ALMARA: Ameaça na Ilha de Xibalba escrita por Xarkz


Capítulo 36
CAPÍTULO 35 | Contrato de Invocação


Notas iniciais do capítulo

Kore inicia sua busca por uma invocação. Eril conta à seu irmão sobre sua gravidez e discutem sobre o pai não ser um nobre e parte para reencontrar uma pessoa do passado.



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Lá estava Kore, sob o ar rarefeito e aquele céu alaranjado, rodeado por dezenas de monstros.

Estranhamente nenhum deles o atacou e o monge caminhava livremente entre eles.

Kore avistou um monstro semelhante à um gorila, mas com uma espécie de casco com espinhos nas costas. Algo em suas feições fazia parecer que se tratava de um ser racional, então Kore tentou uma aproximação.

— Com licença, você fala a minha língua? — referindo-se ao gorila de três metros de altura.

O monstro aproximou seu rosto ao de Kore, olhou-o de cima à baixo, cheirou-o e fez uma expressão de desprezo, virando-se de costas.

— Hei! Não me ignore. — revoltado com a atitude do gorila. — Estou aqui para fazer um contrato.

— Nunca faria contrato com alguém com um mahou tão fedorento e fraco.

— O quê? Meu mahou não fede coisa nenhuma.

O monstro apenas olha para o monge por cima do ombro.

— Suma daqui!

— Quer saber, também não quero um arrogante como você como meu parceiro.

Ele caminha pela região por mais algum tempo até que, inesperadamente, um pequeno monstro, semelhante à um bicho-preguiça, salta e o agarra, abraçando sua cintura.

— Hei! O que é isso? Me solta! — empurrando o pequenino pela cabeça, mas sem sucesso.

— Seu mahou é docinho. Faz o contrato comigo. Faz o contrato comigo.

— Sem chance, você não serve para o meu propósito. Preciso de um monstro forte para lutar por mim.

Fazendo um certo esforço, mas com cuidado para não machucá-lo, Kore consegue se desvencilhar do pequeno monstro.

Ele encontra uma grande árvore de tronco azulado e com enormes folhas roxas, do tamanho de lençóis. Kore então utiliza uma das folhas, enrolando-a no corpo como se fosse uma toga.

— Não me sinto à vontade andando por aqui sem roupas.

Do topo da árvore seria possível enxergar mais longe, então Kore decide subir.

A árvore é muito alta e seu tronco muito largo. Kore escala até pouco mais da metade da altura total, ficando em pé sobre um de seus galhos, largos o suficiente para comportar até mesmo uma carruagem.

Enquanto observa, ele percebe um pólen no ar e, em seguida, um inseto gigante desce até o galho, pendurado por um fio de seda.

De costas, o inseto, semelhante à uma larva, tem pouco mais de dois metros de comprimento, porém, quando se vira, revela ter em sua parte superior o tronco de uma mulher de pele verde claro e cabelos em um tom verde escuro.

— O que é isso? Você é uma centauro-inseto?

— Não sei o que é que está dizendo, queridinho.

— É que você é como os centauros, mas ao invés de ser metade cavalo, é metade larva.

— Continuo sem saber do que se trata, queridinho. Mas conte-me mais. — com um sorriso malicioso.

— Você não está interessada na minha história. Quer que eu continue respirando este pólen que você soltou. O que ele faz? Vai me paralisar ou fazer dormir?

— Você é bem espertinho. Tenho dos dois tipos, mas esse é para fazer você dormir.

— Eu sou um monge, essas coisas não funcionam direito comigo. Além do mais, posso ficar muito tempo sem respirar, como estou fazendo agora.

— Parece que você me pegou. Então vou ter que tentar uma abordagem diferente.

A mulher-inseto lança uma espécie de fio de seda pela boca.

Kore tenta saltar para desviar, mas seus pés estão presos ao chão e o fio de seda o atinge no peito, prendendo-se na toga improvisada.

— Tão espertinho, mas eu sou mais, queridinho. Espalhei minha seda pegajosa pelo galho todo, antes de você chegar.

— Não acha que isso vai me parar, não é?

Kore segura o fio de seda, preso em seu peito e, como não consegue desgrudá-lo, rasga um pedaço da folha que utilizou para fazer sua vestimenta, porém, suas mãos ficam presas no fio de seda.

Sem conseguir se soltar, ele decide fazer o contrário e então começa a puxar o fio, arrastando a mulher-inseto mais para perto.

Ela cospe mais seda, aumentando o fio mais rápido do que Kore consegue puxar.

— Isso não vai me levar a lugar algum. — reclama para si mesmo.

Para libertar-se, Kore concentra chamas em suas mãos, incendiando a seda.

A mulher-inseto parece assustada enquanto a chama começa a percorrer a seda, indo em sua direção.

Para não ser queimada, ela corta o fio e se afasta.

A seda das mãos de Kore se desmancham com o fogo e ele a utiliza para soltar seus pés também.

Apesar de não fugir, a mulher-inseto claramente está receosa com o fogo.

— Você parece bem útil. — diz o monge. — Quer fazer o contrato comigo?

— Porque eu me contentaria com migalhas do seu mahou se posso ter ele todo agora mesmo?

— Acha que vou deixar isso acontecer?

— Não me subestime, queridinho.

Em um instante a mulher-inseto surge acima de Kore, em uma velocidade surpreendente e por muito pouco Kore consegue desviar do ataque.

A mão do monstro, com os dedos em riste, brilha em um tom metálico e ela corta o grosso galho da árvore, derrubando Kore junto.

Ele salta, impulsionando-se no galho em queda livre, na direção de um segundo galho, mas a mulher-inseto se antecipa e o atinge em pleno ar, com seu fio de seda.

Kore fica preso e acaba pendurado, sendo segurado apenas pelo fio de seda, que desta vez o acertou em seu peito, atingindo a pele.

Antes que pudesse tentar algo, a mulher-inseto lança o mesmo ataque cortante que utilizou para cortar o galho, mas desta vez, na direção de Kore.

Sem poder desviar, ele se protege com os braços, recebendo o ataque cortante que lhe abre um grande ferimento em ambos antebraços.

 

Kore rasga mais um pedaço de sua vestimenta, feita com a folha, enrola em uma das mãos e segura o fio de seda, de forma que ela não toque em sua pele. Ele puxa e, com certo esforço, consegue romper o fio.

Obviamente o pedaço de folha enrolado em sua mão fica preso também, então ele o abandona, soltando-se da armadilha e caindo até o solo.

A mulher-inseto e Kore se encaram por alguns instantes.

— Sabe, você é exatamente de quem eu precisava. — diz o monge. — Tem esse pólen paralizante ou de sono, pode prender os outros com essa seda e ainda tem esse ataque cortante. Sem falar em sua velocidade. Como consegue se mover tão rápido com esse corpo pesado?

— Não sou pesada, além do mais, tenho três pares de pernas, enquanto você só tem duas. É óbvio que eu poderia me mover mais rápido.

— Não é bem assim que funciona. — discorda o monge. — Mas não importa. O que eu posso lhe oferecer para que me ajude?

A mulher-inseto, antes em posição de ataque, parece relaxar um pouco, ficando pensativa.

— Talvez tenha algo que você possa me oferecer. Eu estou cansada desta dimensão, quero que me leve para a sua, permanentemente.

— É possível fazer isso? Até onde eu sei, enquanto você estiver lá, meu mahou estará sendo drenado por você até que eu te mande de volta.

— Existe uma forma. Você teria que me invocar e então revogar o contrato enquanto eu estiver lá. Nesse caso seu mahou deixará de ser drenado e eu estarei livre.

— Entendi, mas se eu fizer isso eu não vou poder mais te invocar durante as lutas. De que servirá para mim?

— Podemos fazer o seguinte. Eu lhe sirvo durante cinco anos e então você terá que me libertar.

— É uma proposta justa. Se estiver disposta a me ajudar, terá minha palavra de que cumprirei minha parte.

Utilizando sua seda, lentamente ela desce até o chão, ficando frente à frente com Kore.

— Trato feito, queridinho. Pode fazer o contrato.

Os dois apertam as mãos, selando o acordo.

— À propósito, me chamo Kore.

— Meu nome é Eva.

Eles se olham por alguns instantes, como se esperassem algo acontecer.

— É isso? — ela pergunta.

— Bem, acho que é. — olhando para cima em seguida, gritando para o céu. — Lisica, preciso fazer algo mais?

— Não! — responde a voz da mestra, em sua cabeça. — Está feito. Vou lhe trazer de volta.

— Então está feito! — dirigindo-se para Eva.

— Com quem você estava falando, queridinho?

— Minha mestra, ela é quem me trouxe até aqui. Estou voltando para minha dimensão e assim que precisar eu te chamo.

— Espero que seja logo. Estou com fome de mahou e também quero dar uma olhada na sua dimensão. Faz muitos anos desde que o último invocador me chamou.

— Você tem outro contrato?

— No momento não. Só pode haver um contrato por vez, mas o antigo invocador morreu então o contrato foi desfeito.

— Sei que está ansiosa, mas ainda vai demorar um pouco para eu poder te invocar. Ainda preciso liberar o terceiro selo, desenvolver o elemento gravidade e então aprender a magia de invocação.

— O QUÊ? — berra Eva, em choque. — Você fez o contrato comigo sem sequer saber fazer uma invocação? Que tipo de idiota é você?

O corpo de Kore começa a brilhar, indicando que estava prestes à ser enviado de volta.

— Hã, desculpe, mas não tenho tempo para conversar agora. — desconversando, sem jeito. — Até mais. — sumindo repentinamente.

— Volte aqui, seu imbecil! — pragueja Eva, desconsolada.

Kore abre os olhos e se vê de volta ao mundo real, em frente à Lisica.

— Muito bem, acho que agora meu serviço está feito. — diz a mestra, enquanto se levanta. — Agora sigam seus caminhos e tenham suas próprias aventuras. Vocês ainda têm muito o que aprender, mas estão no caminho certo.

Com a conclusão do treinamento, Eril e Kore preparam-se para partir novamente, descendo a montanha com suas mochilas e sacolas, enquanto acenam para Lisica, despedindo-se.

Diferente da primeira vez, na base da montanha está uma carruagem, puxada por dois pares de cavalos, os esperando.

O pequeno construto Acólito pousa no ombro de Eril após ter feito sua função, que era a de avisar o reino de Galvas para que mandassem o veículo.

A viagem é quieta e sem muitas conversas, pois Kore ainda está visivelmente contrariado com a decisão de Eril em romper com seu relacionamento.

Um mês e meio se passa e a carruagem chega à uma bifurcação onde um caminho leva à Galvas e o outro à sede principal do Império Mundial.

À pedido de Kore, a carruagem para, antes de escolher seu destino.

Por alguns instantes ele hesita até mesmo olhar para Eril, mas respira fundo e dirige-se à ela.

— Eril, antes de ir eu preciso dizer uma coisa. — conseguindo a atenção da maga. — Não concordo nem um pouco com a sua decisão, acho que nós dois temos que continuar juntos e criar esta criança como uma família. Mas não posso te obrigar a isso. Se não consegui te convencer durante esses meses, não acho que agora, em poucos minutos, eu vá conseguir.

— Você será o pai desta criança e não importa o que aconteça, isso não vai mudar. Ela e eu saberemos, isso não é o suficiente?

— Não é o que eu queria, mas para mim basta. Tudo bem ser um segredo e não vou contar a mais ninguém. Ainda vou carregar uma certa mágoa sobre isso, mas não quero que isso fique entre nossa amizade.

— Eu queria que fosse diferente, mas infelizmente não dá. Tem coisas mais importantes do que eu e você em jogo. Toda a linhagem dos Galvaskauss e a imagem de meus pais seriam prejudicadas. Não espero que você entenda isso, mas peço que aceite, por favor.

— Não precisa repetir isso. — diz Kore, fazendo um movimento com a mão pedindo para que pare. — Eu realmente não entendo, mas vou respeitar sua decisão. Só o que eu quero nesse momento é ficar de bem com você. Vamos passar um bom tempo afastados, não quero levar esse rancor comigo e também não quero que você leve de mim, afinal, pode fazer mal para o bebê. — colocando a mão sobre o ventre de Eril.

Eril levanta-se, já em lágrimas, e abraça Kore com força.

— Me desculpe!

Kore fica sem reação por alguns instantes pelo abraço inesperado, mas logo se recompõe e retribui o abraço.

— Eu sei que tenho metade da culpa, afinal, você já havia me dito que não podíamos ficar juntos e eu insisti assim mesmo. Também te peço desculpas.

O abraço dura alguns segundos até que eles separam-se.

— Acho que a gravidez me deixou mais emotiva. — Sorri, enquanto limpa as lágrimas.

— Então acho que talvez eu também esteja grávido. — brinca com a situação.

Após uma despedida, um dos quatro cavalos é desprendido da carruagem e é montado por Kore.

— Quando eu voltar, serei muito mais forte. Eu prometo. — afirma Kore, com olhar de confiança.

— Eu sei! Também ficarei.

— Queria poder estar por perto quando ele ou ela nascer. Cuide bem do nosso bebê. — seguindo à cavalo na direção do castelo do Império Mundial, enquanto a carruagem pega o rumo da estrada oposta.

 

A carruagem de Eril retorna para Galvas, onde é bem recepcionada por todos, principalmente por seu irmão, que organiza uma festa de boas vindas.

— Fico feliz em revê-la, minha adorada irmã. Espero que não esteja cansada o suficiente para negar uma pequena festa.

— Ainda me restam forças para festejar junto ao meu querido irmão. — abraçando-o.

A festa é repleta de comidas e bebidas exóticas, aberta à todos os que habitam no castelo e dura até tarde da noite.

Na madrugada, Thaldron e Eril se retiram para uma sala reservada, onde podem conversar à sós.

Eril come um doce enquanto Thaldron bebe uma taça de vinho.

— Soube que os bárbaros quase romperam a aliança conosco, isso é verdade? — pergunta Eril, com uma certa preocupação.

— Nossa aliança não chegou a ser ameaçada, mas foi muito difícil convencê-los a não atacarem o Império Mundial. Eles podem ser fissurados por batalhas, mas mesmo eles temem aquele Titan, Radagart. Se não fosse por ele, não importa o quão persuasivo eu fosse, jamais teria conseguido impedir o ataque.

— Teria sido um mar de sangue se você não tivesse intervido.

Thaldron observa o doce que Eril terminara de comer.

— Percebi que, durante toda a festa, não bebeu nada, minha irmã. Há algum motivo em especial?

Um calafrio sobe por sua espinha, apesar de já ter planejado contar tudo à Thaldron, não estava esperando que ele já desconfiasse de algo.

— Foi bom ter tocado no assunto e vou direto ao ponto: Estou grávida!

Após um breve intervalo, Thaldron prossegue.

— Belvedere então será pai?

— Não! Nós terminamos à alguns meses. Não é dele. É do Kore.

— Kore! O monge que fez serenata debaixo de sua janela, estou certo?

— S… Sim! — espantada por ele saber daquele detalhe.

— O mesmo Kore que te defendeu contra Radagart, o Titan, e quase perdeu a vida?

— Ele mesmo.

— Não posso dizer que aprovo, mas quem sou eu para dizer o que você pode ou não fazer. Apesar de não ser um nobre ou mesmo um elfo, me parece uma pessoa digna.

— Ninguém deverá saber que este filho é dele, meu irmão. Me prometa isso, por favor. Ainda somos amigos, mas não estamos mais juntos. Prometi à ele que poderia ajudar na criação e vê-la sempre que quiser, mas que ninguém deve saber que ele é o pai.

— Creio que foi a decisão mais acertada à se tomar. Diga à ele que será bem vindo se quiser morar no castelo. Lhe darei o título de nobre também, mas ainda sim, prefiro que continue em segredo, pois mesmo tendo o título, não será um nobre de sangue puro.

— Assim como eu. — responde a maga, com olhar triste.

Thaldron se levanta, posicionando-se atrás da poltrona onde Eril está sentada e coloca a mão em sua cabeça, acariciando-lhe os cabelos.

— Não, você não é uma nobre de sangue puro. E sabe o que isso significa? — fazendo uma breve pausa. — Absolutamente nada! Mas infelizmente não é o que pensam as pessoas. Elas dão muito valor à títulos e são conservadoras demais para aceitar esse tipo de mudança. De qualquer forma, é para essas pessoas que governamos e se perdermos o respeito delas, tudo virá abaixo.

— Eu sei! Obrigada, meu irmão!

— Que bom que compreende.

Enquanto conversam, os primeiros raios de Sol transpassam a janela, clareando o cômodo.

— Já é de manhã? — estranha Thaldron. — Sequer vi o tempo passar. É que isso acontece quando estamos em boa companhia. Acho que devemos dormir, você deve estar cansada.

— Estou, mas ainda não vou dormir. Tem uma pessoa que preciso ver.

 

Do lado de fora do castelo, uma saída lateral leva à um caminho por entre as montanhas, que chega até uma praia. Enquanto carrega um cesto, Eril caminha pela areia, costeando o mar, até que encontra uma caverna em um ponto mais elevado da praia.

Os primeiros raios de Sol da manhã iluminam a entrada da caverna, por onde a maga segue, caminhando devagar.

Algumas pedras menores, no chão, rodeiam uma pedra achatada e maior no centro da entrada, onde há duas marcas levemente côncavas.

Ela aguarda por alguns instantes, até que uma figura surge da escuridão do interior da caverna.

Tem cabelos brancos apesar de aparentar ser jovem, pele escura, olhos azul esverdeados e, assim como Eril, é uma elfa. Suas vestes estão rasgadas mas pode-se ver que trata-se de um vestido fino, da nobreza.

A mulher aproxima-se de Eril, com um rosto sofrido mas sorri, claramente tentando esconder uma grande tristeza.

— Você voltou! — ela diz, enquanto toca o rosto de Eril carinhosamente com ambas as mãos. — Faz muito tempo desde sua última visita, minha filha.

 

Resta um ano, cinco meses e treze dias para o ataque à Xibalba.


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Notas finais do capítulo

Opiniões e críticas construtivas são bem vindas.



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