Closure escrita por CalieBlack


Capítulo 2
Parte II


Notas iniciais do capítulo

Espero ter cortado na parte certa hahahaha

Tudo em itálico são as memórias/coisas do passado :D

Boa leitura o/



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Aquele bebê era a consequência prevista do amor que dividiam desde antes da Guerra. Era o caminho natural da vida e foi recebido com toda a felicidade que eles podiam sentir.

Quando contou a Rony que esperava um filho seu, em um café muito simpático no beco diagonal em uma tarde de abril, o namorado abrira o maior sorriso que ela já tinha visto e o olhar mais amoroso e seu corpo todo se aqueceu.

Não tinha sido planejado e pegou a ambos de surpresa, mas o medo da nova responsabilidade não chegava nem perto da alegria de imaginar um menininho ou menininha ruiva correndo pelos jardins da Toca e chamando-os de papai e mamãe.

Rony seria o pai brincalhão e amoroso e encheria a criança de mimo e carinho. Hermione ficaria com o papel de impor limites, mas aquela criança não a amaria menos por isso. Talvez eles brigassem em algum ponto por conta de uma opinião divergente, mas no fim do dia, dormiriam nos braços um do outro com um sorriso nos lábios e a sensação de dever cumprido.

Rony ensinaria a andar de vassoura e jogar quadribol, Hermione passaria o amor por livros e conhecimento.

Todo o futuro parecia traçado e ela não tinha como estar mais feliz.

Rony a chamou para morar com ela aquela tarde, e ele davam um passo adiante no relacionamento. A casa dele era melhor para aquele momento da vida, com seus quartos mais amplos e um jardim simpático.

O anúncio à família Weasley e a Harry foi seguida por festa e grandes felicitações. Molly não continha a empolgação em ter uma criança em casa novamente e todos pareciam ter alguma expectativa para o bebê, que ele se tornaria um jogador de quadribol, que se tornaria professor em Hogwarts, que seguiria os passos dos tios George e Fred e aprontariam de tudo na escola, e isso era tão carinhoso que lhe aquecia o coração.

Os dois meses seguintes passaram como um sonho entre trabalho, compra de móveis, roupinhas de bebês e a reforma do quarto.

Rony era o homem mais orgulhoso do ministério, contando a quem quisesse ouvir que seria pai.

Hermione era mais contida, mas não menos orgulhosa e recebeu o “parabéns” de Malfoy com um sorriso de orelha a orelha. Desde aquela noite em que tinha ido ajudá-lo com Scorpius, eles sempre se cumprimentavam nos corredores do ministério e, algumas vezes, falavam de coisas banais na pausa para o café.

Rony tinha se transferido para um cargo mais calmo dentro do departamento de aurores e passava muito mais tempo em casa, agora que não saía mais em missões e os horários fixos e constantes vieram com alívio.

Eles costumavam passar horas e horas a noite olhando as mãos entrelaçadas na cama e fazendo planos, escolhendo nomes de bebês ou simplesmente aproveitando a companhia um do outro.

A vida estava tão feliz e calma que o futuro parecia inabalável.

Foi com choque e dor, porém, que aquele futuro belo e cor-de-rosa foi tirado deles de maneira cruel.

Aquele dia começou normal como todos os outros e normal continuou até às três horas da tarde. Ela estava em sua pausa do café, em pé na pequena copa do ministério. Malfoy tinha entrado pouco depois dela e eles aproveitavam o silêncio confortável que se instalou depois que as perguntas sobre Scorpius e sua gravidez se esgotaram.

Começou com uma pontada estranha na parte de baixo da barriga que ela ignorou até se alastrar por todo o seu abdômen e fazê-la se curvar de dor.

Draco se abaixou alarmado diante dela, sem saber o que fazer, e ela pediu entre dentes que ele chamasse ajuda.

Draco foi com ela até o St. Mungos e permaneceu com ela até Rony chegar, tarde demais.

***

— Alguma notícia? - Harry perguntou preocupado entrando na casa sem bater, sendo seguido por Gina.

Hermione apenas negou com a cabeça, recostada em Draco que não reclamou da forma abrupta com que eles tinham entrado.

Harry estava de férias e por isso não fazia parte do grupo de busca ou tinha grandes informações, o que era muito inconveniente. Para Hermione, Harry era a pessoa que ela mais podia confiar de que buscaria Scorpius até os confins da terra se fosse necessário.

— Eles não nos deixaram sair daqui para procurá-lo - O tom de voz de Draco era duro e indignado, como vinha sendo desde que os aurores afirmaram que era melhor que eles ficassem em casa para caso ele voltasse para lá - Isso não faz nenhum sentido!

Harry apenas encolheu os ombros, consciente do protocolo. Ele achou melhor não comentar, mas aquela era uma medida de segurança aplicada apenas em casos em que um dos envolvidos tinha sido um comensal da morte ou tivesse participado ativamente ao lado de Voldemort na época da guerra.

O mundo bruxo vivia uma época de grande paz, mas o rancor pelas atrocidades cometidas naquela época ainda pairavam sobre eles. Muitas famílias perderam tudo e havia grande indignação quanto às penas dadas a alguns dos ex-comensais da morte, mesmo a aqueles que tivessem mudado de lado durante a guerra.

Não era mais tão comum, mas antes haviam muitos casos de sequestros ou ataques a familiares de ex-comensais da morte, uma forma de conseguir a justiça que a lei não conseguiu suprir. Foram tempos muito difíceis aqueles, a população estava sempre à beira de uma guerra civil e qualquer posição errada poderia levar ao caos. Foi nessa época que novas precauções foram adquiridas em casos de desaparecimentos ou ataques, tanto como forma de proteção quanto de prevenção. Proteção para o caso de o desaparecimento ter sido uma armadilha montada para encurralar um ex-comensal da morte e prevenção de que um confronto irrompesse do encontro e reanimasse os ânimos frágeis da população, criando lados em uma guerra que não poderia existir.

Ninguém sabia ao certo o quanto Draco tinha participado da guerra além da tentativa de assassinato de Dumbledore. Não haviam relatos de nenhum dos lados e ele certamente nunca comentou quantas vidas tirou desde aquela noite, então era difícil garantir que o desaparecimento de Scorpius tinha sido apenas uma fuga pré-adolescente ou se tinha sido fruto de retaliação de um inimigo que eles desconheciam.

Harry não quis dizer nada daquilo, mas teve a impressão de que Draco já sabia boa parte da motivação dos aurores, o que aparentemente o deixava ainda mais desestabilizado.

— Eles vão encontrar Scorpius - Gina e Harry viram Draco engolir um comentário rude diante da calma que tomou Hermione diante das palavras de Gina.

Seu olhar cruzou com o de Harry e o moreno indicou discretamente que ele o acompanhasse até a cozinha. O loiro aquiesceu e deu um beijo terno no cabelo de Hermione antes de segui-lo.

— Draco, se você está escondendo alguma coisa, você tem que me contar.

Os olhos cinza se tornaram aço e Draco sentiu a irritação tomar conta de cada célula de seu corpo.

— Eu não estou escondendo nada, Potter. - As palavras saíram entredentes e Harry senti um arrepio de dejá vù.

***

Se um dia lhe dissessem que veria Draco Malfoy, o Draco Malfoy, aquele que o perseguiu por anos por nenhum motivo em particular e que andava pelos corredores de Hogwarts como se fosse o dono do lugar, com a arrogância própria a um bruxo puro sangue que cresceu cercado de regalias, ajoelhado diante de si, ele teria dito que a pessoa estava sonhando. Ou que ele estava sonhando.

Mas Draco Malfoy estava de fato ajoelhado diante dele, os cabelos molhados pingando em seu rosto, a camiseta branca encharcada pela última rodada de interrogatório dentro da cela em Azkaban, os braços acorrentados atrás do corpo. E mesmo naquela posição humilhante, podendo arriscar tudo, sua vida, sua liberdade e seus planos, Draco continuava com o olhar arrogante e a postura ereta, não importava o quanto tremesse, de frio ou de medo – não dava para saber – ele conservava força suficiente para manter sua dignidade, e se o ódio que transbordava de seus olhos cor de aço fosse alguma indicação, era desse ódio que ele tirava força para se manter firme.

— Se você está escondendo alguma coisa Malfoy, agora é a hora de dizer. - Harry disse, duro, irritado com a demora de Draco em dar alguma informação. Eram tempos difíceis aqueles, e o veritasserum era guardado para casos mais sérios do que um simples comensal da morte adolescente que teria poucas informações relevantes. Mas Harry sentia que ele tinha alguma coisa guardada com ele, alguma coisa importante.

Draco estava há seis dias naquele lugar, sendo interrogado quase o tempo todo, e ainda não tinha mudado sua postura. Muitos aurores tiveram que ser afastados da tarefa diante da súbita falta de controle que demonstravam por sua recusa em falar, o ódio criando punhos fechados e agressões físicas proibidas a eles.

Draco olhou diretamente em seus olhos e Harry sentiu que ele podia ler sua alma.

— Eu não estou escondendo nada, Potter— Disse entredentes e Harry apenas deu de ombros, fingindo desinteresse.

— Você só está tornando sua vida mais difícil, Malfoy— Carregou o nome do outro com o mesmo desprezo com que ele tinha dito o seu nome - Nós podemos te ajudar, ajudar seus amigos, seu pai, sua mãe - Algo passou como um flash nos olhos de Draco e Harry sentiu que a melhor maneira de quebrá-lo não seria pela dor.

Não havia muito a que Draco Malfoy fosse fiel em sua vida, e Harry duvidava que ele manteria-se forte daquela forma por querer defender Voldemort da Ordem e do Ministério. Havia algo a mais pelo qual ele estava lutando aquela guerra, e não parecia ser tão simples quanto apenas o ódio por nascidos trouxa e mestiços.

— Eu sei que você está mentindo Malfoy - Sua voz foi mais suave dessa vez. - Eu sei que tem alguma coisa te impedindo de falar e eu sei que não é medo de Voldemort ou fidelidade a ele.

Draco deixou a cabeça cair, os cabelos loiros cobrindo seus olhos e não disse nada. Foi o tom de voz gentil que o deixou daquela forma. O tom de voz gentil que lhe davam a sensação de ser embalado, protegido, de que as coisas poderiam dar certo no final.

Ele estava exausto. Exausto de lutar, exausto de mentir, exausto de sentir. Não aguentava mais guardar tudo aquilo para si e se viu contando tudo para Harry Potter, de todas as pessoas do mundo. O menino que ele odiou desde o primeiro ano em Hogwarts e que agora tinha a audácia de se ajoelhar diante dele com aqueles olhos verdes acolhedores e ouvir pacientemente seus lamentos e seus medos.

Aquele foi o último dia que passou em Azkaban, e apesar de toda as dificuldades que se seguiram, Harry Potter manteve sua promessa de que protegeria aqueles que lhe eram importantes, não importando o lado que estivessem.

***

— Draco, isso é mais importante do que orgulho. - Harry suplicava para que ele contasse o que estava escondendo.

— Eu não estou escondendo nada por orgulho! Meu filho foi para Hogwarts há dois dias e fugiu de lá. Tudo o que eu sei é que ele estava com medo de ir, mas ele mesmo nunca me disse nada.

Harry se convenceu de que ele falava a verdade e apenas aquiesceu. Eles voltaram para a sala e aguardaram pelo que foram as horas mais longas de suas vidas.

Foi somente muito tarde aquela noite que a porta da casa se abriu delicadamente e o rosto encharcado de Scorpius apareceu, preocupado, envergonhado, com medo e o alívio que tomou a todos foi indescritível.

Hermione sentiu todo o peso em seu peito desaparecer subitamente ao ver o garoto entrar cabisbaixo trazendo consigo sua mochila e ela não viu nada nem ninguém antes de ir em sua direção e abraçá-lo com força, sentindo-o chorar contra seu peito tudo o que ele segurava até aquele momento.

Draco não reagiu de imediato ao ver o filho, o alívio e a preocupação se misturavam em sua cabeça e ele estava se controlando para não gritar por sua irresponsabilidade e insensatez. Ele apenas conseguiu relaxar depois de garantir que não havia qualquer machucado em Scorpius e só então levantou os olhos para ver quem era o auror que o tinha trazido de volta, e seu corpo se enrijeceu ao vê-lo novamente.

Com a capa gasta e uma expressão desconfortável no rosto, Ronald Weasley aguardava parado na soleira da porta.

Hermione levou um tempo antes de tirar seu foco de Scorpius e olhar para cima para agradecer o auror responsável por trazê-lo de volta em segurança e todo o seu rosto se contorceu em choque ao vê-lo.

Lembranças desagradáveis passaram como flashes diante de seus olhos e ela não conseguiu reagir de imediato.

— Olá Hermione - Ele quebrou o silêncio olhando-a nos olhos e um sorriso triste nos lábios.

Hermione deu um passo instintivo para trás, sentindo-se estúpida por sua reação, mas sem conseguir se controlar. Não tinha visto Rony há tanto tempo que o homem diante de si não lhe parecia tão familiar quanto deveria.

Ela não conseguia controlar a tristeza pelo que eles poderiam ter sido e pela forma como a vida os separou. Não conseguia deixar de culpá-lo e de se ressentir com o homem parado diante dela.

Talvez se não tivessem perdido seu pequeno raio de sol, as coisas teriam sido diferentes.


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