Black Desert escrita por Kallin


Capítulo 44
A Rua do Alquimista


Notas iniciais do capítulo

Disclaimer rápido (Porque eu falei muito no capítulo anterior já... ( ̄ω ̄;)): Wohoo!! Black Desert atingiu 2.006 acessos totais!! ☆ ~('▽^人)
(Pena não ter sido exatamente 2.017 acessos, porque K.K. ama coincidências numéricas do destino!) Mas ainda sim muito obrigada por continuarem acessando Black Desert, meus queridos leitores anônimos!! (シ_ _)シ
O interesse de vocês jamais me passa desapercebido, e realmente me enche com a alegria de uma fangirl hiperativa, arigatou(obrigada)! (=`ω´=)❤



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Me aproximando então daquela parede, eu passei os meus dedos pelas marcas quentes das balas que ainda estavam cravadas na superfície escura dela, notando em especial o quanto elas estavam todas concentradas apenas em um ponto.
"Estão todas na altura da minha cabeça. Se ele não tivesse me jogado no chão, então eu com certeza teria..."
Foi então que eu voltei meu olhar mais uma vez para as sacadas dos prédios do outro lado da rua -que mais uma vez estavam desertas e sem uma alma viva sequer nelas.
Gale não era do tipo que iria ordenar a minha morte. Não importa o quanto ele pudesse se irritar comigo, ele não era do tipo que ficava dando ordens para a execução de outros humanos. As pessoas ao seu redor ainda morriam, mas nunca propositalmente pelas suas mãos -ao menos até onde eu testemunhei durante esse tempo todo próximo à ele. Por isso a pessoa que tomou a decisão de me acertar para dar à ele a chance de fugir era alguém com muito mais independência, sangue-frio e mira de sobra -já que quase conseguiu me acertar de tão longe usando uma arma de calibre tão pequeno.

— "Tessa... Com certeza foi ela."

Eu repeti para mim, sabendo que ela era a única pessoa com poder suficiente na BlackHole para poder tomar uma decisão acima dos desejos de Gale, se isso significasse a diferença entre a vida e a morte dele.
E aquela não havia sido a primeira vez que Tessa quase me matara por alguma razão. Muitas vezes (quando eu comecei à andar com Gale) Tessa já me ameaçara com uma arma como se ela tivesse essa muita facilidade de puxar o gatilho contra qualquer outro ser vivo. E isso não era porque ela me odiava, mas apenas porque ela não se importava mesmo com a vida de outras pessoas.
O tempo já havia me deixado acostumado com esse seu temperamento robótico de agir friamente em cada situação -fosse você um amigo ou não-, mas ainda sim era assustador saber que eu estive novamente na mira de uma pessoa que não se importaria de ter me acertado, caso Damian não tivesse me tirado de sua frente.

Chateadamente meu olhar então foi caindo até o chão, evitando encarar o quanto cruzar o caminho de Gale estava se tornando mais e mais perigoso à cada dia -comparado à todas as outras vezes que nós dois tão bem resolvemos as nossas diferenças apenas conversando a sós. E por isso eu fiquei um pouco ali, questionando como eu deveria agora encará-lo -ainda mais depois que foi Damian que se preocupou em me salvar, e não ele... -Isso, até finalmente um barulho cortar os meus pensamentos!
O barulho parecia-se com o som de uma marcha pesada aumentando cada vez mais, misturado ao som de metais se chocando e balançando aos passos de seus donos. E sabendo exatamente do que se tratava aquilo, eu ainda sim logo corri até a sacada para realmente testemunhar a passagem daquela tão aguardada patrulha de Skreas! Eu havia me importado tanto com sua aparição, que agora parecia quase surreal estar realmente podendo presenciar a passagem deles por ali -especialmente sendo essa uma passagem sem qualquer confusão.
Uma sensação de alívio então me preencheu ao que algo dentro de mim não me deixava esquecer que eu na verdade estava vendo pessoas que à essa altura estariam mortas -caso eu não tivesse vindo! E aquilo com certeza conseguiu no fim trazer um discreto sorriso ao meu rosto, mesmo sendo todos eles Skreas.

De uma forma ou de outra, sob o sacrifício do respeito que eu ainda guardava por Gale, ou sob a incredulidade que eu tinha ao admitir que um Skrea me ajudou... eu estava era no fundo bem satisfeito por saber que no fim -entre nós 3- quem conseguiu o final que tanto queria havia sido eu, e não eles dois.
Gale ainda estava vivo e a patrulha também. E quaisquer que ainda fossem os desejos dele, eu ao menos sabia que eles não iriam ser concluídos hoje mais. Tudo isso fazia crescer dentro de mim uma confiança que estava superando qualquer um dos outros sentimentos desagradáveis que eu estivera tendo até então!
Foi aí que eu me lembrei de uma coisa e me virei para o lugar em que os cacos do frasco do veneno estavam largados.
Aquele líquido misterioso já parecia ter ido embora graças ao sol forte do deserto que o fizera evaporar durante o tempo que gastamos conversando ali em cima. E a substância que restara ali não era líquida o suficiente para eu conseguir recolhê-la também e levá-la para ser analisada (sem acabar tocando nela e correndo eu algum risco)... porém-!

Ao que eu olhei com cuidado entre os pedaços de cacos, eu então pude notar algo diferente... Se assemelhava à uma pequena flor ressecada e que muito provavelmente estivera dentro daquele frasco junto com a misteriosa solução de Gale! Mas ainda sim, apenas tentando examiná-la à distância com cuidado não dava para conseguir identificá-la direito. Não só seu estado estava um tanto irreconhecível, como eu mesmo não conseguia me lembrar de nenhuma flor do deserto que chegasse perto de sua aparência -já deformada.
"Ainda sim isso provavelmente era um dos componentes do veneno. Ebraín sabe muito mais do que eu, preciso levá-la para ele dar uma olhada!"
Naquele impulso eu então peguei um novo frasco vazio em minha cintura e com todo cuidado coloquei a pequena flor ressecada dentro dele -sem arriscar tocar nela diretamente.
Como Gale havia sem querer deixado escapar, aquele era também o último frasco que ele tinha em mãos por enquanto. Isso queria dizer que então ou ele iria gastar algum tempo produzindo mais veneno, ou ele iria gastar ainda mais tempo encomendando novamente os reagentes que ele precisava do seu fornecedor, me dando igualmente um tempo de sobra para desvendar afinal o que era isso que ele tinha em mãos!
"Assim que eu descobrir, será muito mais fácil conseguir atrapalhar ele e o seu fornecimento!"

Determinado à isso eu então rumei para fora daquele prédio sabendo que eu não voltaria mais tão cedo à encontrar com a BlackHole ou Damian pelo meu caminho durante um boooom tempo -o que me deixava até bem satisfeito.
Se mais tarde também eu fosse precisar reencontrar Gale por alguma razão, eu teria ainda contatos para me ajudarem a fazer isso. Mas enquanto nenhum deles tivesse mais razões para voltar à me procurar, eu então poderia assim tranquilamente cuidar dos meus próprios problemas sem voltar a colocar minha vida em risco.
"Ou pelo menos sem voltar à quebrar muito a minha cabeça com os problemas que eles trazem sempre consigo."

Eu então olhei mais uma última vez ao meu redor, descendo calmamente as escadas daquele prédio até chegar nas Avenidas -e agradecido por dessa vez eu só ter que enfrentar alguns degraus pelo caminho.
De certa forma porém, aquela calma toda estava ainda sim me dando uma sensação de vazio inexplicável. Eu sabia que não iria ver mais rastros da BlackHole ou de Damian -mesmo que eu olhasse nitidamente o horizonte procurando por qualquer sinal deles-, quase como se eu tivesse despertado de algum um sonho maluco aonde nada havia realmente acontecido no fim e eu só tivesse imaginado tudo -dada a facilidade com que todos eles simplesmente desapareceram... -porém. Ao que eu pensei aquilo comigo, eu segurei novamente em minhas mãos o frasco com aquela pequena flor, encarando-a e confirmando para mim que esse pesadelo podia muito bem voltar sem aviso algum no instante que eu o subestimasse e fechasse meus olhos mais uma vez para ele.
"Tenho que aproveitar que finalmente estou à par de tudo para poder ganhar alguma vantagem sobre eles, senão vou ter posto tudo isso a perder."
Nisso então eu acertei meu manto melhor ao redor de mim e voltei à andar para longe dali, cruzando os becos que refletiam sob meus pés a luz do sol -nas poças de água que se formavam por entre cada um dos estreitos corredores nos quais eu passava- e que permitiam que apenas o som de meus passos me acompanhassem até as ruas que ficavam próximas às enormes Escadarias.

Não muito longe daquele longo corredor deserto de blocos escuros que eram empilhados no formato de escadas, e antes do enorme precipício sem fim do Gargalo, haviam pequenas vielas charmosas -um pouco mais largas do que os próprios becos- aonde pequenas casas de pedra muito bem feitas podiam ser encontradas. Várias delas possuíam 2 andares, adornados por armações e portas de madeira, pequenas e delicadas sacadas, telhados unicamente angulosos e grandes janelas de vidro embaçadas pelo tempo.
Mesmo sem ter um nome oficial para identificar aquele lugar (ao que aquela era uma área pequena demais para isso), essa antiga região ainda sim era dita por ser uma pequena herança das pessoas que viviam nas montanhas, trazendo sua arquitetura para dentro da Citadela e criando uma pequena área que pudesse lembrá-los de suas próprias casas e culturas -o que com o tempo se perdeu um pouco sinceramente.
Com os anos essa região perdeu qualquer referência cultural e se tornou apenas um "lugar agradável" para se viver, não tendo mais do que algumas residências bonitinhas e uma característica iluminação que vinha de vários fios suspensos e estendidos por entre as casas e prédios daqui (afinal essa região foi inteiramente refeita pelas mãos humanas, e não por Skreas, que por outro lado sempre consideravam infraestruturas elétricas) deixando realmente de chamar a atenção dos imigrantes que com o tempo vieram à morar nessa cidade.

E com isso -para toda a Citadela- identificar esse pequeno lugar não se tornara tão importante quanto era poder identificar o resto inteiro dessa cidade, fazendo com que no fim apenas as pessoas aqui dos arredores acabassem por inventar algum termo que só elas usariam mesmo -chamando essa região de: "rua do alquimista".
Como imaginável, esse nome surgiu simplesmente porque o morador mais conhecido dentro desse pequeno espaço aconchegante era ninguém mais do que o próprio Ebraín. Morando em uma singela casinha -na esquina de um cruzamento asfaltado por pedras-, que possuía alguns degraus de madeira dando para uma porta velha e saliente, adornada por pequenos e singelos vasos de planta dependurados.
Aquela era a visão pela qual todos procuravam quando passavam por aqui, sabendo que ele sempre estaria à disposição de qualquer um nas proximidades que poderia necessitar de seus serviços -mas claro, sob um preço.
"... Procurar a casa cheia de plantas. É bem incomum realmente casas decoradas com plantas nessa cidade, por isso que virou uma referência. Se bem que o propósito -que Ebraín me contou- de fazer isso, é na verdade só porque ele sente falta de sua cidade natal e de como lá era muito verde."
Pensando aquilo e sabendo que haviam memórias demais acumuladas entre nós dois já, eu então deixei um discreto sorriso escapar de mim e dei sem mais delonga 2 batidas naquela velha porta -que mesmo um tanto acabada, sempre pareceu também ser muito resistente.

Em menos de alguns minutos -ao que eu sabia que ele estava ali dentro pois dava para notar pela janela a luz das velas acesas-, a porta então se abriu com um ranger bem único que só mesmo ela conseguia reproduzir.
De lá de dentro então surgiu Ebraín, com seu adorado colete marrom de feltro e camisa social, já me olhando por cima de seus óculos como se estivesse tentando adivinhar em sua mente se eu estava trazendo problemas, soluções, ou algum assunto especial do qual ele havia sem querer esquecido de tratar comigo.
Porém antes que sua expressão de suspeita realmente criasse algum clima estranho, ele então apenas sorriu alegremente, estendendo seus braços e me recebendo com uma enorme e boa disposição -independente do que realmente fosse vir a ser o meu assunto com ele!

— "Veja só quem está aqui! Entre, entre!"

Ebraín então rapidamente indicou com sua mão o caminho para mim, me dando espaço para entrar e logo em seguida fechando a porta atrás de nós -com a pressa de alguém que não gostava de ser vigiado por estranhos no meio da rua.
Desde os anos em que eu morei aqui com ele, sua casa realmente não mudou em nada... Lindos móveis antigos que ele colecionou durante toda a sua vida se alinhavam bem às paredes de pedra. Já fotos antigas, plantas, velas, abajures, livros e alguns papéis por outro lado ocupavam a maioria dos móveis em que havia algum espaço para ter algo em cima -dando um ar bem bagunçado à todo o espaço-, e além daquela amarelada iluminação que cobria sua sala por inteiro, plantas também cresciam saudavelmente em vasos dependurados no teto -que também era composto pelas mesmas pedras arredondadas das paredes.
Acima disso, um cheiro agradável parecia vir da iluminada cozinha, me fazendo em conjunto notar que a luz no quarto dos fundos também estava acesa -mostrando que Ebraín estivera em seu pequeno laboratório trabalhando até então.
"Seus horários sempre foram muito precisos, então ele deve estar no meio da sua pausa para comer... É melhor eu ser breve."

— "Então Yura, você só vem aqui quando precisa da minha ajuda. Com o que você se envolveu dessa vez?"
— "Eu tenho algo importante que preciso que você analise na verdade."

Ao que eu disse isso, eu comecei então à procurar com cuidado na minha cintura tanto o frasco com o sangue envenenado de Damian quanto o frasco com aquela flor. Já Ebraín por outro lado apenas ficou quieto, me observando até o instante que eu pude entregar os dois frascos em suas mãos.
Ele logo então pegou cada um dos dois sem qualquer cerimônia e os examinou com muito cuidado através de seus finos óculos retangulares, tentando distinguir já do que aquilo poderia se tratar.
Eu sabia que Ebraín não era mágico, e que ele não iria conseguir deduzir nada apenas olhando assim (ao menos não o sangue). Por isso antes mesmo que ele pudesse gastar mais do que 1 minuto com o que estava fazendo, eu já comecei a explicar.

— "Essa é uma amostra de sangue envenenado que eu coletei. Eu preciso identificar que veneno é esse, e se conseguir, também os seus reagentes. E eu sei que essa pequena flor aí deve ser um desses reagentes. Eu a encontrei em um dos frascos que continham o veneno."
— "Então você já conseguiu um dos reagentes..."
— "Aparentemente sim, mas eu não consegui identificá-la. Não lembro de ter visto-a em nenhum dos seus livros, e é muito importante descobrir-..."
— "Eu vou examiná-la. Tem alguma coisa mais que eu deva saber sobre esse veneno?"
— "... Bem..."

Eu então instintivamente virei meus olhos para o outro lado evitando encarar Ebraín. Eu sabia o quanto ele e Sal se importavam comigo -como se eu fosse um filho-, e como eles me repreendiam sempre que eu me envolvia em algum assunto complicado demais até mesmo para os dois se meterem.
Eles tentavam sempre me proteger um pouco do lado mais obscuro dessa cidade, esperando que eu não me metesse em riscos muito grandes -já que quase sempre eu estava sozinho nessas horas. E com isso -como qualquer pai- ele então vivia se encontrando no direito de me dar broncas sempre que eu estivesse passando um pouco dos limites da minha própria segurança.
"Foi assim quando eu comecei à andar com Gale, quando eu comecei à trabalhar na boate e quando eu me misturei entre as SevenRoses há 4 anos. Cada um desses me rendera broncas bem longas dos dois."
E mais uma vez por isso eu então sabia que iria tomar uma bronca de Ebraín se ele descobrisse que estive desde ontem envolvido ao mesmo tempo com a BlackDesert e com Skreas (só não sei qual desses dois me renderia a maior das broncas sinceramente).

— "Então...?"
— "Bem... Esse veneno estava dentro de um Skrea."
— "... Um Skrea? Como você-...?"
— "Eu apenas encontrei. Ele estava morrendo e não sei como, mas a culpa era desse veneno que coletei."
— "Um veneno... que mata Skreas...?"

Ebraín então por um instante fez uma expressão sombria ao que ele parecia estar tendo a mesma reação que eu tive quando soube disso pela primeira vez. Era algo muito estranho para realmente digerir fácil, e eu sabia disso no momento em que ele mais uma vez voltou à encarar os dois frascos na frente de seus olhos -com um jeito muito sério e pensativo.
Finalmente então (ao que ele pareceu ter esbarrado em algum tipo de pensamento dentro de sua mente), ele pegou aqueles dois frascos e os colocou com cuidado sobre uma de suas cômodas, se voltando em silêncio para mim e balançando sua cabeça em concordância.

— "Talvez eu saiba do que se trate, mas é melhor que eu não esteja certo..."
— "Você sabe!? M-Me diga então-!"
— "Não, eu não vou dizer enquanto não fizer os testes corretos. Mas eu te avisarei quando tiver a certeza, afinal não faz realmente muito sentido ser o que estou pensando."
— "Por que não?"
— "... Porque ninguém deveria ser capaz de conseguir recriar esse veneno mais..."


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