ALMARA: Ameaça na Ilha de Xibalba escrita por Xarkz


Capítulo 40
CAPÍTULO 39 | Enfrentando um Imortal


Notas iniciais do capítulo

Uma figura já conhecida surge, mostrando ser o culpado por trás do dragão de quatro cabeças e uma feroz batalha tem início. Os treinamentos chegam em sua fase final.



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O navio se enchia com os soldados que chegavam alvoroçados e com o medo estampado em seus olhos.

Quando lhes era perguntado pelos marinheiros o que havia acontecido, a resposta era a mesma:

— MONSTRO!

Alguns se referiam ao dragão de quatro cabeças, que os atacou, outros referiam-se ao doutor Tawiata e suas experiências que refletiam seu total descaso pela vida alheia.

Boa parte dos soldados que se refugiavam no navio simplesmente desgarraram ante a aparição do dragão. Os demais apenas obedeciam ordens do tenente Darin, visando a segurança dos soldados, que obviamente não tinham a menor chance contra o desafio à sua frente.

Ainda sim, alguns poucos soldados se recusavam a fugir, mantendo-se em campo de batalha.

Sua coragem era admirável, mas sua presença poderia dificultar a batalha, pois além de enfrentar a besta, o oficiais de patente maior teriam de proteger seus soldados.

Em poucos instantes o cenário já havia se modificado, devido os ataques do dragão.

Árvores estavam em chamas, crateras se criaram no chão e a poeira pairava no ar.

Com grande instinto de liderança, Darin montou uma estratégia, colocando Hireyama como encarregado da proteção e cura, principalmente dos soldados, Kore e Mhandra seriam a força ofensiva enquanto o próprio Darin ficaria como suporte para eles.

— Me deem cobertura. — solicita Mhandra, sentando-se no chão com as pernas cruzadas em posição de meditação e olhos fechados.

Darin se posiciona em sua frente, protegendo-a com o escudo, enquanto Kore avança pela esquerda do dragão, chamando sua atenção com seu ataque à distância, golpeando uma das cabeças com seu punho dos ventos.

— Olha pra cá, monstrengo. — tentando impedir que ele avance contra Darin e Mhandra.

A cabeça de dragão vermelho lança uma baforada de fogo, ao mesmo tempo a cabeça de dragão verde lança um turbilhão de vento. Os dois ataques parecem se combinar, ampliando o poder um do outro e criando um enorme turbilhão de fogo.

Kore tenta desviar mas é atingido.

Mesmo não tendo sido pego em cheio, ele é arremessado contra uma parede, caindo no chão ferido.

A cabeça de dragão marrom concentra seu ataque e lança uma rocha em forma de meteoro, na direção do monge, que consegue desviar na última hora, saltando para o lado e caindo novamente, ainda ferido.

Um segundo ataque é preparado pela cabeça marrom, mas algo inesperado acontece.

Sem motivo aparente, a cabeça marrom é decepada, caindo no chão sem vida.

As demais cabeças urram de dor, enquanto o sangue jorra do que sobrou da cabeça do elemento terra.

Nem mesmo Kore entende o que aconteceu.

Novamente, sem motivo aparente, o monstro parece receber golpes invisíveis, até que o autor se revela.

Uma imagem translúcida de Mhandra surge próxima à Kore, flutuando no ar e lhe estendendo a mão.

— Você está bem? — ela pergunta.

— Estou sim! — ficando em pé, aceitando a ajuda de Mhandra. — Isso é um clone de ar?

— Não, este é meu espírito. Isso se chama projeção astral. Meu espírito sai do meu corpo mas continua ligado à ele por isso. — apontando para uma fina linha brilhante, que sai da nuca do espírito de Mhandra e o liga à nuca de seu corpo, que está em meditação. — Normalmente o espírito não pode usar mahou, mas eu tenho a habilidade de enviar mahou de meu corpo para meu espírito, assim posso atacar nesta forma. Além do mais, a parte mais poderosa do espírito é esta linha que nos une, que chamamos de Linha Vital, foi com ela que cortei aquela cabeça.

— Isso é incrível! Só precisa cortar as outras cabeças agora.

— Não posso usar essa técnica o tempo todo. Depois de usar uma vez, preciso de um bom tempo de recarga. Além do mais, gasta uma quantidade enorme de mahou e é extremamente perigosa para mim.

— Tudo bem, descanse um pouco. Eu me encarrego de derrotar outra.

Kore parte para o ataque e o espírito de Mhandra se torna invisível novamente.

O dragão ainda está se recompondo da perda de uma das cabeças e Kore aproveita para se aproximar. Ele corre em alta velocidade em sua direção e o escala pela pata dianteira, correndo na vertical, aproveitando a inércia provocada pela alta velocidade.

Quando sente que a inércia acaba, ele já está na metade da altura do monstro e então salta, chutando com força a cabeça de dragão do elemento fogo.

Antes que possa descer ao chão, a cabeça azul lhe abocanha, mas Kore consegue segurar o maxilar superior com as mãos e o inferior com os pés.

A força da mordida é forte e Kore mal consegue suportar a pressão.

Ele olha para dentro do interior da garganta do monstro e percebe uma quantidade de mahou se acumulando.

— Droga, ele vai atacar!

Quando Kore percebe que está na cabeça de elemento água, uma ideia lhe surge.

No último instante ele força sua saída, saltando para o lado e, ainda em queda livre, lança seu soco de elemento ar, cujo vento se molda na imagem de um punho, voando na direção do inimigo e atingindo a lateral da cabeça azul, enquanto ela já lançava o jato de água pressurizada.

Com o impacto do golpe de Kore, a cabeça azul vira para o lado e o jato de água pressurizada atinge a cabeça de elemento fogo, cuja a fraqueza é justamente a água.

Kore chega ao chão, mas é recebido pela cauda do dragão, que o chicoteia com força e o lança novamente contra a parede da montanha.

Mais uma vez está indefeso, quando a cabeça do elemento ar lança um turbilhão de ventos.

Ele cruza os braços na frente do corpo, esperando pela impacto, mas este nunca chega.

Hireyama colocou-se em sua frente, defendendo o ataque com seu enorme escudo, que produz uma barreira protetora.

Quando o ataque termina, Kore salta em cima do escudo de Hireyama e, sem que precise dizer nada, Hireyama o arremessa na direção do dragão.

Ainda no ar, Kore concentra o elemento ar em seu punho, visando a cabeça de elemento fogo, que está debilitada, porém, ao chegar nela, decide não atacar e apenas a utiliza com plataforma para saltar para cima da cabeça azul.

Ainda não! — ele pensa. — Precisa ser mais forte do que isso.

A energia mahou de elemento vento em seu punho fica mais forte.

Ainda não! Preciso de mais força. Precisa ser esmagador. Precisa ser o punho de um gigante.

Com extrema concentração e força de vontade, a energia em seu punho fica maior e mais forte.

Ao ser atacado pela cabeça verde, Kore salta, desviando do ataque e pairando acima da cabeça de dragão vermelho, aumenta ao máximo o mahou em seu punho e lança o ataque de elemento ar.

O ar, moldado no formato de um punho, cresce quase vinte vezes, literalmente tornando-se o punho de um gigante, que atinge a cabeça de elemento fogo com muita força, carregando-a consigo e prensando-a contra o chão, abrindo uma enorme cratera no formato de um punho e deixando aquela cabeça fora de combate.

Os soldados, que atacavam com lanças e flechas, comemoram a queda da segunda cabeça.

Kore se aproxima do tenente, ficando em seu lugar na proteção ao corpo de Mhandra.

— Agora é a minha vez! — diz Darin, concentrando sua energia Ki em sua espada.

Ele lança o ataque à distância atingindo a cabeça azul, causando-lhe um corte profundo que atinge um de seus olhos, cegando-o.

O dragão tenta atingi-lo com a cauda, mas Darin salta e a utiliza para escalar o monstro, correndo por cima dela em alta velocidade.

Quando a cabeça verde tenta impedir o avanço, recebe um ataque invisível. Obviamente Mhandra, em sua forma astral.

Sem nada em seu caminho, Darin corre até a cabeça verde, novamente concentrando energia em sua espada, mas a cabeça azul se recupera e, inesperadamente, abocanha Darin, engolindo-o.

Todos os soldados ficam boquiabertos, mas Kore e Hireyama não parecem preocupados.

Quando, de repente, da lateral do pescoço da cabeça azul, esguicha uma grande quantidade de sangue, perfurada pela lâmina de Darin, que abre um buraco, por onde escapa ao mesmo tempo em que elimina a terceira cabeça. Novamente o alvoroço toma conta dos soldados, que aplaudem a performance de seu tenente.

Mhandra, ainda em sua forma astral e invisível, termina de carregar seu ataque.

Ela se posiciona, deixando a cabeça verde, entre seu corpo real e seu espírito.

Sua Linha Vital se estende entre suas duas existências e ela salta, visando cortar a cabeça restante com a Linha, como se fosse uma lâmina.

No último instante, um globo de energia escura atinge o espírito de Mhandra, fazendo com que ele imediatamente retorne ao corpo e ela acorda, saindo de seu transe.

A energia foi lançada pelo doutor Tawiata.

— Eu posso vê-la, garota. Já causou danos demais à minha experiência.

Mhandra sente a dor do ataque que seu espírito recebeu, mas fica em pé, junto à Kore e Darin.

Uma luz abaixo do dragão chama a atenção de todos, é Hireyama, que está ajoelhado e de olhos fechados, enquanto a luz aumenta sua intensidade.

Ele ergue sua espada e então um feixe de luz emana de seu corpo, subindo em forma de um pilar de energia que transpassa a cabeça restante do dragão, mas sem ferí-lo, e então, Hireyama crava sua espada no chão e de suas costas sai uma gigantesca lâmina de luz, que atravessa o pescoço do dragão de baixo para cima e a criatura finalmente cai, derrotada.

Agora até mesmo os oficiais festejam, menos Kore, apesar de deixar escapar um leve sorriso pela vitória.

Quando o alvoroço se acalma, são ouvidas as palmas de doutor Tawiata.

— Parabéns! Derrotaram minha criação. Ele obviamente não estava pronto, afinal, tinha acabado de nascer. Mas o próximo será mais forte e terá mais duas cabeças. Elemento luz e elemento trevas. Será meio caminho andado para meu projeto final que chamo de O Dragão Supremo!

— Não nos importa que tipo de dragão pretende criar. Suas experiências não respeitam a vida e será punido por isso.

— Vai me prender, tenente? Ou será que vou escapar novamente? — sacando uma adaga.

Novamente Hireyama concentra sua energia e bate em seu escudo, desfazendo a ilusão e revelando o verdadeiro corpo de Tawiata. O corpo de uma criança.

Nesse momento, dois laços são lançados pelas laterais do doutor, um pela esquerda e outro pela direita, cada um prendendo um de seus braços, deixando-os esticados, de forma que ele não possa usar a adaga.

Ainda sim ele ri e parece mastigar algo.

— Tarde demais, tenente. Eu estou indo.

— Ele comeu algo. — informa Kore. — Deve ser algum tipo de veneno.

— Até nosso próximo encontro. — diz Tawiata, com uma expressão sonolenta.

Sua mão fraqueja e deixa cair a adaga, até que seu corpo amolece e despenca no chão.

Hireyama se aproxima, checando a pulsação.

— Está morto!

O espírito, invisível aos olhos dos mortais, deixa seu corpo, flutuando no ar.

— Parado aí, doutor Tawiata. — diz uma voz, ouvida apenas pelo falecido.

É Mhandra, em sua projeção astral.

— Ora, ora! É a primeira vez que vejo outro espírito. — diz o doutor. — O que vai fazer? Me bater.

— Eu fui designada para esta missão especialmente por causa do meu poder, doutor Tawiata. Não vou deixar que fuja desta vez.

— Pode me bater, garota, não tenho um corpo para onde retornar, por isso não sentirei dor. Também não pode me destruir, então o que vai fazer?

— Preparei algo especial. Uma técnica que desenvolvi unicamente para você.

O corpo espiritual da garota brilha e uma espécie de rede de luz surge ao redor de ambos, como uma arredoma de cerca de cinquenta metros.

Tawiata, incrédulo, se aproxima da rede de luz e tenta atravessá-la, mas não consegue.

— Está preso aqui comigo, doutor.

— Isso não pode ser. Como pode prender um espírito? Você não pode manter isso por muito tempo. O mahou fica no corpo físico, então de alguma forma você o envia para seu espírito através da Linha Vital, podendo utilizá-lo na forma astral. Isso deve exigir uma grande quantidade de energia e esforço. Logo, logo sua habilidade irá sumir.

— Não antes da sua, doutor. Sei bem que você possui um tempo limite para encontrar um novo corpo, ou seu espírito não poderá ficar no mundo dos vivos. E então, quem será que vai aguentar por mais tempo, a minha habilidade ou a sua?

Tawiata olha para baixo e vê Hireyama curando Mhandra.

— Com a cura dele, meu mahou ganha uma sobrevida. Assim posso aguentar um bom tempo.

O doutor entra em desespero e tenta golpear Mhandra com um soco, mas não há impacto no golpe.

— Sem mahou você não pode interagir com absolutamente nada no mundo dos vivos, nem mesmo com outro espírito. Aproveite seus últimos minutos por aqui, pois serão os últimos.

— Maldita! — diz, em fúria, rangendo os dentes.

Ele olha para os lados, como se procurasse uma saída, até que parece encontrar algo.

— Parece que existe uma saída. Mas quero ver até onde você aguenta primeiro.

Os dois permanecem imóveis, enquanto Hireyama continua curando Mhandra.

Kore e Darin apenas se sentam e esperam o resultado, como planejado desde o início.

Três horas se passam e Mhandra está claramente perdendo as forças.

A grade de luz começa a enfraquecer, mas ela resiste.

— Vejo que está no limite, garota, mas infelizmente eu também estou.

Em um movimento rápido, o espírito passa por Mhandra e segue em direção ao corpo físico da garota, desaparecendo em seguida.

Mhandra, agora em corpo físico, abre os olhos e sorri, saindo do transe.

— E então, conseguiu? — pergunta Darin, apreensivo.

A garota puxa de dentro de sua sacola a muda de planta, dentro de um globo de vidro.

— Com sucesso. Ele está aqui. — apontando para a planta.

Tanto os soldados quantos os oficiais comemoram o sucesso da missão. Doutor Tawiata finalmente havia sido detido.

— Sem ter escolha ou tempo, ele escolheu encarnar na muda desta árvore, que vive mais de cinco mil anos. Iremos cuidar para ter a certeza de que ela não irá morrer tão cedo, para manter seu espírito preso nela. Eu não tinha certeza se ia conseguir aguentar o suficiente para segurá-lo até acabar o tempo dele no mundo dos mortais, então usamos a planta, pois sabíamos que ele iria escolher isso à desaparecer. Quando eu ficar mais forte, tentaremos novamente e, desta vez, ele será eliminado de vez deste mundo.

— Você foi incrível, Mhandra. — diz o monge. — Todos vocês foram. — olhando para os demais, mas ficando com uma expressão um pouco mais séria ao ver Hireyama.

— E você, Kore, acho que deu um pequeno passo na direção certa. — sussurra a garota. — Vi quando interagiu com Hireyama e lembro de quando você assumiu que ele estava certo. Mas não tenha pressa, aos poucos irá se tornar uma pessoa melhor. Basta continuar trilhando este caminho. Não vai ser fácil, mas você vai conseguir, tenho certeza.

Os três pelotões, com feridos mas sem nenhuma baixa, retornam ao navio com as boas novas, onde comemoram o feito.

O imortal doutor Tawiata foi completamente derrotado e capturado.

 

De volta ao continente, em uma caverna da costa do reino de Galvas, Eril está dormindo em meio às pedras, protegida por uma coberta de peles.

Seu rosto está sujo e com alguns ferimentos, quando ela finalmente acorda, assustada.

A primeira coisa que vê é sua mãe, Euridice, sentada em uma pedra ao seu lado.

— Finalmente acordou, querida. Você caiu no sono enquanto treinava.

— S… Sinto muito, mamãe! Nós podemos continuar. — levantando-se, ainda zonza.

— Você já treinou o suficiente. Precisa voltar para o castelo, tomar um bom banho e descansar. Sua mente já assimilou todo o conhecimento que eu tinha para lhe passar. Não tenho absolutamente mais nada a ensinar.

— Mamãe, você sempre terá algo para me ensinar.

— Não! — ela balança a cabeça. — Você me superou e fez isso em pouquíssimo tempo. Tanto em conhecimento quanto em poder. Você chegou aqui com uma bagagem de coisas que eu desconhecia e agora está saindo com toda ela e mais as que lhe dei. Não tenho mais serventia, minha menina.

Eril abraça Euridice, chorando.

— Não importa o que pense de si mesma ou o que os outros pensem de você, você é minha mãe e eu a amo. Um dia, eu lhe prometo, vou lhe tirar desse lugar.

— Não se preocupe comigo, eu estou bem, minha princesinha. Eu disse que não tenho mais o que lhe ensinar, mas tenho um presente de despedida.

Ela junta algo que estava ao seu lado, no chão, enrolado em um pano e o desembrulha, revelando um cajado dourado de pouco mais de um metro e meio.

— Está na hora de jogar fora esse seu velho cetro minúsculo. Você é uma maga de verdade e magos usam cajados de respeito. Eu fiz este com toda a magia que pude reunir nesses anos em que estive aqui. Tenho certeza que ele vai ampliar sua magia muito mais do que essa vareta que você usava.

— Obrigada, mamãe! — abraçando-a novamente. — Eu te amo!

— Também te amo, minha princesinha. Agora vá, você tem uma missão à cumprir.

Eril deixa a caverna, com seu novo cajado mágico.

A hora da decisão finalmente estava se aproximando.

 

Resta um mês para o ataque à Xibalba.


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Notas finais do capítulo

Opiniões e críticas construtivas são bem vindas.



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