problemas em que eu estava me metendo agora, e o resto todo da minha vida. Não importasse o quanto pudesse ser perigoso por outro lado tentar encarar tudo isso sozinho, da maneira que eu pretendia fazer.

Com isso eu finalmente então entrei dentro daquele camarim, passando por várias meninas até chegar perto dos cabides de roupas aonde pude começar à tirar cada uma daquelas joias e panos de cima de mim sem perder mais tempo algum ou sem ser novamente abordado por mais ninguém.
Em cada peça de roupa ou acessório da qual eu me desfazia, o meu esgotamento acabava também escapando e tomando forma nos meus próprios gestos, me obrigando a parar para esfregar cansado o meu rosto sem ainda acreditar que Skreas realmente tiraram o dia todo de hoje só para me atormentar!
Porém ao que sempre eu começava a fazer isso, logo meus pulsos então começavam a voltar à doer, me obrigando a constantemente ver as marcas vermelhas que aquele Skrea deixara neles e me fazendo desejar ainda mais que aquele dia apenas acabasse -porque eu estava inutilmente gastando o resto das minhas forças na única tentativa de me manter minimamente racional depois de tudo que aconteceu hoje.

Com isso então eu engoli um pouco o desejo de ficar pensando em cada mínima coisa que estava acontecendo ao meu redor, ao que continuei quietamente me arrumando para ir embora antes que eu perdesse aquela briga interna contra as outras muitas coisas que ainda permeavam a minha mente -coisas que pareciam estar revezando-se entre si só para me perturbar.
"Me usar de isca para encontrar Gale... Realmente essa não seria uma má ideia, só que não vai funcionar de qualquer forma. Gale já entendeu que me envolver só complicou ainda mais seus planos, e duvido que ele vai deixar isso continuar à se repetir..."
Eu afirmei aquilo dentro de mim ao que aquele assunto era na realidade a única coisa sobre a qual eu tinha facilmente alguma certeza, me sentindo brevemente aliviado com isso ao que não ter uma boa resposta para todos os outros assuntos dentro de mim estava discretamente me deixando inquieto.
"Pelo menos eu sei que não quero vê-lo morto, mesmo sabendo que ele até merecia aguentar sozinho a 'ira' desse Skrea que ele próprio trouxe para si..."

E com pelo menos essa certeza em mente eu então finalmente envolvi meu confortável manto ao redor do meu corpo -me cobrindo quase que com uma satisfação indescritível por saber que isso significava o fim daquele meu longo expediente-, ao que logo em seguida eu rumei de uma vez por todas rumo à frente da boate -por uma última vez, nessa noite.
Com meu bastão preso nas minhas costas e meu manto cobrindo parte do meu rosto, eu agora me misturava muito mais entre os clientes do que entre as meninas que ainda os serviam, e por isso levou quase que alguns instantes para Rigur finalmente se tocar de que na verdade era eu (e não um estranho qualquer) que havia parado em frente ao seu bar mais uma vez -sendo dessa vez, só para me despedir.

— "Yura-...! Ah, você então resolveu fechar o dia por hoje?"
— "Sim, eu não ia conseguir voltar ao trabalho depois daquilo tudo mesmo..."
— "Foi o que eu imaginei. E também soube que você se envolveu em um problema lá nos fundos agora pouco."
— "Hahh... Essa gente realmente não sabe ficar quieta por muito tempo."
— "Hahah, você realmente acreditou que ia conseguir sair por aquela porta antes de eu descobrir que algo suspeito aconteceu aqui dentro?"
— "Sinceramente...? Sim."

Rigur então me olhou de uma forma meio desapontada, deixando um prazeroso riso escapar de sua boca -o que traía a expressão de seus olhos- como se ele nunca se cansasse de trocar palavras comigo, independente de quais elas fossem.
Com isso sua cabeça continuou a balançar para mim, repreendendo minha falha tentativa de escapar dele, sendo que mesmo assim ele próprio não estava se dando ao trabalho de continuar com aquele assunto da forma que ele normalmente o faria -e me deixando até que um tanto curioso com essa sua atitude ambígua.

— "Ué? Não vai me perguntar o que aconteceu?"
— "Hehehe... Não. Vou deixar para uma próxima vez, eu sei que você não deve querer falar sobre isso agora também."
— "... Obrigado por estranhamente entender."
— "Não seja por isso. Aliás, aqui-..."

Quando Rigur então interrompeu suas próprias palavras, meus olhos rapidamente se dirigiram até a mão que ele estendera por sobre o balcão, segurando nela alguns papéis e um envelope muito bem fechado.
Eu logo corri para tomar dele aqueles dois papéis que nada mais eram do que recados que foram deixados para mim, pegando logo em seguida também o envelope que continha exatamente o dinheiro acumulado que eu ganhara nos últimos dias -e que estava bem recheado como sempre.
Só que antes que eu pudesse abrir os bilhetes para ver do que se tratavam, Rigur então fielmente começou à ditá-los para mim entregando que ele já havia visto e revisto-os várias vezes durante a minha ausência.

— "Um deles é um serviço de entrega de encomenda para amanhã, e o outro parece ser uma mensagem de Ebraín avisando que algo 'já foi descoberto'... que enigmático!"
— "Descoberto-...!!"

Assim que Rigur disse aquilo, eu então exorcizei de dentro mim todo o meu cansaço e corri para abrir aquele bilhete! Ele realmente não dizia muito mais do que Rigur já havia me dito, mas eu não precisava mais do que aquilo para saber do que se tratava!
"Ebraín descobriu o reagente do veneno!!"
Excitado com aquela notícia, no mesmo segundo eu então decidi desistir de voltar para o meu apartamento! Eu ia correr até a casa de Ebraín para ouvir pessoalmente o que ele havia descoberto -não importasse o horário-, e cansaço algum iria também me fazer mudar esses planos!

— "Yura, algo aconteceu?"
— "-Ah...?"
— "Seus olhos, parecem ter se empolgado sem mais nem menos. É algo interessante por acaso?"
— "E-eu não sei, mas eu vou lá agora descobri!"
— "Haha, parece então ser interessante mesmo. Não me deixe de contar depois!"
— "Talvez... Aliás, quando vai ser meu próximo expediente mesmo?"
— "Bem... Aparentemente você está livre pelo resto da semana, muito para a minha falta de sorte."
— "Perfeito! Então nos vemos depois Rigur, obrigado por hoje!"
— "E-ei, não vá se esquecer de mim durante esse tempo-...!!"

Eu então aceleradamente rumei para fora daquela Boate com toda a boa vontade que eu era capaz de ter ainda dentro de mim (não que fosse muita também), deixando igualmente para trás os meus problemas ao que podia ouvir a voz de Rigur ao fundo -me gozando como em uma última despedida- desaparecendo junto com as vozes que se misturavam entre os clientes pelos quais eu passava direto!
Em um piscar de olhos eu atravessara por entre todas aquelas pessoas paradas perto da porta -Odaliscas e clientes vindos de fora que gostavam de ficar conversando no meio da passagem- e continuei a andar beco afora, prendendo com cuidado o envelope de dinheiro e os bilhetes entre as faixas na minha cintura para não perdê-los -e nem ser atrapalhado por eles- ao que eu não estava disposto à desacelerar e nem parar por mais nada até chegar naquelas Escadarias!

A noite não era a melhor aliada que eu poderia ter nesse momento (mesmo que ela também fosse a menos pior das minhas inimigas), as ruas da Cidade Baixa explodiam com o movimento de pessoas suspeitas que poderiam querer ficar no meu caminho, e Ebraín não era igualmente alguém que costumava ficar acordado ao que a noite se prolongava. Por essas razões que mais do que nunca eu não podia me deixar atrasar por nenhuma das distrações que eu sabia que poderiam cruzar o meu caminho, como bêbados, encrenqueiros ou pessoas precisando de ajuda.
E ao que cada vez mais eu tentava cimentar aquilo dentro de mim como algo a ser cegamente seguido, mais ainda meus passos pareciam acelerar ao que eu não acreditava ser capaz de esperar pacientemente a manhã chegar só para descobrir o que Gale estava usando contra aqueles Skreas!
"Se eu descobrir isso hoje, amanhã já eu posso sair em busca dos fornecedores para impedi-lo de conseguir fazer uma nova dose!"
E com isso eu então continuei meu caminho, deixando que o movimento da Cidade Baixa ficasse para trás e permitindo que o convidativo silêncio das ruas em diante embalassem o resto da minha trajetória até aquelas escadarias -sem por azar esbarrar em algum problema até lá.

Ao que eu chegava mais e mais perto da Rua do Alquimista, mais eu podia perceber que apenas o barulho dos meus passos ecoavam por entre as pedras que asfaltavam aquele chão, anunciando (contra o meu desejo) para todas aquelas janelas iluminadas que uma pessoa estava passando por ali naquele horário um tanto inconveniente.
Aquela era a sensação antagônica das noites na Citadela -que contrastava demais com o movimento que fluía tão naturalmente por aqueles mesmos caminhos enquanto o sol se fazia presente no céu. E era por tudo aquilo que a Citadela à noite parecia realmente se tornar uma cidade completamente diferente do que era durante as manhãs, virando quase que uma cidade fantasma ao que o cair da noite se tornava mais do que presente no céu.
Só que ao que meu fechado semblante (escondido por baixo do meu manto) presenciou no meio da esquina diante de mim as luzes acesas vindo da casa de Ebraín, quase que em um pulo eu voltei à me animar! Sacudindo até então o receio que qualquer um podia ter sobre andar por ali naquele horário, e agradecendo por não ser tarde demais para uma visita noturna!


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Black Desert" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.