Black Desert escrita por Kallin


Capítulo 1
Um passado melhor esquecido


Notas iniciais do capítulo

Yahooo Minna! K.K. os apresenta essa história, baseada totalmente na teoria do Grande Jogo das Polaridades, as 3 grandes guerras universais e a criação da raça Reptiliana e Humana~
Eu quis homenagear esse conceito todo do embate entre uma raça racional e uma emocional, e idealizar um mundo com esses dois extremos convivendo sem acabar terminando no extermínio de um deles, como todas essas outras histórias sempre terminam~~ Por isso esperem bastante filosofia subliminar, porque K.K. não pegará leve!! (Não, sério, essa história é MUUUUUITO complexa.)

Mas será uma jornada divertida para fazer todos nós no fim pensar um pouco sobre as diferenças que existem por aí, e curtir também um belo romance!(Yaoi-! *cof* *cof*) Ou talvez 2(Yaoi e Hétero-! *cof* *cof*)!! Ou quem sabe mais!? Mwahaha, melhor vocês lerem para descobrir, K.K. já está dando Spoiler demais fora de hora~!



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O que é uma "história", para alguém que passou sua vida inteira tentando evitar ter uma história para contar, ou uma pessoa para com quem se preocupar...? Quando se tem uma vida inteira observando o deserto, com o tempo você acaba entendendo o quanto as coisas tendem a serem enterradas e esquecidas pelo tempo. Sejam pessoas, sejam ideias, sejam crenças, sejam momentos... enquanto que para aqueles que restam no topo desse mundo, sobrará sempre uma eterna luta para continuarem existindo contra todas essas tempestades que sopram constantemente querendo nos derrubar. Mesmo que para mim, pareça que a vida se entretêm em me manter firme nesse topo. Me obrigando a observar aqueles que caem e que brigam contra ela, como se eu não tivesse o direito de fazer parte disso tudo também... Uma posição solitária quando cada pequena coisa que já tentei segurar firmemente com minhas mãos acabaram sendo levadas para longe de mim de algum modo ou outro, assim como a areia que fragilmente some arrastada pelo vento... seja de uma forma imperceptível... ou de uma forma impossível de ser esquecida.
E é por isso que então eu acabei me prometendo jamais tentar procurar ter uma história, ou tentar me apegar a qualquer coisa que seja... Quem sabe assim, quanto menos eu me segurar à tudo que está ao meu redor, mais tempo então eu vou conseguir ficar próximo a elas sem que a vida note e decida mais uma vez fazer algo a respeito.

Desde meu nascimento eu estou acostumado a não estar preso à definições, ao que desde esse início, a vida já parecia querer me tratar como se minha existência estivesse errada -como se eu fosse um obstáculo para os seus próprios planos. Me acostumando assim, desde esse meu nascimento, a ter que ser uma pessoa diferente do que eu deveria ser só para poder conseguir me encaixar, existir, agir fora desse constante radar do mundo -que com o tempo, apenas se agravou ainda mais contra minha presença-, me deixando assim com nenhuma outra escolha senão a de aprender a me esforçar para encaixar nos moldes que constantemente me eram exigidos de tempos em tempos, até que não me restasse nada mais do que a aceitação, e o pouco-consolável pensamento de que deveria haver uma razão para tudo isso ter que ser dessa maneira...

A época em que eu nasci foi dentro de um período bem difícil para muitas pessoas, todos começaram a ser perseguidos por razões além do nosso controle, e por razões além da nossa própria fé... Dividir esse mundo com uma segunda raça sempre foi difícil, mas ter ela resolvendo exterminar todos os meninos recém-nascidos da minha geração em minha região, apenas para eliminar os "Vessels", foi ainda mais complicado para minha família inteira.
Para conseguir me salvar, minha mãe -assim que me deu a luz- passou a me criar como uma menina, jamais cortando meus cabelos, me acostumando a usar as pinturas que as mulheres de nossa tribo sempre usavam nos olhos, me fazendo vestir as túnicas largas que as outras meninas também usavam, e me dando um nome sem gênero, sem definição, sem julgamentos e sem destino... "Yura", que em nosso dialeto significava apenas "pôr do sol"... aquele momento em que não se podia mais se apegar ao presente do dia, e nem prever o futuro da noite... um momento de dúvidas sem questionamentos, aonde o silêncio era envolto pela beleza única e colorida dos céus desse vasto deserto.
Ao que apenas graças a essa mentira foi que minha tribo inteira me resguardou. Não me entregando cedo demais para a morte, assim como acontecera com os outros filhos pródigos do azar...

Mas o custo de uma pequena mentira acabou sendo grande ao que o tempo passou. E por talvez um falso medo da possível vingança das mães que não tiveram a chance de fazer o que minha mãe fez, eu então acabei sendo criado sob essas mesmas regras durante o resto daquela minha infância inteira. Tendo apenas minha família -minha mãe e minhas irmãs- como detentoras da verdade, enquanto elas exaustivamente cuidavam para que eu aprendesse à esconder aquilo que ninguém além de nós deveriam de saber.
Uma falsa identidade que eu passei a interpretar perfeitamente, sem ainda sim jamais esquecer lá no fundo que eu realmente era um menino... o grande segredo que poupou minha vida desde que eu nasci, e que também acabou provavelmente me ajudando durante minha juventude a salvar minha vida diversas outras vezes, me fazendo por fim guardar até hoje essa situação toda com talvez muito mais carinho do que eu realmente deveria.

E foi assim que eu passei o começo de minha tão incerta vida, ao que antes que momentos ainda mais difíceis chegassem, meus primeiros e felizes 6 anos acabaram sendo gastos dentro daquela tribo no meio do deserto. Aonde quase todos os homens, assim como meu pai, há tempos haviam-se perdido pelas areias, entre as batalhas que jamais haveriam de ser ganhas contra essa outra raça, e até mesmo outras tribos... eu não sei. Minha mãe me contava várias histórias, mas quase sempre parecia que ela estava tentando se convencer, mais do que nos convencer de que nosso pai era um herói e não um tolo...

Sendo que finalmente, ao fim daqueles 6 anos, foi que o preço pela falta dos homens da nossa tribo nos foi cobrado em uma forma de castigo. Quando saqueadores encontraram o meu povo, e nos atacaram em uma noite confusa e cruel aonde tudo que ainda me resta de lembrança é o som dos gritos das mulheres em meio ao breu de uma noite mal desperta, o vulto dos passos rápidos e confusos das outras crianças ao meu redor, e a fumaça quente do fogo sendo ateado nas nossas casas -uma a uma...
Eu não preciso ter visto para ter a certeza de que muita gente foi morta naquela noite, e talvez até mesmo minha mãe que ficou para trás na confusão, deixando a mim e minha irmã bebê nas mãos de nossa irmã mais velha, sobre a incerta promessa de que ela iria conseguir nos proteger... Uma promessa difícil para minha irmã cumprir, já que nós três conseguimos sobreviver juntos àquela interminável noite -assim como as outras meninas-, apenas para sermos sequestrados após isso e vendidos como escravos mais tarde.

Naquele dia -aonde as cinzas de metade de nosso povo caia sobre nossos rostos, e o sangue da outra metade banhava nossos pés descalços-, foi onde então eu fui separado das minhas duas irmãs e levado junto de outro grupo de escravos... Sendo que nós não podiamos reagir, não podiamos fazer nada sobre isso, tsc! Minha própria irmã mandou eu obedecer àqueles homens e ficar quieto para que não me matassem, com a expressão mais sofrida de arrependimento possível que eu poderia ter gravado na minha mente!... Minha última lembrança daquele momento, enquanto a distância cada vez mais aumentara entre nós dois até ela sumir completamente da minha vista... sumir, como se minha vida e minha família não fossem agora nada mais do que uma mera miragem pregada em mim por aquele complicado deserto.

E com isso minha vida então passou a ser um longo misto entre "a solidão que criança alguma deveria de vir a conhecer", e "o mundo que muitos adultos jamais vieram a saber que existia". No que eu passei a viver de longos momentos viajando por dunas em enormes grupos -sempre preso por grilhões, correntes, cordas e amarras-, caminhando discretamente em fila dentre algumas meninas maiores, e outras mulheres mais velhas que andavam sempre de cabeça baixa tentando guardar o máximo da sua energia nas longas travessias... Sábias mulheres, que nos ensinaram a engolir nossas vozes e pensamentos quando nos era dado o luxo de poder pararmos para descansar. Ao que em conformidade à humilhação, aprendemos com elas a aceitar sem questionar o pouco bom tratamento que ainda nos era de direito possuir.

Às vezes nem mesmo água podíamos beber pois não tinha o suficiente, as vezes a comida era tão pouca que não me restava mais do que as migalhas daquilo que as mulheres mais velhas comiam, e graças a tudo isso foi que então eu me tornei extremamente resistente contra a vida... resistente a não reclamar, a não chorar, resistente a ficar quieto e aguentar até o dia que minha irmã fosse-me tirar dali... eu só aprendi a suportar, porque em troca eu me deixei acreditar que aquilo um dia iria chegar ao fim -ao melhor fim.
Porém não era um segredo para mim, de que muitas das meninas que também dividiram aquela época e aqueles sentimentos comigo, mas que estavam no auge de sua juventude, acabaram sendo vendidas como escravas sexuais e jamais encontraram esse desejado final feliz... Já as mulheres mais velhas, desgastadas demais para atrair homens alheios, eram vendidas para virarem qualquer tipo de serviçais que interessasse aos seus futuros donos, deixando muitas lacunas para minha própria imaginação de criança tentar preencher sem sucesso... Sinceramente, escravidão não era estranho no deserto, e era só ter dinheiro suficiente naqueles povoados, que você poderia conseguir uma garota sem ser questionado sobre suas intenções. O que muito provavelmente movimentou -e até hoje deve movimentar- demais esse comércio sujo. Afinal não há nenhum tipo de "homem da lei" nessas tribos e vilas afastadas para impedir os saqueadores e comerciantes ilegais de existirem, apenas há outras pessoas ainda mais deturpadas por um falso poder que ainda não foi tomada delas por essa outra raça. Uma outra raça que por sinal também não está nem aí para como os humanos isolados vivem suas vidas.
Então justiça realmente foi um conceito que demorou demais para eu vir a conhecer.

Só que como eu era muito novo, eu nunca fui posto a venda com as outras meninas nesses pequenos e exclusos mercados ilícitos que aconteciam dentro de cada nova vila que visitávamos, então eu ficava apenas encarcerado por dias em vários cativeiros dentro dessas vilas e cidades pelas quais eu já passei, junto com as outras meninas que também eram muito jovens ou que apenas não seriam comercializadas ainda, esperando o sórdido momento em que nossas idades não fossem mais nos salvar de maus-tratos muito piores...
Sendo que eu aprendi junto delas naqueles dias -aonde o tempo era o único divisor para uma vida bem pior- a lentamente perder a necessidade de ter esperança ou de se pensar no futuro... Carregar algo como "esperança" podia com o tempo se tornar doloroso, mais até do que as constantes surras que levávamos ao desobedecer os saqueadores, ou das dolorosas noites aonde o passado tentava nos consolar...
E assim, estar apenas vivo naquele presente -não importa como ele fosse- para poder um dia talvez ainda conseguir reencontrar minha família, se tornou no fim a única coisa na qual eu consegui ainda me segurar por muitos anos naquela vida, mesmo que depois dos meus 7 anos eu tivesse parado de acreditar que apenas sentar e esperar por elas não fosse trazer minhas irmãs de volta até mim.

Sendo que foi graças a esse processo de ser tratado como um objeto ainda não maduro para venda, que eu pude acabar sem intenção tendo a chance de conhecer vários lugares, ver tantas outras vilas sendo saqueadas, guardando na memória tantas sensações diferentes, conhecendo tantas outras pessoas com histórias para contar... foi assim que vim a acabar coletando tanta experiência, e a conhecer grande parte dos "Desertos Profundos" antes mesmo de meus 14 anos, mesmo que em grandes partes eu apenas ficasse trancado em quartos escuros, velhos e abafados durante os vários dias em que não estivéssemos perigosamente cruzando as areias junto das outras caravanas.
Os desertos profundos eram muito hostis para se viajar facilmente, então para aguentarmos as longas viagens por aquelas dunas os saqueadores apenas sequestravam pessoas da região dos desertos -graças a nossa resistência natural ao forte clima e ao racionamento de água. Além disso, eles aproveitavam a perspicácia dos outros grupos de bandidos nos arredores para fazerem grandes caravanas e elaborar as travessias entre as cidades... O que com isso acabou realmente me ensinando muita coisa sobre sobreviver no deserto com a ajuda das pessoas mais velhas -escravas ou não.
O que desde então me garantiu uma eficiência incrível, em se tratando de conseguir andar por essas terras, fosse isso naquela época útil ou não para mim.

Só que como com qualquer criança, quando finalmente cheguei aos meus 10 anos, posso dizer que finalmente o "futuro" então me alcançou... Naquele dia, um dos saqueadores, um homem sujo e de força não comparável a nenhuma das mulheres ali dentro, me puxou pelo braço finalmente dizendo aquelas palavras que fizeram o meu sangue gelar no mesmo instante:
"Acho que você já está na idade de servir... Vamos te experimentar."
Ele havia-me puxado para um quarto sujo, vazio e precário, ao lado do de onde as outras mulheres ficavam, feito de tábuas de madeira que deixavam a intensa luz do sol entrar por entre as frestas, e coberto pela palha já ressecada no teto, que parecia ter suportado já vários dias desde a época em que houvera sido posta ali... Lembro que meus gritos e meu choro se misturavam às minhas tentativas de me soltar daquela mão firme que me machucava cada vez que eu resistia... Foi a primeira vez que o medo falou mais alto dentro de mim, e que eu desobedeci o desejo da minha irmã, fazendo o escândalo que jamais houvera feito até aquele dia... Mas nada daquilo jamais os afetavam, e não iria começar a afetar só por ser eu. Eu sabia, ao que ele me pôs em pé no meio do quarto para me olhar melhor, que naquele momento eu só podia agora desajeitadamente enxugar meus olhos, e engolir meu choro tardio...
Eu podia não saber exatamente o que ia acontecer, mas assim como os saqueadores não tinham piedade, as mulheres sequestradas e já sem esperança também haviam perdido suas piedades, e não se importavam de falar das coisas horríveis que esses homens faziam com elas perto de nós, crianças... Isso tudo me assustava, me assustava porque eu sabia que era uma questão de tempo para eu pessoalmente passar por tudo que elas passaram...
"Até que você é uma gracinha... meio magra, mas tem boas feições."
Ele dizia-me olhando com um olhar agressivo e assustador, como se estivesse avaliando um objeto em uma prateleira, se preparando para experimentá-lo ao que sua língua roçava contra seus lábios ressecados... "Talvez dê pra conseguir um bom dinheiro com você... Vamos ver melh-"
Assim que aquelas palavras me atravessaram friamente como vários alfinetes fazendo meu corpo todo se arrepiar, aquelas mãos sujas e pesadas tiraram o trapo de blusa que eu usava como vestido, me deixando então totalmente exposto para aqueles olhos assustadores sem nem mesmo ter tido tempo de reagir... Ou de sentir qualquer constrangimento...
Será que se eu tivesse tido a chance, eu iria ter me sentido constrangido? Não tenho certeza se até à isso eu ainda tinha direito naquele lugar...

Porém até então, quase como seguindo ao único instinto de sobrevivência que me restara, eu me atentei ao desejo da minha mãe de sempre esconder minha real identidade das outras pessoas... fosse das mulheres que dividiam aquela sina comigo, ou os saqueadores que não se importavam muito em "checar" a mercadoria "fresca demais" até o momento certo. Não sei como eu realmente havia conseguido aquele feito até então, e acredito que houvessem escravas que já haviam descoberto -mas que evitavam falar qualquer coisa sobre aquilo comigo, por receio de que nossos algozes pudessem me eliminar sem pensar duas vezes.
Só que finalmente quando chegou aquele momento, eu enfim consegui conhecê-la pessoalmente... a humilhação.
Quando você entende o que é a humilhação desde pequeno, você começa a perder um pouco a noção do que é o orgulho... e começa a perder sua própria definição de estima... naquele momento em diante, eu não conseguia mais chorar, eu não pude mais sentir vergonha... eu só pude olhar para o chão com meus braços machucados caídos em desistência, sabendo que não havia nada que podia ser feito para mudar aquele momento, ou o destino que me aguardava... fosse aquele destino, ser violentado... ou ser morto e jogado fora como um lixo merecido apenas aos abutres.
...Só que inesperadamente ele -meu destino- mudou. Porque como eu disse, a vida adora me tratar assim.

"V-você é um menino!?"
Aquela voz, grossa como um rompante de um trovão ecoou naquele pequeno quarto. Baixo o suficiente para não alcançar o quarto do lado, mas tenebroso o suficiente para me fazer tremer em um pulo, e fechar meus olhos, pensando que qualquer coisa poderia acontecer naquele momento.
"... Um menino... hump, não dá para fazer muito com você. Mas até que tem um bom rosto."
Ele disse aquilo, segurando meu rosto que estava coberto pelos meus claros fios de cabelo compridos, e movendo-o para os lados, me observando e me analisando enquanto ignorava todo o resto do meu corpo exposto -quase como se aquilo fosse apenas um detalhe que desse para se passar por cima.
Sendo assim ele então finalmente pegou os trapos que a pouco cobriram meu corpo, e me jogou-os, me mandando vesti-los novamente e desistindo de tratar meu corpo como qualquer outra mercadoria que era experimentada regularmente dentre aqueles saqueadores todos.

Naquele dia eu fiquei isolado das outras mulheres por uma noite inteira, naquele quarto frio, ouvindo constantemente a voz de alguns dos saqueadores debatendo o que fariam sobre mim...
Ao que logo após aquilo, meu cabelo foi cortado por um deles na altura de meus ombros para me identificarem entre as outras crianças sem precisarem usar muito as palavras "garoto", "menino" ou "homem"... eu não era mais do que um camelo que precisava ser marcado, mas que não podia ter seu corpo danificado para não desvalorizar na hora de ser vendido...
Eu era ainda um escravo, ainda era tratado como uma menina durante o dia a dia porque todos estavam acostumados a isso, mas dessa vez, eu era mais como uma mercadoria defeituosa que tinha que ser separada das outras para que não surgissem sem querer compradores revoltados querendo seu dinheiro de volta, ao notarem que eu não era exatamente aquilo pelo qual eles haviam pago...
E com isso os saqueadores me mantiveram preservado com eles até minha idade realçar o melhor da minha aparência (para a minha sorte), e eu finalmente me tornar atraente e exótico o suficiente para chamar a atenção dos compradores com gostos esquisitos que poderiam querer pagar um extra por mim.

Sendo que um pouco antes do provável fim daquele grupo de saqueadores, eu acabei chegando a ser vendido para uma pessoa, uma mulher dona de grandes posses e atividades "suspeitas". Mas ela não era uma pessoa ruim, e nem me tratava mal... Na verdade ela foi a primeira pessoa boa que eu conheci na minha vida, e facilmente me cedeu a liberdade quando eu alcancei meus 16 anos e encontrei um rumo que desejei seguir por conta própria. Ela parecia ser o tipo de pessoa que podia ter tudo o que queria, e era uma mulher muito poderosa com hábitos intimidadores que certamente mantinha muita gente afastada por medo... Mas ela dizia sempre que eu era "algo diferente, algo que estava além do alcance dela", e como em um gesto do amor puro que ela dizia conseguir sentir por mim, ela então me cedeu essa liberdade com um sorriso no rosto, e um olhar confiante. Uma liberdade com a qual no fundo eu nunca soube exatamente o que fazer, mas que sabia que tinha que estimar... em honra a tantas pessoas que eu conheci e que sabia que jamais iriam vir a experimentá-la também... Esse foi o "final feliz" que eu consegui encontrar para mim mesmo, tanto tempo depois de ter sonhado com ele.
E foi dali em diante que resolvi enterrar todas as minhas memórias ruins embaixo das muitas dunas pelas quais passei até me afastar dos desertos profundos, chegando no lugar em que eu iria morar a partir de então, bem longe de tudo aquilo que vivenciei e que prometi para mim mesmo deixar para lá.

Eu estava livre agora para viver da forma que eu escolhesse, sem nunca mais deixar que outra pessoa me prendesse ou tentasse novamente controlar meu destino. Mesmo que para isso eu tivesse que recusar todos os laços que tentassem ser criados comigo, me afastando para sempre do alcance desse poder e domínio que as pessoas conseguem ter umas sobre as outras...
Essa foi a minha forma torta de lidar com a liberdade, e que aos poucos se tornou apenas a minha natureza, e não um medo pessoal realmente...
"Talvez sem novos laços, eu consiga com o tempo me desprender também de todas as questões que eu ainda não sei resolver... as respostas que eu não sei como encontrar... e a tristeza pelas lembranças que me trazem uma saudade sem solução... Eu só quero aprender a esquecer o que não precisa mais ser lembrado... essas coisas dentro de mim que ainda me controlam."
E com todos esses pensamento me afastando de novos problemas, eu me criei desde então por conta própria... até agora. Até meus 21 anos.


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