Black Desert escrita por Kallin


Capítulo 17
Um Problema Iminente




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/711599/chapter/17


— "Gale, eu preciso que você me diga o que aconteceu! Eu não quero acordar amanhã de manhã dentro de uma nova guerra civil!"

Tomando sem aviso uma rápida postura indagadora -e passando por cima do receio que Gale estava me fazendo sentir-, finalmente não aguentei e deixei escapar o sentimento que estava até agora me controlando em silêncio, batendo com força minha mão na escrivaninha ao meu lado para fazer ele entender que eu não estava ali para ser ludibriado!
Gale em compensação apenas me olhou bem surpreso, quebrando totalmente sua pose fria e seu olhar sombrio.

— "Y-Yura...?"

Gale falou meu nome com um tom de espanto, mas logo em seguida sem conseguir segurar, um riso inesperado começou a sair dele sem controle algum. Era estranho para ele me ver tão honestamente alterado, e isso só contribuiu para aquele riso cada vez mais irônico tomar conta do lugar. Em resposta, eu só consegui olhar para o lado acalmando meus nervos por conta própria, vendo que ele voltou ao seu modo babaca de antes...
Do nada, Gale -ainda tentando conter seu riso- começou a andar na minha direção com passos leves. Estendendo sua mão na minha direção até ficar perto o suficiente para segurar de leve meu rosto, me acariciando como se eu fosse uma criança tendo um acesso de mau humor.

— "Se é só por essa razão que você veio, então realmente não tem nada para você se meter aqui, Yura."
— "..."
— "Eu te prometo que nada do que aconteceu hoje vai começar uma nova guerra amanhã, então fique tranquilo."
— "Pode não ser hoje, mas eu te conheço e sei que não vai parar de tentar conseguir o que quer que seja! Suas razões vão acabar nos trazendo essa guerra em algum momento, assim como a SevenRoses fez à 4 anos!"
— "... Não me compare a eles."
— "Então ao menos me convença de que é diferente, e pare de fingir que não está tentando nada!"

O olhar de Gale de repente pareceu um pouco irritado com aquela comparação e com isso ele finalmente soltou meu rosto, se virando na direção da janela como se procurasse em seus próprios pensamentos as razões por trás de tudo aquilo que ele estava fazendo, apenas para reforçar em sua mente que ele não iria cometer os mesmos erros que aquele grupo, que causou a última guerra dentro da Citadela e que fez todos sofrerem demais por não desistirem de uma luta perdida.
Eu sabia que se em algum segundo o próprio Gale quisesse se comparar à esse grupo, ele então estaria apenas abraçando um fracasso precoce quanto aos seus próprios ideais... e sinto que ele também sabia disso.

— "... Yura... Eu vou conseguir exatamente aquilo que preciso e nada mais além disso. A BlackHole jamais vai fazer algo que faça mal para os outros humanos, e isso inclui começar qualquer guerra inútil."
— "E você realmente acha que não vai conseguir exatamente isso, se for pra ficar fazendo o que você fez hoje?"
— "...! E o que você acha que eu fiz, Yura...?"
— "...! -Eu... Eu não sei...! Mas se eu estou sendo errado por te acusar assim, então me explique VOCÊ o que fez! E sem me enrolar!"

Me encarando mais uma vez com um jeito um pouco intransigente, Gale tomou um longo suspiro vendo que já estava ficando sem portas pelas quais escapar, e então esfregou seu rosto com sua mão, extremamente incomodado em estar sendo empurrado para aquela posição.

— "Você realmente sabe ser uma pessoa difícil, sabia...?"
— "... Não fale como se eu fosse o único difícil aqui."
— "Ok, o que você sabe?"
— "Sei que você contratou bodes expiatórios e os armou, e sei que eles tinham ordens para atirar nos Skreas!"
— "-Pff..."

Gale soltou um riso sem querer, como se não tivesse levado absolutamente nada do que eu disse a sério.

— "Me diz, como essas coisas conseguem chegar logo até você?... Sim, eu contratei, mas as armas eram falsas. Eu não sou idiota de colocar pessoas inexperientes armadas até os dentes assim, e até mesmo colocar qualquer pessoa armada perto da base daqueles lagartos só para dispararem atoa e atraírem ainda mais patrulhas... Aquelas armas eram só para distrair os Skreas para o lado que eu queria."
— "... E você usou pessoas inocentes que não sabiam que estavam com armas falsas para conseguir isso..."
— "O fato de eles acreditarem foi preciso para que os Skreas também acreditassem... Ao menos pelo tempo que eu precisava."
— "... Não entendo como você pode dizer ainda que pensa no bem das pessoas inocentes."
— "E penso. Yura, todo soldado por dentro também é um aldeão, e eu tenho que pensar assim para ter do meu lado a força em números que preciso para mudar esse mundo. Se eu não o fizer, eu então estarei provando que não sou capaz de persistir pelos meus sonhos. Aliás, eu evitei ao máximo deixar eles em uma situação de perigo."
— "Então parece que tudo deu errado, porque afinal de contas eles foram atacados não é?"
— "... Afinal, como você fica sabendo desses detalhes...?"
— "..."
— "Bem... Algo realmente deu errado e eles foram atacados pela patrulha sem que pudéssemos fazer nada... isso responde a sua pergunta?"
— "Não, na verdade me faz perguntar porque os Skreas atacaram se não havia real ameaça, e porque você também não interveio já que se importa tanto."
— "... Bem... Como eu disse meu grupo não estava armado, ao menos não para isso. Ou fugíamos, ou muito mais gente teria sido mor-..."

Do nada Gale cortou suas próprias palavras, me fazendo sentir que ele quase deixou escapar algo que não queria. Mas aquilo fora inútil, no mesmo instante minha boca abriu um pouco em surpresa sabendo exatamente o que ele queria ter guardado para si. Eu já sabia que aquele homem foi ferido para morrer e que pessoas sempre morriam nesse tipo de situação, mas ouvir Gale admitir que isso aconteceu foi um pouco mais realista para mim do que apenas continuar ouvindo essas coisas como se fossem rumores.
Na Citadela, "Morte" ainda é um tabu para a maioria das pessoas -um pouco contraditório mas é.
Aqui dentro, a ideia de matar ou de ser morto é até lidada de forma bem leve já que vivemos em um mundo difícil... Mas quando realmente se descobre que alguém foi morto, parece que o peso da realidade finalmente nos atinge e finalmente conseguimos nos transtornar com isso.
"Não sei porque a morte é muito mais fácil de se engolir como uma ideia, do que como um fato."
Em resposta Gale desviou mais uma vez seu olhar de mim, parecendo até um pouco envergonhado por ter admitido aquilo.
Talvez nem ele conseguia ter um coração tão sórdido assim para também se manter inalterado com essas coisas.

— "... As coisas deram erradas, e ficaram um pouco bagunçadas... Mas ainda garanto que não é nada que vá trazer os batalhões deles para as ruas nessa noite..."
— "Mas você mesmo assim chegou a fazer algo contra eles, para eles resolverem atacar, não fez?"
— "... Se você quiser colocar dessa forma... Eu realmente fiz. Mas como eu te disse, não é nada que os fará se mobilizar em peso como à 4 anos atrás."
— "Não sei porque, mas só sua palavra não está me convencendo de que eles vão realmente relevar o que quer que você tenha feito tão facilmente..."
— "Bem... Eu disse que não agiriam em peso, mas "relevar", aí já é um assunto totalmente diferen-..."

Do nada interrompendo Gale sem nenhum alerta, a porta do quarto se abriu com certa força e dela surgiu Tessa usando sua mesma expressão neutra e calma de sempre, contrariando totalmente a violência com a qual ela houvera surgido.

— "Com licença Gale, eles já foram avistados ao Norte vindo para essa direção. É melhor sairmos daqui agora."
— "Hm... Exatamente como eu suspeitava que fariam, só que um pouco mais cedo do que eu esperava..."

Gale distraidamente apoiou uma mão em seu queixo enquanto cruzara seu outro braço, pensando por alguns segundos e finalmente olhando para mim. Ele então percebeu que meu olhar estava totalmente sobre Tessa, que parecia também estar me encarando de volta com uma expressão incomodada que perguntava "porque ele ainda está aqui?".
Deixando um sorriso então transparecer, Gale colocou uma de suas mãos sobre meu ombro puxando minha atenção de volta para ele, e diretamente para seus olhos.

— "Parece que não tem jeito, eu não queria que isso tivesse que acontecer mas se você ficar para trás vai se encrencar. Venha comigo também Yura."

Eu apenas balancei a cabeça concordando com Gale sem perguntar nada desnecessário ou questionar as razões do pedido dele. Eu podia usar minha própria inteligência para saber exatamente do que se tratava, afinal, aí estava exatamente a peça que eu mais estava sentindo falta nesse quebra-cabeça todo... Algum grupo vindo nessa direção, e Gale optando por escapar sem nem pensar duas vezes? Logo depois do fracasso dele nas avenidas aonde ele realmente admitiu fazer algo contra os Skreas?
Eu não sei até onde Gale mexeu com eles (e ainda não desisti de conseguir essas respostas), mas o que quer que tenha sido feito, é claro que eles não iam deixar isso barato.
E não importava se eu não tivesse nada a ver com isso também, ou se eu soubesse me virar muito bem sozinho... Eu ia fazer questão de depender de Gale para escapar dessa vez, porque com certeza eram Skreas se aproximando e eu não estava afim de saber até onde eles estavam dispostos à ir para colocar as mãos em Gale e no resto da gangue. Dependendo do nível da ira que se impregnou neles, até mesmo sem estar envolvido nisso eu poderia acabar virando um alvo, tanto quanto todos os outros aqui dentro.
Eu sei que pensar em Skreas irados pode ser estranho -já que eles tem a fama de serem racionais-, mas nossas emoções são como o vírus que os alteram na pior das horas... e aposto que essa é uma dessas "piores horas"...
"Bem, mesmo que não seja, eu não vou sentar e esperar para ver. Estou indo junto com Gale."


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Black Desert" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.