Black Desert escrita por Kallin


Capítulo 5
O Gargalo


Notas iniciais do capítulo

NyaHoooy~! K.K. quer fazer um rápido comentário para desencargo de consciência:
"Gargalo" definitivamente não foi sua escolha favorita de nome para um lugar, mas K.K. está tentando seguir uma promessa pessoal de evitar criar constantemente nomes e termos em inglês para tudo nessa história, por isso que ela acabou dando esse nome aí mesmo, após certa pesquisa e seleção de opções, claro! (Não que talvez vocês venham a estranhar tanto quanto eu as vezes ainda estranho, mas já estou deixando bem explicadinho de qualquer forma~! =D)



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Eu decidi tentar o mais rápido possível levar aquele homem para um velho lugar de confiança -o único que me vinha em mente naquela hora-, saindo daquele espaço aberto aonde facilmente seriamos vistos por qualquer um e questionados fora de hora, adentrando nos confusos becos escuros que se formavam por trás das casas e prédios e que se aprofundavam mais e mais na direção do centro da Citadela. Quanto mais para dentro, mais o tempo e a qualidade daquele lugar parecia regredir no tempo... Fios bagunçados de eletricidade se espalhavam acima de nós, escadarias suspeitas brotavam em espaços confinados nos tentando a temer que algo pudesse surgir delas, gotas de água pingavam de canos inacabados saindo dos prédios e criando enormes poças de água gelada no chão que esparramavam ao que pisávamos nelas, tendo apenas as luzes das janelas altas para nos mostrar aonde realmente poderíamos andar.
Muitas pessoas poderiam temer entrar nessas ruas e se perder dentro delas, mas alguém como eu -que tinha mais do que experiência nesses lugares- era capaz de andar aqui dentro sem perder o rumo e chegar a tempo até uma das áreas mais simplórias da Citadela Oeste. Um lugar conhecido como "Gargalo". Essa era a região mais antiga da cidade que eu conhecia, aonde todas as construções dos Skreas (já antigas) haviam sido abandonadas a muitos anos e já estavam se desfazendo, como grandes partes dos pisos e do chão de metal por exemplo que logo deixava de existir dando lugar a um chão de blocos de pedras e areia batida.

Esse não era um lugar tão admirável quanto o resto da cidade, ele tinha esse nome porque ali dentro uma parte da cidade parecia afundar no meio da areia em um enorme e largo buraco que desaparecia na escuridão, com casas precárias de madeira e chapas de ferro sendo construídas umas abaixo das outras por dentro dessa cratera, contornando toda a profundeza do buraco que antigamente já fora usado para extração de recursos... Não era para esse ser um local para se movimentar ou até mesmo morar, mas isso não impediu grande parte dos humanos mais pobres de transformarem-no por completo em seu reduto...
"Apenas não olhe para baixo, ou sentirá vertigem."
Mesmo sendo tão precário o Gargalo era um lugar incrível de se observar, mas perigoso de se andar caso você não fosse bem-vindo ou não soubesse aonde pisar...
As casas que eram feitas usando pedaços dos ferros, madeiras e prédios antigos, assim como rampas e passarelas, eram todas precariamente suspensas sobre vários pedaços de madeira apodrecida e reutilizadas que sustentavam tudo acima daquele profundo buraco.

Por olhar dentro do buraco, dava para se notar a profundidade dele, que era entregue pela excessiva escuridão perturbada apenas pelas luzes que vinham das janelas das casas que contornavam suas paredes, continuando quase que infinitamente para baixo...
As pessoas daquele lugar não temiam suas próprias construções, mas eu sempre tive um pouco de medo sobre andar em meio às nada firmes e seguras passarelas, que produziam barulhos desconfortáveis ao se pisar nelas. Não ajudava também que muitos dos moradores simplesmente encarassem qualquer estranho que surgisse como se não fossem bem-vindos naquele lugar, já que se você não fosse dali, então significava que você tinha uma vida muito melhor do que qualquer um deles.
E você conseguia ver todas aquelas expressões de indiferença, graças à luz da lua que iluminava por completo aquela área aberta dentro da cidade, mostrando seus contornos tortos junto com o amarelo das luminárias que eram dependuradas pelos andares dos corredores de madeira a cada vez mais que a profundidade se dava, na frente de cada casa e loja que decidiam por desafiar a gravidade...
"Ainda bem que não é ali dentro o lugar que estamos indo..."

Cortando por uma das ruas que ainda se perdiam por trás de outras melhores construções que adornavam o grande buraco se mesclando e se fundindo ainda aos padrões da Citadela e de seus muros, haviam casas mais simples que cercavam exclusas vielas feitas de pedra e areia... Era fácil perceber a precariedade dali comparado a todo o resto da cidade, mas as vielas ao menos ainda traziam algum conforto inexplicável diferente das casas ao redor da enorme fenda, mesmo que estas fossem sempre desertas a noite, independente de quantos postes ainda a iluminassem sob o fogo fraco. Como que talvez por culpa do calor e da luz reconfortante vindo das janelas mais baixas de cada casa, e do ótimo aroma de comida que recebia as pessoas já cansadas de uma longa caminhada naquela escuridão gelada, aquelas pequenas ruas que pareciam ser engolidas pelos prédios baixos vibravam em um sentimento de comunidade que também se sentia muito em várias tribos isoladas do deserto.

Realmente até mesmo ali no Gargalo você podia já sentir diferenças sociais entre as pessoas que moravam nas vielas, e as que moravam ao redor do buraco... Mas isso não queria dizer que as pessoas dali eram menos unidas. Havia uma união ali dentro que eu sinto que espantava desde os Skreas, até as Gangues ou outros grupos que pudessem querer prejudicar quem não merecia ser ainda mais prejudicado pela vida. E era por esse sentimento que eu também desejava sempre cuidar das pessoas dessa parte da cidade, fazendo os meus pequenos trabalhos justamente para as pessoas que viviam por aqui.

Finalmente avistando no fim de uma curva que a viela tomava, diante de uma casa de telhado entortado que parecia afundar um pouco no chão com janelas embaçadas e fechadas que ficavam na altura de meu peito e da qual saia uma luz vibrante, e uma escadaria que afundava no chão dando até à uma singela porta de madeira, eu parei.
Uma rápida apreensão me tomou ao que eu olhei para o homem. Ele já estava mal suportando seu próprio peso, se dependurando em mim com a cabeça baixa e controlando sua própria respiração. Foi então que eu finalmente me dei conta da longa trilha de sangue que se formara atrás de nós, e que eu tinha desejado ter notado mais cedo...
Se pudesse ter algo atrás dele ainda, então essa pessoa não iria agora ter o menor problema para nos seguir, e isso poderia significar que eu trouxe problemas até um lugar que não pode se dar a esse luxo, mas... eu resolvi voltar a reparar melhor no homem para não tomar nenhuma decisão errada.

Com a nossa pausa, seu corpo parecia estar relaxando e sua adrenalina diminuindo, por culpa disso ele estava finalmente tendo mais problemas para recuperar seu fôlego...
Se não tiver sido o caminho até aqui que o cansou assim, então ele realmente já estivera andando muito antes e a muito mais tempo, até a hora em que me encontrou... E isso até que pode ser bom -dependendo de quem o machucou-, porque então pode significar que ele não estava sendo seguido.
Mas resolvendo me preocupar mais com a vida dele do que com esses detalhes, já que chegamos até aqui mesmo, eu voltei a seguir meu plano original.
Sem mais chances de me questionar logo agora se eu estava me intrometendo em um assunto complicado (que aliás me deixava curioso), eu resolvi manter minha palavra de ajudá-lo, seja ele um estranho ou não, e envolvido com algo sério ou não.

— "Aguente mais um pouco, estamos quase lá."

Eu disse em um tom sério para que minha própria mente se conformasse com minha decisão, ajeitando seu braço ao meu redor e continuando na direção daquela casa.
Tentando não soltar o homem em nenhum momento, eu me inclinei pela escada até a porta de madeira e bati nela, esperando não mais do que alguns segundos para uma pequena portinhola abrir, e curiosos grandes olhos verdes surgirem do outro lado dela.
Por um segundo eu tentei identificar de quem eram aqueles olhos verdes, mas assim que percebi a pessoa por trás da porta, eu disse diretamente com um certo suspiro saindo entre minhas palavras.

— "Eu tenho um paciente, abra a porta Kuki."

Ouvindo minha voz, a portinhola fechou imediatamente ao som de várias correntes de ferro sendo desajeitadamente movidas, e a pesada porta de madeira se abrindo sem muito tempo perder.
Lá de dentro surgiu uma garota bem menor do que eu, com leves e soltos cabelos curtos, e um olhar alarmado que combinava bem com seus gestos rápidos e desajeitados.

— "Y-Yura! V-vem, entre logo!"

A garota com uma voz ainda não madura me fez o gesto para entrar às pressas, olhando rapidamente para a rua atrás de mim procurando qualquer sinal de quaisquer outras pessoas que pudessem estar nos observando ali. Ao ter certeza de que as ruas estavam totalmente desertas ela rapidamente fechou a porta atrás de mim, assim como suas 3 grandes trancas que tortamente faziam parte dela.


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