Black Desert escrita por Kallin


Capítulo 37
Compensação




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Descuidadamente eu apoiei minha mão naquela mesma porta um tanto aliviado por aquela menina ter ido embora tão facilmente, assim como esperando que eu não estivesse jogando fora minhas chances só porque no último segundo eu senti que estava tudo bem fazer isso.
Aquele Skrea, independente de todas as coisas que fez, independente de toda aquela violência que possuía, no fundo não estava realmente incentivado à me machucar... Ele só parecia estar desesperado mesmo -desesperado, porque queria muito ter esse cordão de volta, e nada mais.
E isso acabou sem querer me interessando à esticar um pouco mais esse momento só para ver o que iria acontecer, caso eu devolvesse então esse cordão para ele...
Especialmente agora que eu finalmente fui capaz de sentir com o que de verdade eu estava lidando ali.

— "Por que fez isso?"

Foi então que uma voz muito profunda e calma alcançou meus ouvidos, me fazendo olhar espantado (sem querer) para a direção dele -ao que eu também voltava à me tocar de que não era tão inteligente tirar os olhos justamente do cara que havia tentado tantas vezes já me atacar! Afinal aquilo era um teste, e não uma garantia de que dessa vez ele agiria com a cabeça e não com os chifres.
Mas para a minha aliviada surpresa, realmente ao invés de ser recepcionado por aquela mesma cara irritada de sempre, ou por aquela aura violenta que instavelmente o circundava, eu agora apenas havia sido recepcionado por um olhar sério, paciente e levemente confuso, que sem querer conseguia trazer maturidade para um cara que até então parecia não ter nenhuma. Eu não deixei de me sentir surpreso com aquela mudança tão rápida, porém, ainda sim eu procurei não perder minha sensação de imediatismo, tentando respondê-lo o quanto antes já que era sempre tão raro eu conseguir conversar de igual para igual com aquele cara...
Porém, no fim ele acabou sendo bem mais rápido, voltando a insistir naquela sua mesma pergunta antes mesmo que eu tivesse a oportunidade de pronunciar qualquer tipo de som.

— "-..."
— "Por que você não fugiu, quando teve agora a chance?"
— "... Porque eu não preciso."

Ouvindo a minha resposta (que também não estava me convencendo muito), o Skrea então voltou à me encarar só que dessa vez mas com um olhar bem descrente, quase falando algo sem pensar, porém se interrompendo antes mesmo que sua voz pudesse se fazer ser ouvida.
Ainda ajoelhado de frente para mim, ele então finalmente suspirou profundamente, olhando ao redor do quarto e finalmente me ignorando um pouquinho -ao que realmente parecia que ele estava tentando me dar um voto de confiança, ao tirar seus olhos de mim.
Foi aí então que ele lentamente começou à se ajeitar, apoiando suas mãos no chão e sem querer esbarrando também nas minhas próprias mãos.
Assim que nossas mãos se encostaram, ele deu um pulo para trás que o desequilibrou um pouco, com uma expressão assustada e um provável receio de que eu ainda podia fazer alguma coisa contra ele, com os meus poderes!
Mas em resposta ao brusco movimento dele, eu apenas desviei um pouco meu olhar, recuando também minhas mãos e dando espaço para ele finalmente conseguir se levantar com a pouca calma que ele ainda conseguia manter.
"Não imaginei que isso fosse assustar ele tanto assim... Mas até que isso não é tão ruim, se com isso ele for me dar algum espaço."

Assim que acabou de se levantar e de dar alguns passos para trás, ele então permaneceu ali -parado-, me olhando de cima como se esperasse eu também me levantar... finalmente demonstrando que também sabia agir como uma pessoa normal capaz de resolver as coisas com algo além de força bruta (muito ainda para a minha surpresa).
"Engraçado, eu até acreditei que ele poderia se acalmar, mas agora que estou realmente vendo ele fazer isso, está é sendo bem estranho."
Sentindo então que ele estava apenas pacientemente me esperando sair do chão -para poder continuarmos aquela inesperada mas bem recebida conversa-, eu então finalmente o imitei usando minha mão para também me apoiar e ficar em pé, ainda sim sem me afastar daquela porta que era minha única rota de fuga (se eu ainda for precisar de uma).

— "Ok, eu sei que você não fugiu ainda por alguma razão... O que você quer de mim?"

O Skrea então descaradamente me perguntou, adiantando até mesmo os meus próprios pensamentos sobre essa situação e me fazendo -muito para a minha surpresa- entender que pelo visto eu poderia pedir uma troca para ele se eu assim o quisesse.
Automaticamente isso então me fez lembrar da noite anterior aonde eu tentei apelar para uma troca sem sucesso com ele, e também me lembrar de todas as perguntas que eu tinha e que sabia que ele poderia facilmente me responder!
Eu não estava no momento tão motivado assim sobre deter Gale sem um plano (tanto quanto eu estava ontem), mas quem disse que eu também havia me desmotivado quanto a saber de tudo? Afinal, eu estava era me sentindo impotente, e não desinteressado!

"Bem, esse Skrea pode continuar tendo a mesma atitude de ontem, mas não custa tentar voltar a pedir por informações... Afinal, não é como se eu fosse perder alguma coisa com isso."
...Pensando naquilo, eu resolvi então testar o terreno para saber se ele realmente estava interessado em cooperar comigo, como parecia finalmente estar sendo.

— "Você então está disposto à uma troca?"
— "Não, porque eu não confio em vocês humanos, e muito menos em vocês Odaliscas."

Me sentindo ofendido com aquela resposta -mais porque ele insistia em me chamar de "Odalisca"-, eu então esfreguei meu rosto com a minha mão, bem incomodado com o que eu já devia de ter previsto que iria acontecer!
"Porque eu ainda tento...? Ou melhor, porque ele ainda sugere que eu tente?!"
Clicando então minha língua em desaprovação, eu passei irritadamente minha mão pelos panos na minha cintura, procurando finalmente aquela porcaria de cordão! Não havia razão para eu continuar segurando-o se aquilo fosse apenas me trazer mais dor de cabeça, e muito menos se não fosse me ajudar também à conseguir nada em troca!
Não vou perder o meu tempo com um Skrea difícil desses! É muito mais fácil eu devolver isso de uma vez para ele e voltar ao meu trabalho, rezando para essa ser a última vez que nos cruzemos dentro dessa cidade!

Irritado, eu o puxei finalmente dentre os meus panos, no mesmo instante atirando aquele cordão na direção do Skrea -que o pegou com suas duas mãos em um impressionante reflexo-, fazendo uma cara realmente de surpresa -ao que mal havia tido tempo de perceber se o que pegara era realmente ou não aquilo que ele tanto queria!
Seu olhar então se virou diretamente para a palma de sua mão que se abriu, revelando aquele delicado medalhão de prata gravado.
Ao vê-lo mais uma vez em suas mãos o Skrea então começou a passar seus dedos por cima dele, contornando o símbolo gravado de Derak e finalmente abrindo o fecho com muito mais facilidade do que eu sequer tive quando tentei também abrir, logo em seguida parando para encarar com um uma profunda expressão a pequena foto contida ali dentro.
Ele estava bastante distraído com aquele seu momento particular, e no instante que eu me dei conta disso, aproveitando sua distração eu então fui andando para o lado sem que ele notasse, tateando aquela porta até encontrar a maçaneta e me colocando pronto para abri-la de uma vez só e sair dali.
Eu estava convencido de que iria conseguir fazer isso dessa vez sem ser interrompido, agora que o cordão estava com ele e que ele tinha boas razões para não se aproximar muito de mim também.
Mas assim que eu me virei um pouco mais de costas para ele -pronto para abrir aquela porta- uma voz então chamou por mim.

— "Você ainda está querendo saber sobre o que aconteceu ontem?"

Rapidamente eu então me virei em sua direção! Soltando a maçaneta e olhando-o com mais surpresa do que eu achei que era capaz de demonstrar!

— "P-Porque está me pergu-?!"
— "Porque não faz nenhuma diferença para mim falar sobre isso ou não."
— "Se não faz, então porque só agora que você está resolvendo falar?"
— "...Porque agora isso não será mais uma troca entre nós dois."
— "Só por isso!?"

Ignorando totalmente a minha reação e soltando um pouco mais o seu corpo, o Skrea então pareceu começar à relaxar de verdade pela primeira vez na minha frente. Ele se permitiu olhar mais uma vez o seu arredor, finalmente contemplando todo aquele quarto em que estávamos nos mínimos detalhes, e novamente ignorando por completo o que eu fazia ou deixava de fazer ali dentro.
Ele não demorou porém para soltar um múrmuro, ao que finalmente percebeu pela cama no final do quarto o tipo de lugar em que realmente estávamos, se mostrando bem mais incomodado do que os clientes normais com aquela realidade e me provando que talvez ele não tenha se dado conta até agora do tipo de serviços que eram prestados nessa boate, assim que ele entrou nela para começo de conversa.
Porém assim que seus olhos encontraram-se com duas poltronas ao redor de uma mesa no canto oposto ao da cama, o Skrea então calmamente se dirigiu até elas, sentando-se relaxadamente como se estivesse esperando a minha decisão e voltando à finalmente me observar -só que dessa vez se deixando mostrar um pouco mais entediado do que eu achei que ele conseguiria se sentir, sendo ele uma pessoa já naturalmente tão intensa.

Eu até que queria me deixar convencer pelas palavras dele e aceitar de bom grado sua intenção de abrir o jogo. Mas sinceramente eu também não me sentia apto em confiar naquele cara e em suas intenções, já que até agora ele não havia demonstrado a menor paciência possível quanto à lidar com outro ser vivo. E com isso eu apenas o encarei -com suspeita-, insistindo de uma forma bem descrente na falta de credibilidade que tínhamos um com o outro.

— "Você realmente vai me contar tudo que eu quiser saber?"
— "Não, eu vou te contar tudo que eu estiver afim de te dizer. Mas vou te dar a chance de me fazer as perguntas, Odalisca."
— "Eu ainda não entendo, porque afinal você está-..."
— "Sua insistência nisso está me irritando, se não quer me perguntar nada sobre o ataque, então eu vou embora."

Se levantando em um tom de ameaça, o Skrea então levou seu olhar na minha direção só para finalmente notar que eu estava confuso demais sobre as intenções dele para conseguir formular uma frase sequer diferente dentro da minha mente.
Nesse instante ele então parou o que estava fazendo -esfregando o seu pescoço em um gesto de exaustão-, e finalmente estendendo sua mão na minha direção, deixando por entre seus dedos surgir dependurado aquele cordão que eu havia devolvido à ele, enquanto me olhava com um jeito incomodado mas muito paciente.
Talvez mostrá-lo para mim fosse o seu jeito de me explicar que essa era sua maneira de me agradecer, ou de me recompensar por ter cooperado com ele no fim das contas.
"Então realmente se trata de uma compensação, mas ele não está afim de admitir? Que cara difícil..."

— "Apenas me pergunte logo, antes que eu mude de ideia."

Ouvindo sua voz dizendo aquilo, eu então finalmente abaixei a minha cabeça -ao que ela começava a clarear um pouco-, me afastando um pouco mais da porta enquanto podia ouvir mais uma vez o som de seu corpo voltando à se sentar em uma daquelas confortáveis poltronas. "Acho que posso também tentar relaxar. Se ele tentar algo, ainda estarei de todo jeito perto da porta."
Pensando assim, eu então comecei à procurar todas as perguntas que poderiam vir em minha mente sabendo que aquela seria uma chance única demais para desperdiçar com as minhas desatenções.


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