Black Desert escrita por Kallin


Capítulo 15
Sem muita Escolha




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— "...Yura, não esperava ver alguém como você aqui hoje... Venha comigo."

Ouvindo o comando de Tessa, e vendo-a estender sua mão me direcionando para aquela construção diante de nós, eu balancei a cabeça evitando falar qualquer coisa e cobri mais uma vez minha cabeça com meu pano, andando sem questioná-la...
Tessa a princípio veio logo atrás de mim deixando aqueles dois homens para trás guardando a passagem, mas em questão de segundos ela também me alcançou...

— "Pelo visto a segurança está mais apertada do que o normal hoje... aconteceu algo?"
— "Nada fora do protocolo. O que você deseja aqui?"
— "Quero falar com Gale."
— "Ele está fora no momento, mas já deve estar retornando. Se quiser pode ficar esperando-o no escritório."
— "Eu gostaria."

Em um diálogo curto e direto, eu e Tessa entramos em um acordo que não precisou de muito mais do que apenas aquelas palavras, dando rapidamente lugar ao silêncio.
Esperar Gale não era a minha opção ideal, mas agora que eu já havia sido recebido por Tessa seria apenas idiota da minha parte ir embora para tentar encontrá-lo pelo caminho... Ainda sim não pude evitar de me sentir imponente diante do tempo que eu sabia que podia ser curto demais para se tomar qualquer atitude.
Em silêncio por conta desses pensamentos, apenas segui Tessa para dentro do prédio... Mal entrando pela porta eu já pude ver o interior todo escuro, sem muitos móveis ou cuidados em si... O lugar na verdade parecia abandonado, não havia uma alma sequer lá dentro e todas as luzes estavam praticamente apagadas... O frio da noite vindo das ruas também facilmente invadia os cômodos pelas janelas escancaradas. Haviam ali mais caixas vazias e lixos, do que móveis decentes ou ainda em bom estado.
Realmente a presença inteira da BlackHole era nas ruas, e não em uma base física... Os membros regulares não tinham um prédio próprio para frequentar e nem mesmo uma base em que pudessem gastar suas noites convivendo e planejando suas próximas ações... isso tinha muita relação com a forma que eles agiam... evitando conflitos de territórios, se escondendo nos becos mais desolados e vigiando toda a cidade das sombras sem chamar atenção. A BlackHole tinha algumas áreas próprias, mas não dependia delas para nada além de coordenar seus membros para algum ponto de referência seguro quando preciso... Apenas as pessoas de maior posição na BlackHole realmente usavam lugares como esse prédio vazio fosse para reuniões, fosse para mexer com documentações, ou fosse apenas para planejar seus assuntos dentro do sigilo de 4 paredes. (E sinceramente, essas pessoas não eram muitas.)
Todo o resto da gangue vivia nas ruas como olhos e ouvidos do grupo, e se comunicavam através de mensagens passadas de membro a membro, de boca a boca.

Finalmente chegando à uma porta, Tessa que houvera tomado a dianteira para me guiar lá dentro me deu passagem para esse quarto que se encontrava logo no segundo andar sem me dizer absolutamente nada... Ao que a porta foi aberta, eu rapidamente pude sentir o ar estagnado de mofo e areia que exalava do prédio inteiro mudando para um ar mais puro e leve... O quarto não era grande, mas a coisa mais notável dentro dele era a sua grande janela aberta que arejava o cômodo inteiro, dando também uma vista privilegiada para a frente do prédio. Havia também uma escrivaninha bem no meio do quarto com 3 poltronas ao redor dela. Algumas estantes contornavam as paredes e elas pareciam bagunçadas e abarrotadas de documentos, papéis e livros, assim como a escrivaninha no meio que também estava com vários papéis espalhados sobre ela.
Embaixo dos meus pés, eu logo notei também um grande tapete provavelmente velho mas lindamente adornado... aquele tipo de decoração não era comum nos dias de hoje, e me fazia desconfiar que já estava nesse prédio antes mesmo da gangue tomá-lo para si só pela idade e pela poeira que ele entregava ter.

Tessa me direcionou uma das poltronas para eu me sentar enquanto contornava a escrivaninha, acendendo um abajur que estava em cima dela. A luz não era muita, mas era bem mais do que a única a luz que iluminava o quarto antes -a luz da lua-, que entrava pela janela fácilmente junto com a brisa gelada vinda de fora.
Tessa então voltou seu olhar para os papéis espalhados em cima da escrivaninha, concentradamente pegando alguns deles para si e ajeitando alguns outros com muita calma...
Olhando ao redor e sentindo que eu iria acabar com tanta poeira quanto aqueles móveis só por esperar Gale, eu finalmente resolvi tentar conseguir algo nem que fosse da própria Tessa... Infelizmente ela era uma das pessoas mais sérias sobre qualquer assunto, e em particular sobre os da gangue, então eu já sabia que ela não me contaria nada de cara... mas talvez eu poderia fazer ela deslizar um pouco e deixar escapar ao menos algo sobre o que aconteceu nas Avenidas á algumas horas atrás, quem sabe adiantando o meu lado.

— "Eu notei que vocês têm muitos membros novos... A maioria não pareceu nem saber quem eu era, lá atrás nos becos."
— "Tivemos uma grande leva de novos membros recentemente, mas vários deles foram realocados de alguns outros postos para esse aqui."
— "...E porque essa movimentação grande de membros para cá, assim tão de repente?"
— "Apenas uma medida de cautela padrão."
— "... Vocês por acaso estão preocupados com alguma coisa?"

Tessa de repente parou o que estava fazendo me encarando por um instante, desconfiada com o rumo que eu estava dando para a conversa... mas sem demorar muito, logo ela reverteu sua expressão para algo bem neutro soltando um suspiro e colocando seu caderno com as outras folhas sobre a mesa... Sem me dar muita bola, ela apenas andou até a janela da rua olhando por ela pensativa...

— "Se preocupar sempre foi algo próprio dele, e não meu... Mesmo assim os membros podem acabar imitando essa atitude se apenas ele ficar tomando as decisões... então precisa sempre haver ao menos uma pessoa mantendo a calma e controlando tudo aqui dentro para os outros também ficarem calmos no fim..."
— "..."
— "...E quem os está controlando quase sempre sou eu, por isso não, não estamos preocupados com nada. Mas se você acha que existe uma razão para ficarmos... então não é de mim que você vai conseguir esse tipo de resposta. A única pessoa que vai ter a resposta que você quer é ele mesmo. Por isso você não tem muita escolha, vai precisar esperá-lo de qualquer forma Yura..."
— "... Você sabe porque eu estou aqui, não sabe?"
— "... Não tenho que saber... Quem vai falar com você é o Gale, e não eu. Por isso recomendo esperar por ele em silêncio ou ir embora de uma vez se não quiser esperar... Por que qualquer outra coisa que queira tentar direto comigo vai ser perda tempo para nós dois."

Falando isso, Tessa se afastou da janela recolhendo mais uma vez as suas coisas e dando as costas para mim, saindo do quarto sem dizer mais nada. Eu só pude ouvir o som da porta atrás de mim fechando, ao que eu fui abandonando sozinho ali dentro...
Vendo que só me restou esperar como uma pessoa normal, eu soltei um longo suspiro apenas para finalmente notar que a adrenalina de até poucos minutos atrás houvera drenado um pouco o meu próprio fôlego, e que só agora ele estava realmente voltando ao seu normal. Infelizmente eu realmente não podia fazer nada além de ficar na minha esperando Gale, e sobre isso Tessa estava certa... Até mesmo se eu quisesse não tinha ninguém mais com quem eu podia falar fora dali... ao menos, não alguém que pudesse-me informar das coisas tão bem quanto ele -a própria fonte.

Graças ao meu jeito de "Faz-tudo", e o fato de eu morar no bairro que mais adorava contrariar as leis dessa cidade, eu acabei a alguns anos atrás conhecendo Gale e seu grupo pessoalmente... Diferente dos membros da sua gangue, Gale sempre foi muito cortês e amigável (ao menos comigo), ele nunca se intrometeu forçadamente nos meus assuntos ou me envolveu nos seus problemas, e sempre respeitou também todas as minhas decisões sem jamais forçar os interesses dele cegamente sobre mim... Porém eu sinto às vezes que Gale apenas me trata assim porque me vê como um recurso que ele deseja demais possuir, e que por isso tem que ser atraído de todos os modos para seu lado sem ser afugentado... Gale definitivamente não se cansa de me fazer propostas aonde eu deveria trabalhar com ele, mas eu também jamais cedi...
...Porém não era muito pelo grupo dele ter a má fama que tem, que eu sempre o recusei (Já que o próprio Gale tem um carisma que pode facilmente envolver, e te fazer esquecer tudo de ruim que se ouve por aí sobre a BlackHole)... Mas assim como com Sal e com as meninas que adorariam me ter também no grupo delas -mas não conseguem-, eu apenas não estou disposto a entregar minha liberdade nas mãos de ninguém.
"Não vou deixar que alguém novamente controle qualquer coisa da minha vida."

Me inclinando um pouco na cadeira, eu tentei relaxar o máximo que pude... Ficar ali parado depois de ter me movimentado tanto estava fazendo meu corpo reclamar um pouco e isso estava me deixando lentamente incomodado.
Falar com Gale não era sempre uma provação para mim, mas eu ainda teria que estar disposto a descobrir com ele o que aconteceu nas vias principais, e porque eles emboscaram os Skreas...
E por alguma razão, a cada minuto que se passava, mais eu pressentia que talvez aquele não seria um assunto fácil de se conseguir respostas. Gale podia gostar de mim, mas ele tinha outros interesses que estavam acima do seu desejo de me agradar, e como ele era uma pessoa também teimosa e muito manipuladora, eu poderia estar arriscando cruzar o caminho de uma bela dor de cabeça apenas por resolver que iria me meter nisso.
Esfregando um pouco minhas mãos em meu rosto eu me inclinei para frente, finalmente percebendo que estava ainda com meu manto cobrindo minha cabeça... Sem muita pressa eu o tirei de cima de mim enrolando o resto de pano por cima do meu ombro. Eu não precisava andar com aquilo sempre em cima de mim, especialmente porque a pessoa que eu estava esperando já sabia muito bem como eu era...
A primeira vez que conheci Gale, ele definitivamente teve vários tipos de reações, como por exemplo quando tentou descobrir o que era mais fácil para ele acreditar: Se eu realmente era um homem que parecia uma menina, ou apenas uma mulher tentando deixá-lo bem confuso. Ou quando ele finalmente descobriu que eu sabia manipular a água, mesmo obviamente tendo nascido no deserto (o que jamais faz sentido até mesmo para mim).
...Porém depois de todas essas confusões que ele superou e situações aonde nossos caminhos involuntariamente se cruzavam, ele finalmente passou a me tratar como uma pessoa normal assim como todos os outros membros da sua gangue.
"...Eu acho..."


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