Black Desert escrita por Kallin


Capítulo 19
Mestre dos Venenos




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— "O que você está fazendo!?"
— "Eles ainda devem estar na nossa cola... Eles estão sendo mais insistentes do que o normal, então preciso garantir que eles vão realmente ficar para trás... ou não teremos a menor chance."
— "Seus homens ficaram para trás... Eles podem ter conseguido atrasá-los o suficiente para nós, não?"
— "..."

De repente Gale virou o rosto para o lado, de forma que notei sua expressão nada confiante pela primeira vez... Uma sensação de insegurança começou a surgir em mim e acabei dando alguns passos para trás com aquilo... aquele era o olhar de um homem que não estava de verdade no controle da situação, e então eu me toquei de que eu não devia estar dependendo tanto assim dele quanto eu achei que poderia depender.
"No que eu me meti...?"
Pensando isso, eu me dei conta de que havia caminhado em direção à uma armadilha! Continuar com Gale sem controle de nada era perigoso, mas abandonar ele e tentar a minha sorte sozinho não iria facilitar também a minha situação... especialmente com esses Skreas indo atrás de qualquer um às cegas!
"Que hora ruim para eu descobrir que só vou poder contar com a minha sorte agora...!"
De repente pude ouvir a voz de Gale quebrando o silêncio.

— "... Não confie nos meus homens para detê-los... Eu sei como os Skreas são quando querem muito algo, essa não é a primeira vez que eu tento escapar deles."
— "... "Querer algo"... Espera, não me diga que eles estão é atrás de VOCÊ!?"
— "N-Não, aqueles ali nem devem saber quem sou eu pra falar a verdade...!"
— "Então porque eles estariam insistindo tanto em continuar a nos perseguir se para eles somos apenas "mais duas pessoas"...?"
— "...Você realmente nunca lidou com Skreas assim, não é?"
— "Não! E não era para lidar, porque eu nunca ouvi sobre eles agindo assi-...!"
— "Eles são predadores assim como nós. Estão agindo por instinto, e enquanto sentirem que ainda estamos vivos e no alcance deles... então não verão razão para parar de nos seguir. Por isso temos que fazer nosso rastro esfriar, só assim eles também vão desistir e ir embora."
— "Como consegue ter facilmente tanta certeza sobre isso, quando na verdade não era para eles nem fazerem isso?!"
— "Hehe, vamos dizer que eu aprendi com o passado...!"
— "Eu não estou conseguindo ser convencido só com isso, Gale!"
— "...Bom, se você tiver uma explicação melhor, então vamos ouvir ela. Senão, confie em mim de uma vez, porque não temos tempo para perder com essa discussão."

Gale me respondeu com uma voz frustrada porém confiante, como se mesmo com as coisas lentamente saindo do seu controle, o seu prazer por toda aquela ação ainda sim não tivesse sido nem um pouco abalada.
Irritado com aquela resposta dele, eu realmente tentei achar alguma outra resposta na minha cabeça além da que Gale havia me dado, e então eu acabei me deparando com algo: Eu já havia ouvido falar diversas vezes sobre como um Skrea podia perseguir alguém ininterruptamente caso ele recebesse a ordem para fazê-lo, mas só quando ela era vinda de um superior.
"... Mas provavelmente esse não é o caso agora... Não consigo acreditar que haja um superior deles também envolvido nisso..."

Sendo como sempre diferente dos humanos, os Skreas funcionavam baseados em uma hierarquia militar genética: Enquanto a maioria deles era um problema facilmente evitável por não serem absurdamente diferente de nós, por outro lado existiam os Skreas de ordem superiora que eram geneticamente mais evoluídos e quase impossíveis de serem enfrentados sem algum tipo de milagre.
Eu nunca vi um deles pessoalmente, mas é inevitável não ouvir boatos sobre eles quando são eles que estão no controle da cidade no momento, mesmo que sejam tão raros de serem encontrados andando pelas ruas. Agora, quem está nos perseguindo não está muito consistente nas suas ações, por isso não deve ter ninguém comandando eles. Também está óbvio que quem está atrás de nós é de hierarquia baixa, ou jamais teríamos ganhado qualquer distância deles! Então se isso que está acontecendo aqui não é obra de ordens vindas de cima, e sim realmente de uma retaliação pessoal, significa que todo o resto que Gale disse também é verdade. Haaah... realmente, só me resta acreditar que eles estão agindo por impulso próprio, e... baseados em "vingança", mesmo que isso ainda seja surreal demais. Por essa razão isso tudo estava sendo estranho demais para mim, e sem conseguir prever um modo de sair dessa situação -por ser nova demais-, eu finalmente comecei a me sentir assustado.
"Como eu posso falar dele, quando eu também estou sem controle nenhum dessa situação toda...!?"
Só espero que Gale saiba encontrar as respostas que eu não consigo -muito mais facilmente-, ou poderemos realmente estar ferrados.

Sentindo cada vez mais que eu estava perdendo a minha confiança, eu só pude olhar Gale com certo nervosismo tentando manter dentro de mim toda a calma que ainda me restava.
Gale então finalmente colocou sua mão em um dos compartimentos de seu cinto procurando algo, finalmente tirando um pequeno frasco de dentro dele. Ele o abriu sem dizer nada, derramando pelo ar todo o seu conteúdo verde líquido que caia no chão à nossa frente e se misturava com a areia abaixo de nossos pés. Ele então sem desconcentrar, encostou uma de suas mãos -coberta pela luva- em uma das paredes do nosso lado, e isso fez ressoar em mim a sensação de que o que quer que estivera naquele frasco -e agora esparramado no chão-, começara anormalmente a se espalhar mais e mais pela areia e pelas paredes à nossa frente como se fosse uma linha divisória entre nós e o resto do beco. Eu apoiei meu rosto em minha mão com certa vertigem, tentando me soltar daquela sensação desorientadora que parecia vir da solução espalhada pelo chão. Era nauseante como se até sua composição em si estivesse muito errada e não fosse natural... e eu já estava suspeitando do que aquilo tudo se tratava. Agora, não era como se a minha percepção estivesse fora do meu controle, mas eu havia focado naquela coisa -que definitivamente era um líquido-, e por culpa disso ela acabava se tornando contra minha vontade uma extensão anormal dos meus próprios sentidos.
Mas sem perder mais tempo -graças também ao costume de me sentir assim-, eu consegui logo soltar o foco da minha mente daquilo, voltando a conseguir recuperar os meus próprios sentidos...
Porém sem me dar o instante que eu ainda precisava para acertar direito a minha mente, Gale novamente se virou para mim sem aviso e agarrou mais uma vez meu braço, me puxando junto dele para voltarmos a correr como se nem mesmo tivéssemos parado de repente ali.
Eu parecia ainda tropeçar um pouco nos meus passos ao que sentia minha habilidade lentamente voltando a se entrevar, fazendo com que minha mente pudesse voltar a focar apenas no que eu -Yura- estava sentido, e nada mais. Somar toda aquela adrenalina, com precisar focar em meus poderes ao mesmo tempo, podia realmente me atordoar se eu não tivesse cautela.

— "O que era aquilo que você jogou no chão?!"
— "Um presentinho para eles! Se tivermos sorte e eles encostarem naquilo, vão nos deixar em paz!"
— "E como vamos saber se funcionou??"
— "Me diga você! Sente a presença de algum deles ainda se aproximando!?"
— "Como se eu pudesse sentir isso agora!"

Eu respondi Gale de raiva, mas ele não estava totalmente errado... eu podia se quisesse sentir qualquer líquido próximo de mim, e isso incluía até aquele presente dentro das criaturas ao meu redor caso elas estivessem perto o suficiente. Quanto mais perto, mais detalhado se tornavam as sensações, mais intensa se tornava a minha capacidade, e mais controle eu poderia ter sobre aqueles líquidos. Por isso minhas habilidades se eu quisesse, podiam servir como um perfeito radar de curto alcance... mas eu mal estava tendo fôlego para acompanhar Gale, quem diria então me concentrar para ver se dava para sentir ainda os dois Skreas na nossa cola! Isso não é algo tão fácil de se fazer quando eu estou me esforçando para respirar e correr ao mesmo tempo, Gale!
De repente cortando meus pensamentos -sem que precisasse recorrer à nada-, eu pude perceber passos surgindo de onde viemos e subitamente parando no mesmo instante em que foram ouvidos.
Eu e Gale inconscientemente viramos novamente para trás com pouca esperança de que fosse um bom sinal, apenas para ver um dos Skreas perseguidores parado na outra ponta do beco, nos olhando como um predador que não demonstrava nenhum cansaço. Ele realmente havia conseguido acompanhar nossos passos até agora assim como Gale disse que ele faria, o que era assustador de se pensar... realmente ele estava disposto a se manter na nossa cola enquanto ainda fosse capaz disso.

Percebendo que aquilo não ia acabar bem já que estávamos cansados demais para superá-lo novamente em uma corrida, Gale me puxou para trás dele em um gesto de proteção. Sem aviso enquanto isso, sua mão lentamente deslizou novamente por um de seus bolsos evitando totalmente o revólver engatilhado que havia sido retornado para seu esconderijo -sobre o casaco- mais cedo... Ao invés de sacar algo que pudesse intimidar aquele Skrea, Gale surgiu com 3 longas e grossas agulhas, segurando-as entre seus dedos com uma pose até que estranhamente confiante -considerando que ele pretendia virar o jogo para o nosso lado só com aquilo.

— "Parece que vou ter que usar isso agora!"

Assim que Gale disse aquilo, o Skrea em um único impulso disparou em nossa direção! Sua rapidez era como sempre notável, mas a distância entre nós 3 ainda me comprou um instante para observar com calma Gale se posicionar melhor, trazendo sua mão com as agulhas até perto dele e inclinando seu corpo para frente um pouco...
Ao que eu entendi o que ele ia fazer, Gale em um movimento muito ágil atirou aquelas agulhas na direção do Skrea com perfeita precisão, acertando-o em cheio! Ainda sim o Skrea não diminuiu seu passo, continuando a vir para cima de nós dois sem dar importância para as duas agulhas que haviam sido fincadas em seu corpo!
No mesmo instante em que Gale confirmou que elas o acertaram, ele mais uma vez se virou, agarrando meu braço e voltando a me puxar!
... e sim, eu já estava ficando cansado de ser puxado por ele.

— "Se ficarmos só correndo, não vamos conseguir escapar, ele está muito perto! Vamos ter mais chances se lutarmos!"
— "Não se preocupe com isso! Só continue correndo!"

Vendo que Gale começara a ficar despreocupado, eu me virei para o Skrea notando que a velocidade dele não estava mais nos superando...
"Espera, não me diga que-...!"
Uma suspeita que já estava a tempos na minha mente finalmente começou a se tornar uma certeza, e eu me toquei que aquelas agulhas só podiam era estar envenenadas! Eu não conhecia Gale à tanto tempo assim para ele se tornar uma pessoa totalmente previsível, mas por poder ter acompanhando-o em várias situações diferentes até hoje, eu logo entendi que sua especialidade -mesmo que um pouco incomum- era nada mais do que usar nessas horas os venenos que ele mesmo produzia como hobby em seu tempo livre. Assim como Ebraín, eu já cheguei a suprir Gale uma vez com materiais antes de descobrir quem ele era, e mesmo que ele não costume revelar abertamente que lida com venenos, esse cara pode ser perigoso quando decide usar suas substâncias de estimação. Às vezes eu até acabo esquecendo que Gale faz isso, porque não o vejo precisar apelar para isso tantas vezes assim, mas definitivamente quando ele está encurralado ele cria a tendência de tirar essa carta da manga. (Aliás, é por ISSO que ele usa essas luvas -para não entrar em contato direto com os venenos que guarda consigo.)
Talvez seja pela complicação de conseguir os materiais que Gale realmente demore a usar seus venenos como um recurso, permitindo-se depender um pouco mais de qualquer outro tipos de arma até que não tenha mais opções restantes. Mas também sinto que é por simplesmente carregar essas substâncias consigo, que mesmo quando ele parece estar em completa desvantagem, ele continua sem jamais estremecer -não importa o quanto ele planeje ou não realmente usar seus venenos.
"Ele realmente é uma pessoa que sempre vai tentar se manter no controle até o último instante."
Agora, meu problema com tudo isso não é o de lembrar que Gale lida com venenos e substâncias caseiras, mas sim com que tipo! Se ele não me fala o que é que ele afinal usou naquele Skrea, então como é que eu posso ter uma pista do que deverei fazer em seguida!? Eu não sou vidente!!

Frustrado, mas agradecido por esse lado imprevisível de Gale, eu senti mais determinação para acelerar meu passo, mesmo que minha respiração já começasse a se tornar um problema. Sem uma arma de longo alcance com ele, o máximo que aquele Skrea também podia fazer era continuar correndo ao que nos via ganhar mais e mais distância...! Eu já estava quase no limite da minha energia, e por isso uma alegria em saber que daria para descansar logo logo me invadiu, sabendo que eu consegui escapar a salvo de uma situação complicada que eu jamais teria previsto... -ao menos não dessa maneira.
"Admito que perdi totalmente o controle da situação dessa vez."
Finalmente após algumas outras curvas em becos mais estreitos, eu pude ouvir a respiração de Gale bastante ofegante igual à minha, além de também sentir seu passo desacelerando por completo... Gale virou novamente em um pequeno cruzamento de becos escuros, me puxando junto mais uma vez quase me fazendo tropeçar sobre ele, finalmente parando de vez e me soltando, apoiando suas mãos em seus joelhos enquanto inclinava sua cabeça para baixo ao que finalmente ele pareceu estar ficando sem ar. As vezes, risos pareciam se misturar à sua pesada respiração, mas eu mal conseguia ver seu rosto para ter certeza do que estava se passando em sua cabeça.
De repente sentindo igualmente meu corpo pesar, eu também me inclinei para frente imitando Gale um pouco, quase caindo ao que minhas pernas decidiram não aguentar aquela posição. Eu então tentei me jogar para trás, apoiando meu corpo sobre uma das paredes e tomando um fôlego bem profundo enquanto acalmava os meus próprios pensamentos.


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