[...]

POV Bella

Eu não estava conseguindo dormir, talvez pelo calor insuportável que fazia ou pelo ronco de Sam. Sinceramente não consigo dizer qual é pior. Era madrugada ainda quando saí do quarto devagar para não acordar os rapazes e fui lá para fora. Sentei-me no degrau e fiquei observando o movimento lá na estrada.

- Sem sono?

Quase morri engasgada – com cuspe mesmo – quando fui surpreendida por uma voz masculina atrás de mim. Felizmente, eu reconheci o dono daquele timbre antes mesmo de virar para ver quem era.

- Mais ou menos... Só estou com muito calor.
- E Sam ronca demais.

Dean sentou ao meu lado e nós rimos juntos. Foi bem rápido e logo em seguida caímos naquele silêncio que geralmente acaba sendo desconfortável, quando os dois ficam sem ter o que falar.

- Eu fiquei com medo que Sam fosse mesmo embora. Mesmo estando pouco tempo com vocês, já não consigo mais imaginar um sem o outro.

Falei para ele, que balançou a cabeça mas continuou calado. Os dois irmãos tinham tido uma briga feia dias atrás, quando Sam começou a dizer que queria voltar para a faculdade.

Dean e Sam tinham discutido sobre o assunto da faculdade, já que para voltar de vez, Sam teria que parar com as viagens e caçadas. Por um lado seria interessante, pois eu ficaria sozinha com Dean, mas por outro, seria triste. Eles dois separados não eram os mesmos caras. 

- Bem, Sam é livre para fazer o que quiser. Eu não vou mais impedi-lo de nada, Bella.
- Eu sei, mas pelo visto ele já desistiu dessa idéia, certo? Quero dizer, vocês voltaram ao normal já...

Dean sorriu, mas não era exatamente aquele sorriso contagiante e palhaço dele. Era um sorriso como “estou conformado com a situação”. Suspirei e senti tanta vontade de agarrá-lo ali, que precisei segurar com uma das mãos no corrimão da escada. Ele me olhou, calado e eu fiquei tensa.

- Sobre aquele dia...

Oh não! Ele vai mesmo tocar no assunto?

- O que tem... Aquele dia?

Perguntei, temendo o que ele tinha para dizer e então nós fomos interrompidos por gritos que vinham de dentro do nosso quarto. Eu e Dean nos olhamos assustados.

- Sam!

Saímos correndo e ele quase arrombou a porta ao entrarmos. Sam estava deitado ainda, de olhos fechados, parecendo estar tendo algum tipo de pesadelo.

- Sam! Acorda!

Dean o sacudiu apesar de eu não saber se aquilo era muito certo. Sam uma vez me contou que tinha tido um tipo de pesadelo com a casa onde eles tinham nascido e quando foram verificar, ele estava certo sobre a visão. E essa podia ser uma delas, né? Ele finalmente abriu os olhos e sentou assustado na cama, esfregando a testa.

- Oh Dean. Precisamos ir agora.
- Ir? Para onde?
- Michigan!

O louco levantou e começou a arrumar nossas coisas enquanto eu e Dean ficamos olhando sem entender.

- Sam, será que antes você pode me contar o que houve?
- Nos contar! Eu também estou aqui, rapazes!
- Eu tive uma visão, ok? E o cara vai morrer se nós não formos logo.

Dean sentou na cama, não muito feliz com a atitude de Sam. Homens também são sempre muito irritados para meu gosto. Achei melhor tomar o controle da situação.

- Sam, como você sabe que esse cara aí está em Michigan?
- Porque eu vi a placa do carro dele no meu sonho. Visão. Dean, ele morre dentro do carro, na garagem da própria casa, ok? E acredite, não foi sem querer, muito menos suicídio.
- E qual o nome dele?
- Isso eu vou descobrir assim que pedir umas informações sobre a placa.

POV Dean

Impressão minha ou estava sendo completamente ignorado ali pelo meu irmão e pela Bella? Os dois pareciam estar resolvendo a situação perfeitamente sem pedir minha opinião, né?

- Deixa eu só perguntar uma coisa para os pombinhos: como pretendem chegar até Michigan?
- De carro!
- Qual carro? 

Acho que Sammy entendeu, pois me olhou um pouco emburradinho e suspirou.

- Dean, daria para acreditar em mim dessa vez?
- Como se eu não fizesse isso sempre, né?
- Ok rapazes! Daria para vocês não brigarem dessa vez? Eu já não estava mais agüentando ficar sem nada para fazer mesmo... Um fantasminha para caçar viria a calhar.

Uau! Era por isso que eu tinha dado uns pegas nela quando achei que fosse morrer. Essa garota era minha alma-gêmea.

POV Bella

Não que eu não estivesse me cagando de medo. Eu sempre ficava assim, mas me cagar de medo viajando era melhor do que ficar nesse quarto de hotel, contando quantas baratas havia na recepção.

E lá fomos nós! Pelos cálculos de Dean, iríamos demorar 2 ou 3 horas para chegarmos na cidade onde Jim Miller morava. Uma das coisas que eu mais gostava nessas andanças pelas estradas era poder relaxar no banco de trás do Impala e dormir até chegarmos ao nosso destino. Foi exatamente isso que fiz, enquanto os dois conversavam sobre o futuro defunto lá na frente.

Eu não precisei que nenhum dos dois me acordasse, pois as próprias luzes da polícia fizeram isso. Quando sentei no banco e olhei pela janela, nós estávamos parados em frente a uma casa, onde carros da polícia estavam parados também.

- Já chegamos?
- Sim, só que tarde demais.

Sam respondeu e eu senti a amargura em sua voz. Fiquei com pena dele, porque realmente ele tentou de tudo para chegar a tempo. Os rapazes saíram do carro e eu os acompanhei, juntando-nos à multidão que observava curiosa o trabalho da polícia.

- O que houve?

Não me controlei e perguntei a uma velha do meu lado, que balançava a cabeça.

- Suicídio. O doido se trancou na garagem e ligou o motor do carro, acredita?
- Acredito.

Respondi olhando para Sam e Dean, que estavam calados, atentos ao que acontecia em volta de nós. Sam estava meio que revoltado, com os olhos marejados e quando ele saiu de perto de nós, afastando-se da multidão, eu fui atrás.

- Sam, você fez o que pode!

Ele encostou-se no Impala, de cabeça baixa e inconformado. Dean chegou em seguida e ver os dois daquele jeito, tão sem reação, me doía o coração. Já que nenhum dos dois iniciava um assunto, eu resolvi tomar a frente do negócio, né? Enfiei-me com jeitinho no meio deles e limpei a garganta.

- Então... o que faremos agora?

Silêncio como resposta. Legal, fiquei no vácuo!

- Primeiro temos que saber o que aconteceu, se foi mesmo suicídio ou...
- Não foi suicídio, Dean! Eu sei o que vi.

Antes que os dois começassem a discutir, eu bati de leve no ombro de Sam e sorri para ele, tentando acalmar o garotão.

- Nós iremos descobrir, Sam.
- A família não vai querer falar com a gente, Bella. Não por enquanto. Eles não parecem muito bem.

Eu olhei para a casa, onde a provável esposa do defunto e o provável filho estavam. Pela aparência deles, pareciam estar muito mal mesmo, mas bem... Eu era eu!

- Eu sei um jeito para que fale conosco.
- Você já se incluiu nessa, certo?
- Lógico! Amanhã de manhã a gente volta e coloca meu plano em ação!

Consegui – mesmo sem saber como – convencê-los e então fomos procurar por um hotel para passar a noite.

[...]

POV Sam

Ela só podia estar brincando com a nossa cara. Eu e Dean nos olhávamos no espelho, avaliando a situação embaraçosa na qual Bella tinha nos metido.

- Uau! Vocês estão fantásticos, rapazes! 

POV Dean

No início eu até achei estranho, mas pensando bem... Poderia acabar tirando proveito da situação. Já tinha ouvido falar que fantasias sexuais com padres estavam altamente na moda. Talvez eu encontrasse por aí alguma beata precisando se confessar...

POV Bella

OMG. Não sabia que eles ficariam tão gostosos vestidos de padre! Que pecado!

- Tem certeza? Estamos mesmo?

Dean perguntou, apesar de eu achar que ele já sabia como estava. Se existia uma pessoa convencida no mundo, essa pessoa se chamava Dean Winchester. Disfarcei a baba que estava prestes a escorrer pelo canto da minha boca e sorri.

- Vocês estão ótimos! Padre Simmons e Padre Frehly! Quando podem arranjar um horário para eu me confessar?

Ok, talvez eu devesse ter apenas respondido a pergunta deles. Aquilo foi estranho, visto que Dean e Sam gargalharam e me olharam meio esquisitos. OMG, pensamentos muito impuros não paravam de martelar em minha cabeça. 

- Vocês... hum... Ficam bem vestidos de preto.

E era melhor encerrar o assunto de vez. Virei-me de costas e fui esperar por eles no carro. Fomos bater na porta da casa do falecido, aproveitando que estava tendo o funeral por lá e nada mais apropriado do que a visita de padres novos na cidade, certo? Fomos recebidos pelo irmão da vítima e os rapazes me apresentaram como sua prima. A esposa de Jim – o falecido – veio logo nos atender e sentou-se conosco na sala de estar.

- Hoje é um dia difícil, estamos todos chocados ainda com o que aconteceu.
- Claro, nós entendemos perfeitamente.

Sam foi educado enquanto a mulher servia petiscos para nós. Eu vi o olhar esfomeado que Dean lançou para o prato a nossa frente e segurei o riso.

- É bom ter a presença de padres tão jovens aqui hoje. 
- O que não fazemos por Deus, não é mesmo?

Ela sorriu para Dean e nos pediu licença para atender outras pessoas que chegavam. O esfomeado – porém gostoso – avançou nos salgadinhos, colocando dois de uma vez só na boca.

- Dean, será que dá para ser mais delicado?
- Qual é! Eu estou sendo um ótimo padre! Não estou, Bella?
- Oh sim, com certeza.

Quem era eu para discordar? Por mim ele podia me mandar ajoelhar no milho, rezar 50 vezes o pai-nosso, fazer qualquer coisa, pagar qualquer penitência. Sam revirou os olhos e sorriu carinhosamente quando a viúva voltou. Ele estava encarnando mesmo a história de padre.

- Desculpe perguntar, Sra. Miller, mas poderia nos dizer quem foi que achou o seu marido?
- Foi nosso filho Max. Ele está um pouco traumatizado...

POV Dean

Está mesmo é? A viúva gatinha apontou para um canto da casa onde havia um garoto meio estranho, sentado quieto e quase que de cara para a parede. Ele estava traumatizado ou ele era bizarro mesmo?

- A senhora se incomoda de eu ir falar com ele?

Oh cara. Sam falava de um jeito que estava me dando náuseas. Para que ele precisava entrar tanto assim no personagem?

POV Bella

Enquanto Sam parecia super concentrado em sua conversa com Max, Dean e eu nos olhávamos sem saber o que fazer, pois a viúva só chorava. 

- Por acaso a casa da senhora não tem coisas estranhas acontecendo, tem?
- Coisas estranhas? Como assim?
- Você sabe... Essas coisas normais de casas muito antigas. Barulhos estranhos, vazamentos...

Eu não entendi aonde Dean estava querendo chegar e provavelmente a viúva também não, pois ela deu de ombros e não ligou muito para aquela pergunta. 

- Nunca tivemos problema com a casa. Era tudo perfeito antes disso acontecer.

Ela nos pediu licença para atender outras pessoas que chegavam e Dean segurou meu pulso. 

- Bella, preciso que você distraia um pouco ela para eu dar uma vasculhada pela casa, ok? Pode fazer isso? 
- Claro! Só não vá ficar trancado na garagem ou nada do tipo...

POV Dean

Essa garota era um arraso! Piadista da melhor espécie! Precisei segurar a gargalhada para não chamar a atenção e saí da sala discretamente.

POV Bella

A viúva voltou ao nosso sofá e estranhou eu estar sozinha ali. Dei meu melhor sorriso a ela, que sentou-se ao meu lado.

- Onde o padre foi?
- Ao banheiro. Sabe, padres também possuem determinadas necessidades.
- Oh sim, eu sei.

Ficou um silêncio desconfortável no ar e eu precisei pensar em algum assunto. Sam ainda conversava com o garoto e eu estava sozinha ali. 

- Então, sei como é chato isso tudo...
- Sabe?
- Sim, perdi meus pais também. Foi horrível. Nenhum deles se suicidou, claro, não foi nada tão estranho, mas...

Sam me olhava de braços cruzados, em pé na minha frente. Acho que fiz a viúva chorar ainda mais. Foi sem querer, eu juro. Ele me perguntou apenas com gesto labial onde estava Dean e eu respondi da mesma forma, enquanto a viúva chorava com as mãos tampando o rosto.

POV Sam

Cara, eu precisava achar logo Dean e tirar Bella daquela casa. Eu temia que a Sra. Miller acabasse se suicidando também por influência de Swan. Ela era louca, fato.

[...]

POV Bella
- Ei rapazes, eu ainda não entendo. Não estava fazendo nada demais. Só estava ajudando e distraindo ela como Dean me pediu...
- Bella, distrair não é bem a palavra correta para o que você fazia. Seria mais apropriado usar “apavorando”.
- Ou talvez “torturando”.

Ah olha só que meigo, os dois rindo da minha cara! Nem pareciam que brigavam feito cão e gato, né? Eu era como o elo que fazia esse grupo unido. Enquanto os dois trabalhavam em suas pesquisas, eu me concentrava em ficar olhando para eles, deitada de bruços na cama. Sam era tão engraçado parecendo um nerd na frente do computador!

- Dean, isso tudo é muito estranho. Eu quero dizer, é claro que não foi um suicídio, mas também não temos a mínima idéia do que foi. A casa não tem um histórico ruim, nós não sentimos nenhuma presença sobrenatural por lá, nem cheiro de enxofre, nada.
- Meninos, por que isso não pode ter sido mesmo suicídio? 
- Porque não teria lógica eu estar tendo visões, se fosse apenas suicídio. 

Para mim nada na profissão deles tinha muita lógica, mas fiquei quieta e rolei na cama para ver televisão. 

- Sam? O que foi?

Virei-me novamente para eles e vi que Dean tinha ido para o lado de Sam e este estava curvado na cadeira, de olhos fechados. Ele parecia estar sofrendo de uma grave enxaqueca.

- Sam?
- Oh não... De novo não.

Nós tivemos que sair correndo do hotel quando Sam disse ter tido outra visão, dessa vez com o irmão do defunto. O cara se chamava Roger Miller e iria morrer em seu próprio apartamento, de um jeito tão bizarro quanto o irmão morrera.

- Por que isso está acontecendo comigo? Eu não entendo... Eu nem estava dormindo, agora basta apenas eu estar acordado para essas visões começarem...
- Eu não sei Sam, mas isso é bem estranho.

Sam parecia não estar bem, ele sentia dor ou sofria, não sei ao certo. Senti uma grande vontade de colocá-lo no colo como se fosse um bebê tamanho gigante, mas como ele era maior do que eu, eu apenas fiz cafuné.

POV Sam

Eu... Tinham mãos na minha cabeça. 

- Bella?
- Shhh... Vai passar...

Ela estava mesmo fazendo cafuné em mim? Olhei de relance e a vi abraçada ao meu banco, com as mãos na minha cabeça enquanto olhava para frente. 

POV Dean

O que? Era preciso começar a dar uma de médium para ganhar cafuné? Não que eu quisesse cafuné... Isso era coisa de pessoas delicadas. 

- Será que o casal 20 pode parar um pouquinho para irmos salvar uma vida?