Deirdre, a Descendente escrita por Laurus Nobilis


Capítulo 5
IV - O Movimento dos Astros




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  A filha de Nimuë precisava reconhecer: caso se aventurasse sozinha a encontrar o caminho até o pátio, teria se perdido em um instante e passado o dia inteiro vagando pelos frios corredores daquele castelo. O lugar poderia ser descrito como um labirinto sombrio preenchido apenas por decorações extravagantes (os rostos pálidos e constipados dos nobres observavam as duas jovens cheios de desprezo nos inúmeros retratos) e grandes portas de madeira firmemente trancadas que não ofeceriam o menor vislumbre de seu interior.

  Ocasionalmente topavam com alguma pessoa tão bem-vestida quanto mal-encarada, e Deirdre ficava tentada a olhá-la, captando cada detalhe, mas Evelyn não tardou a adverti-la sobre isso:

  – Pelos portões do Reino dos Céus, novata... Não fique erguendo o olhar! Somos invisíveis, e você logo vai perceber que é melhor assim.

  Deirdre assentiu com um sorrisinho. Ninguém sabia que ela era recém-chegada não apenas na criadagem, mas naquele mundo e as coisas mais banais a fascinavam profundamente.

  Enfim alcançaram uma cancela gradeada que rangiu alto enquanto Evelyn a empurrava.

  – Este é o pátio central. É onde as damas da corte vêm tomar sol todos os dias, pontualmente às dez da manhã.

  Deirdre inspirou com prazer a brisa fresca e perfumada que vinha do espaço aberto. De fato parecia um lugar muito agradável. Então ela deu o primeiro passo para dentro...

   – E este... – continuou Evelyn, com um sorriso bem largo e gaiato. – ... é o seu desafio. Este recanto é muito bonitinho, realmente, mas os idealizadores cometeram um grande erro: plantaram vários álamos para circundá-lo. E essas são árvores que soltam muitas folhas. Não apenas no outono.

  Sim, a garota já havia percebido: aquelas folhas em forma de figo e amareladas chegavam a cobrir a base de seu vestido. Ela soltou um longo, profundo e pesaroso suspiro antes de erguer a vassoura e começar a juntar.

***

  Irwing não queria ir para uma enfermaria. Ele não se importava, de verdade, em continuar com o nariz quebrado, doendo e sangrando borbotões. Mas aquela bela donzela pedira de um jeito tão preocupado que o deixaria com um grande peso na consciência se ele não fosse, então ele reuniu alguma coragem e foi.

  Certo, ele sabia que ainda iria se ferir muito nesta vida caso conseguisse se tornar um cavaleiro, entretanto, os urros de dor e sons de torção vindos da enfermaria o assustavam bem mais que qualquer duelo de matar ou morrer.

  Ah, e ele ainda se lembrava da última vez: tinha oito anos de idade e havia batido de cara em uma árvore enquanto fugia de um pato enfurecido. Nunca esqueceria a sensação dos dedos imundos da enfermeira desentortando seu nariz sem um pingo de delicadeza e fixando um suporte de madeira em cima para que este recuperasse o formato original mais rápido. Com certeza existiam torturas menos dolorosas que aquilo.

  Ao menos funcionara e quem olhasse seu elegante nariz jamais diria que ele já havia sido esmigalhado uma vez. É claro que quando contou a Deirdre que “não era como se fosse a primeira vez que quebravam seu nariz”, esperava que ela imaginasse algo completamente diferente. Ela era muito bonita mesmo, com aqueles olhos escuros e ar confuso. Pensaria nela para aliviar o sofrimento.

  Irwing amarrou Farewell (este era o nome do cão de rua que um dia decidiu segui-lo por todo canto e tornou-se seu) perto da entrada da cabaninha decadente para que não incomodasse ninguém, respirou tão fundo quanto conseguia com um lenço apertado no rosto e entrou.

  Havia uma fila um tanto longa lá dentro e ele se pôs a esperar. Seus olhos foram direto para a pessoa que estava sendo atendida naquele momento – uma mesa carcomida servia de maca – e ele logo se arrependeu. A enfermeira aplicava bálsamo nas feridas de uma criança cujo rosto estava irreconhecível de tão inchado e avermelhado – parecia que ela havia tentado abraçar uma colmeia.

  O próximo da fila era um homem de semblante acinzentado que não estava em condições nem um pouco melhores: sua mão, precariamente enfaixada, gotejava sangue e a impressão que transmitia era a de que um de seus dedos havia sido decepado. Irwing logo percebeu que encarar os demais pacientes não seria de muita ajuda para aliviar seu medinho ridículo e passou a olhar pela janela, concentrando-se no dia brilhante lá fora e no piar tranquilo dos passarinhos.

  Foi então que seu cachorro começou a latir insistentemente. Farewell era um animal de inteligência admirável – ele jamais latia, a não ser para avisar quando algo urgente estava acontecendo, portanto Irwing não hesitou em colocar a cabeça para fora da porta e ver o que era. O rapaz estremeceu. Era... seu tutor, Sir Desmond.

  O prestigiado Sir Desmond era um homem cujo rosto se assemelhava à uma máscara devido à sua permanente expressão aborrecida. Seus cabelos e barba acobreados eram pontilhados por fios brancos, embora ele fosse um pouco jovem demais para isso. Tinha quase dois metros de altura e caminhava com força na direção do trêmulo Irwing, como se esmagasse algo a cada passo. Sua camisa branca estava respingada de vermelho – provavelmente o sangue dos animais que ele havia caçado há pouco.

   – Vejam só, se não é meu infiel escudeiro... – resmungava ele ao se aproximar. Seu hálito não era dos mais agradáveis. – O que fez o dia inteiro, longe da minha vista? E o que está fazendo agora, na enfermaria?

   – B-bem... Como indica este lenço manchado de sangue e minha voz anasalada, senhor, eu quebrei meu nariz. Não esperava vê-lo antes do crepúsculo.

   – Hoje foi um dia produtivo. – anunciou o cavaleiro com algo próximo a um sorriso em seus lábios finos. – Cacei tudo o que podia carregar por volta do meio-dia e então decidi voltar. Enquanto isso, meu escudeiro se metia em confusão, é claro. Como você conseguiu quebrar esse nariz?

   – É uma história meio longa... Encontrei uma garota desorientada e...

   – Uma garota?! – interrompeu o homenzarrão. – Ah, típico. Isso já explica tudo.

   Se havia algo de que Irwing não gostava, era manter a cabeça baixa enquanto o ofendiam gratuitamente, mas ele já se habituara a fazer isso ao longo de anos de prática. Ele dependia daquele homem arrogante por diversos motivos.

  Sua história era um tanto extraordinária: rapazes oriundos de famílias humildes e sem títulos como ele geralmente não possuíam chance alguma de se tornarem cavaleiros. Mas Sir Demond estava cumprindo uma dívida antiga e poderosa com o pai de Irwing – a quem o garoto jamais havia conhecido, ou caso conhecera, não se lembrava. Sua mãe gostava de dizer que o marido havia desaparecido misteriosamente, embora não fosse difícil supor que na verdade ele havia abandonado a família. Enfim, ninguém nunca explicara ao jovem qual dívida era essa. Tudo o que ele sabia é que graças a isso estava recebendo um penoso – e gratificante – treinamento de cavaleiro dos onze até os dezenove anos. Ou seja, mais dois anos e a rainha (talvez) estaria condecorando-o com uma espada. Devanear sobre isso o fazia sorrir, e seu tutor logo percebeu.

   – Agora você está sorrindo feito um boçal por causa da mesma garota. Cavaleiros precisam de foco e disciplina, recorda? – ralhou Sir Desmond enquanto ia empurrando Irwing até a saída, com a mão enorme e peluda em suas costas. – Homens valorosos não correm para a enfermaria por causa de algo tão banal quanto um nariz quebrado. Apenas limpe esse sangue do rosto e volte ao trabalho. Sua folga acabou. Caso tivesse algum resto de senso nessa cabeça oca, isso nunca teria acontecido.

  Irwing revirou os olhos em silêncio – esse era o maior ato de rebeldia ao qual se permitia na presença de seu tutor. O rapaz não sabia se deveria se sentir irritado ou grato por ter sido poupado do tratamento excruciante no nariz. A enfermeira estava prestes a enxotá-los dali de qualquer forma por ficarem conversando alto em um lugar cheio de pessoas à beira da morte.

***

  Cerca de uma hora depois, ainda no pátio central, Deirdre cumpria sua tarefa com menos dificuldade do que o esperado. Seus músculos ardiam de uma forma como jamais havia sentido antes e suas pernas estavam ficando bambas, mas em geral ela estava conseguindo. O jeito como Evelyn puxava assunto animadamente durante as breves pausas para recuperar o fôlego também contribuía para tornar o trabalho um pouco mais agradável. Porém, Deirdre não era muito boa em inventar respostas em cima da hora, de modo que as conversas terminavam soando um pouco esquisitas:

   – De onde você vem, afinal? – questionara Evelyn inicialmente, largando o arado por um momento para flexionar os dedos dormentes.

   – De... uma ilha.

   – Certo. Qual ilha?

  – Eu... – balbuciou a garota após um segundo de puro desespero reprimido. Ela já dissera onde morava uma vez, inocentemente, diante do rei, e o resultado havia sido um tanto catastrófico. – Não consigo pronunciar direito. É um nome complicadíssimo. Trava a língua.

   – Bem, combina com você. Seu sotaque também é meio diferente. – comentou Evelyn em resposta, sem demonstrar ter estranhado qualquer coisa.

  As duas continuaram recolhendo folhinhas furtivas em silêncio por alguns minutos. Até que Deirdre teve um súbito acesso de coragem. Precisava muito saber de algo, e talvez a tagarela Evelyn fosse a única pessoa que lhe revelaria facilmente, sem olhá-la torto.

   – Evelyn... Você por acaso já ouviu falar de um tal reino de Camelot?

   – Camelot? Camelot... Não me soa estranho... Ah, sim! Era onde se passava aquele conto de fadas.

  Deirdre congelou onde estava e encarou a colega com uma perplexidade que esperava não ser muito aparente.

   – Eu era bem pequena quando ouvi... – continuou a outra com um ar sonhador. – Uma senhorinha esquisita me contou essa história uma vez na feira, enquanto eu fazia as compras diárias com Rosie. Sinto que era fascinante, embora não lembre de muitos detalhes. Se não me engano, havia um rei... cavaleiros... e espadas. Meio vago, certo?

  Deirdre concordou, um tanto desanimada. Naquele lugar também havia um rei, cavaleiros e espadas.

   – Mas de onde você tirou... – Para o profundo alívio de Deirdre, Evelyn interrompeu a própria fala naquele instante, como se lembrasse de algo mais importante. – Ah! Você ainda não me contou como veio parar aqui no castelo e, principalmente, como se tornou uma criada de roupas finas.

  Deirdre desviou rapidamente o olhar para o céu coberto de nuvens fofas.

   – Bem... Eu me perdi de minha família em uma viagem. Estava completamente desnorteada. Irwing me encontrou e foi muito prestativo.

  Então ela começou a narrar cada detalhe de sua desventurada história. Quando chegou na parte em que o rei ameaçara mandá-la para o manicômio ou o bordel, viu a expressão sempre alegre de Evelyn desmanchar-se em horror e nojo. Deirdre ainda não sabia o que era um bordel... Mas sem dúvida era algum lugar ruim.

  Não bastasse ficar horrorizada, Evelyn ainda teve um pequeno acesso de raiva e atirou o arado longe, que derrapou ruidosamente pelo chão de pedra.

   – Aquele homem... Mesmo com a rainha Hilda grávida e debilitada... Mesmo com um reino inteiro para governar... – murmurava ela em uma fala embaralhada, os punhos firmemente cerrados.

   – O-o que tem ele?

   – Ai, Deirdre... Nunca aconteceu nada comigo, mas ainda assim eu ouço cada coisa das outras criadas...

   – D-d-desculpe, mas acho que não quero saber.

   – Imaginei que não. – retrucou Evelyn em tom mais suave, encarando a novata com uma expressão indecifrável.  – Apenas tome cuidado. Sua vida devia ser muito diferente no lugar de onde veio. E eu não deveria estar falando dessas coisas.

  A garota olhou com nervosismo na direção da porta do pátio, demorando um pouco para constatar que não havia sinal de guardas. Ela cruzou os braços em torno do corpo, os olhos distantes por um momento. Deirdre estava bastante assustada agora e decidiu terminar o que restava da tarefa tão rápido quanto podia, sem dizer mais nada.

  Em seguida, elas voltaram para o espaço no subsolo, cambaleantes de tanto cansaço. Chegando ao ambiente lúgubre e abafado onde as criadas se reuniam, cada uma recebeu duas fatias de pão duro, um naco de queijo e uma maçã murcha. Deirdre devorou sua porção como se fosse o mais refinado banquete. Mal conseguiu passar algum tempo sentada, descansando, antes que Rosemary surgisse e lhe dissesse que já havia outra tarefa reservada para ela.

  Desta vez não parecia tão ruim: ela teria a chance de entrar nos aposentos magníficos de uma das damas de companhia da rainha, com a missão de espanar qualquer sinal de poeira que encontrasse. Mas assim que pôs seus tímidos pés naquele quarto adornado por cores claras e banhado pela luz do sol, com uma grande cama de dossel encostada em uma das paredes cobertas por tapeçarias, um colossal armário esculpido em madeira nobre, uma escrivaninha importada e uma penteadeira folheada a ouro e coberta das mais finas joias, percebeu que ali havia mais um problema: precisava limpar todas aquelas quinquilharias sem causar o menor dano. Se a dama que dormia naquele local reclamasse de qualquer coisa, seria seu fim. E ela era apenas uma novata! Por que lançavam-lhe todos esses desafios? Seria algum teste? Naquele momento, esvaziar urinóis talvez fosse algo mais simples e preferível.

  É claro que quando Deirdre finalmente terminou de passar um lenço pela última estatueta de porcelana, já estava anoitecendo.  Ela retornou, derrotada, ao subsolo – e pelo menos, logo se deparou com o jantar sendo servido. Surpreendeu-se um pouco ao ver aquele enorme caldeirão fumegante, repleto de... sopa de batata.

  Minha tia Morgana possui um caldeirão parecido. Mas ela costuma fazer outras coisas nele, pensou a garota, um pouco saudosa, enquanto preenchia uma tigela com uma boa concha daquela sopa e sentava-se em um espacinho espremido no chão para comer – eram muitas criadas de várias áreas reunidas ali somente para se servirem da mesma refeição. Em meio às demais, Deirdre já se sentia indistinguível. Talvez isso fosse algo bom.

  Então vestiu uma camisola comprida e esfarrapada que recebera junto com seu uniforme e praticamente rastejou até uma das camas de palha, adormecendo sem nem perceber. Mas parecia que seu sono não era tão pesado assim, pois em algum ponto ela despertou ouvindo um relinchar de cavalo ao longe. Quando abriu os olhos em meio ao breu, o som já havia desaparecido. Havia apenas o previsível coro de roncos, fungadas e tosses das dezenas de mulheres que dormiam amontoadas ali. Ela logo se convenceu de que andara sonhando – com sua égua Daphne, provavelmente. Tomara que estivesse bem longe da dona.

  Deirdre virou-se para o outro lado, pronta para cair no sono novamente – então ouviu o mesmo som de antes. Só que mais alto. Aquilo tinha de ser real. E como se soubesse que alguém estava ouvindo, ficava cada vez mais insistente. Ela levantou num pulo, lançou sua boa e velha capa por cima da camisola, cobriu a cabeça com o capuz, acendeu a primeira vela que encontrou tateando e seguiu destemida escadaria acima. Sua determinação era tanta, que era como se ela ainda pensasse que estava em um sonho e acreditasse que nada poderia feri-la.

  Por incrível que pareça, a jovem sacerdotisa não encontrou dificuldade alguma em se guiar pelos corredores labirínticos até a saída. E mais estranhamente ainda, deparou-se com o portão principal aberto e a ponte levadiça abaixada em plena noite, como se convidando-a a seguir em frente. O dia começava a amanhecer, lançando suas primeiras manchas de claridade sobre a profunda escuridão noturna. E aquele equino misterioso ainda relinchava com urgência em algum lugar próximo. Deirdre seguiu o som... que agora reconhecia perfeitamente. Aquela era sua Daphne, sem dúvida.

  A égua calou-se somente quando avistou sua dona. Deirdre correu na direção dela, os olhos embaçados pelas lágrimas. De tudo o que havia experienciado até agora, aquela era a única coisa que realmente lhe parecia impossível; inimaginável. Mas era verdade: Daphne estava ali, perfeitamente sólida, e sua primeira ação foi afundar o focinho no pescoço da menina, pedindo carinho e derrubando seu capuz no processo.

  Deirdre ria e chorava ao mesmo tempo. Assim que a emoção abrandou um pouco, ela segurou gentilmente a cabeça da égua e olhou fundo em seus olhos.

   – Como você veio parar aqui? – sussurrou.

  Logicamente, Daphne não respondeu. Mas o animal estava muito sereno, não tinha ar de quem acabara de ser transportado por meio de magia.

  Talvez a voz em minha cabeça possa explicar, pensou Deirdre, como se isso fosse algo muito plausível.

   – Eu fico realmente muito, muito, muito feliz que você esteja aqui, Daphne. – A garota enxugou os olhos e olhou para trás; o castelo parecia uma uma grande silhueta escura na penumbra. – Mas agora preciso encontrar algum lugar onde escondê-la... E isso vai ser um pouco complicado.

***

  Nimuë havia finalmente conseguido pegar no sono após uma longa noite em claro – e apagou. Uma volta do relógio de sol depois, ela despertou, e por um segundo não se lembrava de nada. Mas logo aquele pânico constante retornou. A verdade era que ela já não estava tão preocupada com o paradeiro da filha – sentia no fundo de seu experiente coração que Deirdre estaria em segurança onde quer que fosse – e sim com o que poderia estar por trás daquilo.

  Merlin, o mago. Nimuë não pensava nele há anos (talvez o mito que contava a Deirdre desde sua mais tenra infância a houvesse convencido e ela também acreditasse que a menina não tinha pai), mas agora era como se um espírito agourento insistisse em sibilar aquele maldito nome em seus ouvidos.

  No momento, ela estava sentindo falta de algo. Como se alguma coisa que sempre costumava estar ali de repente não estivesse mais. Não demorou a perceber o que era: todos os dias, àquela hora, Daphne começava a relinchar alto pedindo comida.

   – Não... Não... Não... Não. – Era o que a Dama do Lago murmurava enquanto disparava na direção do pequeno estábulo.

  Não se surpreendeu ao escancarar a porta e se deparar com o mais silencioso vazio. A adorada égua de sua filha havia desaparecido sem deixar rastros, assim como ela. E provavelmente estavam no mesmo lugar, agora.

  Nimuë tremia da cabeça aos pés. Mal sabia o que estava fazendo enquanto deixava o estábulo e olhava para o mar lá fora, sempre sereno e indiferente.

   – Merlin! – gritou com toda a força de seus pulmões. – Eu juro, Merlin, desta vez não irei apenas pô-lo para dormir. Desta vez eu irei realmente matá-lo.

  Passou algum tempo parada ali, ainda trêmula e ofegante, sentindo uma raiva avassaladora que não combinava nem um pouco com sua antiga postura metódica e controlada, até que ouviu uma risadinha divertida. Era Morgana, é claro, sentada confortavelmente sob a sombra de uma árvore próxima e devorando algumas amoras que havia acabado de colher. Às vezes, ela parecia ser onipresente.

   – Não se exauste tentando alterar o movimento dos astros, irmã! – exclamou ela de volta. – Tudo o que nos resta é sentar e esperar... De preferência comendo algo gostoso.

  Nimuë grunhiu furiosa e voltou rapidamente para dentro de casa. Não fazer nada e relaxar estava muito além de sua capacidade. Ela iria continuar sua busca até então infrutífera por respostas em seu velho livro de feitiços. Na verdade, ainda não entendia a maior parte do que estava acontecendo. Isso tudo apenas cheirava a Merlin.


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